quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Lendas Escoteiras. O Lobinho herói de Santa Genoveva.



Lendas Escoteiras.
O Lobinho herói de Santa Genoveva.

Prefácio: - Me divirto ao contar historias. Pode ser de lobo, Escoteiro e Chefe. Quando fui Balu em uma Alcatéia tivemos um menino que falava fanhoso e envergonhado preferia ficar calado. Não sei se me baseei nele nesta história. Quem sabe tem um “tiquito” de nada do real. Dizem que ele foi o lobo herói de Santa Genoveva.

                              Em Santa Genoveva Jovelino era um herói. Foi um exemplo de vida não só para a Alcatéia como para os jovens da cidade. Se ele foi um Super Herói não sei. Vamos à história. Antes vamos conhecer quem foi o Lobinho Jovelino Troca Letras. Nasceu em 1950 e não chorou. Sua mãe trabalhava no correio e seu pai estava internado em um Manicômio Judiciário de Terra das Vertentes. Na cidade a família de Jovelino era tida como “malucos”. Quando fez quatro anos sua mãe observou que ele só ria. Diziam ser um riso de idiota que pouco falava.

                             Fanhoso na escola começaram a rir dele, fazendo “chacotas”, chamando-o de biruta, pirado, lunático, tantan e muito mais. O apelidaram de gaguinho e depois de Jovelino Troca Letras. Jovelino nunca retrucou. Sorria para todos. Aos seis anos descobriu os escoteiros. Aos sábados corria para ver as reuniões dos lobos. Vibrava com os jogos pulava e tentava emitir sons que dificilmente saia. Os lobinhos o conheciam do colégio e nas ruas da cidade. A Akelá Márcia perguntou a ele se queria ser lobinho. Seus olhos disseram tudo. Ele balançou a cabeça com a dizer que sim. Marcia ficou sabendo que era fanhoso e não gostava de falar. Martinha veio ao seu socorro. Akelá, Jovelino Troca letras é fanhoso e não fala.

                      Marcia pensou em ajudar. Iria conhecer a família de Jovelino. Falou com ele devagar – Jovelino! Peça a sua mãe para vir aqui. Certo? – Se ele entendeu ninguém soube, mas a mãe de Jovelino nunca apareceu. Marcia sabia que não podia admiti-lo sem a presença dos pais. Jovelino tinha boa aparência. Cabelos louros e ondulados. Suas roupas eram humildes, mas limpas. Calçava uma sandália de dedo limpa e com unhas aparadas. Magro, não era alto pela sua idade. Enquanto pequeno passou por todos os médicos do INSS. Pobre ninguém resolveu sua doença.

                       Uma tarde a mãe dele apareceu. Conversaram muito. Marcia mesmo sem entender e sem experiência disse a ela que queria ajudar. Jovelino Troca Letras foi aceito na Alcatéia e colocado na matilha cinzenta. No inicio os resultados foram desastrosos. Os lobinhos e as lobinhas riam dele. Difícil mudar isto. Oito meses depois o próprio Jovelino estava desistindo. Dizia para a Akelá Márcia: - Ão adianta ontinuar. Ou sair. Olo muito! Os chefes da Alcatéia se reuniam, discutiam e chegavam à conclusão que ele não estava ajudando.

                    - Ele não aprende nada diziam. Jovelino sonhava com o uniforme. Espere sua vez diziam. Um sábado Jovelino não apareceu. Alguns chefes acharam melhor assim. Marcia ficou preocupada. Afinal se sentia culpada. Resolveu ir a sua casa. Com sua filha que era Escoteira foi com ela até a Rua do Ouvidor. Não foi difícil achar sua casa. Na porta a mãe a recebeu com um sorriso triste. Estranharam. A mãe de Jovelino serviu um cafezinho e uns bolinhos.

                     – Chefe, eu fui obrigada a internar o Jovelino em uma casa de repouso. Ele passou a gritar, chorar, e violento dizia que queria morrer. Pessoas humildes, sem posse e conhecimento Marcia se preocupou. Que casa seria esta? Nunca ouviu falar. Pediu o endereço e foi lá. Coitado do Jovelino. No meio de homens e mulheres que estavam em processo de loucura totalmente insana e degradante. A maioria sem familiares para ajudar. Espalhados pelo pátio faziam suas necessidades na grama, uns gritavam outros davam gargalhadas. Enfermeiros agiam com brutalidade. Viu Jovelino em um canto, e caramba! Sorrindo! Estava com um buquê de flores e veio correndo entregar a Chefe Marcia. Ela não aguentou. Chorou e deu nele um abraço.

                  Na secretaria disseram que ele não podia sair. Nem a mãe poderia tirá-lo. Enquanto não melhorasse. Melhorar? Ali? Marcia foi direto ao juiz da cidade. Conhecia-o. Era pai de um Escoteiro. Jovelino saiu no outro dia. E agora o que fazer? Como reintegrá-lo na Alcatéia novamente? Falar com os lobinhos? Consultou os demais assistentes. Consultou o Presidente fizeram um Conselho de Chefes do Grupo. Todos se apiedaram e foram unânimes em concordar com sua volta. Perguntaram como ele iria interagir com os demais? Marcia aceitou o desafio. Logo deu a ele um uniforme. Ele sorria de orelha a orelha. Naquele sábado a reunião foi na Praça Central da cidade. Era uma maneira de fazer marketing para o grupo.

                    Na praça um homem grande, barbudo, com um revolver na mão chegou gritando. Pegou pelos cabelos a lobinha Martinha. Ela com os olhos arregalados começou a gritar e pedir socorro. O homem apontava a arma e dizia que a mataria se alguém se aproximasse. A policia que o procurava fez o cerco. Era assaltante de banco. Matou a tiros o gerente. Um silêncio sepulcral no Parque. Os lobinhos e as lobinhas soluçavam e choravam. Marcia e os assistentes indefesos. Os policiais pronto para atirar. Ele ria e dizia: - Vou matar! Vou matar! Vou levar esta junto comigo para o Inferno. Ninguém acreditava no que via. Jovelino sorrindo se aproximou: - Calma minha irmã! Tudo vai dar certo e foi chegando para perto dos dois. O bandido gritou para ele parar, pois o primeiro tiro seria dele. A polícia gritou para Jovelino sair dali.

                     Com grande agilidade Jovelino deu um salto e abraçou o bandido pelo pescoço. Ele sentindo o peso do menino soltou Martinha que saiu correndo. Com um safanão o bandido jogou Jovelino no chão e atirou. A policia nesta hora crivou o corpo do bandido de balas. Ele caiu ao chão ao lado de Jovelino que sangrava. Levaram Jovelino para o hospital. Ele quase não respirava. Internado na UTI ficou lá dois meses. Na porta do hospital uma multidão de lobinhos e escoteiros e seus familiares faziam vigília.

                    Quatro meses depois ele recebeu alta. Um milagre aconteceu. Ele agora falava sem gaguejar. Deram a ele uma medalha da cidade. O povo veio ver e aplaudiu. Os escoteiros em uma estrondosa palma Escoteira saudaram Jovelino. O lobinho herói de Santa Genoveva. Sei que Jovelino quando cresceu foi escoteiro Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria.  Dizem também que ele se formou em direito e é um grande advogado na capital. Dizem também que ele faz questão de participar de um Grupo Escoteiro lá. Só sei que em Santa Genoveva ninguém nunca mais esqueceu.   

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