Histórias
Escoteiras.
Meu amigo...
O chefe Bola Branca.
Diziam que era afeminado.
Outros que era duro na queda. Soube que enfrentou mais de seis que judiavam de
um jovem franzino na fila do Cinema Palácios. Tinha o escotismo nas veias. Sua
mãe uma Chefe de Alcatéia deu a luz em um acantonamento em Rosário. Bagueera e
o Balu Nelsinho com a ajuda dos lobinhos fizeram o parto Escoteiro deitada em
uma barraca de duas lonas. Ninguém estranhou quando aos cinco anos ele fez a
promessa nos lobinhos. Teve uma carreira no escotismo que muitos invejavam.
Primo, monitor, Guia de Tropa, Pioneiro Insígnia de B-P, e aos dezesseis anos
recebeu a Insignia de Madeira. Aos vinte assumiu o distrito e aos vinte e cinco
a Região escoteira. Só não foi Escoteiro Chefe porque recebeu um convite para
trabalhar na Austrália e só voltou vinte anos depois.
Se estiver vivo anda com
seus setenta e quatro anos ou mais. Sempre quando nos encontrávamos era uma
festa. Eu gostava de ouvi-lo. Era um técnico Escoteiro dos melhores. Foi numa
sexta que combinei com o Chefe Matusalém um encontro para discutirmos sobre o
6º ADIP Regional no bar do Moita na Vila dos Remédios próximo onde eu morava. Entrei
e ele ainda não tinha chegado. Um chopinho e eis que o Chefe Bola Branca
aparece do nada. Matusalém chega em seguida. Já se conheciam. O trio sorria,
conversava e jogava conversa escoteira no ar. Alguém arrastou uma cadeira. -
Posso me sentar com vocês? – Fui Chefe Escoteiro por muito tempo. Vendo vocês conversarem
me bateu uma saudade enorme. Assim conhecemos Lobato e Tomé que entrou também
na conversa. Uma turma animada. Cada um tinha uma história do seu passado para
contar.
Bola Branca contou do Curso
de Gilwell que foi aplicado há muitos anos no brasil. Um avançado técnico tipo
aquele Volta a Giwell. A região o convidou sem ônus. Seria um curso Técnico Avançado
para Insígnias. Eu sabia que não seria um curso qualquer, disse. Teria que me
afastar da firma por dez dias da duração do curso. Pela primeira vez iriam
fugir da tecnologia enveredando pela técnica mateira. Até as passagens para a capital
foram pagas pela região. Junto veio outro envelope lacrado dizendo para abrir às
sete da manhã na rodoviária da capital. Vi que era uma Carta Prego – Época que
a palavra e confiança era seguida a risca por nós. Outros clientes do bar
arrastaram suas cadeiras para perto. Prenunciavam uma historia das boas.
– Cheguei às seis e meia e
procurei pistas de escoteiros ou chefes na plataforma ou na recepção. Não vi
ninguém. As sete em ponto abri o envelope. Um pequeno mapa e um croqui
desenhado. Embaixo escrito: - Boa sorte! Tem uma hora para chegar ao ponto de
reunião. – Onde? Notei que o croqui tinha um trecho de mais de quinze quilômetros.
Nunca chegaria em uma hora. - Percebi em um canto do mapa o número 22. Neste
exato momento passou um ônibus com o numero 22 para Bolonha. Nem pestanejei e
me aboletei na primeira poltrona. O trajeto que fazia era o mesmo do mapa.
Alguns passageiros me olhavam entre assustados e sorridentes. Aquele homem de
calça curta mochila e outras bugigangas eram estranhos para eles.
Olhei novamente o mapa. Oito quilômetros. Teria
que achar uma estrada secundária. Logo a estrada surgiu. Desci usando o passo Escoteiro.
