Lendas Escoteiras.
A doce vingança do Grilo Falante.
Pertencia a uma família aristocrática. Netos de um
Duque francês no reinado de Luiz XV. Faziam questão do título por isto Luis
Alfredo de Albuquerque e Orsinni não podia ser apenas um menino igual aos
outros. Sentia-se preso em casa e na escola. Não podia sair sem seguranças.
Estudava no melhor colégio da cidade. Alfred o mordomo o vigiava
constantemente. Fazia suas estripulias na cozinha com o Dandreia, um cozinheiro
francês. Luiz gostava de falar. Falava muito e gesticulava demais. Detestava os
professores sempre coloquial com ele. Por qualquer coisa lhe chamavam a
atenção. Até Diogo seu motorista implicava o tempo todo – Ordens de seu pai e
sua mãe Senhor Luis! Varias vezes foi levado a um Psicólogo Famoso que ria
quando estava com ele – Apenas um menino Dom Joaquim Albuquerque e Orsinni!
Resolveram levar em outro que aconselhou atividades em grupo que pudesse
produzir nele disciplina e autenticidade, e quem sabe novos caminhos. Um amigo
Inglês sugeriu o escotismo. Tinham ouvido falar, mas desconheciam por completo
o que seria. Sua secretária pesquisou tudo sobre escotismo. Encontraram um
grupo próximo a sua casa.
Em um sábado com sua esposa foram pessoalmente até lá. Preocuparam-se como os
acampamentos e excursões sem a presença de um segurança. O responsável não
abriu mão. O Chefe mostrou aos pais as vantagens do programa escoteiro. Eles
concordaram com reservas. Luiz Alfredo de Albuquerque e Orsinni foi apresentado
à Alcateia e entrou na Matilha Verde. Era verão brasileiro. Não dando o braço a
torcer seus pais gostaram do que viram. Assim começou a saga de Luis
Alfredo de Albuquerque e Orsinni que de família nobre, disciplina rígida agora
era lobo em uma Alcatéia de Seeonee. Não parava de falar, de cantar, conversava
ininterruptamente todo o tempo. Não ficava parado. Na matilha Verde muitas
vezes não sabiam onde estava.
Todos na Alcatéia tinham apelido. O dele agora era Grilo Falante. Luiz Alfredo
achou bonito. Fez uma pesquisa na internet e gostou do que leu. Mesmo
irrequieto e arteiro em dois meses terminou seu adestramento para fazer a
promessa. No dia os pais foram convidados. Ainda não sabiam do apelido.
Fumacinha, uma lobinha da mesma idade, tornou-se sua amiga e confidente.
A zorra começou quando ligou para sua mansão e pediu para falar com o Grilo
Falante. Desligaram. Insistiu. Desligaram. Resolveu bater a porta em sua
mansão. O mordomo sério deu nela uma “carraspana” o que a deixou triste e foi
para sua casa chorando. A mãe quis saber o que aconteceu e Fumacinha contou.
Ela pegou a filha pela mão e foi até a casa do Grilo Falante. Falou poucas e
boas com o mordomo. Nunca em sua vida agiu daquela maneira. Educada nunca agiu
assim. Sua filha tinha oito anos e não poderia ser tratada daquela maneira.
Os pais de Grilo Falante não estavam em casa. Quando souberam do acontecido
mandaram o mordomo pedir desculpas à vizinha. Afinal primavam pela educação.
Sabendo do apelido só o deixariam participar do ultimo acantonamento. Não volta
ele não iria mais ao grupo. Explicaram ao Chefe do Grupo que o filho iria sair
e disse o motivo. O Chefe Tentou argumentar, mas eles foram irredutíveis. Grilo
Falante só ficou sabendo quando chegou a sua casa. Ficou perplexo. Seus pais
não perguntaram a ele quando o matricularam e agora faziam a mesma coisa. Ele
tinha um enorme amor pelos lobinhos e não ia aceitar. Amava a Alcateia, levava
a vida que sempre sonhou. Adorava Fumacinha e os demais de sua matilha. Argumentou,
chorou, implorou, mas tudo inútil. Foi malcriado com seus pais. – Sem
discussão. Você só obedece e mais nada.
