domingo, 4 de agosto de 2019

Lendas Escoteiras A felicidade não se compra.




Lendas Escoteiras
A felicidade não se compra.

Prólogo: - Gino tinha um sonho. Participar de um Jamboree. Mas como? Era pobre e o Grupo Escoteiro o ajudava não cobrando mensalidades. Seus amigos de patrulha remediados sempre iam. Podiam pagar. Um novo Jamboree se aproximava. Não Gino, ele sabia que não poderia ir. Uma história que vai ficar para sempre no seu coração.  
                  
Gino era de família humilde. Seu pai carpinteiro tinha o hábito de beber. Vez ou outra quando bebia costumava cair pelas calçadas jogado como um cão sem dono. Sua mãe ao contrário fazia questão de ensinar a Gino ser bom e ser honesto. Gino nunca pensou o pior para seu pai. Sentia-se feliz com a vida que tinha. Era escoteiro da patrulha Corvo. Bom escoteiro por sinal e fazia questão de fazer suas boas ações diariamente. Na sua patrulha era amado e bem considerado. Adorava ser escoteiro. Não era fácil. Sua família muito pobre. O Grupo Escoteiro não cobrava a mensalidade e ele se sentia constrangido. Seu pai quando sóbrio era um bom pai e um excelente marceneiro. Trabalhava sem parar.  Prometeu parar de beber e não conseguiu. Chegava embriagado em casa e ia direto para seu quarto. Gino não dizia nada.

Gino evitava falar de seu pai na patrulha. Era para ele uma tristeza enorme. Um dia ele apareceu durante a ortoga de um Lis de Ouro a um monitor da patrulha Cão. Achou que era Gino quem iria receber. Bêbado, quase caindo e Gino não sabia onde se esconder. Foi um vexame, mas todos compreendiam que Gino não tinha culpa. Nos avisos o Chefe falou sobre o Jamboree Internacional. Quem vai? Perguntou! A taxa era alta. Gino sabia que nunca poderia ir. Não podia pagar. Ele tinha uma vantagem, sorria quando via seus amigos partindo e chegando. Aprendeu que a felicidade é ver os outros felizes. E ele? Não tinha este direito? Tristeza na alma e sorriso nos lábios quando na volta eles contavam maravilhas do acampamento. Vez ou outra sentia uma tristeza enorme por ser pobre. Tentava esconder as lágrimas que apareciam nos seus olhos. Os amigos da Patrulha contavam por meses como foi. Ele só ouvia. Ah! Pensava. Meu dia chegará. Sonhava com isto. Gino era excelente nas técnicas Escoteiras e todos seus amigos o admiravam. Tinha um sonho de ser Liz de Ouro.

                     Quando soube do Jamboree que ia ser realizado nos Estados Unidos daí a dois anos deu um sorriso e disse para si mesmo: Neste eu vou. Tinha tempo. Iria realizar seu sonho. Iria trabalhar para isso. Seu sonho seria realizado. Falou com seu pai, sua mãe e eles balançaram a cabeça. Não disseram nada, sabiam de suas condições financeiras. Gino começou a economizar. Tinha em seu pequeno cofre mais de trinta reais. Precisaria pelos seus cálculos de uns cinco mil reais. Ele não achava impossível conseguir. Lutou e trabalhou, dia a dia juntava o que ganhava lavando carros, limpando quintais e fazendo tudo que os vizinhos pediam. O tempo passou. Faltavam um ano para a partida ao Jamboree. Tinha economizado mais de três mil reais. Dava para pagar a taxa e outras despesas. Gino sorria.

Seu uniforme era velho com muitas lavadas algumas partes puídas e desbotadas. Ia com ele mesmo. Sempre foi econômico e deste que entrou para os escoteiros com seu trabalho comprou seu uniforme, seu chapéu de abas largas, sua faca, sua bússola e seu cantil. Esperava o dia de pagar a taxa de inscrição. Assustou quando viu seu pai chegando. De novo? Pensou. Ele jurou que iria parar. Seu pai não estava embriagado. Disse com lagrimas nos olhos que sua mãe estava muito mal no pronto socorro. O médico deu uma receita enorme. Na farmácia do posto de saúde não tinha nada. Sabia do sacrifício que ele tinha feito para conseguir a quantia da viagem, mas só Gino poderia salvar sua mãe. O mundo desmoronou. Amava sua mãe. Não iria negar nunca. Deu tudo que tinha. Três mil reais. Seu sonho acabou. Jamboree? Adeus! Gino chorou e sentia que não merecia viver. Sonho? Sua mãe valia muito mais.

