Lendas Escoteiras.
O Lobinho herói de Santa Genoveva.
Prefácio: - Me divirto
ao contar historias. Pode ser de lobo, Escoteiro e Chefe. Quando fui Balu em
uma Alcatéia tivemos um menino que falava fanhoso e envergonhado preferia ficar
calado. Não sei se me baseei nele nesta história. Quem sabe tem um “tiquito” de
nada do real. Dizem que ele foi o lobo herói de Santa Genoveva.
Em
Santa Genoveva Jovelino era um herói. Foi um exemplo de vida não só para a
Alcatéia como para os jovens da cidade. Se ele foi um Super Herói não sei. Vamos
à história. Antes vamos conhecer quem foi o Lobinho Jovelino Troca Letras. Nasceu
em 1950 e não chorou. Sua mãe trabalhava no correio e seu pai estava internado
em um Manicômio Judiciário de Terra das Vertentes. Na cidade a família de
Jovelino era tida como “malucos”. Quando fez quatro anos sua mãe observou que ele
só ria. Diziam ser um riso de idiota que pouco falava.
Fanhoso na escola começaram a rir dele, fazendo
“chacotas”, chamando-o de biruta, pirado, lunático, tantan e muito mais. O
apelidaram de gaguinho e depois de Jovelino Troca Letras. Jovelino nunca
retrucou. Sorria para todos. Aos seis anos descobriu os escoteiros. Aos sábados
corria para ver as reuniões dos lobos. Vibrava com os jogos pulava e tentava
emitir sons que dificilmente saia. Os lobinhos o conheciam do colégio e nas
ruas da cidade. A Akelá Márcia perguntou a ele se queria ser lobinho. Seus
olhos disseram tudo. Ele balançou a cabeça com a dizer que sim. Marcia ficou
sabendo que era fanhoso e não gostava de falar. Martinha veio ao seu socorro. Akelá,
Jovelino Troca letras é fanhoso e não fala.
Marcia pensou em ajudar. Iria conhecer a
família de Jovelino. Falou com ele devagar – Jovelino! Peça a sua mãe para vir
aqui. Certo? – Se ele entendeu ninguém soube, mas a mãe de Jovelino nunca
apareceu. Marcia sabia que não podia admiti-lo sem a presença dos pais.
Jovelino tinha boa aparência. Cabelos louros e ondulados. Suas roupas eram humildes,
mas limpas. Calçava uma sandália de dedo limpa e com unhas aparadas. Magro, não
era alto pela sua idade. Enquanto pequeno passou por todos os médicos do INSS.
Pobre ninguém resolveu sua doença.
Uma tarde a mãe dele apareceu. Conversaram
muito. Marcia mesmo sem entender e sem experiência disse a ela que queria
ajudar. Jovelino Troca Letras foi aceito na Alcatéia e colocado na matilha cinzenta.
No inicio os resultados foram desastrosos. Os lobinhos e as lobinhas riam dele.
Difícil mudar isto. Oito meses depois o próprio Jovelino estava desistindo.
Dizia para a Akelá Márcia: - Ão adianta ontinuar. Ou sair. Olo muito! Os chefes
da Alcatéia se reuniam, discutiam e chegavam à conclusão que ele não estava
ajudando.
- Ele não aprende nada diziam. Jovelino
sonhava com o uniforme. Espere sua vez diziam. Um sábado Jovelino não apareceu.
Alguns chefes acharam melhor assim. Marcia ficou preocupada. Afinal se sentia
culpada. Resolveu ir a sua casa. Com sua filha que era Escoteira foi com ela
até a Rua do Ouvidor. Não foi difícil achar sua casa. Na porta a mãe a recebeu
com um sorriso triste. Estranharam. A mãe de Jovelino serviu um cafezinho e uns
bolinhos.
– Chefe, eu fui
obrigada a internar o Jovelino em uma casa de repouso. Ele passou a gritar,
chorar, e violento dizia que queria morrer. Pessoas humildes, sem posse e
conhecimento Marcia se preocupou. Que casa seria esta? Nunca ouviu falar. Pediu
o endereço e foi lá. Coitado do Jovelino. No meio de homens e mulheres que
estavam em processo de loucura totalmente insana e degradante. A maioria sem
familiares para ajudar. Espalhados pelo pátio faziam suas necessidades na
grama, uns gritavam outros davam gargalhadas. Enfermeiros agiam com
brutalidade. Viu Jovelino em um canto, e caramba! Sorrindo! Estava com um buquê
de flores e veio correndo entregar a Chefe Marcia. Ela não aguentou. Chorou e
deu nele um abraço.
Na secretaria
disseram que ele não podia sair. Nem a mãe poderia tirá-lo. Enquanto não
melhorasse. Melhorar? Ali? Marcia foi direto ao juiz da cidade. Conhecia-o. Era
pai de um Escoteiro. Jovelino saiu no outro dia. E agora o que fazer? Como
reintegrá-lo na Alcatéia novamente? Falar com os lobinhos? Consultou os demais
assistentes. Consultou o Presidente fizeram um Conselho de Chefes do Grupo. Todos
se apiedaram e foram unânimes em concordar com sua volta. Perguntaram como ele
iria interagir com os demais? Marcia aceitou o desafio. Logo deu a ele um uniforme.
Ele sorria de orelha a orelha. Naquele sábado a reunião foi na Praça Central da
cidade. Era uma maneira de fazer marketing para o grupo.
Na praça um
homem grande, barbudo, com um revolver na mão chegou gritando. Pegou pelos
cabelos a lobinha Martinha. Ela com os olhos arregalados começou a gritar e
pedir socorro. O homem apontava a arma e dizia que a mataria se alguém se
aproximasse. A policia que o procurava fez o cerco. Era assaltante de banco. Matou
a tiros o gerente. Um silêncio sepulcral no Parque. Os lobinhos e as lobinhas
soluçavam e choravam. Marcia e os assistentes indefesos. Os policiais pronto
para atirar. Ele ria e dizia: - Vou matar! Vou matar! Vou levar esta junto comigo
para o Inferno. Ninguém acreditava no que via. Jovelino sorrindo se aproximou:
- Calma minha irmã! Tudo vai dar certo e foi chegando para perto dos dois. O
bandido gritou para ele parar, pois o primeiro tiro seria dele. A polícia
gritou para Jovelino sair dali.
Com
grande agilidade Jovelino deu um salto e abraçou o bandido pelo pescoço. Ele
sentindo o peso do menino soltou Martinha que saiu correndo. Com um safanão o
bandido jogou Jovelino no chão e atirou. A policia nesta hora crivou o corpo do
bandido de balas. Ele caiu ao chão ao lado de Jovelino que sangrava. Levaram
Jovelino para o hospital. Ele quase não respirava. Internado na UTI ficou lá
dois meses. Na porta do hospital uma multidão de lobinhos e escoteiros e seus
familiares faziam vigília.
Quatro meses
depois ele recebeu alta. Um milagre aconteceu. Ele agora falava sem gaguejar.
Deram a ele uma medalha da cidade. O povo veio ver e aplaudiu. Os escoteiros em
uma estrondosa palma Escoteira saudaram Jovelino. O lobinho herói de Santa
Genoveva. Sei que Jovelino quando cresceu foi escoteiro Lis de Ouro e Escoteiro
da Pátria. Dizem também que ele se
formou em direito e é um grande advogado na capital. Dizem também que ele faz
questão de participar de um Grupo Escoteiro lá. Só sei que em Santa Genoveva
ninguém nunca mais esqueceu.
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