Contos de
Fogo de Conselho.
As névoas brancas do Rio Formoso.
O nada é a profecia da minha partida
o tudo é sopro que busca aquiescer
sou uma cor do arco-íris... Perdida
o lume solar na gota de chuva a correr
para beijar a névoa que deita escondida
a deleitar-se nos braços do amanhecer
Cellina
o tudo é sopro que busca aquiescer
sou uma cor do arco-íris... Perdida
o lume solar na gota de chuva a correr
para beijar a névoa que deita escondida
a deleitar-se nos braços do amanhecer
Cellina
Fazia tempo, muito tempo quando a Patrulha descobriu as lindas e espetaculares cachoeiras do Rio Formoso. Eram incrivelmente belas. Ainda sem rastros humanos. Nonato disse para todos que precisavam acampar ali. Três quedas simultâneas, um som imperdível das cataratas caindo sobre as pedras e dando outro salto no espaço. Em volta uma floresta ainda inóspita. A névoa se formava a qualquer hora do dia. Uma visão fantástica. Quando ele viu pela primeira vez estava com seus treze anos. Descobriram por acaso. Uma jornada até o Serrado do Gavião onde existiam milhares de Folhas Secas. Um terreno vazio, sem árvores e muitas folhas. Era um mistério saber de onde vinham. Souberam da história. Vamos lá disse o Romildo Monitor. Patrulha Sênior, cheia de ardor, procurando aventuras, vontade de enfrentar desafios e nada como descobrir. Isto Está no sangue dos seniores.
O caminho iniciava na Mata
do Tenente, famosa porque uma tropa do exército ficou vinte dias perdidos nela.
Saíram com dificuldade, fracos e quase morreram. Bem, eles não eram escoteiros
como nós. Risos. A mata não era um obstáculo e o rio também não. Dava para
andar bem nas suas margens. Com quatro horas de viagem, viram uma bruma cinza
que se espraiava no ar. A mata parecia que estava em chamas. Que seria? O
ribombar da cachoeira os fez estremecer. Um espetáculo magnifico. Incrivelmente
fantástico! A cachoeira formava redemoinhos no ar. Uma nuvem de vapor cobria
certas partes da queda d’água. Os pássaros se deleitavam. Voavam de supimpa
naqueles redemoinhos e saiam do outro lado molhados como se estivessem
sorrindo. Não entenderam o porquê da névoa. O Rio Formoso era todo formado por
quedas de diversos tamanhos e na falta delas as corredeiras davam outro brilho
magnífico rio. Quem o batizou deveria ter sonhado muito com coisas belas, pois
o Rio era formoso e um grande espetáculo.
Pretendiam chegar ao
Serrado do Gavião ainda naquela tarde se não parassem para descansar. Foi o
espetáculo da cachoeira que os hipnotizaram. Sentaram numa pedra próxima e o
barulho das quedas d’água eram tão intensos que mal dava para conversarem. O
ribombar das águas batendo nas pedras eram imensos. Romildo levantou e fez o sinal. Mochilas as
costas. Foram em frente. Com tristeza, pois sabiam que na volta o caminho não
seria o mesmo. Voltariam pela Mata do Peixoto já conhecida. Subiram nas pedras,
olharam novamente, pois iam embrenhar na mata longe do Rio Formoso.
Impossível prosseguir. Aquela cachoeira os
hipnotizou. Parecia dizer para eles que não podiam deixá-la sozinha na noite
que estava por vir. Pararam. Um círculo de seis seniores se formou. Ir ou
parar? Seis votos a favor, nenhum contra. Todos escolheram e Romildo aceitou.
Escolheram um local próximo à primeira queda para pernoitar. Não armaram
barracas. Iriam dormir sob as estrelas em pedras lisas que as enchentes do Rio
Formoso construíram. Sem sinal de chuva. “Vermelho ao sol por, delicia do
pastor”. A noite chegou um jantarzinho gostoso foi servido pelo cozinheiro. Comeram
ali mesmo olhando para as quedas no lusco fusco da tarde. Um espetáculo
maravilhoso. Era uma visão dos Deuses.
Ficaram horas e horas sem
conversar. O barulho era imenso. Cada um meditava sobre as maravilhas que foram
feitas pelo Mestre. A noite chegou de mansinho, o espetáculo maior ainda estava
por vir. Uma bruma, uma nevoa branca foi tomando conta onde estavam e
penetrando na mata calmamente. Eles com os olhos pregados no que viam e nunca
iriam esquecer. Viram surgindo da bruma um gavião procurando seu ninho. Israel
acendeu um fogo. Pequeno. As chamas se misturavam com a névoa branca. Raios
vermelhos das chamas ultrapassaram a nevoa. Que espetáculo! Um céu colorido como
se fossem milhares de arco íris noturnos. Ninguém queria falar. Ninguém falou
em dormir. Não sei quanto tempo ficaram ali. Estavam encantados com aquela
névoa e esqueciam-se de quem eram e o que estavam fazendo ali.
Acordaram de madrugada.
Amanhecendo. O rosto molhado com o orvalho que caia da bruma branca que fez
companhia por toda a noite. Cada um foi levantando. Arrumaram a tralha. Comeram
biscoitos de polvilho. Olharam pela última vez aquelas quedas que os levou sem
saber a um paraíso perdido daquele rio que chamavam de Formoso. Calados, mochilas
as costas se puseram em marcha. Alguém olhou para trás, a névoa branca se
dissipava. Deu para ver centenas de pássaros molhando nos respingos da cascata
imensa. Durante horas ninguém falou. Sempre olhando para trás. Somente o
pequeno trovejar ainda se ouvia das quedas que já haviam desaparecido no
horizonte. Nunca mais voltaram lá. Ninguém voltou. Passaram uma cerca de “arame
farpado” em tudo. O homem só o homem resolvia quem entra e quem sai. Já não
havia mais a natureza, pois foi substituída pelos desmandos do ser humano.
Aquele que mesmo chegando depois dela, diz arrogantemente: “sou o dono da
terra, dono da natureza”.
Quanto ao Serrado do
Gavião é outra historia. Não deixou tantas saudades como a Névoa branca do Rio
Formoso.
Nota de rodapé: - O
nordeste hoje implora, as águas da cachoeira a chuva corre por fora nem passa
pela porteira, por causa dessa demora, nordestino quando chora as lágrimas são
de poeira. Guibson
Medeiros. Um conto sem muitas pretensões mas que trazem recordações
para muitos que tiveram suas aventuras marcadas para sempre. A eles meu Sempre
Alerta!
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