sábado, 30 de junho de 2018

Contos de Fogo de Conselho. Antônio.



Contos de Fogo de Conselho.
Antônio.

                     Um velho conhecido com quem não tive amizades e a pequena que existiu ficou perdida no passado. Nem sei por que nos cumprimentamos tão efusivamente. Não havia motivos para isto. Foi um reencontro despretensioso uma rápida conversa mais convencional. – Olá Chefe! – Como vai? - O olhei de soslaio. Eu me lembrava de tudo que fez e das mágoas que deixou. Pensando bem são cicatrizes benignas feitas por pessoas que, usufruindo de uma fraternidade deixaram uma intersecção de uma história que seria melhor apagar. Ele apertou minha mão.

               - Chefe ainda com ressentimentos? Disse esta frase com voz embargada. – Olhei para ele e não disse nada. – Um pedido de desculpas um abraço e uma lágrima poderiam ser considerados como um retorno para um perdão? – Chefe, desde aquela época vou sobrevivendo a cada dia, com tombos e tropeços em meio à ventania que me pegou de jeito na esquina do tempo. Tento vencer os desafios, mas a dor é maior do que aceitar o que fiz e me manter de pé a cada folha que caiu...

                - Não disse nada e o abracei. Não sei por que fiquei tão emocionado com suas palavras. Choramos juntos as desventuras de um desentendimento que nem deveria ter existido. Sei que ele foi descortês, foi ambicioso na sua luta para ser o Chefe que todos queriam ser, mas o preço a pagar foi grande demais. Com os olhos vermelhos ele me disse: – Chefe eu não conheço todas as flores, mas vou colher uma por uma e mandar ao senhor todas que eu puder. – É... O tempo cura cicatrizes. A velha amizade sincera voltou. Se todo mundo erra, temos mais motivos para a tolerância e o perdão.

                - Sabemos que a perfeição não é própria do ser humano. E se ninguém é perfeito, mais razão para entender as imperfeições alheias. Ou será que só temos o direito de andar em linha reta sem tropeçar? Pensei nisso. A terra é uma escola de aperfeiçoamento. Por este motivo vale a pena prestar atenção no seu próprio aproveitamento pessoal e deixar aos outros o dever de cuidar de seus próprios atos.

                - Existem verdades que a gente só pode dizer depois de ter conquistado o direito de dizê-las. Alguns escoteiros veem as coisas como são e dizem “Por quê?” Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo; - “Por que não?” -
O abraço fez do tempo um pedaço de bem querer. Lentos os dias que se acumulam. Como vão longe os tempos de outrora...

E me deu vontade de gritar para ele: - “Sopra, sopra vento frio, pois não causas calafrio como a humana ingratidão”. 

Nota: - Ingratidão é uma forma de fraqueza. Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato. A vileza e a ingratidão estão sempre dispostas A vitimarem as pessoas mais bondosas. Por isso é que ser bondoso neste mundo não é para os fracos, é para os fortes!


quinta-feira, 28 de junho de 2018

Histórias de Fogo do Conselho. A escolha de Ana.



Histórias de Fogo do Conselho.
A escolha de Ana.

                                Logo que se deu o inicio do escotismo feminino, mais conhecido com a Coeducação no Escotismo, uma Tropa feminina crescia tanto que quase ultrapassou a Tropa masculina em qualidade e quantidade. Havia um orgulho em todos no Grupo Escoteiro, pois as meninas eram mais dedicadas, faziam atividade com mais perfeição que os escoteiros e a Corte de Honra em um ano de atividade nunca recebeu reclamação de nenhuma das jovens que participavam. As patrulhas eram obedientes e disciplinadas, a uniformização perfeita. Na Patrulha Pardal uma menina chamada Ana chamava atenção pela sua dedicação em ajudar ao próximo em qualquer ocasião e pelo cumprimento da lei e da promessa.

                                 Ana era uma escoteira responsável e muito prestativa. Sonhava em se formar um dia como Médica Veterinária para ajudar os animais que ela tão bem conhecia nas florestas onde acampavam. Um dia aproximou-se de sua Chefe e disse: - Chefe, eu gostaria de ser uma grande escoteira, dedicada já sou, mas queria ser muito mais. Luto para um dia conseguir o Liz de Ouro e também correr atrás de muitas especialidades que sempre sonhei em ter. Quero conhecer toda a vida de Baden-Powell, quero escrever muito sobre as fases boas que passei no escotismo. - Falei para minha monitora do que pretendia e ela disse que eu devia me preocupar com um tema de cada vez. Tudo tem seu tempo e sua hora ela disse, mas Chefe, eu não concordo com ela. Acho que podemos tentar fazer várias tarefas ao mesmo tempo, a senhora não acha?

                              - A Chefe que tinha grande admiração por Ana, respondeu sorrindo para ela: - Olhe Ana, vou lhe dar um exemplo para você tirar as melhores conclusões e quem sabe nunca mais esquecer. Veja bem, se alguém vai para o campo e começa a correr atrás de duas raposas ao mesmo tempo, vai chegar um momento em que cada uma correrá para um lado. – Ana olhou para sua Chefe tentando entender. – Ela continuou: - Este alguém ficará indeciso sobre qual continuará perseguindo. Pois é Ana. A lição de tudo é que enquanto ficou a decidir, ambas fugiram...

                             - Lembre-se sempre que em sua jornada escoteira você terá de escolher sempre uma opção de cada vez. Se dedicar e fazer o melhor possível exatamente naquela que optou primeiro você irá obter sucesso. – E olhe, sua monitora tem razão cada coisa tem seu tempo certo.

                              - Ana aprendeu a lição e agora sabia qual caminho iria percorrer primeiro. Uma coisa de cada vez!  

Nota - Eu aprendi que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorrem quando você esta a escalando. Portanto aproveite a escalada. Cada passo você vai encontrar surpresas que lhe darão a alegria de viver.

terça-feira, 26 de junho de 2018

As lindas lendas escoteiras. A árvore das folhas rosa.



As lindas lendas escoteiras.
A árvore das folhas rosa.

                   Era uma visão incrível. Apareceu assim do nada. Fez-se presente para sempre em nossas vidas. Dizem por aí que só os escoteiros têm o privilegio de ver e ouvir coisas, pois eles têm o dom de enxergar de outra maneira a natureza hoje perseguida de maneira implacável pelos homens. Acredito piamente que isto é real. Estava eu em uma pequena trilha, mais quatro amigos escoteiros, todos em fila indiana, tentando cortar caminho para chegar ao Tanque dos Afogados. Desculpem, não morreu ninguém lá e nem é um tanque. Uma represa pequena, dócil, rasa, de águas cristalinas que por duas vezes ali estivemos acampando. Sempre passamos pelo caminho do Marquês mais de doze quilômetros. Não lembro quem deu a ideia de cortar caminho em um vale entre duas montanhas. Nem sempre as boas ideias prevalecem. Passava da uma da tarde. Um sol a pico e queimando. Quase quatro horas de caminhada. O suor escorrendo pelo rosto, os olhos vermelhos e o chapelão de três bicos faziam às vezes de um protetor carinhoso, mas que pouco ajudava.

                  Um local descampado, sem árvores, quem sabe para pasto do gado que ao longe pastava calmamente. Pensei em parar, mas sempre um animando dizia: - Vamos chegar! Vamos chegar! É só encontrar o vale das Vertentes. E esse não chegava nunca. Uma fome brava. Nem um biscoitinho a solta. Já respirava com dificuldade quando avistei o paraíso. Uma árvore. Não uma árvore qualquer. Era enorme. Incrivelmente linda! Incrivelmente bela! Nunca tinha visto uma cerejeira igual. Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu redor. Só ela, ali, imponente e ao seu lado um pequeno riacho de águas claras. Visão maravilhosa. Um oásis dos deuses do paraíso naquele campo seco. Incrivelmente maravilhosa. Molhei o rosto calmamente. A sombra da cerejeira nos dava uma sensação de calma silenciosa e gostosa. Uma brisa fresca soprava de este para oeste. Sentamos embaixo próximo ao tronco. Pés levantados. Dizem ser bom para a circulação. Dez minutos, quinze, vinte. Uma hora. Ninguém animava em partir. Estavam todos no mundo dos sonhos coloridos que só os escoteiros possuem.