               Durante cinco dias sua mãe ficou entre a vida e a morte. Um dia ela sorriu. Melhorou e voltou para casa. O sorriso de sua mãe foi um balsamo para a sua tristeza. Tentou esquecer o Jamboree. Tinha de esquecer. Agora era esperar eles voltarem e contarem como foi. Quando na reunião o Chefe cobrou a taxa e a despesa de passagens Gino ficou calado quando foi chamado. O chefe insistiu. Chefe eu não vou mais! Disse. Por quê? Não disse que estava economizando e trabalhando? Chefe desculpe, prefiro não dizer. Uma dor profunda a garganta engasgada. Não saía voz. Gino foi para casa pensando como a vida era ingrata. Sabia que faria tudo pela sua mãe. Mas a dor era demais. Chorava pelos cantos da casa. Prometeu não chorar mais, Chorar não ajuda pensou. Seu sonho acabou. Seu sorriso desapareceu e agora só um sorriso amargo. Não adiantava fingir. As lágrimas não paravam de cair. Sua mãe desconfiou e chorou com ele sabendo que ela não podia fazer nada.

                 Uma semana depois acordou com o dia amanhecendo. O sol despontava no horizonte. Os pássaros cantavam nas árvores próximas. Uma brisa gostosa refrescava aquela manhã. Era sábado. Dia em que todos iriam partir para o Jamboree. Gino ficou na janela para ver o ônibus que levaria todos ao aeroporto. Estava taciturno, calado, mudo. Seu coração batia compassadamente. Deus dizia dai-me força. Vai ser difícil sair dessa fossa! Gino foi para o quintal. Tinha uma mangueira frondosa onde ele ficava. Dormiu encostado ao seu tronco. Sonhou com anjos e um Velho de barbas brancas sorrindo e dizendo para ele não desistir. Acordou assustado. O ônibus buzinou na frente de sua casa. Viu seu Chefe seu pai e sua mãe sorrindo.

               - Vá se preparar meu filho, você vai para o Jamboree! Falou sua mãe. Foi demais. Ele não estava acreditando. O chefe da tropa contou que todos se cotizaram.  Souberam do seu ato de grandeza. Um escoteiro assim não ia ficar para trás. Já preparamos tudo inclusive seu passaporte. Gino deu um salto. Gritou alto: Obrigado Senhor! Meu sonho vai ser realizado. Em segundos arrumou sua mochila vestiu seu uniforme com orgulho. Descrever a alegria de Gino no Jamboree é difícil de imaginar. Ele viu meninos e meninas com vários tipos de uniforme. Cumprimentava a todos - Eu? Sou de Mira Flores e você? E assim ia. Canadá, Estados Unidos, México, Inglaterra, muitos países. Gino nunca soube quantos. Quando do último dia, os olhos de Gino encheram-se de lagrimas. Desta vez de alegria. Uma grande cadeia da fraternidade. Cantada em vários idiomas.

     O ônibus, a chegada, a mãe e o pai esperando. Gino gritando – Mãe! Consegui! Mãe eu fui ao Jamboree! Mãe, oh mãe, me abrace, sou o menino mais feliz do mundo! Seus pais choravam de alegria. É. Gino conseguiu. Ficou marcado para sempre em sua vida. Não importava agora se podia ir ou não em outros. Seu sonho foi realizado. Ele pensava e dizia em voz alta – Eu não fiquei olhando a montanha. Eu a escalei. Vi o outro lado. Gino sabia. A chave da felicidade é sonhar. A chave do sucesso é fazer dos sonhos a realidade. O mais importante na vida não é o triunfo, mas a luta para alcançar.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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