Lendas
Escoteiras.
Doce
vingança.
Prologo: - As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar
um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo. Sentir primeiro, pensar
depois, perdoar primeiro, julgar depois amar primeiro, educar depois, esquecer
primeiro, aprender depois. Perdoar não significa esquecer...
O utilitário negro parou em frente à Pensão
Santa Ana. Um homem dos seus cinquenta anos desceu com uma pequena maleta e
entrou. Mais tarde o povo ficou sabendo que ele pediu um quarto por algumas
horas. Um banho e depois ia partir. Luar do Sertão não tinha mais que oito mil
habitantes. Cidade pequena sem atrativos quem morava ali sabia que nada iria
mudar.
Uma hora
depois nas frestas das janelas viram o homem de uniforme Escoteiro. Dirigiu-se
ao Grupo Ventos do Norte e parecia saber o caminho. O Chefe ficou surpreso com
a visita, pois nunca antes isto aconteceu. O cumprimentou com entusiasmo.
Estava com o lenço da Insignia de Madeira e devia ser um figurão, pois tinha
quatro tacos.
Não ficou nem meia hora. Nada falou só olhou
e partiu. A Alcatéia a Tropa escoteira e Sênior pararam as atividades para
vê-lo ir em direção à pensão Santa Ana. No portão viram quando ele já sem
uniforme entrou em seu utilitário preto e partiu rumo a Br.262. Quem seria? Porque
uma visita de médico e tão sucinta? Nem disse seu nome e nem por que veio.
Dolores foi quem
disse que ele deixou um cheque de Um milhão e oitocentos mil reais para Dona
Zulmira, da Casa de Saúde que todos passavam longe só para não ver os mosquitos
e a sujeira do lugar. Por quê? Porque tanto dinheiro para ela? – E tem mais
disse Dolores, deixou também um cheque de setecentos mil reais para Madrugo. O
que? Madrugo o mendigo que vivia embriagado?
O Chefe Zé Mulato ficou
intrigado. Se foi nos visitar porque não nos deixou nada? – Afinal não somos
irmãos de ideal? A reunião escoteira terminou antes de começar. Os buchichos
sapecavam orelhas nem sempre limpas. Na Praça Madrugo dava gargalhada. – Só eu!
Só eu! Eu sabia que ele viria e iria se vingar da cidade.
– Vingança? Que vingança que não viram?
Fizeram uma roda em volta de Madrugo. – Quem era Madrugo? Ele continuava rindo
e não dizia nada. Foram até a Casa de Saúde de Dona Zulmira. Ela sempre com o
semblante preocupado disse que não se lembrava de quem era.
- Em algum lugar do
passado.
- Gato Preto foi
amarrado a um poste e chicoteado pelo Delegado Mitongo. A cidade em peso veio
assistir e aplaudir. Ele precisava diziam. Não foi a primeira nem a última.
Beijou a filha do Doutor Virgulino o prefeito em plena praça e ao sol do meio
dia. Um menino! Um menino fazendo isto? Zé Mulato já era o Chefe do Grupo e
quando Gato Preto o procurou disse que não tinha vaga. – Dona Bastiana sua Avó
bem que tentou, mas Zé Mulato nem quis saber.
- A Tropa suspirou
aliviada. Tinham medo de Gato Preto. O Delegado o arrastou pela perna até o
entroncamento da Br.262 com a entrada da cidade. O jogou no mato como se joga
um porco. Viram Dona Zulmira indo até lá. No mínimo iria passar unguentos que
ela mesma fazia nele. Madrugo foi atrás. Dona Zulmira voltou, Madrugo não.
O tempo passou Gato Preto
desapareceu e ninguém soube se morreu ou viveu. Moleque o Sênior mais antigo
disse ao Chefe Zé Mulato. – Chefe não era o Gato Preto? Ficaram todos
ressabiados. Poderia ser. Lembraram que Madrugo também ficou mais de cinco
meses sem aparecer na cidade. Todos respiravam aliviados. Sem Gato Preto sem
Madrugo agora podiam respirar em paz.
– Chefe, porque o senhor
não o aceitou nos escoteiros? – Zé Mulato pensou e disse que não se lembrava
mais. – Pois é Chefe, ele deve ter ficado magoado. Agora rico lembrou-se
somente de quem o ajudou. – Mas porque veio nos visitar? Bem Chefe, no fundo
ele agora é um Escoteiro, deve ter aprendido a não guardar mágoa. Ele sabia que
toda magoa é um orgulho ferido. A magoa é um veneno que se toma para um dia se
vingar.
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