                 A tarde chegou mansamente. O sol estava se despedindo e prometendo voltar amanhã. Vermelho atrás das montanhas verdejantes. Ainda de olhos fechados lembrei que tinha lido não sei onde – “A flor de cerejeira cai da árvore na primeira brisa mais forte, mas não dizemos que ela nunca viveu. Uma flor que só dura um dia, não é menos bonita por isso”. Não queria abrir os olhos. Não queria partir. Eu tinha encontrado o paraíso. Não disseram que o tempo é relativo? Que a flor da cerejeira, por exemplo, dura apenas uma semana e mesmo se durasse mil anos ainda seria efêmera? Flor tão bela como ela não merecia durar eternamente? E o que é eterno se não o que dura com tamanha intensidade? Dormi. Não queira acordar. Agora a cerejeira não dava mais sombra. Não precisava, a noite chegou escura, mas logo o clarão das estrelas no céu dava o seu espetáculo a parte.

                Reunião de Patrulha. Partir? Cinco a zero para ficar. Um foguinho. Uma sopa, um café na brasa. Cantando baixinho a Árvore da Montanha. O céu estrelado ainda dando seu espetáculo maravilhoso. Um cometa passou correndo deixando um rastro brilhante. Fiz um pedido. Que a cerejeira em flor durasse para sempre! Aos poucos alguns dormiam. A cerejeira das folhas rosa era nossa barraca. O tempo passou. Ao lado algum anjo velava o sono dos escoteiros. Abri os olhos mansamente, uma réstia de luz aportava lá por trás das montanhas distantes. Era a madrugada chegando. O novo dia chegava sem fazer alarde. O orvalho caia de mansinho. A brisa eterna amiga não nos deixou. Um acalanto para nos dar um novo vigor no dia que chegava sem fazer ruído. O riacho ao lado parecia cantar canções de ninar. Pequenos peixinhos nadavam como a nos dizer bom dia!  Mochila as costas. Olhares e sorrisos entre nós. Escoteiros avante! Pé na estrada, pois o sol agora já estava firme no horizonte. Nosso destino? O Tanque dos Afogados. E lá fomos nós, em marcha de estrada sorrindo, mas saibam que nunca mais, em tempo algum, nós nos esquecemos da árvore das folhas rosa. Cerejeira em flor. Um amor, uma lembrança que ficou marcada para sempre!

Nota - Apenas uma cerejeira em flor, na beira do caminho. Nunca tinha visto uma cerejeira igual. Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu redor. Só ela, ali, imponente e ao seu lado um pequeno riacho de águas claras. Visão maravilhosa. Um oásis dos deuses do paraíso naquele campo seco. Uma historia simples, mas para não esquecer jamais.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Lendas escoteiras. Entre dois amores.



Lendas escoteiras.
Entre dois amores.

Zé Rosa casou com Noêmia. Zé Rosa tinha vinte anos. Noêmia 65 anos. Durante muitos anos ninguém entendeu o motivo do casamento. Amor? Paixão? Dinheiro? Pelo que sabia Noêmia trabalhava no Hospital Samaritano como faxineira. Poderia ter sido aposentada, mas não quis. A tropa não perguntou. Os monitores se calaram. Zé Rosa não comentou com seus escoteiros. Quando souberam foi um verdadeiro silêncio... Não bochicho...

Zé Rosa trabalhava duro na sua bigorna. Um calor insuportável. Zé Rosa era Ferreiro. Uma profissão que é um misto de artesão e artífice metalúrgico. Dizem que é uma profissão milenar, serviu aos reis, rainhas, cavaleiros, agricultores e outros profissionais nobres ou não. Aprendeu com seu pai, que aprendeu com seu avô que aprendeu com seu bisavô... Com seu tataravô... Que nasceu na Alemanha em 1846 com o nome de Guilherme Eugênio Augusto Jorge, nunca foi um Ferreiro. Era um nobre alemão e oficial no exército de Wurttemberg.

Seu filho Lothar resolveu abandonar toda a vetusta família que odiava. Pegou um Barco pesqueiro e cinco anos depois aportou em Santa Cruz da Cabrália onde morreu em 1904. Seu filho mudou para São Paulo e se tornou não se sabe como um Ferreiro que ensinou ao seu filho, que ensinou ao seu neto, que ensinou ao seu bisneto... No bairro de São Gonçalo, bem afastado do centro da capital, Zé Rosa nasceu e ali viveu toda sua vida. Seu pai ainda resguardava a nobreza o que não aconteceu com Zé Rosa. Não conheceu sua mãe que tinha morrido quando ele nasceu.

Zé Rosa perdeu o pai novo ainda, mas sobreviveu com a Ferraria que seu pai lhe deixou como herança. Não ficou rico e nem pobre. Trabalhava de sol a sol e aos sábados e domingos fazia questão de acampar com seus escoteiros. Falava pouco não era de muita erudição e Jim Cortês o Monitor o salvava quando era necessário conversar com os pais dos novatos... Quase não acontecia, não havia vagas disponíveis. A tropa acostumou ao seu estilo e passou a ter nele um exemplo de vida.

Zé Rosa era um homem de palavra, não tinha bigodes, mas tinha honra e caráter de sobra. Foi em um acampamento quando todos foram dormir que Zé Rosa teve um sonho. Seu Avô lhe disse para casar com Noêmia. Disse que ela sempre foi a patriarca da família e nesta vida estava sozinha sem ninguém. Zé Rosa não entendeu o sonho, não conhecia nenhuma Noêmia. Dois meses depois se inscreveu em um Curso Escoteiro. Queria aprender melhor sobre nós e amarras e técnicas mateiras. No curso conheceu Noêmia que fazia a faxina no campo escola durante os cursos.

Cabisbaixo não sabia o que dizer e nem perguntou. Zé Rosa só foi saber que era sua predestinada quando no final do curso fizeram a Cadeia da Fraternidade. Ao cantar a Canção da Despedida, Noêmia convidada pelo diretor do curso lhe deu as mãos e ele sentiu dentro de seu coração o aviso do seu Avô. Ela era sua predestinada. Mas havia um, porém, ela tinha 63 anos quando se conheceram. Ele dezoito.

Ela lhe deu seu endereço e ele fez o mesmo. Encontraram-se um mês depois na Avenida Rebouças em frente ao Bar do Dentinho. Sentaram, tomaram refrigerantes e comeram azeitonas pretas e verdes. Não falaram nada. Encontraram-se de novo uma semana depois quando ela lhe fez uma visita durante a reunião escoteira do Sábado de Aleluia. Ele não apresentou Noêmia à tropa e ela nem entendeu sua presença. Casaram-se um mês depois.

Foi um verdadeiro disse me disse, conversa de comadres e até os escoteiros da tropa de Zé Rosa ficaram perplexo com tudo. Seus pais aconselharam a sair da tropa, mas ninguém aceitou. Noêmia não foi mais a reunião dos escoteiros. As Corte de Honra eram feitas em sua casa, mas ela se retirava para seu quarto. A tropa acostumou. Zé Rosa não mudou seu estilo. Trabalhava de sol a sol e nos fins de semana ia acampar com sua tropa.

