Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
O 1º (primeiro)
Grupo de Gilwell.
Desde
que comecei a escoteirar lá pelos idos de 1947 que tenho uma queda pelas
místicas e simbolismo escoteiros. Fui de um Grupo Escoteiro humilde, sem “grandes
chefes” motivo pela qual só fui tomar conhecimento de muitas místicas criadas
por Baden-Powell muitos anos depois. Fora o Guia do Escoteiro do Velho Lobo e
um Escotismo para Rapazes nossa literatura era escassa. Naquela época criávamos
místicas e simbolismo da promessa, da passagem, e não esqueço a Caverna do
Dragão (nós que apelidamos) do Rio Doce. Alguns quilômetros acima de São
Raimundo onde fazíamos nossas promessas, recebíamos distintivos ou então o
ingresso em cerimonial em uma Patrulha escoteira ou sênior.
Só fui conhecer a Insígnia
de Madeira por volta de 1953, quando engraxava sapatos na Estação ferroviária,
e vi um senhor com um distintivo da flor de lis na lapela descendo do Noturno.
Para nós era como se tivéssemos aberto o mundo da fraternidade e eu logo o
interpelei. Soube que era um Chefe de São Paulo, e o convidei a ir ao grupo.
Agora? – perguntou. Sim, em menos de quinze minutos todos os escoteiros e lobos
estarão lá. Foi divertido ouvi-lo. Contou sobre muitas coisas. Explicou que era
um Insígnia da Madeira e narrou à história de Gilwell Park.
O tempo foi passando e eu atrás
de cursos e literatura fui aprendendo sobre as tradições místicas e simbolismo.
Em 1966 recebi das mãos do Chefe Darcy Malta minha IM. Ele com lenço suavemente
me bateu três vezes em cada ombro e quando me colocou o lenço disse que agora
eu pertencia ao 1º Grupo de Gilwell. Quando soube que iria haver uma reunião de
Gilwell cuja presença era permitida somente aos IMs foi uma alegria. Não sei
quem me disse que estas reuniões são confidenciais e não devem ser contadas a ninguém.
Pena eu contei para Deus e o Povo Escoteiro! Rs.
Hoje entrando nos meus quase
setenta anos de escotismo me pergunto sobre muitas das místicas e simbolismo
escoteiros. Havido em conhecer vou pesquisando seja em livros ou na internet.
Sei que tem literaturas específicas, sei que muitos poderiam contar inúmeras delas,
mas o que aprendi ainda deixa muito a desejar. Que o 1º Grupo de Gilwell surgiu
após o primeiro curso em Gilwell Park é fato notório. Ele teria alguma mística
quando realizado? Como seria seu programa?
John Thurman Chefe de campo de Gilwell Park
escreveu sobre Gilwell: - “Talvez pareça um contratempo dizer que o espírito de
um homem permaneça depois que ele tenha desaparecido”. Porem no caso de B-P e a
forma que ele influiu em Gilwell, constituem-se em uma grande verdade. É o
espírito da tolerância, da alegria e camaradagem, de reflexão de preparação e
generosidade, que se esboçou em seu livro Escotismo para Rapazes e que através
dos anos tem se espalhado de Gilwell para o mundo... Portanto o lugar trata de
manter vivo o espírito do melhor ensinamento de B-P. que se manterá vivo não
por sentimentalismo, mas sim porque uma mensagem eterna, e todo mundo atual
precisa da medicina que ele nos forneceu de forma tão generosa.
Infelizmente a nossa associação no seu afã de
ser a única escreveu que todos os escotistas que conquistaram a Insígnia de
Madeira em qualquer pais passam a ser membros do 1º Grupo de Gilwell. Ela,
entretanto frisa que só aqueles países pertencentes à Organização Mundial
Escoteira (WOSM). Isso é contraditório. Se surgiu em Gilwell, se a IM foi
conquistada de maneira legal, seria uma obrigação inócua. Se eu não me
registro, tenho a IM e estiver em uma solenidade onde poderia haver uma Reunião
de Gilwell não teria direito em participar?
Baden-Powell sempre foi
reconhecido como Chefe Perpétuo do primeiro Grupo de Gilwell. Sabemos que é um
grupo único, bastante original, que rompe
todas as regras e normas do mundo, não possuindo Assembleias, Diretoria,
Conselheiros e Programa. Reúne-se formalmente uma vez ao ano em
Gilwell no primeiro ou segundo fim de semana de setembro. Muito de seus membros
nunca participaram ou visitaram e talvez nunca o façam, porém se sentem
orgulhosos em integrar este grupo. Não são seres superiores e nem devem
se sentir como tais, mas sim por terem despendidos esforços significativos na
participação de um esquema de capacitação e experimentando uma forma impar de
vida no campo. (É comum quando em alguma atividade se reúnem vários chefes
portadores da IM realizarem um encontro do Primeiro Grupo de Gilwell).
O 1º Grupo de Gilwell peca pela simplicidade. Suas reuniões na maioria
são fraternas, onde lembranças acontecem, onde um dirigente conta a história de
Gilwell ou algumas lendas ou mesmo algum interessante que BP escreveu. Nela se
canta algumas canções oriundas de Gilwell Park. Existem várias delas. Canto com
saudades aquela que diz: - Em meus sonhos volto sempre a Gilwell, onde alegre e
feliz eu acampei! Vejo os fins de semana com meus velhos amigos, e o campo em
que eu treinei. É mais verde a grama lá em Gilwell, onde o ar do Escotismo eu
respirei, e sonhando assim... Vejo B.P que sempre viverá ali! Não esqueço também
“Nos campos de Gilwell” cuja saudades aflora de bons acampamentos onde tudo
começou.
Mas a canção mais tradicional acontece no final do encontro do 1º Grupo
de Gilwell onde cada um dos IMs relembram com saudade de suas patrulhas ou
matilhas e todos acompanham saudosos dos tempos reunidos em algum curso
avançado na face da terra. – “Volto a Gilwell, terra boa, lá um curso assim que
eu possa vou tomar...” E cada um diz alegre com voz cantante: - Eu era um bom Touro,
um bom Touro de lei, não estou mais toureando o que fazer não sei. Me sinto
velho e fraco, não sei mais tourear... Logo a Gilwell assim que eu possa eu vou
voltar!
“Ah! Que vontade de voltar a Gilwell, um belo curso,
rever amigos, pisar na grama, sentir no ar o espírito de B.P que sempre viverá
ali”!
Nota de rodapé: - Nos campos de
Gilwell... Eu vou voltar a acampar Com meus amigos. E, junto ao fogo poder
cantar. Nos campos lá em Gilwell como eu quero voltar. De mochila e cantil a
acampar e com o peito transbordando de alegria. E com meus amigos juntos da
fogueira nossas vozes reunidas, mil canções vamos cantar... Nos campos de
Gilwell!
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