Lendas
da Jângal.
Os
irmãos de Mowgly na Floresta de Seeonee. Parte II.
A história se passa nas Selvas de
Seeonee, onde vivia uma alcateia de lobos felizes, amigos de todos e sempre
respeitando a lei da Selva. Esta é a parte II onde Shery Khan tenta levar o
menino que estava de posse dos lobos. Vejamos:
- Mãe
Loba ficou em volta de seus filhotes, fixando nos olhos flamejantes do tigre os
seus olhos vivos como duas luzinhas verdes. - Quem responde agora sou eu, disse
ela, eu Raksha a Demônia. O filhote de homem é nosso, Lungri, só nosso! Não
será morto por ti. Viverá, para correr pelos campos com o nosso bando e com ele
caçar; e por fim - presta bastante atenção ó caçador de crianças, ó comedor de
rãs e peixe - e por fim te caçará a ti, um dia! Vai-te agora! Pelo sambur,
veado que matei (porque não caço bezerro gordos), vai para a tua mãe, ó tigre
chamuscado e mais manco que nunca! Vai-te!
- Pai
Lobo olhou-a assombrado. Já era vaga a sua lembrança do dia em que conquistara
aquela companheira em luta feroz com cinco rivais, no tempo em que a loba
vagueava solteira no bando e ainda recebera o nome de guerra que possuía agora
- Raksha, a Demônia. Shere Khan tinha podido suportar o olhar do lobo pai, mas
não pudera suportar o olhar da loba mãe, firme de sua posição e pronta a
bater-se em luta de morte. Shere Khan retirou da abertura da caverna a cabeça
quadrada para depois de uns bufos de cólera urrar:
- Os
cães sabem ladrar de dentro dos canis! Havemos de ver o que pensa a alcateia
disso de brigar e defender filhotes de homem. Esse bichinho é meu e nos meus
dentes será triturado, ó cambada de ladrões de rabo de espanador! - O tigre retirou-se
a bufar e a loba voltou ofegante para o meio da sua ninhada. O lobo disse então
gravemente: - Shere Khan está com direito neste ponto. O filhote de homem tem
de ser apresentado à alcateia para que os lobos decidam da sua sorte. Queres
conserva-lo contigo?
-
Sim, respondeu de pronto à loba. Ele veio nuzinho, de noite, só e faminto.
Apesar disso, não mostrou o menor medo. Olha! Lá está puxando um de nossos
filhotes... E pensar que por um triz aquele carniceiro aleijado não o matou
aqui em nossa presença, para depois, muito fresco, escapar-se do Waingunga,
enquanto os camponeses estiverem caçando em nossas terras! Conservá-lo comigo?
Pois decerto! - e, voltando-se para a criança nua: Dorme sossegada, pequena rã.
Dorme Mowgly, pois assim te chamarei doravante, Mowgly, a Rã. Dorme que tempo
há de vir em que caçaras Shere Khan, como te quis ele caçar ainda há pouco.
-
Mas que dirá a alcateia? Indagou Pai Lobo, apreensivo. - A lei do Jângal
permite que cada lobo deixe a alcateia logo que case. Mas, assim que seus
filhotes desmamem, os pais têm de leva-los ao Conselho, geralmente reunido uma
vez por mês durante a lua cheia, para que os outros fiquem conhecendo e os
possam identificar. Depois dessa apresentação os lobinhos, entram a viver
livremente podendo andar por onde quiserem. E até que hajam caçado o primeiro
gamo, nenhum lobo adulto tem o direito de mata a um deles, por qualquer motivo
que seja a pena contra esse crime consiste na morte do criminoso. Assim é, e
assim deve ser.
- Pai
lobo esperou que seus filhotes desmamassem e, então, numa noite de assembleia,
dirigiu-se com Mãe Loba, Mowgly e seus filhotes para o ponto marcado, a Roca do
Conselho, um pedregoso alto de montanha, onde cem lobos poderiam ajuntar-se.
Akela, o Lobo Solitário, que chefiava o bando graças a sua força e astúcia, já
lá estava sentado na sua pedra, tendo pela frente, também sentados sobre as
patas traseiras, quarenta ou mais lobos de todos os pelos e tamanhos, desde
veteranos ruços, que podem sozinhos carregar um gamo nos dentes, até jovens de
três anos que julgam poder fazer o mesmo.
- O
Solitário, os chefiava, ia fazer um ano. Por duas vezes caíra em armadilhas,
quando mais jovem, e numa delas viu-se batido a ponto de ficar por terra, como
morto. Em virtude disso tinha experiência da malícia dos homens, sua tática e
jeitos.
- Houve
pouca discussão na assembleia. Os filhotes que vieram para ser apresentados
permaneciam no meio do bando, ao lado de seus pais. De vez em vez um veterano
chegava-se até eles, examinava-os cuidadosamente e retirava-se. Ou então uma
das mães empurrava o pequeno para o ponto onde pudesse ficar bem visível, de
modo que não escapasse às vistas de toda a alcateia. Do seu rochedo Akelá
dizia:
-
Vós conheceis a lei. Olhai bem, portanto, ó lobos, para que mais tarde não haja
enganos.
- E
as mães, sempre ansiosas pela segurança dos filhos, repetiam: - Olhai bem, ó
lobos. Olhai bem. - Por fim chegou à vez de Mãe Loba sentir-se aflita. Pai Lobo
empurrava Mowgly, a Rã, para o centro da roda, onde o filhotinho de homem se
sentou, sorridente, a brincar com uns pedregulhos ao luar. - Sem erguer a
cabeça de entre as patas, prossegue Akelá no aviso monótono do "Olhai bem,
ó lobo", quando ressoou perto o rugido de Shere Khan:
-
Esse filhote de homem é meu! Entregai-me! Que tem o povo livre com um filhote
de homem? - Akelá sempre impassível, nem sequer pestanejou. Apenas ampliou o
aviso: - Olhai bem, ó lobos. O povo livre nada tem a ver com as opiniões dos
que não pertencem à sua grei. Olhai, olhai bem. Ouviu-se um coro de uivos
profundos, do meio do qual se destacou, pela boca de um lobo de quatro anos,
que achara justa a reclamação do tigre, esta pergunta:
-
Sim, que tem a ver o povo livre com um filhote de homem?
A
lei do Jângal manda que, em casos de dúvida quanto ao direito de alguém ser
admitido pela alcateia, seja este direito defendido por dois membros do bando
que não sejam seus pais.
Amanhã
o capitulo final desta linda história de Mowgly... O Menino Lobo!
Nota: - - Esse filhote de homem é meu! Entregai-me!
Que tem o povo livre com um filhote de homem? - Akelá sempre impassível, nem
sequer pestanejou. Apenas ampliou o aviso: - Olhai bem, ó lobos. O povo livre
nada tem a ver com as opiniões dos que não pertencem à sua grei. Vejam O
capitulo final ou o começo desta maravilhosa história de Mowgly e seus irmãos.
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