Noêmia morreu quatro anos depois e Zé Rosa nunca mais se casou. Em um acampamento no Vale dos Pombos após todos irem dormir Zé Rosa ficou em volta do fogo e sentiu uma presença estranha junto dele. Viu que era Noêmia com seu pai e seu avô. Ninguém falou nada. Abraçaram-se, Zé Rosa beijou Noêmia que era uma linda moça de olhos negros e cabeços longos soltos em cima dos ombros. Ficaram ali de mãos dada, e olhava para seu pai e seu avô sem entender. Eles se foram e Zé Rosa ficou sozinho em volta do fogo.

Zé Rosa morreu quarenta anos depois. Jim Cortês que era seu Assistente fez um enterro decente, mas com poucos presentes. Ninguém explicou ninguém soube o porquê, mas caiu na Praça São Joaquim durante três dias uma chuvinha fria que chamava atenção de todos, pois só caia em um só lugar próximo ao coreto. Dizem não posso afirmar que foi nesta chuvinha que se reuniu toda a família de Zé Rosa, e o próprio Eugênio seu Tataravô em pose de gala em um cavalo baio sorriu para a família levando no dorso Noêmia que fora sua rainha quando assumiu com a Morte de Lions de Bragança como o Rei Guilherme II de Wurttemberg!

Nota – Apenas uma história meia sem nexo. Porque Zé Rosa casou com Noêmia? Se ela era mais velha que ele que tipo de amor poderia surgir? Dizem alguns que Noêmia foi uma bela princesa austríaca que amava o Rei Guilherme e que ele nunca se casou com ela. Verdade ou não Zé Rosa continuou como Chefe escoteiro sem nunca mais se casar... Até que...

domingo, 24 de junho de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. O Chefe Escoteiro.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O Chefe Escoteiro.

- O Chefe Escoteiro é um ser humano vulgarmente conhecido como homo sapiens. Possui um cérebro altamente desenvolvido e resolve com rapidez como descer ou subir em uma árvore. É dotado de habilidades que nenhuma outra espécie possui. Ele sabe raciocinar, fazer nós e resolver os problemas de linguagem entre outros esquecendo logo a seguir. Ele sabe errar e aprender, às vezes segue a máxima de BP e persiste no erro até aprender a fazer o certo. Como todo Chefe convive com o sentimento de culpa e também com a adrenalina quando acampa ou acantona com seus jovens. Ele sabe amar as pessoas a sua volta e muitos não demonstram ou não enxergam essa demonstração de carinho por medo de ser confundido com outra pessoa.

- O Chefe Escoteiro sabe chorar de alegria e de tristeza, costuma ajudar a todos sem pedir nada em troca, mas tem alguns que aprenderam a sugar um pouco mais daqueles que estão mais próximo dele. Ele sabe resistir aos impulsos e também viver somente deles. Sabe quando cometeu uma burrada e sabe como acertar depois. Dizem que ele é bom para escrever carta de amor, não sei se é verdade. O Chefe escoteiro sente saudade de tudo que faz dos acampamentos, das reuniões, do sorriso do jovem que está ao seu comando, dos amigos que fez em curso e lembra-se deles com saudades como se tudo fosse um filme sem final.

- O Chefe Escoteiro sabe xingar quando preciso mesmo sabendo que isto vai de encontro a sua lei que um dia jurou fazer o melhor possível para cumprir. Ele costuma falar sem pensar, tem hora que resolve desistir de tudo, mas analisando melhor volta atrás quando sente que não está no caminho certo. Dizem que o Chefe escoteiro sabe se desculpar, pedir perdão e abraçar quando necessário. Tem alguns, entretanto que só sabem resolver no braço. O Chefe Escoteiro tem de tomar muitas decisões para contribuir na formação dos seus jovens para o futuro.

- O Chefe Escoteiro costuma (nem sempre) saber o que é o certo e o errado. Muitas vezes mistura tudo em um emaranhado de sentimentos com medo de tropeçar e cair. Por natureza nas lides que faz com seus jovens ele sabe saltar o obstáculo, tropeçar e cair se necessário para aprender a deixar de ser tapado e prestar mais atenção por onde anda. O Chefe Escoteiro sabe ir em frente quando tentam puxar seu tapete, ou uma rasteira, mas entende que não pode desistir. O Chefe Escoteiro acredita no seu sexto-sentido e até mesmo se jogar sem saber o tamanho ou a altura de sua queda.

- O Chefe Escoteiro sabe apreciar uma bela canção escoteira, um sorriso de uma bela escoteira, o melhor possível de um lobinho recém-admitido na sua alcateia. No fundo o Chefe Escoteiro sabe ser humano e sentir como seus amigos não escoteiros são. Ele sabe ir e voltar sabe mergulhar e conhecer a sí mesmo nos seus defeitos mais belos ou obscuros. Às vezes ele pensa que é um monstro, mas segundos depois sabe que não passa de um anjo escoteiro. Ele em qualquer rodinha só sabe falar de escotismo e se houve acampamento ele vai comentar por uma semana.

- O Chefe Escoteiro acredita em tudo que lhe diz seus superiores, é incapaz de contradizer um conhecedor mais legítimo no escotismo. Ele ama seu Assistente Pessoal, seu Distrital e algumas vezes seu regional desde que não seja criticado. Não gosta quando dizem que ele gasta demais com seus escoteiros, quando alguém da família reclama de sua dedicação quase integral a um movimento onde ele aprendeu que ali ser voluntário é arcar com todas as despesas e nunca esperar que alguém pague por ele.

Enfim, o Chefe Escoteiro é muito mais que exercer sua posição de líder. O Chefe Escoteiro como os demais seres humanos tem coração mais forte e determinado que os outros. Ele quer viver e fazer seus jovens viverem sob o domínio de uma lei e uma Promessa que ele mesmo fez um dia. Ele sabe sorrir, sofrer, levantar e cair. Lê tudo de escotismo que lhe caem nas mãos. Costuma ser bipolar e cai na real quando pensa demais. Enfim o Chefe escoteiro é apenas um ser humano, um pouco diferente, pois adotou a filosofia que desconhecia de um tal Baden-Powell e que passou a amar sobre todas as coisas.

- Este é em minha opinião um Chefe escoteiro...

Nota – Temos muitas definições do Chefe Escoteiro. Eu mesmo já fiz algumas e já vi aqui postado outras tantas falando desta figura quase “sobrenatural”. Espero que apreciem esta ultima, pois adoro falar do escotismo e do Chefe escoteiro. Sempre Alerta!

sábado, 23 de junho de 2018

Contos de fogo de conselho - Madalena



“Madalena”.

                      Mamãe! Eu nunca deveria ter nascido! Não posso ser escoteira? – Ouvir sua filha dizer isto machucava, era como se ela cravasse uma faca em seu coração. Como mudar isto? Ela não conseguia lutar contra as opiniões e os valores desta sociedade tão cheia de conceitos, preconceitos, crenças e valores que eram tabus em pleno século 21. Separar? Deixar o amor que ela tinha por Verônica? Seus pensamentos voaram ao passado. Amigas no trabalho, nunca sentiram nada por outra mulher e sem perceber o sentimento nascia aos poucos. Difícil explicar a quem não entende ou não passou por isto. Afinal amor entre duas pessoas do mesmo sexo não era tolerado na sociedade local de Monte Verde. Mas elas resolveram assumir. Esconder? Quando se ama de verdade não existem barreiras. Veronica era negra e Madalena Branca. Pior ainda. Prometeram viver suas vidas sem se preocupar com o que os outros iriam dizer. Madalena nunca esqueceu o primeiro abraço e o demorado primeiro beijo.

