Lendas escoteiras.
A lenda do Guardião da Floresta.
Eu me simpatizava
com Diógenes. Boa praça jactava que em uma das suas reencarnações andava com um
lampião aceso dizendo estar em busca de um homem honesto. A história de
Diógenes era uma lenda contada muito antes do nascimento de Cristo. Diógenes
era chamado de Cínico e foi um filósofo da Grécia antiga. Dizia estar procurando um homem honesto. Bem
nada há ver com o Diógenes de hoje. Não trabalhava e vivia perambulando pela
cidade, e diferente de muitos mendigos ele tinha uma casinha boa e vestia roupas
boas limpas. Devia ter alguém que zelava por ele. Naquela manhã eu estava na Praça
do Povo, um lugar simples sem movimento e que me deixava tranquilo para aclarar
as ideias. – Ele sentou ao meu lado e disse: - Já te contei esta? Ele falou.
Não sabia que ele estava ao meu lado. Qual Diógenes? – A do Guardião da
Floresta da Bocaina! - Nunca ouvi falar disse. Ele continuou – Sei que você é
um Escoteiro. Já vi você muitas vezes. Sei que gosta de acampar, explorar novos
lugares, florestas e montanhas. Olha Chefe antes de vir para esta cidade, eu
morava em Palo Verde, uma cidade a sudoeste do Rio Vermelho bem longe da
Capital do Pará. Boa cidade um lindo cinema onde eu podia assistir bons filmes.
Aqui não tem não é mesmo?
Foi lá em Palo Verde onde
morei que vi muitos de vocês a correrem pela cidade, a desfilar, de mochilas
correrem pelos campos a procura de aventuras. Pensei até em ser um de vocês,
mas desisti. Acho que foi por causa do Jobson dos Santos. Um menino pequeno,
magro, não gostava de conversar, mas muito inteligente. Nunca recusou desafios
e não levava desaforos para casa apesar de que bastava um empurrão para ele se
esparramava pelo chão. Jobson resolveu ser Escoteiro. Foi aceito porque sua mãe
era amiga de uma Chefe de lobinhos. Não havia vagas, mas para ele deram um
jeito. Na Patrulha Lagarto ninguém ligava para ele. No primeiro acampamento ele
sumiu por horas. Apareceu depois sorrindo e mesmo com a “lavada” do Monitor e
do Chefe ele continuou rindo e não disse nada.
Jobson era inteligente. Em pouco tempo se sentia preparado para fazer as provas
Escoteiras. Só não fez porque o Monitor Maguilson lhe disse que precisava ter
um tempo de escotismo. Jobson não disse nada, educado não discutia e nem
retrucava. Aceitava tudo de bom grado. Um dia em um acampamento de fim de
semana um fazendeiro foi convidado a participar e em uma Conversa ao Pé do Fogo
e contou uma história de arrepiar. Ninguém acreditou. – “Escoteiros” - ele
disse – Rodem podem ir onde quiserem no sítio, mas evitem entrar na Floresta Negra
da Bocaina. É uma floresta tão densa que é difícil andar. Mesmo com um bom
facão fazer uma trilha é difícil. À tardinha uma bruma cinzenta percorre toda a
mata e quase nunca o sol consegue penetrar entre as árvores. Não dá para ver
nada.
- Todos os presentes de olhos arregalados. A turma gostava de histórias
incríveis. – Continuou o Senhor Zeferino – Nesta floresta negra dizem que
habitam “lobisomens, bruxas e gnomos”. Existe um enorme leopardo rajado de
amarelo e negro que durante a noite se transforma em uma linda moça. Ela toma
conta de tudo. Ninguém ousa entrar. O Leopardo com suas enormes garras mata
quem arrisca. Um empregado meu, o Zózimo riu quando soube da história. Pegou
uma espingarda e um facão e alardeou a todos que ia entrar. Sumiu por dois
meses. Encontraram-no quase morto as margens do Rio Vermelho. Ficou internado
na UTI de um hospital por dois anos. Quando saiu pegou o primeiro ônibus e
sumiu da cidade.
