Lendas
escoteiras.
Do destino
ninguém foge - parte II.
Prólogo: “Saiu de casa para contar
a um amigo a novidade”. Vibrava com sua entrada nos escoteiros. Ao atravessar a
rua, foi pego por um carro a toda a velocidade, fugindo da policia que vinha
logo atrás. Foi arremessado à grande distancia. Ficou inconsciente. Levado ao
hospital ficou em coma dois meses. Saiu do coma, mas sem movimentos no corpo,
ficara paraplégico. Durante um bom tempo não lembrou mais de seus sonhos. Agora
eram outros. “Pensou que com o tempo seus movimentos voltariam, ele não
desanimou e o tempo passou.”
Quatro anos
se passaram quando seus pais o levaram para casa. Nenhum movimento no corpo
durante este tempo. Não desistiu e insistiu nos tratamentos que lhe
recomendaram em um centro de reabilitação. As pernas não regiam. No primeiro falava
pouco. Não tinha o que dizer. A voz engasgada. Uma terapeuta fez tudo para ele
sorrir e nada. Ainda estava cético sobre sua recuperação. O dia mais feliz de
sua vida se foi como uma grande tempestade. Seu atropelamento foi um desastre.
Matou seu sonho e sua vontade de viver.
Treze anos uma
vida a começar assim interrompida. Sua mãe sempre com os olhos vermelhos. Seu
pai fez tudo que podia, gastou o que não tinha até que os médicos disseram que
era melhor ele ir para casa. Seu corpo não mais reagia ao tratamento. Em casa
pediu a sua mãe que colocasse o uniforme Escoteiro no baú do seu pai. Ele não
queria vê-lo nunca mais. Seu quarto era aconchegante, a janela dava para um
pequeno jardim que sua mãe cuidava diariamente.
Nunca sentiu o perfume
das flores e o sol e a lua para ele não tinha diferença. Dormia de dia ficava
acordado a noite. Trocava sempre à noite pelo dia. Nada lhe faltou. Sua mãe
sempre presente. Banhos, fraldas, refeições, virá-lo sempre para não dar ferida
ao corpo, enfim uma mãe incansável para que seu filho pelo menos sorrisse.
Uma tarde
bateram em sua porta. Sua mãe atendeu. Surpresa. Dois escoteiros uniformizados
queriam falar com ele. Não os conhecia. Nunca os viu e esteve na sede deles por
pouco tempo. – O que querem? Falou. Mal educado retrucou que fossem breve,
precisava descansar. Eles sorriram. Nós não queremos nada de você. É você que
vai querer de nós. Miltinho, chega de auto piedade. Você só sabe sentir
compaixão de sí mesmo? Está com dozinha de você? Lastimando-se? Não vê que tem
pessoas sofrendo a sua volta? Afinal, você é um homem ou um rato?
– Quantas
verdades eles disseram. - Quem são vocês? Quem lhes deu o direito de falarem
assim comigo? – Eles não responderam.
Mudaram de assunto. – Sábado que vem vamos vir aqui e levar você para a
reunião escoteira. Afinal não era seu sonho? Só porque se acidentou se
acovardou?
Miltinho não
escondia sua surpresa e eles foram embora. Chamou sua mãe e perguntou quem eram
eles? - Eles quem? Ela disse. Os dois escoteiros que aqui estiveram. – Meu filho,
não veio ninguém aqui hoje. Miltinho ficou mudo. Eram assombração? Afinal ele
já estava com dezesseis anos e não tinha medo de nada mesmo entrevado numa
cama. Mas porque, porque, insistiu com seu pensamento. No sábado bateram a
porta. Lá estava os dois de novo. Vamos – disseram. Ir com voces? Voces são
fantasmas! Não ando com fantasmas.
Eles riram.
Pegaram Miltinho, colocaram-no em uma cadeira de rodas e saíram de casa rumo à
sede Escoteira. Nem despediu de sua mãe e seu pai. Os dois a pé empurrando a
cadeira de rodas. Uma festa. Aplausos de todos os jovens. Abraçaram-no, e foi
para uma Patrulha Sênior com duas meninas e dois meninos. Ele era o quinto.
Claro na cadeira de rodas.
Uma guia gritou
para ele: - Miltinho! Largue esta cadeira, vamos fazer um jogo e não dá para
você ficar sentado feito um folgado! Outro o levantou e outro empurrou a
cadeira para o canto do pátio. Miltinho pensou que ia cair, mas suas pernas se
firmaram. Ele não acreditava! Vamos molenga! Diziam todos! Miltinho sorriu,
correu, brincou, suou e de volta a sua casa quando entrou viu que esqueceu a
cadeira de rodas na sede. Que fique lá para sempre, disse para si mesmo. Aperto
de mão, abraços e Sempre Alerta e lá foram os dois escoteiros.
Custou a acordar no
dia seguinte. – Mãe a senhora me viu chegar ontem dos escoteiros? Como? Ela
disse. Eu fui lá com os dois escoteiros. Sua mãe sorriu. Onde está a cadeira de
rodas? Meu filho você nunca teve uma cadeira de rodas. Não pode sentar. - É bom
que ele sonhe pensou sua mãe. Pelo menos não fica tão triste como estava. Se
isto lhe faz bem vou ajudar. E eis que Miltinho senta na cama, se levanta e diz
a sua mãe – Mãe, hoje vou escovar os dentes e me lavar sozinho. Quero estar com
vocês no café da manhã!
Sua mãe estava boquiaberta! Meu Deus! Um
milagre? Ela não sabia se ria ou chorava. Gritava de alegria e chamou seu pai
que veio correndo. O abraçou. Quem visse veria uma família maravilhada e
sorrindo como ninguém sorriu antes.
Miltinho voltou a
estudar. Seu pai o levou aos escoteiros. Ele se tornou um jovem tão feliz que o
mundo mudou e ele acompanhou. Poucos entenderam sua felicidade. Miltinho nunca soube
explicar os dois escoteiros fantasmas, a tropa sênior do seu sonho. Não
importava. Se Deus quis assim, agradecemos a Deus por ter me dado à vida de
novo.
Miltinho casou e
tiveram um lindo filho, mas ele trabalhava tanto que quase não tinha tempo para
ele. Aos 13 anos pediu para ser escoteiro. Miltinho sorriu. Sim ele também se
chamava Miltinho. Deu para ele seu uniforme. Vou lá com você no sábado, seu
filho sorria de alegria.
Como se fosse uma
repetição do passado, Miltinho abriu as janelas e agradeceu a Deus pela vida. Correu
até a casa de um amigo para contar a novidade. Ele seria escoteiro como seu pai
foi. Ao atravessar a rua viu um carro em alta velocidade fugindo de um carro da
policia. Pneus rangeram uma batida forte. Alguém gritava. Miltinho por sorte
escapara. Não sabe como não foi
atropelado.
Notou ao seu lado
dois escoteiros sorrindo. Foram eles! Um morto e um ferido os bandidos do
carro. Miltinho respirava forte. Graças a Deus, Graças a Deus. Viu os dois
escoteiros se afastando. Eram os escoteiros do sonho de seu pai. Acenou também.
Meus anjos da guarda pensou. A vida nos reserva surpresas sem explicação. Fazer
o que? Aceitar o seu destino, pois Miltinho sabia que do destino ninguém foge!
Fim.
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