Lendas Escoteiras.
O Destino de Salomon St Gilles.
Salomon St Gilles estava
preocupado. Há dias estava assim. Não tinha ideia qual atitude tomar. Nas
margens do Regato Baden-Powell nome que os escoteiros deram quando acamparam
ali pela primeira vez, ele não sorria. Não tinha como. Em uma cadeira com
encosto que construíra às margens do Regato feita com encaixes para durar muito
tempo ele meditava. Sua Tropa gostava de acampar nas terras do Miranda, um
amigo dos escoteiros.
Passavam das doze horas e as patrulhas
foram liberadas para fazer o almoço. Carlito e Moeda tinham feito uma
proveitosa pescaria ao anoitecer de ontem e as patrulhas sabiam que os
cozinheiros iriam preparar uma deliciosa moqueca já famosa de acampamentos
passados. Nem pensava no que iam fazer à tarde. Seu pensamento era outro.
Porque seu pai nunca lhe contou onde nasceu e quem fora sua família na França.
Na França? Ele sempre pensou que nasceu em Morro Vermelho. Era a única cidade
que conhecia.
Monjave e Lamparina chegaram sem
fazer barulho. – Chefe, hoje o senhor vai almoçar conosco. Já conversamos com
os Tigres, Beija Flor e Morcego. Eles concordaram. Salomon agradeceu. – Muito
obrigado, me chamem quando ficar pronto. Sempre fora assim ele amava seus
escoteiros que também o amavam como seu líder seu herói. Era um simples
carteiro na cidade, por sinal o único. Dona Florência era a Chefe dela e dele.
Morro Vermelho nunca cresceu apenas três mil habitantes e perdia boa parte de
pessoas que iam embora.
Vinte anos de Correio. Vinte
anos que fez amizade com quase todos da cidade. Gostava de papear com Dona
Valência, Seu Pafuncio, Dona Violeta e tantos outros. Todos os dias saia para
trabalhar sorrindo e voltava sorrindo. Doutor Flaviano se apresentou a ele na
sua casa na tarde de quinta feira. – Senhor Salomon, sou advogado contratado
para lhe informar suas origens. Salomon se sobressaltou. Viu um homem de terno,
cabelos brancos, muito educado e ouviu tudo que ele tinha a dizer. Porque seu
pai nunca lhe disse nada? Por quê?
- Senhor Salomon, o senhor é
descendentes de uma nobre família francesa. Seu pai era filho do Conde Bertrand
de St Gilles e da Condensa Adélia Taipé St Gilles. Em 1948 seu pai teve uma
altercação com seu Avô saiu de casa e prometeu nunca mais voltar. Seus avós
nunca tiveram notícia dele. Ano passado seu Avô faleceu aos noventa e dois
anos. Sua Avô contratou diversas agencias para achar o paradeiro do filho. Chegamos
ao senhor o neto.
- Sua Avó já com idade avançada
requer cuidados e quer o senhor ao seu lado. Em um testamento deixou toda a
fortuna para o Senhor desde que fique ao lado dela até sua morte. Recebi ordens
de depositar em sua conta $100.000 Euros para sua viagem e despesas. Aqui está
o endereço onde o senhor deve ir à França: - Salomon leu devagar. Estava
assustado. Nunca pensou que era rico e gostava da vida que levava.
Naquela noite Salomon St
Gilles reuniu os monitores. Contou a noticia quase chorando. – Tenho de partir
meus caros monitores, não posso deixar minha avó sozinha. Embarco para a França
a semana que vem. Meu endereço é Najac, departamento de Averon no sul da França
no Castelo de Najac onde mora minha Avó. Os monitores correram a abraçar Salomon.
– Chefe! Disse um deles o que será de nós? A tropa não tinha Assistente e nem
era reconhecida. Eram livres para voar onde quisessem e fazer o escotismo de
campo que todos adoravam.
Na plataforma da Estação Don
Pedro, os escoteiros choravam abraçavam e dizendo adeus. Salomon também chorava. Deixou uma vida de
amor e fraternidade para trás. Passaram quinze anos. Sua Avó a Condensa Adélia
Taipé St Gilles falecera há dois meses e Salomon naquele castelo gigantesco não
sabia o que fazer. Sua fortuna era incalculável. Tinha um jato, carros
motorista e até um Iate ancorado em Sain-Tropez um balneário famoso.
Salomon resolveu voltar. Não
iria vender o castelo, tinha condições de mantê-lo. Iria comprar um terreno no
alto do morro da Coruja em Morro Vermelho e ali fazer uma bela mansão.
Construiria uma bela sede e retornaria ao escoteiros que sempre amou. Fez
planos, muitos. Chegou à noitinha em Morro Vermelho. Hospedou-se na Pensão
Santa Lucia. Dona Etelvina tinha falecido e seu novo proprietário não o
reconheceu. Dormiu pensando em abraçar seus escoteiros.
Salomon St Gilles esqueceu-se
dos quinze anos que haviam passado. Seus escoteiros agora eram homens feitos. A
maioria saiu da cidade em busca de oportunidades escolares e profissional. Só
encontrou Monjave e Lamparina. Monjave estava em um estado lastimável. Magro
tosse intermitente quase não falava. – Chefe, apenas uma tuberculose, nada
demais... Lamparina trabalhava como Gari na Prefeitura local. Salomon chorou.
Chorou demais. Do que valeu sua fortuna, seu castelo se tudo que amou deixou de
existir?
Monjave morreu uma semana
depois. Lamparina o olhava com estranheza. Salomon sabia que não era o mesmo
Chefe de outrora. Alugou uma charrete e foi até ao Riacho Baden-Powell.
Acreditou que lá ele teria a paz. O Senhor Miranda também deixou este mundo.
Conheceu Palácios um homem comum diferente daquele que o abraçava quando
chegava cantando o Rataplã com os escoteiros.
Encontrou sua cadeira de encosto, velha,
madeirame querendo cair. Reconstruiu, sentou. Fechou os olhos olhando para as
águas tranquilas do Riacho Baden-Powell. Chorou baixinho. Não tinha mais
monitores para conversar... Olhe esta história não tem um final. Voce meu amigo
leitor pode fazer seu final e escrever nos comentários. Eu conheci Salomon e quando
vou até Morro Vermelho e aproveito para sentar em sua cadeira eu... Não gosto
de lembrar!
Nota – Dizem que é uma história sem nexo.
Impossível de acontecer. Pode ser. Lembro quando Salomon um dia me descreveu
seu Castelo na França: - Chefe foi construído no cume de uma colina formada por
um rio cheio de voltas. Eu gostava de ir lá e até fiz uma nova cadeira com
encosto. O pátio interno do castelo forma um retângulo áspero, com mais de 40
metros de comprimento. Tem torres voltadas para o Sul e o Norte. Á porta é
protegida por uma barbacã... Quando ele me contava eu chorava com ele.
Lembranças de um Castelo de Najac que Salomon deixou para trás, para morar numa
cidadezinha comum. Morro Vermelho
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