Lendas
escoteiras.
Era uma vez... Um
menino que não sabia sorrir.
Era uma vez...
Um menino que sonhava. Sonhava com o sol com a lua, sonhava com o verde da
mata, das águas dos córregos e que corriam serenas para o mar. Não era um
menino rico, não era não. Era um menino simples, pobre, mas que tinha a
felicidade em seu coração. Ele sabia que não existia dinheiro no mundo que
pudesse tirar sua alegria que tomava conta de sua vida. Na escola um exemplo,
de olho na professora, aprender era tudo para ele. Nunca foi inteligente, mas
era esforçado. Tinha um sonho, ter uma bela casa e dar a sua mãe tudo que ela
quisesse. Dizia sempre a ela que era feliz e ela devia ser também. Mas não, sua
mãe era triste, quase não falava e ficava o dia inteiro lavando roupas nas
pedras do Rio Mimoso.
Era uma vez... Sempre
começo minhas histórias assim quando me lembro deste menino. Em sua casa
humilde queria sorrir e não podia. Queria mostrar a sua mãe que ali morava a
felicidade, mas ela não sentia. As noites quando ia dormir ouvia soluços
no quarto da sua mãe. Enquanto seu coração enchia de felicidade a tristeza
estava marcada na mente da sua mãe querida. Por quê? Perguntava. Ela não
respondia. Um dia ao chegar da escola a encontrou caída na cozinha. Gritou para
os vizinhos ajudarem. Não adiantou mais. Sua mãe estava morta. Disseram que ela
tinha uma doença grave a muitos e muitos anos. Pela primeira vez a felicidade
que tinha foi substituída por uma tristeza enorme. Nunca chorou e agora
chorava. – Porque mamãezinha nunca me contou?
Era uma vez... Um
menino que cheio de felicidade agora vivia com uma profunda tristeza. Pensou
que havia perdido a alegria de viver para sempre. Uma mágoa profunda tinha
invadido seu humilde coração de menino infeliz. Sua mãe alguém lhe disse foi
viver com Jesus lá no céu. – E porque não me levou? Porque me deixou aqui nesta
casa onde ninguém me ama? Pobre menino. Viver com outros meninos ele não
reclamava. Havia muitos bons, mas havia os maus. Batiam-lhe, faziam coisas para
machucar e doer. Pensou em fugir e fugir para onde? Não conhecia ninguém.
Dormiu chorando e sonhou com sua mãe no céu. Ela lhe dizia para não desistir.
Seria por pouco tempo e eles se encontrariam novamente.
Era uma vez... Em
uma tarde de sábado cinco meninos mais velhos lhe bateram tanto que ele foi
parar no hospital. Ficou lá muitos dias e uma senhora morena, simpática, com um
lindo sorriso nos lábios cantou para ele uma canção. A Árvore da Montanha. Amou
tudo que ela cantou. Ela vestia um uniforme lindo e disse que era escoteira.
Ele não sabia o que era isto e perguntou. Ela lhe contou lindas histórias dos
Escoteiros e ele de novo passou a sonhar que poderia ter a felicidade que havia
perdido se pudesse ter sido um menino Escoteiro. Falou com ela e ela parou de
sorrir. Não sabia o que dizer. Um mês depois, ao sair do hospital o Monitor da
casa de correção veio com outros meninos lhe buscar. Carrancudo, olho felino
fixos no menino triste o pegou pelo braço o arrastou até a perua da casa de
correção.
Era uma vez... A
tristeza de novo tomou conta do menino triste que um dia teve a felicidade no
seu coração. Uma tarde bonita, o sol trazendo alegria ele pensou que poderia
ser véspera de natal, pois as flores tomavam conta das arvores e dos jardins.
De olhos fixos na janela ele chorava mesmo assim. Perdeu tudo, perdeu sua
alegria, perdeu seu sorriso e seu coração agora era lugar da tristeza e de
infelicidade. Pela manhã um Monitor do educandário havia lhe machucado com uma
vassourada nas costas. Sabia que não podia reclamar. Se fizesse isto apanharia
muito mais. A porta da grande salão abriu e a mulher escoteira apareceu a sua
frente. – Meu menino, você vai comigo, consegui adotar você!
Era uma vez... Uma
patrulha que cantava o rataplã. Não sei se eram os touros, se eram os tigres ou
os águias. Mas sei que o menino triste agora sorria. Ele era um patrulheiro, um
escoteiro. Pensou na sua mãe no céu e sentiu que ela sorria para ele. Ao
atravessar a ponte do amor eterno onde iriam acampar, o menino sentia seu
coração bater forte. Sabia que agora era feliz. Sabia que tudo que quis
encontrou junto aos amigos de sua patrulha. Sentiu as pernas bambas. Sentiu uma
dor enorme no coração. Caiu de leve na grama da trilha que os conduzia ao campo
sagrado do acampamento. Viu uma luz azul imensa se aproximando dele. Era sua
mãe que vinha buscá-lo.
Era uma vez... O menino que encontrou
novamente a felicidade e mesmo assim estava triste. Alegre por estar caminhando
ao lado de sua mãe entre as nuvens que o levaria para a cidade das estrelas e
do amor junto a Jesus. Triste porque teve de deixar sua patrulha que não
entendeu o porquê ele havia morrido assim sorrindo na trilha do campo sagrado
do acampamento. Nascer, viver, morrer nascer de novo. Ninguém entendia. Os
destinos de cada um de nós só a Deus pertence. Os Escoteiros olharam para o céu
e viram uma nuvem e nela ele com sua mãe dando seu Sempre Alerta e sorrindo. A
nuvem foi levada para o alto pelo vento e o menino escoteiro desapareceu no
céu.
Era uma vez... Um
menino que não estava mais triste e que tinha a felicidade no coração. Um
menino que um dia foi triste. Um menino que sofreu nas mãos de outros meninos e
adultos, um menino que encontrou uma escoteira mãe que foi um anjo para ele. Um
menino que passou a sorrir junto com seus amigos de patrulha, um menino que
encontrou novamente a mãe que amava e agora tinha aprendido a sorrir. Era uma
vez... Um menino que voltou a sorrir. Que aprendeu que fazer a felicidade dos
outros sempre faz alguém sorrir.
E assim termina a
história do menino triste, que um dia foi escoteiro, aprendeu a sorrir e aprendeu
a amar em sua mente e no seu coração.
Nota de rodapé: - Tomara que a tristeza te convença que a saudade não compensa, e que a
ausência não dá paz. E o verdadeiro amor de quem se ama tece a mesma antiga
trama que não se desfaz E a coisa mais divina que há no mundo é viver cada
segundo, como nunca mais... De um poeta que aprendeu em sua vida que sorrir trás
alegria de viver.
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