domingo, 27 de março de 2016

A doce vingança do Grilo Falante.


Lendas Escoteiras.
A doce vingança do Grilo Falante.

               Pertencia a uma família aristocrática. Netos de um Duque francês no reinado de Luiz XV. Faziam questão do título por isto Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni não podia ser apenas um menino igual aos outros. Sentia-se preso em casa e na escola. Não podia sair sem seguranças. Estudava no melhor colégio da cidade. Alfred o mordomo o vigiava constantemente. Fazia suas estripulias na cozinha com o Dandreia, um cozinheiro francês. Luiz gostava de falar. Falava muito e gesticulava demais. Detestava os professores sempre coloquial com ele. Por qualquer coisa lhe chamavam a atenção. Até Diogo seu motorista implicava o tempo todo – Ordens de seu pai e sua mãe Senhor Luis! Varias vezes foi levado a um Psicólogo Famoso que ria quando estava com ele – Apenas um menino Dom Joaquim Albuquerque e Orsinni! Resolveram levar em outro que aconselhou atividades em grupo que pudesse produzir nele disciplina e autenticidade, e quem sabe novos caminhos. Um amigo Inglês sugeriu o escotismo. Tinham ouvido falar, mas desconheciam por completo o que seria. Sua secretária pesquisou tudo sobre escotismo. Encontraram um grupo próximo a sua casa.

               Em um sábado com sua esposa foram pessoalmente até lá. Preocuparam-se como os acampamentos e excursões sem a presença de um segurança. O responsável não abriu mão. O Chefe mostrou aos pais as vantagens do programa escoteiro. Eles concordaram com reservas. Luiz Alfredo de Albuquerque e Orsinni foi apresentado à Alcateia e entrou na Matilha Verde. Era verão brasileiro. Não dando o braço a torcer seus pais gostaram do que viram.  Assim começou a saga de Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni que de família nobre, disciplina rígida agora era lobo em uma Alcatéia de Seeonee. Não parava de falar, de cantar, conversava ininterruptamente todo o tempo. Não ficava parado. Na matilha Verde muitas vezes não sabiam onde estava.

              Todos na Alcatéia tinham apelido. O dele agora era Grilo Falante. Luiz Alfredo achou bonito. Fez uma pesquisa na internet e gostou do que leu. Mesmo irrequieto e arteiro em dois meses terminou seu adestramento para fazer a promessa. No dia os pais foram convidados. Ainda não sabiam do apelido. Fumacinha, uma lobinha da mesma idade,  tornou-se sua amiga e confidente. A zorra começou quando ligou para sua mansão e pediu para falar com o Grilo Falante. Desligaram. Insistiu. Desligaram. Resolveu bater a porta em sua mansão. O mordomo sério deu nela uma “carraspana” o que a deixou triste e foi para sua casa chorando. A mãe quis saber o que aconteceu e Fumacinha contou. Ela pegou a filha pela mão e foi até a casa do Grilo Falante. Falou poucas e boas com o mordomo. Nunca em sua vida agiu daquela maneira. Educada nunca agiu assim. Sua filha tinha oito anos e não poderia ser tratada daquela maneira.

              Os pais de Grilo Falante não estavam em casa. Quando souberam do acontecido mandaram o mordomo pedir desculpas à vizinha. Afinal primavam pela educação. Sabendo do apelido só o deixariam participar do ultimo acantonamento. Não volta ele não iria mais ao grupo. Explicaram ao Chefe do Grupo que o filho iria sair e disse o motivo. O Chefe Tentou argumentar, mas eles foram irredutíveis. Grilo Falante só ficou sabendo quando chegou a sua casa. Ficou perplexo. Seus pais não perguntaram a ele quando o matricularam e agora faziam a mesma coisa. Ele tinha um enorme amor pelos lobinhos e não ia aceitar. Amava a Alcateia, levava a vida que sempre sonhou. Adorava Fumacinha e os demais de sua matilha. Argumentou, chorou, implorou, mas tudo inútil. Foi malcriado com seus pais.  – Sem discussão. Você só obedece e mais nada.

                 No sábado seguinte ao chegar à janela viu na rua vários lobinhos e lobinhas com faixas e cartazes dizendo: - Volta! Volta! Nós queremos você! Viva o Grilo Falante! Viva o Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni! Seus pais não gostaram. Chamaram a policia. Na vida do Grilo Falante tudo mudou. Mudou na escola e a diretora chamou seus pais. Disse que ele ficou indisciplinado e não participava mais de trabalho em grupo. Não adiantou a reprimenda dos pais. Nenhum castigo resolvia. Tiraram dele o computador, a TV e os seus brinquedos. O tempo não ajudou. Luiz Alfredo de Albuquerque e Orsinni vivia triste, escondido em algum canto da mansão. Uma noite, seus pais fizeram uma recepção de gala em sua residência. Presentes nobres italianos e famosos embaixadores da corte europeia. Autoridades brasileiras e políticos também estavam presentes. Em volta da mansão centenas de limusines e helicópteros.

               A recepção estava no auge. Uma orquestra tocava sem parar. Casais dançavam. Todos se divertiam e a champanhe da melhor qualidade assim como o uísque rolavam a solta. Lá pela meia noite, a luz piscou algumas vezes e os presentes sobressaltados viram cair do teto centenas de enormes grilos que voavam em torno, saltitantes e não deixava ninguém em paz. Assustados, as pessoas corriam para fora da mansão. Ninguém sabia o que fazer. Um clarão aconteceu e no alto da escadaria de mármore nada mais nada menos que Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni fantasiado de Grito Falante, com uma Guguzela tocava alto e dizia: Sou o Grilo Falante! Meus pais não querem meu apelido, mas eu gosto. Eu sou o Grilo Falante e quero ser lobinho!  Abismados os presentes começaram a se retirar. Outros se entusiasmaram e bateram palmas gritando: Grilo Falante! Grilo Falante! Nada mais havia a dizer.

               Os pais o levaram para o quarto. Preocupados e furiosos com o acontecido. Todos se foram. A casa ficou vazia. Naquela noite nada disseram. No outro dia, a imprensa achou o fato um “prato feito” para as manchetes. Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni ficou preso em seu quarto. Nem na escola foi. O tema tomou conta da cidade. Todos os Grupos Escoteiros ficaram sabendo da saída e o porquê foi o motivo. Milhares de telegramas não paravam de chegar. Na internet era o fato do dia. Passado dois meses em um sábado frio, sem sol, lá estava Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni chegando à sede do Grupo Escoteiro. Os pais pediram desculpas ao Chefe do Grupo. Uma alegria geral. Grilo Falante voltou diziam todos.


               Luis Alfredo de Albuquerque e Orsinni voltou à vida de Lobinho. Agora era um Grilo Falante com muito orgulho. Mudou muito sua maneira de ser. Mais responsável e sem abandonar aquela característica que lhe era tão peculiar. Falar, falar e até algumas pequenas traquinagens. Seus pais receberam uma carta da Direção Regional agradecendo por trazê-lo de volta. Grilo Falante ficou por muitos anos na saga escoteira. Formou-se, e hoje dirige a empresa do pai. Casou-se e tem dois filhos. Ambos lobinhos. Um se chama Murilo Vinicius de Albuquerque e Orsinni e a outra Lívia Valquíria de Albuquerque e Orsinni. Na alcateia são mais conhecidos como Risadinha e Cigarra Altaneira. A vida é assim, uns gostam outros não. O respeito é tudo na vida, mas cada um deve escolher seu próprio destino. Disto não tenho nenhuma dúvida!

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