Contos de
Fogo de Conselho.
“Lucy”
Era uma amizade que parecia ser
para sempre. Na Matilha Cinza havia uma química entre elas. A conta de telefone
sempre alta. – Lucy! Precisamos economizar! – Um dia a mãe de Lucy desistiu.
Nas reuniões de Alcatéia conversavam o tempo todo. Os chefes compreensivos
procuravam entender. Receberam o Cruzeiro do Sul no mesmo dia. A passagem por
insistência também foi feita com ambas. Exigiram ficar na mesma patrulha. Os
Leopardos tiveram seu momento de glória. Elas deram nova vida à patrulha. Aos
quinze passaram para os seniores. Foi difícil ficar na mesma patrulha, pois
eram duas e ambas com seis. Uma não poderia ficar com oito, seria
desproporcional. Isto não impedia a conversa, os sorrisos, os causos e os segredos
que duas moçoilas contavam da vida. Faziam planos para o futuro. Ambas diziam
que não iriam casar. Seriam amigas para sempre.
Mirtes se apaixonou. Lucy
viu o distanciamento. Chorava e pensava que não queria perder a amiga. Encontravam-se
agora fora das reuniões poucas vezes. Lucy sentia falta, muita falta. Nas
reuniões o sol para ambas não era o mesmo. Não esqueciam os momentos felizes,
os acampamentos, os fogos de conselho e principalmente a excursão em Lagoa dos
Mares. A lua ajudou, as estrelas deram nova conotação. – Um dia vou morar em
uma estrela – Lucy riu. Eu também. Quero sentar em uma ponta brilhante e ver um
cometa passar. – Eu não, quero fazer dela minha morada, meu transporte e viajar
pelo cosmos conhecer um buraco negro e ir até onde ninguém até hoje foi. As
duas riam e contavam suas ilusões seus pensamentos seus sonhos.
- Ele quer que eu saia.
Disse- sem meias palavras – Ou o escotismo ou eu! Não posso viver sem ele. O
amo demais e não tenho como escolher. – Lucy viu a partida de sua amiga e
chorou por dias e dias. Ninguém nas patrulhas comentou. Parece que sua falta
não era sentida. Ela tinha medo, muito medo de se apaixonar. Medo de ter de
decidir entre um e outro. O que diria? Qual ação tomar? Conheceu Miguel, se
apaixonou. Não era e nunca foi escoteiro. Era compreensivo, muito mais amigo
que um amante. A vida sempre nos coloca em nossa frente várias opções. A
escolha é livre, mas, uma vez feita à opção, cessa nossa liberdade e somos
forçados a recolher as consequências. Após a reunião ele estava à espera. Nem
entrar entrava. Dizia não se sentir bem. De mãos dadas saíram a caminhar. Ela
então ouviu o que nunca queria ouvir. Sempre pedia a Deus para isto não
acontecer. – “Escolha, ou o escotismo ou eu”...
Nota de rodapé: - Um dia você aprende
que as verdadeiras amizades continuam a crescer, mesmo a longas distâncias. E o
que importa não é o que você tem na vida, mas quem tem na vida. Aprende que não
temos que mudar de amigos, se compreendermos que os amigos mudam. Mas
nem tudo dura para sempre...
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