sábado, 29 de fevereiro de 2020

Uma fogueira... Em uma clareira!




Uma fogueira... Em uma clareira!

... - Pedaços de lembranças, pedaços de saudades dos tempos que não voltam mais. Em volta de uma fogueira, em uma clareira, meninos e chefes escoteiros olhando seu passado e pensando como chegou até o presente, imagina se é esta posição que imagina estar... Às vezes dar um passo atrás e depois mover-se dois para frente pode ser o caminho a seguir. Pode não apresentar uma diferença de rota, mas sim uma reafirmação do percurso... De sua vida, de seu sonho!

                    Chefe desculpe... Sei que devemos ser exemplos, mostrar força, agir como educador. Mas Chefe, minha força de um Escoteiro saudável não é mais aquela do passado. Aquele “Eu vou fazer” eu “vou enfrentar” são sombras de uma lembrança que vão ficando para trás. A memória vez ou outra parece estar brincando de esconde-esconde. Eu tento a minha maneira de Lobinho e de escoteiro o que aprendi sorrindo e me esquecendo de chorar. Afinal Chefe não dizem que tentar levar a vida a sério não tem a menor graça? Rael meu monitor Sênior vivia a dizer para mim: Meu amigo e irmão escoteiro valorize cada momento como se fosse o mais especial da sua vida. Afasta o que te machuca. Reaproxima o que te faz bem. Saudades dele também Chefe. Foi um Monitor e amigo que nunca mais esqueci.

                   Vou fazer agora o que nunca fui bom em fazer. Repousar e deixar a vida passar. Preciso de férias do abecedário. Está difícil continuar. A mente não é mais aquela que dava um salto e do nada aparecia uma trilha para descobrir um bom lugar para acampar. Dizem para mim Chefe que eu sou novo e  tenho ainda muita estrada para percorrer. Sinceramente não sei... Como dizia Zé do Monte um amigo Pioneiro, alma mole, vida dura... Tanto bate até que cura. Sabe Chefe, vou dormir, desculpa tá! Reclamações entre Velhos escoteiros não são boas pedidas. Sei que vai me dizer com a bondade de sempre que nunca perca a esperança. Aceito Chefe. A gente não sabe o que o amanhã vai nos trazer.

                   Levantou-se do banco de madeira que fez, esfregou as mãos no calor do fogo, olhou sorrindo para mim e disse: Sempre Alerta Chefe. Obrigado por tudo. Vou dormir e tenho certeza que amanhã é outro dia. Como foi o que o poeta disse Chefe? – “Mesmo se eu soubesse que amanhã o mundo se partiria em pedaços, eu ainda plantaria a minha macieira”.

                   Saiu cantando a “Bela Polenta” rumo a sua barraca que mesmo tendo anos nas costas de escotismo, armou em cima de um pé de macieira!
                    

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Lendas escoteiras. Era uma vez... Um lindo nascer do sol!




Lendas escoteiras.
Era uma vez... Um lindo nascer do sol!

“Encontre em cada anoitecer um motivo pra recomeçar. Pois ao nascer do sol, a vida te reservará mais uma surpresa ao longo do dia”. Jamile Reis.

... Este conto estava escondido em minhas anotações. Para mim o verdadeiro sentido da filosofia escoteira. Brenon Salvador um poeta assim escreveu: - “Eu sou o nascer do Sol, enquanto a Terra estertora. E quando o engenho da vida vai embora eu sou o crescer da Lua no intimo de um céu que chora. Todavia, encontro a arte da vida vagando pelo ar. Vejo deliberadamente o abstrato a se formar. Faço-me de Sol e Lua enquanto a Terra aflige Faço-me eclipsar”.

