Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Nas pegadas do Velho Escoteiro.
Às vezes peço ajuda ao vento e
nas asas da imaginação me transporto para uma clareira de uma floresta encantada,
calma, muito verde, sons aromáticos e simples, apenas um tronco para sentar e
meditar, de onde posso ver as estrelas receber o orvalho da madrugada e poder
sonhar recordando e pensando se valeu a pena. Estico as pernas, Ouço a voz do vento, sinto o
calor do fogo, pequenas chamas coloridas a se espraiar com a ajuda da brisa
seguindo pela trilha que me levou até aquele lugar.
Quase não pisco os olhos, embriagados
pela harmonia e imponência de onde estou. Há uma canção saudosa no ar. O vento
sopra daqui para lá e de lá para cá. Satisfaz-me, me deixa encantado com o
canto da cotovia, com os grilos falantes e do riacho próximo batendo no
cascalho formando belas cascatas... Que não vejo. É hora de meditar, somar,
multiplicar e quem sabe dividir o saber que muitos anseiam e outros não. Pergunto
a mim mesmo se tudo que sei irá ser levado para o fundo do mar ou para o alto
do monte onde habitarei.
Vou em pensamento até uma
galhada no alto de um jequitibá. Sinto o arrebatar de uma interpelação dita nos
caminhos que até hoje percorri e pela sua ingenuidade me interrogo se vale a
pena responder. Claro que sim, não foi a primeira e nem será a última: - Chefe
perdoe-me a sinceridade, porque ainda não o procuraram para trazê-lo junto no
saber escoteiro e distribuir tudo que conhece antes que se perca na tempestade
do tempo e da eternidade?
Aquele homem velho como eu,
então mais sábio mais vivido, das guerras do Transvaal das noites mal dormidas em
Mafeking, do sonho da amizade ao aperto de mão ao jovem Chefe Zulu e tantas
outras aventuras, sentado na sua cadeira simples na varanda de Paxtu seu novo
lar, nas noites estreladas meditava: - Porque levar para o tumulo seu saber, seu
conhecimento, sua experiência de anos e anos labutando e ver os jovens seguindo
os mesmos caminhos que fez outrora será que pelo prazer de errar ou aprender a
fazer fazendo?
Não sei se cheguei à idade da
razão. Existe idade para isto? Se sou benquisto se passei pelas trilhas do
saber se hoje não posso mais gritar “Avante” vamos lá escoteirada, o vento é
nosso guia, a trilha vai nos levar a algum lugar! Na minha Paxtu ainda tento
transmitir o saber que achei que tinha, botei no papel as letras que iriam
formar palavras e da minha imaginação tentei ao meu modo transmitir o que ele o
Rei do Transvaal ensinou e ainda não sabia do sucesso do seu caminho de sua jornada
do seu porvir...
Qual resposta daria ao jovem Chefe
que me arguiu e até mesmo sonhou que poderia escoteirar perto da minha Paxtu e
aproveitar meu saber escoteiro pensando que poucos poderiam e me deixaram para
trás... Me chama de Lenda Viva! – Chefe! Tem de ser reconhecido ainda em vida!
Será que ninguém mais se interessa pelo saber dos anciãos escoteiros? Chefe! Estão
hoje os novos chefes egocêntricos, deixando de lado princípios, tradições e
lendas? Quem me dera Chefe poder estar aí ao seu lado, adquirindo conhecimentos
e absorver tudo que adquiriu no tempo...
Minha fogueira perdeu a chama e
se apagou. Meu coração enfumaçado se encheu de alegrias. Ele não sabe que optei
pela liberdade. Pedi minha alforria dos lideres de outrora e os de hoje não querem
ouvir os mais velhos, já se tornaram sábios, eruditos, literatos e doutores em
escotismo. Não precisam de histórias, já conhecem o começo de pista... Junto a
eles não é o meu lugar. Não tenho papel, documento, não tenho soldo para pagar
o que querem. Me meti em uma guerra não vou vencer. Mas não desisto minha Mafeking
sitiada ainda resiste!
Para eles não sou ninguém.
Apenas um palreador ou prolixo às vezes irresponsável no dito e não dito. Na
minha Paxtu, minha casa, minha barraca meu lar não a transformei em um mero
programa da maquininha universal. Não sou bom do artigo tal, do código tal, da
senha tal. Entendo de ar fresco, de montanhas, de trilhas e tropeços. Atropelo
bem um cipó na árvore da vida. Não tenho numero, sou para eles um zero, ou
melhor, um insignificante e falante Velho Escoteiro.
Portanto meu amigo, em uma
curvatura de respeito, agradeço suas frases, seus vocábulos e seus elogios que não
mereço. Continuo minha sina, quero ter liberdade de expressão sem ser
admoestado. Quero falar, dizer, exprimir o que sinto do meu escotismo, não só
meu, pois não comprei suas ações. Me curvo à simplicidade, a amizade, me curvo
aos amigos que me querem bem. Aos comandantes, dirigentes eu não tenho nada a
dizer!
Nota:
- Um amigo escreveu em uma das minhas publicações que gostaria de sentar comigo
nas pedras dos caminhos, em volta do fogo, voejando nas nuvens e adquirindo
conhecimentos e saber. Pragueja ao seu modo inocente porque os anciãos
escoteiros não tem seu lugar ao sol. Não uma medalha da velhice, mas seu saber
para distribuir e fazer com que não se repita novos erros novos amanhecer sem
futuro. O que dizer para ele? Tentei ao meu modo fazer. Fraternos abraços
querido amigo. Em pensamento em espirito estou junto a você!
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