No sábado seguinte ao chegar à janela viu na rua vários lobinhos e lobinhas com
faixas e cartazes dizendo: - Volta! Volta! Nós queremos você! Viva o Grilo
Falante! Viva o Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni! Seus pais não gostaram.
Chamaram a policia. Na vida do Grilo Falante tudo mudou. Mudou na escola e a
diretora chamou seus pais. Disse que ele ficou indisciplinado e não participava
mais de trabalho em grupo. Não adiantou a reprimenda dos pais. Nenhum castigo
resolvia. Tiraram dele o computador, a TV e os seus brinquedos. O tempo não
ajudou. Luiz Alfredo de Albuquerque e Orsinni vivia triste, escondido em algum
canto da mansão. Uma noite, seus pais fizeram uma recepção de gala em sua
residência. Presentes nobres italianos e famosos embaixadores da corte
europeia. Autoridades brasileiras e políticos também estavam presentes. Em
volta da mansão centenas de limusines e helicópteros.
A recepção estava no auge. Uma orquestra tocava sem parar. Casais dançavam.
Todos se divertiam e a champanhe da melhor qualidade assim como o uísque
rolavam a solta. Lá pela meia noite, a luz piscou algumas vezes e os presentes
sobressaltados viram cair do teto centenas de enormes grilos que voavam em
torno, saltitantes e não deixava ninguém em paz. Assustados, as pessoas corriam
para fora da mansão. Ninguém sabia o que fazer. Um clarão aconteceu e no alto
da escadaria de mármore nada mais nada menos que Luis Alfredo de Albuquerque e
Orsinni fantasiado de Grito Falante, com uma Guguzela tocava alto e dizia: Sou
o Grilo Falante! Meus pais não querem meu apelido, mas eu gosto. Eu sou o Grilo
Falante e quero ser lobinho! Abismados os presentes começaram a se
retirar. Outros se entusiasmaram e bateram palmas gritando: Grilo Falante!
Grilo Falante! Nada mais havia a dizer.
Os pais o levaram para o quarto. Preocupados e furiosos com o acontecido. Todos
se foram. A casa ficou vazia. Naquela noite nada disseram. No outro dia, a
imprensa achou o fato um “prato feito” para as manchetes. Luis Alfredo de
Albuquerque e Orsinni ficou preso em seu quarto. Nem na escola foi. O tema
tomou conta da cidade. Todos os Grupos Escoteiros ficaram sabendo da saída e o
porquê foi o motivo. Milhares de telegramas não paravam de chegar. Na internet
era o fato do dia. Passado dois meses em um sábado frio, sem sol, lá estava
Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni chegando à sede do Grupo Escoteiro. Os
pais pediram desculpas ao Chefe do Grupo. Uma alegria geral. Grilo Falante
voltou diziam todos.
Luis Alfredo de
Albuquerque e Orsinni voltou à vida de Lobinho. Agora era um Grilo Falante com
muito orgulho. Mudou muito sua maneira de ser. Mais responsável e sem abandonar
aquela característica que lhe era tão peculiar. Falar, falar e até algumas
pequenas traquinagens. Seus pais receberam uma carta da Direção Regional
agradecendo por trazê-lo de volta. Grilo Falante ficou por muitos anos na saga
escoteira. Formou-se, e hoje dirige a empresa do pai. Casou-se e tem dois
filhos. Ambos lobinhos. Um se chama Murilo Vinicius de Albuquerque e Orsinni e
a outra Lívia Valquíria de Albuquerque e Orsinni. Na alcateia são mais
conhecidos como Risadinha e Cigarra Altaneira. A vida é assim, uns gostam
outros não. O respeito é tudo na vida, mas cada um deve escolher seu próprio
destino. Disto não tenho nenhuma dúvida!
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