Lendas escoteiras.
As aventuras do Escoteiro Chico Landi.
Prefácio:
- Não duvides da história do Escoteiro Chico
Landi. Nunca duvidei. Chico era um daqueles que se dizia com alma e Espírito
Escoteiro. Seus casos são lembrados até hoje no livro da Patrulha. Eu sou testemunha
da história.
Quando essa
história aconteceu eu e o Chico não éramos do mesmo grupo e da mesma Patrulha.
Sua história ficou conhecida e muito conhecida. Quando adulto e entrou para o
restrito 1º Grupo de Gilwell contou aos IMs participantes que duvidaram de sua
veracidade. Chico deu sua palavra de escoteiro. Seu pai um fã de Chico Landi,
um famoso automobilista brasileiro resolveu batizar seu filho com o mesmo nome.
Colocaram nele o apelido de Centelha na Tropa e não pegou. Chico Landi era
danado, vivia a dizer: - Escoteiro não corre, voa! Escoteiro que é Escoteiro
não chora da risada! A chuva para o Escoteiro é como pétalas de rosas a cair em
seu rosto! Para o Escoteiro a palavra impossível não existe!
Ele tinha um caderno onde anotava tudo
que acontecia com ele, acampamentos excursões, reuniões de sede e o escambal.
Quando lobinho seus chefes às vezes perdiam a paciência pela insistência dele
em acantonar. - Kelá! Quando tem outro acantonamento? Kelá chega de reunião na
sede. Vamos passear no campo! Chico Landi adorava a natureza. Quando passou
para os Escoteiros tudo mudou. Marcio o Chefe tinha pouco tempo para dedicar e deixava
os monitores agirem sob a sua supervisão. Algumas vezes acampavam juntos e outras
sem chefia.
Monty o Guia da tropa
dizia sempre: – Onde tem um Escoteiro tem uma Tropa e onde tem uma Tropa tem
aventuras. O escotismo o absorveu tanto que Dona Laurinda foi conversara com seus
pais. – Chico Landi anda mal nos estudos, vive nas nuvens, Chico Landi não pode
continuar assim, só fala em escotismo, escotismo e mais nada! Doutor Juvenal
pai de Chico Landi era um pai compreensivo. Conversou longo tempo com o filho.
Chico Landi adorava o pai. Seguia seus
conselhos a risca. Mas Chico amava o campo. Adorava correr pelas campinas,
espantar as borboletas colher flores silvestres e ficar horas vendo os raios de
sol de um amanhecer. Sabia fazer nós, reconhecia qualquer gorjeio de pássaros, qualquer
canto. – Olhe! Ouçam! É o pássaro Preto do serrado perdido aqui nas campinas!
Pegadas? Chico era um bam, bam. Nos acampamentos sua Patrulha Lobo era a
primeira a dar o grito para o almoço, jantar, inspeção, formaturas e sempre
motivando a patrulha.
- Monty, por que não acampamos?
Monty ria, ora, ora Chico Land, não podemos viver em um acampamento. A sede
precisa de nós. Humm! Se é assim vamos fazer um Salcedo! Para quem não sabe
Salcedo era um apelido que deram ao Comando Crow. Eles faziam diferente, um de
cada lado, ao se encontrarem tinham de passar um pelo outro. Sempre um
despencava no chão. A vida era bela para Chico Landi. Uma família que o amava,
uma Patrulha sem igual.
- Além do escotismo Chico
gostava de Dona Laurinda a professora e o Padre Gabriel. Eles faziam parte da
família feliz de Chico Landi. A vida tem destas coisas, quanto menos se espera
o destino bate na porta. Desta vez demais. Seis bandidos resolveram assaltar o
Banco do Brasil da cidade. Prenderam os quatro praças e o sargento Nonô na
cadeia. Acharam que a cidade estava dominada. No banco Pinta Cega um vaqueiro
da fazenda Luvião não achou graça. Mandaram todo mundo deitar dando chute nas
costas e na cara dos clientes. Pinga Cega não levava desaforos para casa. Seu
38 dentro do bolso de seu paletó.
Nenhum dos bandidos reparou nele. Era um anão de
um metro e cinquenta, magro e um bigodinho a lá Charles Chaplin. Com três tiros
Pinga Cega matou três, mais um tiro e outro caiu estrebuchando no chão. Dois
correram e Pinga Cega correu atrás. Na corrida ele recebeu um balaço nos
quadris e mesmo caído atirou. Não acertou ninguém e desmaiou. Os bandidos
fugiram sem levar nada. Foi levado ao hospital e ninguém soube mais dele. Todo
mundo assustando não notaram atrás de um pé de Jabuticaba que Chico Landi gemia
e cantava. Um canto triste. Dona Modesta viu. Chico Landi sangrando. Tentou
imitar o seu herói querendo caminhar com suas próprias pernas e não deu. Caiu
desmaiado.
No hospital ficou entre
a vida e a morte. A escoteirada, a lobada e os chefes o visitavam todos os
domingos. Dona Neném sua mãe dia e noite ao seu lado. Seu Pai o Doutor Juvenal
fez tudo que podia. Chico não iria morrer, mas estava tetraplégico. Nunca mais
iria andar. A noticia caiu como uma bomba na cidade. O Grupo escoteiro em peso
chorava. Uma missa foi celebrada. Vivaz, grande Escoteiro, amante da natureza,
era uma infelicidade ele ficar assim.
A missa foi na praça da cidade. Cheia, tudo apinhado de gente.
Escoteiros coroinhas no altar ajudavam na missa. A Akelá Rosinha, a Baguira
Vera e o Balu Nonato choravam como bebês. Monty o Guia da Tropa firme com seu
bastão em pé ao lado do altar. Seu coração sangrava. A ambulância trouxe Chico
Landi. Chico Landi em uma cadeira de rodas chorava. Todos olhando e soluçando.
Alguém gritou – Uma palma para Chico landi! Que palma linda! Chico não
acreditava que estava tetraplégico. Pediu a Deus e então o impossível aconteceu.
Chico Landi se esforça e fica em pé. Médicos não acreditando no que viam. Chico
sorrindo. Cambaleando foi até o altar. O padre Gabriel ajoelhou e gritou – Um
milagre! Um milagre! Louvado seja Deus! Um coro de palmas durou bem uns vinte
minutos. Sorrisos em profusão.
Foi carregado pelos escoteiros. Chico Landi ria e gritava: - “Monty,
Monty”! Eu quero acampar! Eu quero ver as flores no monte Sariel, eu quero
beber a água da fonte do roncador. Monty, Oh! Monty. Papai e mamãe estão sorrindo
eles não vão dizer não. Foi demais... Chico landi com lágrimas parou de chorar.
O milagre aconteceu. Chico ficou bom assim do nada.
Uma brisa gostosa vindo do norte nos pegou de pronto. Olhei para Jota Mauro,
ele sorria. Olhamos de novo para Chico Landi e sua história fantástica. Ele
sorria de olhos fechados. Verdade ou não ele estava ali fazendo tudo que tinha
direito como o Escoteiro que era. Fiz questão de abraçá-lo. Todos em volta do
fogo fizeram o mesmo. O Escoteiro tem uma só palavra e Chico era daqueles em
que se podia acreditar.
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