terça-feira, 7 de março de 2017

O sonho do menino prodígio.


Lendas Escoteiras.
O sonho do menino prodígio.

              Suas maneiras seus comentários lhe davam um aspecto diferente. Alaska desde que entrou foi assim. Tentou tudo para acabar com seu apelido e nunca conseguiu. – Chefe, meu nome é Afonso Palaciano, Alaska eu nunca ouvi falar! Boa praça o Chefe Uriel. Ele sabia que todos os novatos eram prevenidos com os apelidos. – Olhe não ligue, faça de conta que não é você. Se ligar ou reclamar ou sair no tapa o que não é próprio de escoteiros, não tem jeito o apelido será seu para sempre. Afonso não seguiu os conselhos do Chefe. Seu apelido pegou e assim é conhecido até hoje. Lembro quando fui fazer uma visita em sua sala no anexo II da Câmara de deputados em Brasília. Darli sua secretária ficou em pé, sorriu e gritou: - Chefe é o senhor? Entre, vou mandar chamá-lo. Darlene me conhecia de longa data. Fora Pioneira e chegou a Insignia de BP. Em cinco minutos Alaska entrou espavorido. – Chefe Osvaldo! Não acredito! A que devo a honra de sua visita?  

                Os pais de Alaska nunca foram ricos, por sinal seu pai carpinteiro era analfabeto e sua mãe cozinheira da Madame Noelma. Era praxe no grupo cada Escoteiro provar que podia ter todas as tralhas possíveis com o fruto de seu trabalho. Lembro que até mesmo Antonio Marcus filho do tabelião Jovenildo, considerado um dos homens mais ricos da cidade comprou tudo com seu esforço pessoal. Seu pai não gostou, pois muitos o acharam “Munheca de Samambaia” conforme era conhecido os pão duro de antigamente. Fez sua promessa dois meses depois. Muitos juram que ouviram quando terminou a promessa falar baixinho: - E ser o futuro presidente do Brasil! Alaska era perito em nós e amarras. Soube que inventou uma amarra voadora que nem ele mesmo sabia para que. Rs.

                Mal conseguiu a segunda classe. Nunca “tirou” a Primeira Classe. Sua jornada foi cancelada depois que o distrital fugiu com Norminha a Baguera e a professorinha mais querida da cidade. (pelos homens é claro). Quando nomearam outro sua idade estourou. Nos seniores nunca pensou em ser Escoteiro da Pátria. Mas se tinha uma vantagem em Alaska era sua técnica de campo. Fazia tudo. Sabia de tudo. Suas artimanhas e engenhocas deixaram engenheiros boquiabertos. Quando fez dezoito anos candidatou a vereador. De 34.000 eleitores na cidade ele teve 28.000 votos. Quatro anos depois se elegeu prefeito e dois mais deputado federal. O Grupo Escoteiro Flores da Cunha tinha nele seu benfeitor. O Grupo tinha sede própria, um material de sapa dos melhores e as patrulhas se orgulhavam quando acampavam com outras, pois sua caixa de patrulha tinha tudo que precisavam.

                 Corria um boato que ele seria indicado para Presidente nas próximas eleições. Disputava pau a pau com Oráculo um Senador do sul do país bem quisto e bem visto por muitos empresários. “Fiquei abismado com a notícia que Ricardo Boechat deu no seu jornal da Band”. – “O Deputado Afonso Palaciano, vulgo Alaska acaba de ser processado no Ministério Publico Federal”. “O Delator Cambraia Neto da construtora Acampamento Ventura disse que ele recebeu enormes propinas proveniente de maracutaia a favor dos escoteiros”. – Incrível! Não podia ser verdade. Eu o conhecia há tantos anos e nunca ouvi falar de desvio de conduta, pois sempre fora um Escoteiro honesto e de valor.

                  Tudo corria para sua condenação até quando um Delegado da Policia Federal que fora Escoteiro quando jovem, descobriu que tudo foi armação do Senador Oráculo. Absolvido resolveu sair da politica. Uma enorme manifestação em Flores da Cunha o recebeu de braços abertos tentando demovê-lo do cancelamento de sua candidatura a presidente do Brasil. Quando o visitei nunca vi uma recepção tão formosa. Tratou-me como um rei e não um Escoteiro. Fiz questão de visitá-lo uniformizado com meu chapelão. Nos corredores do congresso todos me olhavam espantados. – Alaska! Precisamos levantar o nome do escotismo. Precisamos provar que somos um movimento de formação educacional sem similar para nossa juventude. E olhe só você hoje pode fazer isto.

                  Vi seus olhos rasos d’água tentando falar e não conseguia. Chefe Osvaldo, não tem lugar aqui para mim hoje e nem amanhã. Ou me alio aos que condeno ou aceito e vou com eles para a presidência. O senhor sabe que tentei fazer um escotismo autêntico, cheio de fraternidade, insisti na ética, na honra e nada consegui. Achei que aqui em Brasília poderia ser um exemplo e mostrar para todos os chefes que unidos seria fácil vencer as adversidades. O Senhor foi testemunha como fui ridicularizado. Sabia que até hoje ninguém da Direção me procurou? – O abracei também chorando. Mas falei baixinho em seu ouvido: Deputado Escoteiro, não desista. São sonhos de muitos que esperam um momento como este.


                   A história encerra aqui. Se Alaska mudou de ideia e se candidatou ninguém sabe. Existem muitos que como eu acreditam ver um mundo melhor, um escotismo mais fraternal. Tudo pode acontecer, acredite afinal esteja onde estiver, seja lá como for, devemos ter fé, pois até no lixão nasce flor. Sempre Alerta!

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