                    As famílias de ambas as abandonaram. Madalena tinha uma filha do seu casamento com João que a deixou para viver com outra. Ambas adotaram Ruth como um objetivo para vencer todos os obstáculos. Na escola foi difícil. Elas foram várias vezes conversar com a diretora. Ruth era humilhada constantemente por suas colegas. Tudo piorou quando Ruth pediu para entrar nos escoteiros. Quem sabe lá eles eram mais liberais? – Sinto muito senhora. Não podemos aceitar. O que direi para nosso Presidente do Grupo? Como explicar isto as mães que trabalham nas sessões? E os pais? Isto foi demais. Afinal se duas pessoas se amam e não podem viver este amor quem pode impedir que ele fosse realizado? Ruth chorou dias e dias. Ela sofria com as admoestações na rua e até mesmo quando foi confessar o Vigário a repreendeu. Afinal era uma menina de nove anos e o Vigário nunca teria este direito.

                     O Chefe Lobato se revoltou. Não podemos ser assim dizia a todos os chefes. Direitos de uns e não de todos? Que escotismo é o nosso? Somos uma fraternidade ou tentamos enganar a dizer que somos? Exigiu um Conselho de Chefes. Poucos compareceram. Era melhor fingir de morto do que dar uma opinião. Lobato ameaçou ir à imprensa. Daria seu testemunho à rádio local. O Comissário do distrito tentou dissuadi-lo. Um oficio da Região o mandou obedecer e não discutir, pois se não seria exonerado. Um absurdo. Ele não se deu por vencido. Foi à casa de Madalena e conversou com ambas. Estou saindo do Grupo, vou organizar outro. Conto com vocês para me ajudarem. Assim foi feito, mandou o registro para a Direção Nacional. Aprovaram, pois não sabiam da história.

                       O tempo é o senhor da razão. Os pais e a sociedade de Monte Verde a principio não aceitou. Depois aprovaram com ressalvas. Admiraram a coragem daquelas duas mulheres que enfrentaram de frente sem esconder o melhor caminho para ser feliz. O grupo vai bem. Ruth hoje é Lis de Ouro. Madalena que tinha perdido o emprego foi chamada de volta. O antigo Grupo Escoteiro se arrependeu. Hoje vivem em perfeita harmonia. Foi então que algum extraordinário aconteceu. O Chefe Lobato apresentou Diógenes com quem vivia há muitos anos. O Doutor Laercio Juiz de Direto amava outro homem e nunca mais escondeu o amor que sentiam um pelo outro. São histórias e historias podem ser verdadeiras ou não. Mas julgar alguém não é tarefa fácil. Como dizia o poeta julgar os erros dos outros é fácil. Difícil é corrigir os seus!


Nota - Amor, vida, paixão, carinho, prazer, preocupação, bem querer, alegria, compreensão, amizade, gratidão, companheirismo, solidão, felicidade, sintonia, energia, afeição, química, sentimento... Duas almas ligadas por um só objetivo... Ser feliz! Uma história para pessoas maduras e sem preconceitos.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. “Tarde demais para esquecer”. Uma janela no meu trem para lembrar.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
“Tarde demais para esquecer”.
Uma janela no meu trem para lembrar.

                         Os ponteiros do Relógio atravessaram pausadamente o dia. A tarde chegou e se foi. Há noite vem chegando. Olho pela janela ainda com o sol tentando se sobrepor entre as nuvens. Ainda repouso quieto de olhos abertos em minha cama tentando recuperar as forças que havia perdido nestes últimos dias. São coisas de velhos principalmente os escoteiros que ainda acreditam estar subindo em uma montanha como se fosse aquele jovem menino de outrora. Roda vida a procurar um ponto qualquer no passado para ver tem algum importante para relembrar. Fechei os olhos devagar, uma música suave veio ao meu encontro. Que música era aquela? Lembrei-me de Cary Grant no seu papel de playboy mulherengo e Deborah Kerr uma ex-cantora que viajando em um cruzeiro para a Europa, se conhecem. Apaixonam-se. Mas precisam dar novo rumo as suas vidas e combinam encontrar seis meses após no alto do Edifício Empire State. Se ambos aparecerem o amor é verdadeiro e se casarão. “Tarde demais para esquecer”!

                       Não resisto às lembranças. Não tive um amor tão grande assim em minha vida. O que tive até hoje estamos juntos e felizes. “Affair To Remember” me marcou muito. A música foi entrando em meu ser. Dominando-me, me senti tonto, inebriado. O piano deslizava em minha mente tal qual um por do sol na Montanha da Lua onde tantas vezes acampei. Viajei no tempo. Na fila do Cinema Palácios, de braços dados com a Célia. Íamos assistir finalmente “Tarde demais para esquecer”. Não sabia o que íamos ver, não fazia ideia. Sou emotivo demais. Quando no final ele não a encontrou no Empire State chorei. Ainda não fazia ideia porque ela não foi. Um trágico acidente deixando-a paraplégica a impede de ir ao encontro. Ela toma um rumo emocionante e incerto. Saí do cinema perdido em conjecturas e nenhuma me agradava. Não seria eu o Leo McCarey o diretor para mudar tudo no final. Eu era apenas um Escoteiro, emotivo, noivo, amante de sua linda e futura esposa e que vivia a sorrir e cantar na natureza.

                         Agora me vejo sentando em uma poltrona viajando no meu trem do passado. A janela aberta, a fumaça volta e meia entra no vagão de primeira classe. Não reclamo. Adoro amo esta fumaça que até hoje me faz uma falta enorme. Ajeito o travesseiro para aceitar melhor. Minha cabeça fica zonza, pensando e pensando. Meus olhos se firmam na paisagem que o trem vai me mostrando em cada curva que faz. Um pontilhão me assusta. Sorrio. Pego de surpresa. Quantos pontilhões passei na minha infância? Correndo com medo de o trem chegar... Ah! A janela não para de me mostrar um passado, mas a música o piano gostoso, a melodia do filme que me marcou entra em meus poros. No final da passagem do túnel do Corcel perto de Derribadinha vejo-me ali, em pé, segurando meu cavalo de aço junto aos meus outros cinco companheiros. Esperando o trem passar para adentrar no túnel desconhecido.

                         O piano cessa. A melodia fica a parafusar minha mente. Preciso ouvi-la novamente. You tube? Sim! Vou lá. Ela volta agora e me refastelo na cama, minha cabeça repousa no travesseiro e minha mente de novo viaja naquele trem que me leva ao passado. Lembrei-me de Gilwell. Por quê?  Afinal “Na Affair To Remember” não tem nada do escotismo que amo. Quem sabe será porque me sinto Velho e fraco e preciso voltar? Voltar onde? Em Gilwell, no tempo? Assistir novamente o filme da minha vida? Minha mente embaralha. Já nem sei mais o que pensar. Volto novamente ao meu trem. Minha janela. A fumaça branca entrando. Meu paletó branco era macio como leite em calda. O trem vai diminuindo sua marcha. Entra na estação e vejo em algum canto da estrada a garotada correndo sem parar jogando uma pelada com bola de pano. Alguém grita: - Amendoim torradinho, doce de leite e cocadas! Comprem é barato!

                         O trem já vai partir. – Alguém diz com voz chorosa: - Não quer ir comigo? Ela responde chorando... Desculpe sou feliz aqui! Um grande amor interrompido? Minha mente volta ao Empire State. E ela? Mesmo em uma cadeira de rodas ainda pensa em casar com ele? Não sei. Não quero contar. Filmes são assim, trilhas sonoras inolvidáveis. Um piano tocante quem sabe na Floresta do Tenente, lá muito longe onde acampei. Alguém toca baixinho para mim “Na Affair To Remember”. Sento-me na porta da barraca. Uma noite linda, o céu salpicado de brilhantes estrelas. Cai uma brisa vinda da Lagoa dos Peixes dourados. Tudo é encantamento. Noite romântica mágica repleta de felicidade. Fecho os olhos, minha viagem vai chegando ao fim. Levanto-me meio tonto da minha cama. Olho pela janela, daqui a pouco vai chegar à madrugada. No meu trem ouço alguém dizer na estação final: - Muito obrigado meu jovem cavalheiro e escoteiro, muito obrigado por esta bela viagem. Desço do trem. Vejo-me fardado, na mão o meu chapéu de abas largas. É noite alta, lágrimas em meus olhos mostram que ainda penso no grande amor de Deborah Kerr e Cary Grant.

Nota – Apenas uma lembrança. Não é um conto e nem uma história. Nostalgia saudades que chegaram em um dia difícil de passar por ele. Os mais velhos irão lembrar-se do filme os mais novos poderão um dia conhecer um amor impossível de acontecer. “Tarde demais para esquecer” bateu forte em mim. Afinal sempre fui emotivo com histórias de grandes amores. Os poetas tem suas escolhas para definir a passagem de um grande amor em cada vida. Dizem eles que há sempre alguma loucura no amor. Mas a sempre um pouco de razão na loucura! Tenham uma excelente noite!

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Contos ao redor do fogo. A Medalha de valor!



Contos ao redor do fogo.
A Medalha de valor!

Valencio sorria, precisava. Há dias que uma tremenda escuridão se interpôs entre ele e o mundo que vivia. Cego? Não, havia uma réstia de luz para onde olhava. Agora estava ali, no lugar certo, no lugar de onde nunca devia ter saído. Era o Monitor da Leão e sempre honrou seu cargo. Quando o Chefe Javé o promoveu ele jurou cumprir sua missão custasse o que custasse. Viu todo o grupo escoteiro formado no pateo. Tinha outras patentes presentes. Lembrou-se de Montserrat o Comissário do Distrito, até Nonato seu antigo Chefe formado com todos e em sua volta uma luz brilhante. Mas ele já não tinha partido para se juntar com Deus?

Tremeu quando cantaram o Hino Nacional. Sempre foi um patriota. Cantava com orgulho em posição de sentido e com os dedos firmes na continência que sempre fez com garbo. O Padre Otoniel foi até o centro da ferradura. Valencio notou que todos choravam. Por quê? Chora-se também no cerimonial de bandeira? Ouviu uma forte palma escoteira... Riu... Sempre uma pipoca no final. Rsss. Foi até sua Patrulha, Liminha estava à frente segurando firme o Totem da Leão. Liminha era seu Sub Monitor. Gostava dele, leal, amigo e sincero em suas palavras e ações.

Padre Otoniel rezou um Pai Nosso acompanhado por todos. Também orei. Gostava de orar afinal era o coroinha preferido pelo Padre Otoniel. Colocaram uma mesinha de armar próximo ao mastro. Vi que ali estava à bandeira do Brasil após o arreamento. Ora... Cheguei atrasado? Eu nunca chegava. Iria pedir desculpas ao Chefe Otoniel. Uma caixinha pequena de madeira envolta em um feltro verde guardava algum tesouro. Olhou para o Chefe Otoniel com uma sombra de dúvida. Pensou em perguntar ao Chefe Nonato, mas ele estava distante.

O Comissário Montserrat tomou a frente da cerimônia. O que seria? Ah Valencio! Quanta coisa você perdeu nestes dias de escuridão. Surpresa! Pai Matias e mãe Tainá estavam ali. Por quê? Eles quase não iam ao Grupo Escoteiro. O Comissário Montserrat começou a discursar. Ele riu. O comissário gostava muito de fazer discurso. Uma vez no desfile de Sete de Setembro ele pediu ao prefeito e ficou quase quarenta minutos falando sobre escotismo. Rsss. Eita comissário danado. Notou que sua mãe e seu pai estavam chorando. Ficou triste... Muito triste!

Falavam sobre ele disso tinha certeza. Falaram que era um herói. Que seria lembrado por toda vida como um exemplo de menino escoteiro. Que seu feito iria marcar o Grupo Sol Nascente para sempre. Ele olhou de soslaio. A tropa chorava. Tito Lontra foi até a frente e com os olhos rasos d’água contou sua história. Contou que só não morreu porque eu o salvei. Ora só porque o tirei da ribanceira do Serrado do onça? Não fiz mais que minha obrigação. Totonho chorava. Fui até ele querendo abraçá-lo e não consegui. Disse para ele que não fiz mais que minha obrigação!

Tiraram da caixa uma medalha. Chefe Otoniel disse que era uma medalha de valor ouro e que eu receberia pós mortem. Uai! Logo eu? Não fiz nada só puxei Tito Lontra para não cair na ribanceira. Chamaram Papai e mamãe. Entregaram a eles a medalha de Valor. Era minha? Impossível! Eu estava vivo ali no meio deles... Uma luz brilhante apareceu no céu, um caminho se fez, alguém colocou a medalha no um peito, olhei-a com respeito... Estava de uniforme, parti na estrada brilhante levado pelas mãos do Chefe Nonato...

Nota – Alguém um dia disse que não gostava de meus contos com temas espíritas. Disse que era coisa do diabo. Risos. Porque esconder o que acredito? Gostem ou não minhas publicações sempre terão alguma pitada espiritual. Deus está presente onde houver amor, paz e boas obras.


Aprendendo lobismo nas margens do Waingunga.

Se você está começando em uma alcateia e gostaria de revisar a filosofia do lobismo conforme nosso fundador Baden-Powell, tenho a disposição dos interessados dois blocos só com temas sobre lobos. No BLOCO 27 você poderá ler sobre: - Os livros da Selva (Sinopse) – Tigre tigre tigre – A história do lobo de Gubbio – A história da canção gin gan Goolie – Histórias do ramo lobinho – O Aguilhão do Rei – Danças e interpretações da Jângal – A embriaguez da primavera. E no BLOCO 26 temos: - Pigmor o Castor Manco – Histórias de lobos para lobos – Interpretação do livro da Jângal – O livro da Jângal (sinopse) – Os lobos da Alcateia de Seeonee. Jogos para lobos e escoteiros. Lembre-se só atendo um pedido de bloco por dia. Assim peça um e no dia seguinte peça o outro. Se houver demora aguarde, ando meio adoentado e não fico sempre na Internet.
Peça no meu e-mail ferrazosvaldo@bol.com.br
– NÃO PEÇA POR AQUI E NEM DEIXE SEU EMAIL. SÓ POSSO ATENDER UM BLOCO POR DIA E SEMPRE NO MEU PARA FACILITAR O ENVIO – OBRIGADO.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Histórias de Fogo de Conselho. A arte do bom conselho.



Histórias de Fogo de Conselho.
A arte do bom conselho.

                       Era um acampamento de cinco dias. Após a cerimônia de bandeira e a entrega das bandeirolas de eficiência do dia, o Chefe Conrado pediu a Jerônimo que após o tempo livre do almoço o procurasse. Jerônimo era o monitor da Tigre. Fazia um ano que tinha sido eleito. Quatro patrulhas acampadas. Todas com sete membros. Mas desde a chegada a patrulha Tigre estava se distanciando das outras. Os patrulheiros pareciam se adaptar a serem sempre os últimos. Jerônimo não. Ele sabia dos problemas da patrulha, mas não tinha forças para resolver.

                     Jerônimo chegou ressabiado na barraca da chefia. Deixou Valério o sub no comando. Laurindo o cozinheiro sabia o que ia fazer para o almoço. Procurou o chefe Conrado. Sempre Alerta chefe! Monitor da Tigre se apresentando. Sempre Alerta Jerônimo! Sente-se. Jerônimo sentou no banco em frente à barraca do chefe. Eles tinham seu campo separado. Faziam suas mesas, seus toldos e a própria comida no seu fogão suspenso. Eram três, mas sempre cozinhavam para eles. Jerônimo tinha grande admiração pelo Chefe. Nunca encontrou um adulto como ele nem seu pai.

                       Chefe Conrado entrou logo no assunto. Tem conversas que não podem ser adiadas. - Meu amigo, sua patrulha estava ficando para trás. Desde que chegamos nem o terceiro lugar. Alguma coisa que eu não saiba? Jerônimo abaixou a cabeça. Olha chefe, o senhor me conhece. Não gosto de reclamar. Tentei tudo com o Mário Júlio. Até comentei mês passado com o senhor. É um bom escoteiro. Entusiasmado. Lê tudo que aparece de escotismo. Mas está apático. Não presta atenção. Neste acampamento quase não ajudou a patrulha. Fica olhando os pássaros, tentando saber o que dizem. Pega seu caderninho e anota. Agora deu para correr atrás das borboletas. Disse que quer saber onde dormem.

                            Entendi Jerônimo. Acho que esta deve ser a causa. Porque não pensa em alguma coisa? - Já pensei chefe. Conversei, falei disse se ele queria outra função que não escriba e nada. - Vamos fazer uma coisa, posso sugerir? Disse o chefe Conrado. - Claro que sim chefe. - Bem, faremos o seguinte, hoje tarde tinha um jogo de ataque e defesa. Meio forte. Vou mudar. Faremos um sobre a “busca da Borboleta Dourada”. A patrulha que conseguir desenhar e descrever o maior número de borboletas e saber imitar pelo menos cinco pássaros será a campeã.

                        Não precisamos dizer quem ganhou. O Patrulheiro Mário estava todo orgulhoso. Era o que ele gostava. No dia seguinte a patrulha Tigre empatou com as demais. Não ganhou a eficiência geral no ultimo dia, mas não fez feio. Dai para frente nunca mais ficaram em último lugar. O patrulheiro Mário Júlio mudou da água para o vinho e a patrulha mudou com ele.

                       Muitas vezes temos as soluções simples para um problema complexo. Basta pensar e ver como será o resultado. Se for o que se pretende ponha em Prática. Apitar, formar, jogar e palestrar é fácil, qualquer adulto faz isto, mas o chefe escoteiro tem de ir muito mais além. Assim como os monitores devem conduzir sua própria patrulha, o chefe também deve saber como conduzir seus monitores e sua tropa.

“Conduza com o próprio remo a sua canoa” Não foi isto que disse Baden-Powell?

Nota - É pelo esforço que nos, fortalecemos, e pelo esforço que alcançamos o êxito. É no esforço de lidar com uma dificuldade - com um sorriso nos lábios. São Jorge foi um exemplo de esperança. Disse ele: - “Quando te deparares com a muralha lisa e nua da dificuldade, lembra-te: apesar de à primeira vista parecer muito alta, uma observação mais atenta pode revelar-te fendas e irregularidades graças às quais conseguirás superá-la; e, mesmo que não possa ser escalada, aposto dez para um em como é possível contorná-la”. Baden-Powell

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Lendas Escoteiras. A dor de uma saudade.



Lendas Escoteiras.
A dor de uma saudade.

                  Eu me ofereci para levá-lo. Era apenas um encontro de velhos escoteiros em um lugar qualquer da minha cidade. Não me inscrevi para ir e só fui fazer a inscrição depois que soube que ele queria ir. Foi Donana quem me telefonou. – Chefe, a família está aflita, ele não tem condições. Há dias acamado e parece que não deram muita esperança de vida. Ninguem sabe quem disse para ele do Encontro dos Antigos Escoteiros em um Fogo de Conselho dos seus amigos do passado. Não são tantos assim, mas ele não para de dizer que vai. Não arreda o pé! – Eu não o conhecia, nunca o vi pessoalmente, alguns chefes me falaram sobre ele. Diziam que quando mais jovem era uma pessoa maçante, insistente nos seus ideais, sempre a dizer que seu tempo era o melhor e que hoje somos sombra do passado.

                 Eu tinha meus problemas. Por sinal muitos que não seriam de fácil solução. Meu emprego perigava, poderia a qualquer momento ser demitido. Celia sempre me dizendo para ir devagar. – Osvaldo temos quatro filhos que precisam de você e de mim. Você gasta muito nos escoteiros. Quem não pode pagar você paga, nunca deixou ninguém para trás. Sempre foi daqueles que diz que ou vão todos ou não vai ninguém. E se você ficar desempregado? – Ela tinha razão. Meu salário dava para o gasto, mas até quando? – Deixar o escotismo não iria deixar. O movimento fazia parte da minha vida. Se Deus quisesse que eu fosse um desempregado não iria retrucar. Mas do escotismo não iria abrir mão.

                  Donana me telefonou à tarde. – Vado estou com um problemão. Acho que já ouviu falar no Chefe Polar. Já está chegando aos 95 anos. Dizem que conheceu Baden-Powell e eu não duvido. Foi Chefe no Montezuma e só saiu de lá quando o Conselho de Chefes achou que ele devia se recolher a sua velhice. Diziam que era impertinente maçante e até mesmo irritante. Comentam que ele chegou em casa chorando, Isabel sua esposa sentiu sua amargura. Passou uma semana enfastiado, olhos cheios de lágrimas e caiu prostrado em uma cama e não levantou mais. Agora quer ir de qualquer maneira ao Fogo de Conselho.

               Fiquei pensando se quando envelhecesse eu não faria o mesmo. Liguei para sua esposa me prontificando em levá-lo. Ela chorava ao telefone e me dizia: – Chefe, Polar quase não anda. Tosse o tempo todo. Sempre com remédios a cada hora do dia. O médico recomendou repouso absoluto, mas ele não obedece. Diz que vai de qualquer jeito e ninguém vai impedir. Não sei por que Joviano o convidou. Ele devia saber que Polar não tinha condições. – E os filhos porque não o levam e ficam junto? – Ela ficou calada por instantes. – Chefe, meus filhos nunca foram bons escoteiros. Só ficaram enquanto ele praticamente obrigou. Hoje não veem com bons olhos o escotismo. Chefe não sei se seria uma boa ideia.

               Combinei com ela que passaria por volta das sete da noite. Eu o levaria com prazer. - Afinal um dia serei como ele senhora, disse. Todos nós que amamos o escotismo um dia seremos velhos, idosos, velhos lobos, ou seja, lá o que nos vão chamar. Se vai ser seu último porque lhe tirar a chance de recordar? Liguei para Fagundes um Velho Escoteiro para saber melhor sobre Polar. – Chefe, um grande homem. Deu sua vida pelo escotismo. Nunca bajulou ninguém. Sempre foi honesto com sua escolha e dizia o que pensava sem esconder. Não quiseram entregar para ele o lenço. Diziam que ele não tinha espírito Escoteiro. Nunca aceitou pagar por uma medalha por isto não tem nenhuma. Gritava e ainda grita aos quatro ventos que seu escotismo é o de raiz, o de Baden-Powell!

               Vesti meu uniforme devagar. Sabia que iria levar alguém que merecia meu respeito e minha admiração. Sempre fui do lado dos humildes, dos que se comprazem em não mudar de rumo ou direção. Quando amarrei o cadarço do sapato preto, vistoriei de novo o friso do meião. Olhei pela última vez no espelho se meu lenço estava bem colocado. Perfeito. Sem dobras, sem sobras. Coloquei meu chapéu devagar. Tirei meus barretes para não humilha-lo. Quarenta anos fazendo escotismo e disseram que eu ainda precisava mostrar como servir a União dos Escoteiros do Brasil com bons serviços prestados para minha futura medalha Velho Lobo. Nunca paguei por nenhuma. Era meu direito. Despedi com um beijo afetuoso na Celia e parti sem pressa. Tinha tempo, muito tempo.

               Na esquina da Sete de Setembro com a Saúva uma ambulância passou nos gritantes rumo ao centro da cidade. Meu coração acelerou. Entrei na Rua Peçanha. Na porta da casa de Polar um mundão de gente. Desci Dona Isabel sua esposa com os olhos rasos d’água me disse: - Chefe, não precisa mais. Polar partiu, nunca mais vai voltar. – Ela chorava a perda de alguém com quem viveu uma vida. A abracei carinhosamente. – Para onde foi? O Grande Acampamento do Universo? Não sei se ouve o Fogo do Conselho dos velhos. Nunca perguntei. Voltei para casa chorando. Nunca vi Polar, não o conhecia e nunca apertei sua mão. Nem sei como era, mas eu o tenho no coração. Ali ele vai viver para sempre como se fosse meu guia, meu Chefe, e meu irmão!


Nota - A vida é luta renhida, que aos fracos abate, e aos fortes, só faz exaltar. “(Gonçalves Dias)”. – Ele era apenas um Velho Escoteiro. Nada mais que isto. Queria rever seus velhos amigos de patrulha. Não conseguiu. – Apenas uma história. Uma história que pode ser real.

domingo, 17 de junho de 2018

Lendas da Jângal. A lenda da Fada Azul. (uma historia para os lobos da Jângal)



Lendas da Jângal.
A lenda da Fada Azul.
(uma historia para os lobos da Jângal)

(A terra das Fadas ou o mundo das Fadas é o lugar onde as Fadas e outros seres mágicos moram. Este lugar fica em outro plano de existência. O lugar também é conhecido como vários outros nomes devido às diversas lendas existentes, como Elfiand, Avalon, Pais das Fadas e muitos outros).

                     Julia morava no final da Rua Esperança. Não era uma rua feia e nem bonita. Não tinha calçamento e nos tempos de sol muita poeira, nas chuvas lamaçal. Julia gostava de morar ali.  Sua mãe um dia disse que iria atrás de seu pai que foi embora. Ela também nunca mais voltou. Ela morava com a Vovó Francisca. Era pobre, muito pobre. A sua Vovó vivia da pensão do seu avô por sinal muito pequena. Não tinham TV e ela sonhava com uma. Julia tinha dois amores, porque não três? Sua Avó, sua matilha e seu sonho em ser uma fada. Leu tudo sobre elas e aprendeu seus costumes, suas cidades e seus castelos. Ela sabia que as fadas são seres fascinantes e sonhava em conhecer seus segredos seus costumes e seus mistérios. Contaram para ela que para achar uma fada ela teria que ir atrás do Tesouro da Mãe D’água. Queria ser uma fada para fazer os outros felizes.  

                  Julia tinha oito anos e era uma menina esperta, alegre e nunca reclamou de nada em sua vida. Sua Vovó nunca deixou faltar nada para ela. Por causa do mundo das fadas que ela tinha lido, sua avó comprou uma flauta e ela devagar aprendeu a tocar deliciosos acordes e melodias. Ela queria dançar como elas, seguir o ritmo da natureza e quem sabe aproveitar os sons da água e do vento para realizar grandes bailes na floresta encantada. Julia fazia de tudo para um dia encontrar com uma fada. Meditava e no lugar do cristal de quartzo leitoso ela usava um pequeno broche que sua mãe lhe deu. Mesmo fazendo todas as magias que aprendeu no livro das fadas da biblioteca da escola ela nunca conseguiu encontrar uma. A Akelá Nancy sorria quando a via sonhar no seu mundo encantado das fadas. Todos adoravam ficar ao lado dela para ouvir as histórias das fadas.

                   O barbudo Chefe Tomé vivia amedrontando seus escoteiros, disse para ela que os duendes são fadas e aparecem para as meninas como um homem Velho. Diziam adorar colecionar ouro e depois colocar numa panela e escondem em uma ponta do arco-íris. Ele vivia dizendo para ela: - Cuidado com a fada, pode ser um duende e levar você para seu castelo onde nunca mais você vai voltar. Ela saia correndo e chorando dizia a Akelá que o Chefe Tomé era um homem mau. A Akelá Nancy sorria e dizia para ela não se preocupar. Mas em toda reunião o Chefe Tomé aprontava. Um dia a Alcateia foi acantonar em uma fazenda de um antigo Escoteiro do Grupo. Quando desceram do ônibus ela viu que a casa sede era igual a um desenho onde morava a Fada Azul. Seus olhos brilharam.  Agora sabia que iria finalmente conhecer uma fada.

                   Seriam três dias acantonados. Mas no segundo dia Julia desapareceu. A procura foi intensa. Veio os bombeiros, a policia, escoteiros de todo lado ajudar. Nada. Nem uma pista em lugar nenhum. Ao mesmo tempo o Chefe Tomé também sumiu. Será ele o culpado? A esposa do Chefe Tomé não parava de chorar. Ele tinha três filhos todos escoteiros e uma escoteira. Impossível pensar algum de ruim. Uma semana depois o Guarda Polônio a encontrou dormindo na praça da estação. O povo todo veio ver e ela estava vestida de fada. Um lindo vestido de seda azul. Ela sorria de olhos fechados. Levada ao hospital ficou lá dois meses em coma profundo. Em Pedra Bonita uma cidade vizinha a policia encontrou o Chefe Tomé dormindo na praça da estação. De onde veio? Ele sorria, mas de olhos fechados. Ficou três meses em coma. Em Esperança ninguém acreditava que ia voltar.

                   Ele acordou do coma gritando e chamando sua esposa e seus filhos. Avisados foram buscá-lo. Uma semana depois ele soube do acontecido com Julia. Foi até a casa dela e pediu sua Avó para entrar. Foi bem recebido. Julia sorriu para ele. – Vamos manter segredo? Ele disse. – Ela balançou a cabeça concordando. Ninguém iria acreditar. Ambos foram transportados para a cidade de Avalon. Lá foram recebidos por centenas de fadas. Chefe Tomé foi levado por um duende verde e ficou lá na cidade deles por muito tempo. Julia entrou para a escola das fadas. Aprendeu a fazer o bem, a ajudar a todos sem distinção. Aprendeu a voar, a fazer magias, aprendeu tudo e a Fada Madrinha disse a ela que quando crescesse poderia morar ali com elas. Chefe Tomé sofreu na mão dos duendes. Afinal ele sentia prazer em fazer medos aos escoteiros e os lobos. Mas no último dia da sua estada o Duende Verde lhe disse: Se fizer novamente vai morar aqui para sempre e será aquele a puxar a carroça do Duende Azul.

                  O tempo passou Todos se esqueceram de Julia e o Chefe Tomé. No grupo Escoteiro todos notaram a transformação dele. Uma educação enorme no trato com os escoteiros e lobos. E Julia quase não comentava mais sobre as fadas. Ela sabia que não iriam acreditar que foi aceita pela sociedade delas. Agora era mais uma. A noite quando todos dormiam e quando a lua se escondia, ela colocava suas asas e seu mantra mágico e saia voando pelo céu a brincar com suas amigas que moravam em Avalon.

- Podem achar que não é uma história real. Houve um tempo que o mundo humano era um só com o mundo das fadas. Mas por causa de alguma mudança dramática, fadas tiveram que recuar e manterem-se distantes do nosso mundo. No entanto, as mesmas lendas dizem que ainda existem alguns portões entre o mundo das fadas e o nosso. Aqueles que têm o dom ou estão em posse do mantra mágico pode entrar no Mundo das Fadas quando bem quiserem.

"Não há dúvida de que as fadas existem. Temos duas casas de fadas bem perto de nós e temos registros de conversas entre fadas e as pessoas da Alcateia dos lobos de Seeonee.". Quem me contou foi um Duende que mora próximo a Rio da Felicidade.

Nota - Conta-se uma lenda que antigamente as fadas e outros seres habitavam normalmente o mundo dos humanos, até que houve alguma mudança drástica, e elas tiveram que recuar e manter apenas pequenas passagens para o nosso mundo. No entanto as mesmas lendas dizem que ainda existem alguns portões entre nosso mundo, e o mundo das fadas. Aqueles que Têm algum dom magico, ou estão de posse de objetos encantados ou magia, podem entrar na terra das fadas a qualquer hora. Um conto para lobos e escoteiros que acreditam em fadas... Como eu!

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Lendas Escoteiras. “Bugre”! Uma cruz a beira do caminho.



Lendas Escoteiras.
“Bugre”!
Uma cruz a beira do caminho.

(Conta-se uma lenda que os moradores próximos ao Lago Grande Urso tinham nas peles de castores o seu sustento. Os homens da aldeia por meses ficavam distantes nos Grande Lagos a caçar castores e tirar suas peles. Quando eles retornavam e se ouvia o som dos tambores feito de pele dos animais, os caçadores cantavam uma triste canção, batendo no coração com o bater dos remos a marcar o passo em um ritmo choroso e triste. A aldeia se reunia a beira do lago chorando e sabendo que iriam viver por várias luas grandes dificuldades para se manter. Esta canção ficou conhecida como Terra do Belo Olmeiro). 

“Terra do Velho Olmeiro”... Lar do Castor...
Lá onde o Alce airoso é o Senhor...

                     Eu caminhava sozinho na Trilha do Riacho Grande. Sabia que não podia contar sempre com meus velhos e amados patrulheiros da Sol Poente. Eles tinham de viver suas vidas e cada um foi para um lado depois de anos e anos juntos na Castor e depois na Sol Poente. Tínhamos feito uma promessa e a cada ano mais difícil ficava de cumpri-la. Quando Bugre morreu na caminhada fizemos um juramento de voltar lá todos os anos. Holandês deu sua palavra. Dom Patu jurou. Azulão não sorriu, mas levantou a mão fazendo o sinal Escoteiro. Jim Taques prometeu trocar a cruz de madeira todos os anos. Fazíamos de acampar onde ele estava enterrado. Holandês fazia questão de todos os anos plantar belas flores silvestres. Sempre trazia consigo mudas de Chapéu de Couro, Begônias, Flor de Laranjeira, Crista de Galo e tantas outras. Jim Taques sempre pensou em ser um religioso. Contaram-me que hoje é padre em Sacramento. Ele quando o sol se punha fazia lindas orações para o Bugre.

Em um lago azul formoso,
eu voltarei de novo...

                  Havia anos que estávamos juntos. Quis o destino que a amizade começasse na patrulha Castor. O destino de novo nos reuniu e nunca nos separamos quando fomos para Sênior. Bugre era diferente. Pele curtida, rosto redondo, lábios grossos olhos e cabelos negros, lisos que ele fazia questão de pentear a cada hora. Quem não tem manias? Ninguém se incomodava. Podem não acreditar, mas Bugre nunca dizia mais que uma ou duas palavras. Costumava ficar meses sem falar nada. Na aventura Sênior que fizemos na Pedra do Sino, mesmo com uma vista maravilhosa, ele sentou a moda índia, olhava para frente, olhos abertos e sem sorrir ficou lá por horas. Era filho de Iraputã, um índio que até morrer vivia sozinho nas margens do Rio Corrente. Vez ou outra ele ia visitar seu pai. Um dia me convidou. Chegou, abaixou a cabeça para o pai e ele fez o mesmo. Sentaram em uma pedra próximo as corredeiras do rio e ali passaram uma noite sentados a moda índia sem nada falar.

Bum tiriati, Bum tiriati bummm...
Bum tiriati, Bum tiriati bummm...

                  Bugre era um profissional em pioneirías. Cada uma mais linda que a outra. Uma vez acampado na Vertente da Onça, ele construiu um pórtico móvel que eu nunca vi igual. Dom Patu olhava para ele com orgulho. Azulão e Jim Taques sorriam quando ele chegava à sede naquele seu jeitão de índio matuto, que não sorria e não falava nada. Tirou sua segunda classe por que o Chefe Candinho achou que ele devia receber. Se ficou alegre ou triste quando lhe entregaram a insígnia ninguém percebeu. Nunca esqueci sua morte. Nada mostrava que isto iria acontecer. Seguíamos calados pela estrada do Riacho Grande. Na curva do Destino, nome que demos a curva ele parou. Ficou de frente para o oeste onde o sol se punha no horizonte. Levantou os braços em forma de cruz como a dizer que iria partir. Não tirou sua mochila, não tirou seu chapéu. Olhou para nós e disse na sua voz calma: - É hora de morrer! E caiu ao chão sem fazer barulho. Não entendemos nada, ficamos assustados porque não dizer estupefatos! Holandês colocou um dedo em sua garganta. Chorando disse: - Ele morreu!

Tenho saudades daqui... Destas campinas...
Ao norte eu voltarei... Para as colinas, 

                Ninguém estava preparado para o acontecido. Foi demais. Alguém morrer na nossa frente sem mostrar cansaço, doença ou mesmo sentir uma pontada no coração era de assustar. Ficamos horas sem saber o que fazer. Tentamos reanimá-lo, mas nada. Fizemos com nossos bastões uma maca. Minha camisa escoteira e a de Dom Patu serviram de base. Gastamos quase a noite toda para levá-lo de volta. Dona Yara sua Avó não disse nada. O deitou em sua cama ascendeu várias velas, um incenso em volta e assim passou todo o dia com ele. Nós estávamos lá junto. À tarde no enterro no Cemitério da Saudade a tristeza reinava na patrulha sênior. Azulão subiu em uma lápide e tocou o toque do silencio triste e choroso. Eu juro que vi seu pai em cima do muro do cemitério. Eu nunca esqueci Iraputã. Como Bugre não sorria e não gostava de falar. Na reunião da semana seguinte fizemos o trato. Voltar lá todos os anos enquanto vivêssemos. Isto aconteceu por anos a fio. Os caminhantes que lá passavam ficavam admirados com aquele jardim florido quer seja no verão no inverno ou no outono as flores desabrochavam como se estivessem na primavera.

Ao lago azul rochoso
eu voltarei de novo...

                     O sol seguia o seu destino. O vento soprava calmo rumo ao oeste. Iria quem sabe iluminar os dias de outros milhares de escoteiros que estavam a acampar do outro lado do mundo. As flores silvestres lindas lá estavam e a Cruz parecia nova. Desta vez Jim Taques escreveu um epitáfio: - “Manteve a dignidade até na hora da morte”. Sentei na grama a moda índia como a lembrar dele. Sempre fora assim por anos e anos quando visita aquela cruz a beira do caminho. Não sei por que comecei a cantar “Terra do Belo Olmeiro” uma canção que achava triste e poucas vezes cantei. Senti um vento frio vindo a sotavento. Percorreu meu corpo e como se uma dança esquisita acontece no ar, os tambores se ouviram batendo e vozes centenas delas a dizer: Bum tiriati, bum, tiriati bummm. Como por milagre a figura de Iraputã apareceu no ar trazido pelo vento húmido: - Vado Escoteiro, Bugre partiu para a terra dos seus ancestrais! Nada mais disse e despareceu. Eu emocionado chorei. Não tinha mais nada a fazer a não ser manter a chama do amigo que partiu dentro do meu coração. Sabia que seria para sempre!

Bum tiriati, Bum tiriati bummm...
Bum tiriati, Bum tiriati bummm...

Nota – Costumo marcar com estrelas meus contos escoteiros. Bugre recebeu a nota máxima. Escrevi em um dia de frio como hoje pensando em alguém que conheci em uma aventura sênior. Era de descendência índia e pertenceu a Patrulha Touro. Nunca esqueci a história. Sei que ele não herói. Apenas um tipo qualquer quem sabe nascido de um índio pobre em uma Oca nas margens do Rio Amarelo. Baixo atarracado nos olhava como se estivesse vendo através de nós. Lembrei-me dele e hoje conto parte do que aconteceu naquela estrada onde tinha uma cruz... Uma cruz a beira do caminho...

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....