Histórias que
os escoteiros não contaram.
“Juvenal”.
Ele se sentia bem nos
escoteiros. Gostava de ser da turma. Foi bem recebido e mesmo sendo considerado
um noviço no início ele sabia que um dia seria como todos eles. Disseram que
era o sexto Escoteiro, o penúltimo da fila na frente do Submonitor. Não
entendia porque o segundo mandante da patrulha era o último. Disseram que
depois da Promessa teria um cargo importante. Sabia que iria demorar ser um
monitor ou sub. Almoxarife ele tinha que aprender muito. Cozinheiro nem pensar.
Quem sabe bombeiro ou lenhador. Construtor de Pioneiras nem sabia o que era.
Socorrista também não. Se aprendesse poderia ser um escriba.
Ele escrevia bem e tirou
dez várias vezes em redação. Sua professora o elogiava muito. Quando soube que
ia haver um acampamento vibrou. Já tinha ouvido falar. Rodinhas na praça onde
os escoteiros iam ver as “meninas” passearem o assunto era só acampamento. Campo
de patrulha como sua casa, mesa, bancos, WC, comida mateira, pioneirías que os
que fizeram faziam os outros sonhar. Ele imaginava os Grandes jogos que duravam
o dia inteiro. Ficou sabendo do Fogo de Conselho. Sonhava com ele dia e noite.
Pediu ao monitor para
fazer o Pórtico da Patrulha. O Monitor educado disse que sim. Seu Chefe sempre
ensinava que todos deviam ter liberdade de criar e fazer. Só assim eles
aprenderiam a fazer fazendo. Foi à biblioteca, pesquisou na internet, desenhou,
aprendeu com três galhos eucaliptos à amarra Quadrada, a Diagonal, a paralela para
Tripé. Juntou vários gravetos e aprendeu dois tipos de costura de arremate. Sorria,
estava ficando um “bamba” em pioneiras.
Zito Mosqueteiro, um Escoteiro antigo de outra
patrulha o aconselhou a levar uma luva. Ela seria primordial para acochar e dar
o volta de fiel ou arnês para terminar as amarras. Ele riu e disse que os “pata-tenra”
sempre voltam do acampamento com as mãos cheias de calos. “Melhor duas, pensou,
pois irá usar a pá o facão e o serrote, e se a patrulha tivesse uma picareta
dobrável precisaria mesmo de duas luvas”. Custava caro, mas ele comprou. Iria
usar também um Sacho duas pontas, mas achou que com a cavadeira articulada
daria para quebrar o galho. Sorriu.
Planos a pleno vapor.
Desenhou. Procurou seu tio engenheiro. Fizeram juntos vários croquis de como
seria. No dia do acampamento seu pai deu a notícia que ele não esperava. –
Filho, no sábado que vem vamos para a Fazenda do seu Avó em Xapuri. Assustou. E
o acampamento? Ele lembrou quando lá esteve na ultima vez. Das viagens de barco
no Rio Acre, dos grandes felinos que via na foz do rio Grande, das onças, dos
lobos, da Águia que morava na Serra do Roncador.
Não se esqueceu da lua
cheia que parecia cair no terreiro da Casa Sede da fazenda. Lembrou-se dos
Búfalos que seu Avô criava. Lembrou-se do Apaiari e do Cachara que pescou com
Seu Leonel o Administrador da fazenda. Lembrou-se do Cavalo Andarilho seu amigo
que o levava por todos os lados enquanto esteve lá. Da busca da Jiboia uma
cobra gigante que ele viu na Margem do Rio Acurauá e pensou. O que fazer? Aonde
ir? No Acampamento ou voltar na Fazenda do meu Avô? Ah! Juvenal. Difícil
escolher.
Foram dias de angustia. O
que dizer para seu pai? Seu Monitor? Seu Chefe? O que todos iriam pensar? Foi
para a praça sozinho para ver as meninas passearem e pensar. Pensou e pensou.
Deveria chamar Zito Mosqueteiro para lhe aconselhar? Ele era Primeira Classe,
experiente, quem sabe iria saber qual solução ele devia tomar. Foi a sua casa,
ele não estava sua mãe disse que tinha ido para a sede Escoteira. Era dia de
Reunião da Corte de Honra.
Foi até lá, viu luzes acesa
na sala Pequena que pertencia a Corte de Honra. Sentou em um banquinho no seu
canto de Patrulha no pátio. Parecia reviver seus dias, suas horas sua história
desde que se materializou ali quando entrou para os escoteiros. Mesmo escuro
viu o sol forte na subida da Montanha do Sino e a Patrulha rindo e cantando.
Viu o sorriso de Pecos o Monitor, viu Donato o sub que o tratava tão bem.
Levantou, voltou para sua casa. Ele sabia que iria acampar. Sabia que o
escotismo estava no seu sangue, e falou consigo próprio: Sempre haverá outro
dia para fazer tudo que eu possa realizar. Seu pai iria entender!
Nota de rodapé: - Nada como uma história de Patrulha, de
um noviço que devia tomar uma decisão. Era fácil? Todos entenderiam? Ele sabia
que tinha o escotismo no coração, mas o que seu pai lhe disse e aonde iriam no
feriado o deixou em pânico. Acampar ou ir para a fazenda era difícil decidir.
Leiam a história, simples, apenas um conto escoteiro para mostrar meninos que
chegam querendo viver seus sonhos e faziam questão de realizar.
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