                       Vamos Nani, está na hora! Acorde! Eu não queria acordar. Acordar para que? Noite escura, um frio gelado lá fora da minha barraca. Eu queria dormir. Jesse não perdoava, puxava minhas pernas, meus braços e retirou minha manta que me aquecia e eu me enroscava mais e mais. Achei que Jesse não estava bem da cabeça. Bastava que ele nos fez subir no Monte Altaneiro, às duas da tarde, um sol de rachar só para vermos um por do sol. Bah! Quantos por do sol em vi em minha vida? Já tinha visto muitos, nunca prestei atenção, pois logo escurecia.

                       Mas ele sempre dizendo que os Escoteiros são amigos da natureza, das belezas da terra, e nós tínhamos muito a aprender. Chegamos cedo. Todos cansados da subida respirando ofegante. Nem uma árvore para nos proteger. Vimos o sol iluminando todo o Vale da Esperança. Até que a vista era bonita. Muito verde, da Cachoeira da Onça saia uma fumaça e o sol ainda pelejando no céu. Sentei na Pedra Vermelha e a patrulha também. Acho que ninguém estava nem ai para o tal por do sol.

                        Lembro que tudo começou quando ele resolveu nos mostrar como a natureza era bela, e se nós prestássemos atenção iriamos ver tantas coisas lindas que só os Escoteiros sempre alerta poderiam ver. Eu não entendia nada do que ele dizia e até fiquei surpreso, pois ele era mais velho que eu um ano. Onde será que aprendeu estas coisas? Foi Netinho quem me disse que ele passava horas e horas enfurnado na biblioteca da cidade. Deve ter sido ali que veio estas ideias de natureza. Para dizer a verdade para mim árvore era árvore e riacho era riacho.

                      Se ela a cachoeira soltava fumaça tudo bem. O Chefe disse um dia que isto era provocado pelo calor e o contato da água fria a cair de uma altura de mais de 20 metros. Mais do que natural. E quando os peixes queriam subir pelas pedras até o alto? Jessé sorria e explicava o que era a época da piracema. Não entendi nada e achei que os peixes eram idiotas, pois nunca iriam conseguir. Jesse o nosso monitor não dava folga. Ele viu uma aranha entre duas arvores fazendo sua teia e chamou a patrulha para observar. – Olhem como ela faz, vejam a sua inteligência! Vocês sabiam que a aranha constrói a teia com a fiandeira, uma parte do seu corpo que fica no fim do abdome? Lá tem um monte de tubinhos do qual sai uma substância liquida e quando entra em contato com o ar, essa substância endurece e se transforma em fio de seda!

                      Palavra que não sabia de nada. Jessé parecia nosso Professor de história. Até que achei a história da aranha interessante, mas o por do sol? Bem não vou criticar o Jesse, pois ele praticamente nos obrigou a ficar ali olhando o sol se escondendo atrás do Pico do Gavião, e quer saber? Até que achei bonito. Nunca prestei muita atenção. No retorno ele falando da natureza, das samambaias ao lado da trilha e com seu ar professoral dizia que elas gostam muito de terrenos pantanosos e locais altos. Precisavam das chuvas e ar frio para sobreviverem.

                     Jessé era demais. Pela manhã acabamos de almoçar e ele nos obrigou a lavar as panelas correndo, bom Monitor... E lá estava ele a nos ajudar. Pegou a Patrulha e nos levou para um tal de jogo Ver sem ser Visto. Não entendi bem, pois era um jogo parado. Nossa missão era chegar perto dos Inhambus que ficavam próximo da Lagoa da Chuva. – Vão devagar olhando onde pisam. Vejam onde sopra o vento, lembrem-se o vento soprando de frente a vocês se não ele vai sentir o cheiro de vocês e voarão!

