Lendas
Escoteiras.
O sonho do
menino prodígio.
Suas maneiras seus comentários
lhe davam um aspecto diferente. Alaska desde que entrou foi assim. Tentou tudo
para acabar com seu apelido e nunca conseguiu. – Chefe, meu nome é Afonso
Palaciano, Alaska eu nunca ouvi falar! Boa praça o Chefe Uriel. Ele sabia que todos
os novatos eram prevenidos com os apelidos. – Olhe não ligue, faça de conta que
não é você. Se ligar ou reclamar ou sair no tapa o que não é próprio de
escoteiros, não tem jeito o apelido será seu para sempre. Afonso não seguiu os
conselhos do Chefe. Seu apelido pegou e assim é conhecido até hoje. Lembro
quando fui fazer uma visita em sua sala no anexo II da Câmara de deputados em
Brasília. Darli sua secretária ficou em pé, sorriu e gritou: - Chefe é o
senhor? Entre, vou mandar chamá-lo. Darlene me conhecia de longa data. Fora
Pioneira e chegou a Insignia de BP. Em cinco minutos Alaska entrou espavorido.
– Chefe Osvaldo! Não acredito! A que devo a honra de sua visita?
Os pais de Alaska nunca foram
ricos, por sinal seu pai carpinteiro era analfabeto e sua mãe cozinheira da
Madame Noelma. Era praxe no grupo cada Escoteiro provar que podia ter todas as
tralhas possíveis com o fruto de seu trabalho. Lembro que até mesmo Antonio
Marcus filho do tabelião Jovenildo, considerado um dos homens mais ricos da
cidade comprou tudo com seu esforço pessoal. Seu pai não gostou, pois muitos o
acharam “Munheca de Samambaia” conforme era conhecido os pão duro de
antigamente. Fez sua promessa dois meses depois. Muitos juram que ouviram
quando terminou a promessa falar baixinho: - E ser o futuro presidente do
Brasil! Alaska era perito em nós e amarras. Soube que inventou uma amarra
voadora que nem ele mesmo sabia para que. Rs.
Mal conseguiu a segunda classe.
Nunca “tirou” a Primeira Classe. Sua jornada foi cancelada depois que o
distrital fugiu com Norminha a Baguera e a professorinha mais querida da
cidade. (pelos homens é claro). Quando nomearam outro sua idade estourou. Nos
seniores nunca pensou em ser Escoteiro da Pátria. Mas se tinha uma vantagem em
Alaska era sua técnica de campo. Fazia tudo. Sabia de tudo. Suas artimanhas e
engenhocas deixaram engenheiros boquiabertos. Quando fez dezoito anos
candidatou a vereador. De 34.000 eleitores na cidade ele teve 28.000 votos.
Quatro anos depois se elegeu prefeito e dois mais deputado federal. O Grupo
Escoteiro Flores da Cunha tinha nele seu benfeitor. O Grupo tinha sede própria,
um material de sapa dos melhores e as patrulhas se orgulhavam quando acampavam
com outras, pois sua caixa de patrulha tinha tudo que precisavam.
Corria um boato que ele seria
indicado para Presidente nas próximas eleições. Disputava pau a pau com Oráculo
um Senador do sul do país bem quisto e bem visto por muitos empresários. “Fiquei
abismado com a notícia que Ricardo Boechat deu no seu jornal da Band”. – “O
Deputado Afonso Palaciano, vulgo Alaska acaba de ser processado no Ministério
Publico Federal”. “O Delator Cambraia Neto da construtora Acampamento Ventura
disse que ele recebeu enormes propinas proveniente de maracutaia a favor dos escoteiros”.
– Incrível! Não podia ser verdade. Eu o conhecia há tantos anos e nunca ouvi
falar de desvio de conduta, pois sempre fora um Escoteiro honesto e de valor.
Tudo corria para sua
condenação até quando um Delegado da Policia Federal que fora Escoteiro quando
jovem, descobriu que tudo foi armação do Senador Oráculo. Absolvido resolveu
sair da politica. Uma enorme manifestação em Flores da Cunha o recebeu de
braços abertos tentando demovê-lo do cancelamento de sua candidatura a presidente
do Brasil. Quando o visitei nunca vi uma recepção tão formosa. Tratou-me como
um rei e não um Escoteiro. Fiz questão de visitá-lo uniformizado com meu
chapelão. Nos corredores do congresso todos me olhavam espantados. – Alaska!
Precisamos levantar o nome do escotismo. Precisamos provar que somos um
movimento de formação educacional sem similar para nossa juventude. E olhe só
você hoje pode fazer isto.
Vi seus olhos rasos d’água
tentando falar e não conseguia. Chefe Osvaldo, não tem lugar aqui para mim hoje
e nem amanhã. Ou me alio aos que condeno ou aceito e vou com eles para a
presidência. O senhor sabe que tentei fazer um escotismo autêntico, cheio de
fraternidade, insisti na ética, na honra e nada consegui. Achei que aqui em Brasília
poderia ser um exemplo e mostrar para todos os chefes que unidos seria fácil
vencer as adversidades. O Senhor foi testemunha como fui ridicularizado. Sabia
que até hoje ninguém da Direção me procurou? – O abracei também chorando. Mas
falei baixinho em seu ouvido: Deputado Escoteiro, não desista. São sonhos de
muitos que esperam um momento como este.
A história encerra aqui. Se
Alaska mudou de ideia e se candidatou ninguém sabe. Existem muitos que como eu
acreditam ver um mundo melhor, um escotismo mais fraternal. Tudo pode
acontecer, acredite afinal esteja onde estiver, seja lá como for, devemos ter
fé, pois até no lixão nasce flor. Sempre Alerta!
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