A história que Zeferino contou era incrível. Quando viu o Leopardo não deu
tempo de fugir. Ele o encurralou em uma gruta e mesmo dando vários tiros, as
balas não saiam. Só fumaça da arma. O Leopardo sumiu na mata. Em uma noite
escura e sem luar apareceu uma linda moça coberta por uma manta rajada como se
fosse o leopardo. Ele sorriu e foi ao encontro dela. Foi então que os dentes
enormes e as unhas enormes apareceram e o envolveram. A moça se transformou em
um Leopardo e só não o matou porque ele conseguiu pular nas águas escuras do
Rio Vermelho. Contou que guando chegou na outra margem avistou lobisomens e
bruxas voando em cima da floresta. Bem eu nunca acreditei na história dele, mas
querem saber? Nunca fui la. Mais tarde, na barraca Jobson deitado pensava na
história. Não saia de sua cabeça. – Vou ver onde fica, se ninguém quiser ir eu
vou!
Dito
e feito. Jobson convidou a todos da patrulha – Ninguém quis ir. O Chefe o
proibiu de comentar com a tropa. – Jobson ele disse – Ninguém nunca foi lá e
voltou vivo, porque esta insistência? Acredite ou não eu o proíbo de comentar
novamente com sua patrulha. Jobson olhou o Chefe e não disse nada. Uma tarde
Jobson sumiu. Seus pais preocupados o procuraram no grupo e nada. O delegado
chamou diversos homens. Deram uma busca em todos os cantos. Dona Matilde disse
que o viu pela manhã de uniforme Escoteiro e chapéu, Uma mochila e um bornal
rumo a nascente do Rio Vermelho. Os Escoteiros já imaginavam que ele tinha ido
para a Floresta Negra da Bocaina. Danado! Pensaram. No fundo todos o invejavam.
Jobson sumiu. Por dois anos. Ninguém ouviu falar dele por muito tempo. Nonato
Castanheira era Sênior e tinha também o sangue aventureiro a correr em suas
veias. Quando Jobson sumiu ele conversou com sua patrulha Sênior. Porque não
vamos lá conhecer o mistério da Floresta Negra? Ninguem topou. Todos tinham
medo. Sem mais nem menos Nonato Castanheira um sênior da Patrulha Pico da
Neblina sumiu. Outro? Parecia uma epidemia. Cinco meses depois Nonato
Castanheira apareceu. Tinha um olhar diferente, não falava e nem sorria. Deixou
um bilhete aos seus pais pedindo desculpa por não ter dado notícias. Ele ia
voltar e nunca mais iriam vê-lo novamente. No bilhete ele disse que apaixonou
pela Princesa Violeta, tão linda que o mundo nunca pode conhecer sua beleza.
A Princesa Violeta fez história com suas bruxas Lobisomens e Gnomos. A Floresta
da Bocaina ficou intocável. A lenda foi repetida por anos e anos. Ninguem teve
mais coragem de ver uma princesa que a noite de transforma em leopardo e tem
amigos lobisomens e bruxos. Par muitos a Floresta Negra se tornou maldita. A
historia passou a ser contada em todas as patrulhas. Fiquei sabendo que cinco
anos depois uma unidade da Marinha com mais de duzentos soldados entraram na
floresta. Nunca mais voltaram. Ninguém mais se arrisca a entrar lá. Olhei para Diógenes
e sua história mirabolante. Toda história tem um fundo de verdade, mas aquela
era demais. Quando voltei para casa procurei na internet e não descobri nenhuma
pista da floresta. Diógenes foi embora rindo. Pensei com meus botões porque não
investigar. Um dia destes pego minha mochila um bornal e parto para Palo Verde.
Vou entrar na Floresta da Bocaina vou saber a verdade desta história. Irei por
a limpo se existem os tais guardiões e a Princesa Violeta. Vai ser bom demais!
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