Lendas
escoteiras.
Chico
Patávio e seus fantasmas.
Chico Patávio tinha um ano de
Sênior. Foi Escoteiro e fez a Rota Sênior desanimado. Achou que não ia dar
certo. Ficou na Patrulha Rio Longo. Tudo ali mudou para ele. Uma amizade que
nunca tinha visto igual. Respeito, sinceridade, alegria e fraternidade. Ele
amava sua Patrulha e a tropa Sênior. Meio caladão. Falava pouco, mas todos
gostavam de ouvir suas opiniões. Era uma tropa inteiramente masculina até que a
tropa Escoteira feminina cresceu. Difícil criar uma tropa só de guias. No
Conselho de Tropa aprovaram a vinda delas. Passaram cinco de uma vez. Uma rota
Sênior difícil. Resolveram formar uma Patrulha feminina. Surgiu a Antares.
Dizem que existe até hoje.
Tudo era novo para os seniores. As
moças eram tratadas a pão de ló. Uma época que o cavalheirismo imperava. Mas
elas não gostavam deste tratamento. Passaram a desafiar as patrulhas masculinas
e o pior, estavam ganhando em tudo. Sem querer surgiu uma animosidade logo
quebrada com as vinda da Chefe Vanessa. Esta era calma e ponderada. Chico
Patávio assistia a tudo calado. Mas ele não entendia sua queda por Tininha.
Passou a sonhar com ela, que a levava ao cinema, passeava com ela no zoológico,
mas era tudo sonho. Ela nem olhava para ele. Um dia mudou de tática. Disse a
ela que tinha amigos fantasmas. Ela riu. Ele então inventou uma história do
General Boca Torta e madame Cordélia do Papagaio. O que? Perguntou ela para
Chico Patávio. Um dia lhe conto. Ela ria
e ele insistia que era verdade.
Uma noite Chico Patávio acordou
assustado. Ofegante tentou lembrar-se do sonho e não conseguiu. Isto aconteceu
outras vezes. Foi em uma noite de agosto, relâmpagos prá todo lado, trovões que
faziam assustar os mais valentes dos escoteiros, que Chico Patávio viu pela
primeira vez o seu fantasma. Em carne e osso a sua frente o General Boca Torta
a rir para ele. Horrendo! Um corte que ia da sua boca até a orelha direita.
Pior, sangrava. Fedia. E ele ria e quanto mais ria mais sangue saia. – Vem cá
Chico. Vem me dar um abraço! – Chico corria a mais não poder. Ele dando
gargalhada atrás dele. Seu uniforme de General estava rasgado, sujo de barro o
quepe virado para trás dava a ele uma figura não convidativa para abraçar.
Chico Patávio tropeçou e ele o General o pegou com uma só mão, o levantou no
ar, chegou seu rosto ao dele e deu uma gargalhada que soou por toda cidade de
Cruz Verde.
Chico Patávio acordou gritando.
Putz grila! O que fui inventar? Levantou e foi trocar seu pijama. Estava todo
molhado. No sábado na sede nem tocou mais no tal fantasma do General Boca
Torta. Tininha quando terminou a reunião foi até ele e perguntou – Vai ou não
vai contar? – Nem pensar! Nem pensar. Tininha ria gostosamente de Chico Patávio.
O acampamento anual seria no próximo mês. Todos se preparando. Seriam oito
dias, férias escolares, sempre fora o máximo na vida da tropa Sênior. Agora uma
nova experiência. Meninas junto a eles. Elas não gostavam de ser chamadas de
meninas. – Vamos dar uma lição a eles disse Marcia, a monitora. Dito e feito.
Na noite do quarto dia as
patrulhas masculinas se reuniram. – O que houve? Quem perguntava era o Mário
Monitor da patrulha Gruta do Orvalho. Olhe eu não sei disse Tito Mora, Sênior
da Rocha Vermelha. As meninas ganham tudo. E não ganhamos nada. Chico Patávio
nada dizia. Desde que chegara nunca mais andava sozinho na mata, no bambuzal e
a noite sempre dava desculpas para não participar dos jogos noturnos. O medo do
General Boca Torta era enorme. Ele sabia que fora um sonho, mas agora tinha
horror a fantasmas. No sétimo dia, o Fogo de Conselho foi o máximo. Uma amizade
enorme surgiu entre as patrulhas. A Patrulha Antares foi finalmente aceita na
tropa Sênior.
Terminado o fogo ficaram ali
deitados em volta do calor da fogueira, olhando as estrelas, conversando e
alguns cantando numa amizade invejável. Chico Patávio viu Tininha se esgueirar
entre as árvores e foi atrás. Pé ante pé a seguiu por alguns metros. Estava intrigado
por ela não falar a ninguém aonde ia. Incrível – Lá estava ela conversando nada
mais nada menos que com o General Boca torta! E pela primeira vez Chico Patávio
viu a namorada do General madame Cordélia. Os três pareciam ser bons amigos.
Foi então que o General deu uma enorme gargalhada – Chegue aqui Chico, venha
participar da roda conosco! Gritou alto. Quem disse que o Chico Patávio ficou ali?
Saiu correndo feito um louco e só parou quando escondeu dentro de sua barraca,
debaixo do saco de dormir e coberto com uma lona da cabeça aos pés.
Tininha o procurou no dia
seguinte. Ele não queria ouvir. – Calma Chico! É só um espírito que se foi! –
Para mim um fantasma isto sim. – Ele não faz mal a ninguém e precisa de nossa
ajuda, falou Tininha. – De mim nunca. Dele só quero distância. Chico Patávio
pensou em deixar os seniores. Quase fez isto se não fosse a Tininha ter ido a
sua casa. Explicou para ele que não existem fantasmas. Tem gente que vê tem
gente que não vê. São pessoas que morreram e precisam de ajuda. Chico Patávio
ouviu calado. Mas ele nunca iria ajudar um morto. Nunca. O medo dele com
defuntos era enorme.
Bem a história termina aqui.
Muito depois soube que o General Boca Torta se chamava Alfredo. Morreu cortado
no rosto por uma baioneta na guerra do Paraguai. Madame Cordélia era sua esposa
e nunca o deixou só. Mesmo podendo ir para um lugar melhor ficou ao lado dele
enquanto precisava dela. Tininha dizia, tinha mediunidade. Ajudava dentro de
suas possibilidades. Mas esta é outra história. Aqui são dos escoteiros. Dos
valentes seniores que não tem medo de fantasmas. Medo? Pergunte a eles! Os seniores,
dizem que são valentes durões e desafiam sempre os fantasmas das florestas e das
montanhas distantes. Afinal, ser Sênior é que é bacana. Valentes, valorosos, enfrentam
o perigo de frente, claro, até que não apareça nenhum fantasma na frente deles.
Kkkkkkkkkk.
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