Lendas
Escoteiras.
O Cozinheiro.
- Eu sei Chefe que não vai
acreditar. Se estivesse no seu lugar não acreditaria, mas eu juro palavra de
Escoteiro que é verdade. Ninguém na Patrulha Javali jamais pensaria que Bolacha
iria se transformar em um cozinheiro tão bom e que eu acredito Chefe nunca mais
haverá outro como ele. Veja bem, o senhor sabe melhor que eu que cozinheiros de
Patrulha só sabem fazer o tal “Arroz, feijão, batata e macarrão”, mas Bolacha
não. – Como ele aprendeu? Sinceramente Chefe pensei que fosse sua mãe, mas não
foi. Dona Quirina cozinhava bem, mas falar que era uma cozinheira de primeira
seria faltar com a verdade. E quer saber mais? Bolacha entrou no grupo calado e
quando foi para a França foi calado.
- Isto mesmo Chefe. Bolacha
economizava em tudo principalmente nas palavras. Eu mesmo que convivi com ele
muitos anos posso jurar que se ele falou seis o sete palavras foi o muito em
cinco anos que foi Escoteiro e sênior. Risos. Não acredita Chefe? Pois pode acreditar.
Lembro até hoje que quando fez a promessa todos esperavam que ele falasse, já
que era uma tradição na Tropa cada Escoteiro noviço dizer a viva voz as frases
da Promessa. Todos viram seus lábios se mexendo, mas não saia som. O Chefe não
disse nada. Conhecia Bolacha melhor que todos nós. Só vestiu o uniforme pela
primeira vez quando promessou. Era norma. Ninguém vestia nem uma peça. Vi o
Chefe mandando de volta para casa muitos pata tenras. Mas Chefe precisava ver
Bolacha uniformizado. Tudo no seu lugar. Fazia questão de ser um exemplo.
- Uma coisa eu garanto Chefe,
suas qualidades de cozinheiro nunca deixaram que ele não se preocupasse com
suas provas. Era um desafio e ele sempre aceitou desafios. – Por quê? Um dia
perguntei para ele. - Porque ser um Primeira Classe? Ele apenas sorriu. Sei que
dois anos depois que entrou fez sua Jornada de Primeira Classe. Maribondo foi
com ele. E olhe Chefe, Maribondo era conversador, não parava de contar “causos”
e até hoje não sei o que se passou entre os dois para se entenderem tão bem o
que fazem até nos dias de hoje. Só sei que ele é elogiado até hoje pelo seu
relatório e o Percurso de Gilwell.
- Um dia antes do
Acampamento em Lagoa Formosa, Floresta comunicou a todos que ia embora para
Santana do Oeste. Seu pai arrumou um emprego melhor. Floresta era nosso
cozinheiro. Não dos bons, mas dava para o gasto. - Alta Voltagem o monitor
reuniu a patrulha e perguntou se alguém queria ser o novo cozinheiro. Todos
calados. Afinal a cozinha dava um trabalho enorme nos acampamentos. Para
surpresa Bolacha levantou a mão. Ninguém foi contra. Quitinete perguntou se ele
sabia cozinhar. Bolacha o olhou de cima em baixo e nada respondeu. – Duas
semanas depois Bolacha entregou um convite para cada patrulheiro da patrulha
Javali ir jantar em sua casa.
- Sua mãe jurou que foi
ele quem cozinhou. Poucos acreditaram. A salada, a macarronada e o Frango a
Passarinho no ponto estavam perfeitos. No acampamento Bolacha não admitia atrasados.
Tinha um pequeno sino e com seis badaladas chamava para o almoço e oito para o
jantar. Café e lanche não tinha chamada. A patrulha se regalou com o almoço do
Bolacha. Era demais. E isto Chefe foi só o começo. – Chefe eu nunca vi um
cozinheiro que fazia bolo doces e torta em acampamento. Bolacha fazia. Parecia
um mágico. Construía om facilidade fornos, fogões suspenso incrivelmente bem
feitos. De um simples mamão fazia uma torta para ninguém botar defeito. Para
ele o campo, as florestas e os vales eram mananciais de iguarias.
- Bolacha ficou na
patrulha e três anos depois foi para os Seniores. Eu já estava lá. Continuou
sua saga do melhor cozinheiro Escoteiro do mundo. Bem não vou generalizar, mas
como ele eu nunca vi. Um dia Bolacha sumiu. Ficou três semanas sem ir à
reunião. Apareceu com seu jeitão de roceiro e com a mão direita fez a saudação
e a esquerda o sinal de Adeus. Todos quiseram saber o motivo de sua partida,
mas ele calado, calado ficou. Muitos foram a sua casa perguntar a sua mãe o que
ouve, mas ela não morava mais lá. Os vizinhos nada sabiam. Passaram-se nove
anos Chefe. A verdade é que ninguém nunca esqueceu o Bolacha. Sua fama de
melhor cozinheiro ficou para sempre.
- Chefe, a vida nos prega
peças que nem imaginamos que vai acontecer. Ganhei da minha empresa uma viagem
a Paris na França com um acompanhante. Foi uma festa a viagem. Eu e Morena nos
divertimos a valer e como nos sentimos importantes ao subir na Torre Eiffel. O
senhor sabe que amo as flores e ver tantas no Palácio de Versalhes foi demais.
Mas quer saber qual foi a maior surpresa Chefe? – Foi no jantar de despedida em
um dos melhores restaurantes franceses. O La Fontaine de Mars. Aconchegante,
luxuoso, tratamento vip. Pedimos uma comida simples, mas Chefe! Oh! Chefe. Nem
imagina quando o Maitre anunciou que o cozinheiro queria nos cumprimentar.
Falou baixinho que seria uma honra, pois ele nunca fazia isto.
- Sempre Alerta Escoteiro
da Javali. Lembra-se de mim? Quase cai da cadeira. Era Bolacha, esbelto, alto,
bem vestido e falante e com um gorro de chef tão engomado e branco que
ofuscava. Todos os clientes do restaurante ficaram de pé e deram uma enorme
salva de palma a Bolacha. Acredite Chefe, por favor! O Escoteiro tem uma só
palavra e sua honra vale mais que sua própria vida!
Nota: - Eu gosto de contar histórias de
escoteiros. Principalmente quando ele é um exemplo a ser seguido. Bolacha merece
a pecha de Escoteiro Padrão. Nunca foi de falar muito, mas uma coisa eu garanto
nunca vi um cozinheiro como ele. Não foi da minha Patrulha afinal eu já estava
entrando nos pioneiros, mas um dia fui convidado para jantar na sua patrulha. Deus
do céu! Que manjar, que jantar naquele acampamento. Onde? Nem me lembro onde
foi, mas da comida não esqueço nunca!
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