Lendas escoteiras.
Era uma vez... Um lindo nascer do sol!
Era uma vez... Um lindo nascer do sol!
“Encontre em cada anoitecer um motivo pra recomeçar. Pois
ao nascer do sol, a vida te reservará mais uma surpresa ao longo do dia”.
Jamile Reis.
Vamos Nani, está na hora! Acorde! Eu não queria acordar. Acordar para
que? Noite escura, um frio gelado lá fora da minha barraca. Eu queria dormir.
Jesse não perdoava, puxava minhas pernas, meus braços e retirou minha manta que
me aquecia e eu me enroscava mais e mais. Achei que Jesse não estava bem da
cabeça. Bastava que ele nos fez subir no Monte Altaneiro, às duas da tarde, um
sol de rachar só para vermos um por do sol. Bah! Quantos por do sol em vi em
minha vida? Já tinha visto muitos, nunca prestei atenção, pois logo escurecia.
Mas ele sempre dizendo
que os Escoteiros são amigos da natureza, das belezas da terra, e nós tínhamos
muito a aprender. Chegamos cedo. Todos cansados da subida respirando ofegante.
Nem uma árvore para nos proteger. Vimos o sol iluminando todo o Vale da
Esperança. Até que a vista era bonita. Muito verde, da Cachoeira da Onça saia
uma fumaça e o sol ainda pelejando no céu. Sentei na Pedra Vermelha e a
patrulha também. Acho que ninguém estava nem ai para o tal por do sol.
Lembro que tudo começou quando ele
resolveu nos mostrar como a natureza era bela, e se nós prestássemos atenção
iriamos ver tantas coisas lindas que só os Escoteiros sempre alerta poderiam
ver. Eu não entendia nada do que ele dizia e até fiquei surpreso, pois ele era
mais velho que eu um ano. Onde será que aprendeu estas coisas? Foi Netinho quem
me disse que ele passava horas e horas enfurnado
na biblioteca da cidade. Deve ter sido ali que veio estas ideias de natureza.
Para dizer a verdade para mim árvore era árvore e riacho era riacho.
Se ela a cachoeira soltava fumaça tudo bem. O Chefe disse um dia que
isto era provocado pelo calor e o contato da água fria a cair de uma altura de
mais de 20 metros. Mais do que natural. E quando os peixes queriam subir pelas pedras
até o alto? Jessé sorria e explicava o que era a época da piracema. Não entendi
nada e achei que os peixes eram idiotas, pois nunca iriam conseguir.
Jesse o nosso monitor não dava folga. Ele viu uma aranha entre duas
arvores fazendo sua teia e chamou a patrulha para observar. – Olhem como ela
faz, vejam a sua inteligência! Vocês sabiam que a aranha constrói a teia com a
fiandeira, uma parte do seu corpo que fica no fim do abdome? Lá tem um monte de
tubinhos do qual sai uma substância liquida e quando entra em contato com o ar,
essa substância endurece e se transforma em fio de seda!
Palavra que não sabia de nada. Jessé parecia nosso Professor de
história. Até que achei a história da aranha interessante, mas o por do sol?
Bem não vou criticar o Jessé, pois ele praticamente nos obrigou a ficar ali
olhando o sol se escondendo atrás do Pico do Gavião, e quer saber? Até que
achei bonito. Nunca prestei muita atenção. No retorno ele falando da natureza, das
samambaias ao lado da trilha e com seu ar professoral dizia que elas gostam
muito de terrenos pantanosos e locais altos. Precisavam das chuvas e ar frio
para sobreviverem.
Jessé era demais. Pela manhã acabamos de almoçar e ele nos obrigou a
lavar as panelas correndo, bom Monitor... Nos ajudava. Pegou a Patrulha e nos
levou para um tal de jogo Ver sem ser Visto. Não entendi bem, pois era um jogo
parado. Nossa missão era chegar perto dos Inhambus que ficavam próximo da Lagoa
da Chuva. – Vão devagar olhando onde pisam. Vejam onde sopra o vento, ele não
pode levar o cheiro de vocês até o pássaro. Se sentir vai voar!
Só dois conseguiram chegar a menos de dez metros. Mas o Jesse era um Monitor
experiente. Quase tocou nas asas do Inhambu. O dia amanheceu. Tinha de me
levantar da barraca. Um absurdo com aquele frio e ir ver o nascer do sol no
Monte Altaneiro. Poxa subir duas vezes ao cume? Fazer o que. Peguei minha manta
e me enrosquei nela. A patrulha calada. A subida não demorou mais que meia
hora. Estava escuro ainda quando sentamos na Pedra Vermelha.
No horizonte tudo escuro. Pensei comigo que ser Escoteiro é bom, mas o
Jessé estava passando dos limites. Minha cama na barraca estava gostosa demais.
Jesse cantarolava a canção da alvorada. Ela assoviava bem. – então ele começou
a falar – Vejam vocês já observaram que a beleza da vida está no inicio das
coisas? Vocês estão aprendendo agora para depois lembrarem para sempre. O
nascer do sol é como o nascer da vida, o nascer do amor, o nascer da amizade!
Quem sabe era verdade. Eu vi o nascer do sol do alto do Monte Altaneiro.
Nunca imaginei que fosse assim. Nunca prestei muita atenção ao que o nosso
Monitor nos ensinava. Mas foi a madrugada mais bonita em minha vida. Era lindo
olhar no horizonte, além da Montanha da Lua e ver o amarelo aparecendo, depois
o vermelho e seu esplendor e brilho em todo o vale. Meus olhos se encheram de
lágrimas de felicidade.
Jessé não tirava os olhos daquele espetáculo. Recitava para nós um poema
do Escritor J. Reis: – Encontre em cada anoitecer um motivo para recomeçar.
Pois ao nascer do sol, a vida te reservará mais uma surpresa ao longo do dia.
Meus olhos de criança choravam. Ninguém dizia nada. Aquela era a hora da
patrulha. Era a hora do seu despertar. E foi então que todos olharam para o
Jessé e sem nada a dizer ele entendeu o que queríamos dizer – “Obrigado
Monitor. Este espetáculo ficará para sempre guardado em nossos corações”.
Nota – Um leitor compartilhou esse conto meu. Me esqueci
dele. Para mim o verdadeiro sentido da filosofia escoteira. Brenon Salvador um
poeta assim escreveu: - “Eu sou o nascer do Sol, enquanto a Terra estertora. E
quando o engenho da vida vai embora eu sou o crescer da Lua no intimo de um céu
que chora. Todavia, encontro a arte da vida vagando pelo ar. Vejo
deliberadamente o abstrato a se formar. Faço-me de Sol e Lua enquanto a Terra
aflige Faço-me eclipsar”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário