Histórias de
Fogo de Conselho.
O Formador.
Eu o conhecia de vista. Desculpe por não
dizer o seu nome. Eu não sabia. Sou ruim de memória para muitas coisas. Mas sou
bom para lembrar minha Promessa e minha Lei. Soube que era um velho formador
daqueles das antigas que ainda está na ativa. Não sei se ele me conhecia e até
mesmo suspeitava que eu não fosse para ele muito simpático. Por mim eu sei que
não era verdade. Muitas vezes cria-se uma barreira entre duas pessoas por
motivos abstratos e incompreensíveis que nem imaginamos o porquê de tudo.
Seria do nosso passado? Encontros
em vida anterior? - Quem sabe o temor, o receio de ser melindrado por outro que
poderia não ter o mesmo pensamento a mesma maneira de ver pontos de vista
diferentes faziam com que ele não se abrisse para mim.
Já o tinha visto em
publicações nas redes sociais. Conhecia bem o escotismo de BP. Nunca trocamos
palavra e ele vivia sua vida e eu a minha. Muitas vezes pecamos por não dar um
sorriso, um aperto de mão e dizer: - Olá! Como vai? Quem sabe só isso abre
portas que estavam fechadas. Temos em nosso mundo muito disto. Desconhecemos
muitas vezes quem está ao nosso lado.
Sei que muitos mais
ligados à liderança não me olham com bons olhos. Acho que eles têm razão. Não
sou mesmo flor que se cheire e metido a conhecedor do escotismo, por esta razão
não sou bem visto por muitos dirigentes. Dias destes fui convidado por um Chefe
que também não conhecia para participar de uma atividade em um Grupo Escoteiro que
ele fazia realizar anualmente. Precisava me espraiar voltar às origens e ver se
ainda tinha aquele espírito escoteiro que sempre acreditei ter. Aceitei.
Foi-me apresentado e educadamente nos
cumprimentamos como manda a boa ordem escoteira. Ficamos eu e ele próximos em
um banco ao lado do pateo de reuniões e por minutos não sabíamos o que dizer. Achei
que era hora de dizer a ele que éramos do mesmo sangue Badeniano e não poderia
haver distâncias em pessoas que acreditam na filosofia escoteira. Ele se
levantou e meio constrangido me deu um aperto de mão e calmamente me disse
Sempre Alerta. Sorri para ele e lhe dei um abraço. Ficou inibido e ruborizado.
– Me apresentei. Meu irmão escoteiro sou o Chefe Vado e quero que saiba que é uma
honra conhecer você! Ele se abriu. – Disse seu nome e completou: - A honra é
minha! A ponte em cima do fosso se materializou. Com aquelas palavras já nos
considerávamos amigos de longa data.
Vimos no desenrolar do tête-à-tête
que tínhamos muitos pontos em comum. Seu estilo não era agressivo. Fora Sênior
e passou uma temporada fora do escotismo. Voltou pelo seu filho. – Velha
formula que hoje traz bons frutos. Rapidamente contou-me sua história. Nada de
novo no front. Histórias de muitos que foram e desejam voltar de novo à ninhada.
Os tempos passados ficam na memória e voltar aos tempos de menino é uma questão
de honra para todos nós. Falei de mim com cautela. Não queria me mostrar esnobe
e nem vaidoso com o escotismo que fiz. Outra época, outro momento que
dificilmente voltará a acontecer.
Sem ser pedante me contou
que em um curso há anos, dava uma palestra quando um Chefe-aluno perguntou: -
Chefe! – Diga uma frase sobre seu pensamento de caráter! – Chefe Vado, ele
disse, fui pego de surpresa. Lembrei-me de Rui Barbosa e o imitei: - Meu caro
Chefe eu não me importo com o que os outros pensam sobre o que eu faço, mas eu
me importo muito com o que eu penso sobre o que eu faço. Isso é caráter! Ele
ficou cismado e aproveitei para completar: - O caráter é como uma árvore e a
reputação como sua sombra. A sombra é o que nós pensamos dela, a árvore é a
coisa real...
O olhei com respeito. Sabia
que ali estava um homem de bem e conhecedor da metodologia Badeniana. Muitas vezes
precisamos estar próximo, ouvir muito, sentir a respiração e seu amor à causa. Sabemos
por experiência própria que quando estamos juntos em um acampamento o
conhecimento e a amizade aparece com rapidez. Eu poderia ter completado que o
caráter de uma pessoa é ver como ela trata os que podem não lhe trazer
benefício algum. Falamos de banalidades, de cortesia, de ética e vi que ele
fazia questão de ser um Chefe com dignidade. Não me convidou para uma visita a
seu grupo. Não precisava. Sabia que ele me mostrou que tinha seu coração aberto
e se o fechava não era pela pessoa e sim pelo que os outros disseram.
Voltei para casa satisfeito.
Ele era um formador dos bons. Eu sempre soube que o talento educa-se na calma e
o caráter no tumulto da vida. A gente nunca perde a capacidade de se
surpreender. A vida se renova em velocidade muito rápida e, por mais que você
ache que já viu de tudo, ela sempre terá algo novo pra te mostrar. Nós
escoteiros e chefes ou mesmo dirigentes e formadores não podemos ficar presos
em um casulo. Nosso líder Baden-Powell fazia questão de sorrir e de
cumprimentar a todos em seu redor.
Marcamos nos encontrar
novamente. Eu e ele sabíamos que teríamos muita coisa para comentar e aprender
mutuamente. Muitas vezes é no até logo que há um verdadeiro encontro. É na
distancia que podemos nos aproximar mais. Infelizmente não aconteceu. Soube
meses depois que ele tinha partido para o Grande Acampamento no Céu!
Nota de rodapé; - Um conto simples sem muitas pretensões.
Real? Deixo para cada um pensar a respeito. Muitas vezes sem conhecer sem
conviver temos animosidade com alguém. Isto não significa que não poderíamos conviver
em fraternidade. Um passo de cada vez. Uma noite linda e um final de semana
cheio de paz e amor.
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