Encontrei um rio e uma pequena barca e parecia que o barqueiro me esperava. –
Mais um! Disse. Deve ser o último. – Para onde foram os outros? Ele não
respondeu. Do outro lado do rio vi muitas pistas visíveis, Subi uma colina e
avistei o Velho sentado em um tronco à beira da estrada. Olhou-me ressabiado. –
Tome seu envelope. Boa sorte! E partiu. – O envelope dizia: Só abra quando
encontrar sua patrulha! Seu prazo encerra às dez e meia. Se não conseguir volte
por onde veio. Agradecemos seu empenho. Tive sorte, na descida do arroio
avistei a patrulha. Deve ser a minha pensei. Um deles me saudou efusivamente. –
Pensamos que não chegaria! Fui apresentado a Norberto, Acácio, Jonny Marcus,
Pierre, Leonardo Paulo Antonio. Romualdo ou Bola branca. Podem escolher disse.
Conforme as instruções a
abertura dos envelopes deviam ser pela ordem de chegada. Acácio foi o primeiro
e abriu seu envelope, dizia: - Do rio das aventuras... Pierre abriu em seguida:
– Na grande curva do Castello. Paulo Antonio, Norberto, Leonardo, Norberto e eu
cada um abriu o seu. Juntamos todas as palavras – “Do rio das aventuras, na
grande curva do Castello, um bosque de acácias amarelas, irão viver grandes
aventuras”. Às onze e meia em ponto, a bandeira vai farfalhar no vento.
Aguardamos vocês. Sejam bem vindos! No bar ninguém dizia nada. Mais de doze
homens em volta ouvindo o Chefe Bola Branca. – Rimos a valer descendo a colina.
O rio era formoso. Para um leigo seria divertido ver aqueles homens vestidos de
calça curta e chapelão correndo em uma descida perigosa. Meia hora e chegamos
ao ponto de reunião. Infelizmente dois convidados não conseguiram. Seriam
desclassificados do curso. Duas patrulhas de sete e duas de oito. Quatro diretores
apareceram. Misturaram-se conosco. Abraços, apresentação, sorrisos. Adorei o
espirito do curso.
Uma trombeta fez a chamada
geral. Usava o famoso Chifre do Kudu adotado por B-P. Um dos diretores no segundo
dia contou a historia do chifre. Eu já conhecia. O curso foi demais. Nunca
aprendi tanto. Foi uma volta a Gilwell que nunca sonhei voltar. Dez dias de amizades
e conhecendo novos amigos e técnicas Escoteiras. Os programas foram o ponto
alto. Construímos pioneirías incríveis. Os Diretores do curso eram excelentes
amigos. Fizemos uma ponte levadiça um ninho de águia e levar água as barracas
suspensas foi demais. No sexto dia veio o cansaço. No sétimo visitamos o campo
da chefia. Pioneirías perfeitas. Eles faziam suas próprias refeições. Não havia
horários e mesmo entrando na madrugada sete horas de sono era obrigatório.
Fazer nós às três da manhã embaixo d’água foi demais. Os jogos noturnos eram
estupendos. No oitavo dia uma chuva torrencial por mais de oito horas.
A palestra do Diretor do
curso no final foi espetacular. Foi um curso perfeito. Sem salas de aula,
quadro negro e cadeiras. Todo o curso foi realizado na floresta. Eu me esqueci da
civilização. Chefe Bola Branca encerrou pedindo desculpas pelo horário. Uma da
manhã. O Moita dono do bar nos olhava desconsolado – Não tem mais histórias?
Perguntou. Não Moita. Hora de dormir. Traga a salgada. Dividimos e nos comprometemos
há voltar outro dia. Ficamos na calçada eu Bola Branca e Matusalém O Moita
perguntou: – Chefe estou aguardando! Estas histórias são supimpas para fazer a
turma beber e gastar! E deu boas risadas. Fui embora pensando no Curso do Chefe
Bola Branca. Precisava de um assim. Será que ele vale mais do que os de hoje?
Bola Branca sempre foi
meu amigo. Separamo-nos por que o destino quis assim. Rodou mundo, fez
escotismo em países do além mar. Voltamos a nos encontrar. Papos, causos,
histórias para contar. Esta é uma delas. Se gostarem ótimo se não... Nada posso
fazer. Risos.
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