Lendas
escoteiras.
Um breve
espaço no tempo...
Prólogo: Ela tinha
jeito de menina, estilo de princesa, sonhos de mulher... Viveu como uma rainha queria
ser escoteira e lutou como uma guerreira no céu.
Sábado, três horas da
tarde, um dia qualquer no tempo que marcou minha vida para sempre. No pátio a
meninada faceira se esparramava em jogos de mal me quer, em canções do bem
querer. A lobada se divertia com o canto da sereia, imitando Kaa no seu
corcovado fenomenal. – Boa tarde! Olhei... Engasguei, olhos negros como se
fosse o poço profundo de tantos lugares onde acampei. Olhos fixos no horizonte
não me olhavam, parecia que ia voar na sua imaginação para qualquer lugar.
Voltei a minha humilde posição de Chefe. Boa tarde Senhorita!
Ela não vê desde que nasceu a lua o sol e
as estrelas são para ela nada mais que um sonho uma ilusão... Olhei para a Dona
que falava uma senhora de cabelos brancos, rosto carcomido pela idade e pelo
trabalho árduo. Sou Atena, sua avó que sempre fui sua mãe desde que nasceu. Sua
mãe fugiu com Zéfiro e nunca mais voltou! Olhei para a graciosa e encantadora
moça, a mais linda que um dia pude encontrar... Chefe sou Gaia, a filha de
Tétis... Deus meu! A mãe dos Oceanos?
Estava maravilhado...
Declamei para mim mesmo um poema que fiz na beira da praia ao entardecer com o
sol se pondo... “Pedras... Elas vêm de todas as direções! E aquele papo de
apaixonado? É mentira moça! Papo assim vai te machucar e vai doer... Doer
mesmo". A pouca fé vai ser testada meu caro Chefe, mas olhe não se você
vai resistir! Um lobinho, um escoteiro, uma guia chegaram até mim. – Chefe!
Hoje não tem bandeira? Como? Não era minha obrigação? Olhei para Gaia, a filha
de Tétis, com seus olhos negros, sorriso de Afrodite, corpo gracioso, falácias,
trapaça de bem querer!
Olhei a galera
escoteira espantado. A voz sublime de Gaia, filha de Tétis cantou em minha
audição mateira apenas duas palavras: - Eu espero Chefe! Mente fértil voou para
o ultimo acampamento quando fiquei minutos que não contei ouvindo o cantar de
um rouxinol. Com pesar pedi licença, me afastei, com o coração aos pulos, com a
mente voltada para a mulher que chegou sem dizer que não podia me ver... Cantei
o verso que sabia: - Olha no espelho Chefe, quem tá aí? Aquela deusa do Olimpo?
Aquela menina, cheia de cicatrizes nos olhos, quem sabe sem grana, mas com
muita gana querendo ser escoteira?
Em um breve espaço de
tempo minha mente encheu-se de senões. Escoteira? Como? Não vai ver a
madrugada, os pássaros cantantes ao amanhecer... Não vai ver os montes, os
horizontes e nem as estrelas no céu. Não vai pisar no firmamento, guardar a lua
no bornal. Mas a males que vem prá bem... Ela iria sentir o cheiro da terra, o
aroma das flores, o cantar do sabiá... Escoteiros! Alerta! A bandeira em
saudação! Tirei os olhos da bandeira, só tinha olhos prá ela...
A tropa, a alcateia,
os seniores se dispensaram como a soprar o vento no ar. Voltei, ela disse: -
Chefe, posso ter o rosto de menina cega, gestos trejeitos, mas dentro dessa
menina cega se esconde uma verdadeira escoteira... Escoteira determinada, cheia
de garra, com ideias claras e objetivas que nasceu disposta a concretizar todos
os sonhos até chegar ao seu final... Escoteira sim! Sem inveja sem querer me
igualar as outras, mas sou guerreira, sou mulher!
Mil choros, mil
remorsos, minha vida por seu sonho, o que fazer? Consultar meus pares, o que
dirão? – Chefe não tem como. Ir na marcha de estrada, armar sua barraca? Fazer
sua refeição num fogão à lenha na fogueira em uma clareira em uma selva
qualquer? Vi em seu rosto uma lágrima, uma só. Tentava correr pela face,
mostrando sua vontade em ser uma de nós. Pai! Meu Deus! Diga-me o caminho,
estou sozinho sem saber o que fazer! O Céu se abriu, ela sorriu, o vento a
levou pelo ar. Foi um sonho? Onde estava Atena sua avó? Onde estava Gaia a
filha de Tétis?
Abri os olhos, Laninha
uma Lobinha linda e sorridente me olhava com seu olhar enigmático de menina que
gostava de brincar... Sonhando Chefe? Era um sonho, me apaixonei pelo vento?
Amei o ar que respiro mas não posso enxergar? Vadico com seu vozeirão de
ex-pioneiro, agora meu adjutor, às vezes mentor, a dizer: - Chefe sua vez.
Olhei para ele, olhei para o céu... Olhei para os prédios procurando um céu que
não podia ver. Meus escoteiros me esperavam...
Gaia se foi. Era cega,
queria ser escoteira e eu nem resposta lhe dei. Se fosse verdade, se não fosse
um sonho sonhado, se ela fosse palpável se o vento a trouxesse de volta eu
seria o primeiro a dizer sim. Vais ser escoteira Gaia! E já me via olhando para
ela, vendo-a feliz, saber que veria os campos, os horizontes de uma forma
bonita, iria sentir o perfume das flores, seria amiga de beija flores, iria
sentir o cheiro do mar... Seria minha inspiração de tudo que era bonito e não
podia ver.
Os anos se passaram.
Nunca mais esqueci aquele dia. Ela foi Gaia irmã de Clímene e com Eter fez nasceu
Jápeto, filhas dos oceanos e dos rios. Ela foi um sonho foi minha namorada, foi
minha princesa, minha deusa lírica uma flor rara, que poucos jardins possuem...
Poderia ter sido minha escoteira, minha protegida, aquela que me encanta e me
fascina. A única escoteira que não pude ter na tropa dos meus sonhos. Tudo se foi, não passou de um “breve espaço
no tempo”.
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