segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Histórias que os escoteiros não contaram. “Juvenal”


Histórias que os escoteiros não contaram.
“Juvenal”.

                    Ele se sentia bem nos escoteiros. Gostava de ser da turma. Foi bem recebido e mesmo sendo considerado um noviço no início ele sabia que um dia seria como todos eles. Disseram que era o sexto Escoteiro, o penúltimo da fila na frente do Submonitor. Não entendia porque o segundo mandante da patrulha era o último. Disseram que depois da Promessa teria um cargo importante. Sabia que iria demorar ser um monitor ou sub. Almoxarife ele tinha que aprender muito. Cozinheiro nem pensar. Quem sabe bombeiro ou lenhador. Construtor de Pioneiras nem sabia o que era. Socorrista também não. Se aprendesse poderia ser um escriba.

                     Ele escrevia bem e tirou dez várias vezes em redação. Sua professora o elogiava muito. Quando soube que ia haver um acampamento vibrou. Já tinha ouvido falar. Rodinhas na praça onde os escoteiros iam ver as “meninas” passearem o assunto era só acampamento. Campo de patrulha como sua casa, mesa, bancos, WC, comida mateira, pioneirías que os que fizeram faziam os outros sonhar. Ele imaginava os Grandes jogos que duravam o dia inteiro. Ficou sabendo do Fogo de Conselho. Sonhava com ele dia e noite.

                     Pediu ao monitor para fazer o Pórtico da Patrulha. O Monitor educado disse que sim. Seu Chefe sempre ensinava que todos deviam ter liberdade de criar e fazer. Só assim eles aprenderiam a fazer fazendo. Foi à biblioteca, pesquisou na internet, desenhou, aprendeu com três galhos eucaliptos à amarra Quadrada, a Diagonal, a paralela para Tripé. Juntou vários gravetos e aprendeu dois tipos de costura de arremate. Sorria, estava ficando um “bamba” em pioneiras.

                    Zito Mosqueteiro, um Escoteiro antigo de outra patrulha o aconselhou a levar uma luva. Ela seria primordial para acochar e dar o volta de fiel ou arnês para terminar as amarras. Ele riu e disse que os “pata-tenra” sempre voltam do acampamento com as mãos cheias de calos. “Melhor duas, pensou, pois irá usar a pá o facão e o serrote, e se a patrulha tivesse uma picareta dobrável precisaria mesmo de duas luvas”. Custava caro, mas ele comprou. Iria usar também um Sacho duas pontas, mas achou que com a cavadeira articulada daria para quebrar o galho. Sorriu.

                     Planos a pleno vapor. Desenhou. Procurou seu tio engenheiro. Fizeram juntos vários croquis de como seria. No dia do acampamento seu pai deu a notícia que ele não esperava. – Filho, no sábado que vem vamos para a Fazenda do seu Avó em Xapuri. Assustou. E o acampamento? Ele lembrou quando lá esteve na ultima vez. Das viagens de barco no Rio Acre, dos grandes felinos que via na foz do rio Grande, das onças, dos lobos, da Águia que morava na Serra do Roncador.

                    Não se esqueceu da lua cheia que parecia cair no terreiro da Casa Sede da fazenda. Lembrou-se dos Búfalos que seu Avô criava. Lembrou-se do Apaiari e do Cachara que pescou com Seu Leonel o Administrador da fazenda. Lembrou-se do Cavalo Andarilho seu amigo que o levava por todos os lados enquanto esteve lá. Da busca da Jiboia uma cobra gigante que ele viu na Margem do Rio Acurauá e pensou. O que fazer? Aonde ir? No Acampamento ou voltar na Fazenda do meu Avô? Ah! Juvenal. Difícil escolher.

                    Foram dias de angustia. O que dizer para seu pai? Seu Monitor? Seu Chefe? O que todos iriam pensar? Foi para a praça sozinho para ver as meninas passearem e pensar. Pensou e pensou. Deveria chamar Zito Mosqueteiro para lhe aconselhar? Ele era Primeira Classe, experiente, quem sabe iria saber qual solução ele devia tomar. Foi a sua casa, ele não estava sua mãe disse que tinha ido para a sede Escoteira. Era dia de Reunião da Corte de Honra.
                      

                  Foi até lá, viu luzes acesa na sala Pequena que pertencia a Corte de Honra. Sentou em um banquinho no seu canto de Patrulha no pátio. Parecia reviver seus dias, suas horas sua história desde que se materializou ali quando entrou para os escoteiros. Mesmo escuro viu o sol forte na subida da Montanha do Sino e a Patrulha rindo e cantando. Viu o sorriso de Pecos o Monitor, viu Donato o sub que o tratava tão bem. Levantou, voltou para sua casa. Ele sabia que iria acampar. Sabia que o escotismo estava no seu sangue, e falou consigo próprio: Sempre haverá outro dia para fazer tudo que eu possa realizar. Seu pai iria entender!

Nota de rodapé: - Nada como uma história de Patrulha, de um noviço que devia tomar uma decisão. Era fácil? Todos entenderiam? Ele sabia que tinha o escotismo no coração, mas o que seu pai lhe disse e aonde iriam no feriado o deixou em pânico. Acampar ou ir para a fazenda era difícil decidir. Leiam a história, simples, apenas um conto escoteiro para mostrar meninos que chegam querendo viver seus sonhos e faziam questão de realizar. 

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