                     Só dois conseguiram chegar a menos de dez metros. Mas o Jesse era um Monitor experiente. Quase tocou nas asas de um Inhambu. O dia amanheceu. Tinha de me levantar da barraca. Um absurdo com aquele frio e ir ver o nascer do sol no Monte Altaneiro. Poxa subir duas vezes ao cume? Fazer o que. Peguei minha manta e me enrosquei nela. A patrulha calada. A subida não demorou mais que meia hora. Estava escuro ainda quando sentamos na Pedra Vermelha. No horizonte tudo escuro. Pensei comigo que ser Escoteiro é bom, mas o Jesse estava passando dos limites. Minha cama na barraca estava gostosa demais. Jesse cantarolava a canção da alvorada. Ela assoviava bem. – então ele começou a falar – Vejam vocês já observaram que a beleza da vida está no inicio das coisas? Vocês estão aprendendo agora para depois lembrarem para sempre. O nascer do sol é como o nascer da vida, o nascer do amor, o nascer da amizade!

                     Quem sabe era verdade. Eu vi o nascer do sol do alto do Monte Altaneiro. Nunca imaginei que fosse assim. Nunca prestei muita atenção ao que o nosso Monitor nos ensinava. Mas foi a madrugada mais bonita em minha vida. Era lindo olhar no horizonte, além da Montanha da Lua e ver o amarelo aparecendo, depois o vermelho e seu esplendor e brilho em todo o vale. Meus olhos se encheram de lágrimas de felicidade.

                   Jesse não tirava os olhos daquele espetáculo. Recitava para nós um poema do Escritor J. Reis: – Encontre em cada anoitecer um motivo para recomeçar. Pois ao nascer do sol, a vida te reservará mais uma surpresa ao longo do dia. Meus olhos de criança choravam. Ninguém dizia nada. Aquela era a hora da patrulha. Era a hora do seu despertar. E foi então que todos olharam para o Jessé e sem nada a dizer ele entendeu o que queríamos dizer – “Obrigado Monitor. Este espetáculo ficará para sempre guardado em nossos corações”.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Contos ao redor do fogo. Apenas uma fogueira em uma noite de luar.




Contos ao redor do fogo.
Apenas uma fogueira em uma noite de luar.

- Os vagalumes treteiros piscavam no lusco fusco da noite querendo brincar de esconder. A Coruja de olhos verdes, séria e compenetrada olhava aqueles meninos escoteiros em volta da fogueira que se divertiam cantando e fazendo juras de amor eterno ao Fogo de Conselho no seu final. Fora um dia estafante. Percorreram léguas e léguas na Estrada da Poeira. Mesmo com o vento foi quase impossível chegar ao seu destino. O jantar que o cozinheiro preparou foi um manjar dos Deuses. Alguns calados outros cantantes já haviam separado a lenha que iria dar o calor que precisavam para virar a noite. O amanhã havia outra puxada, a pé em busca do Monte Serrat.

O Monitor vendo a maioria calada sussurrou tão baixo que uma estrela piscou forte e sorriu pedindo para continuar. Os demais patrulheiros esqueceram o vento frio e a lua que insistia em brilhar para chamar atenção... Ela querendo ser melhor que as estrelas que bruxuleante cintilavam no céu sonhava. A beleza do momento era saudada com o silencio noturno da mata que nada dizia e se calava. – O Monitor com sua voz errante falou: - Foi um anjo que me contou que o Senhor das Estrelas no seu cantinho no céu fabricava estrelas de todos os tamanhos. Dizia que o céu é de verdade, que cada um de nós ao nascer ganha uma estrela em um canto do firmamento e linda ela em noites escuras se põe a brilhar. A estrela tem seu nome e ficará ali para sempre até o dia que irá fazer dela sua morada final.

Preocupado com tantas belezas existentes Nandinho um escoteiro mais novo perguntou: - Monitor, onde foi parar à lua que sempre que a gente olha se assusta com tanta beleza e um súbito espanto acontece na primeira vez? – Ele sorrindo respondeu – Pense em um mundo como um malmequer.  Porque você não vê. Mas não fique pensando demais porque pensar é não compreender. A lua e as estrelas são como rubis e rosas, neve e ouro. Um verdadeiro tesouro. - Não pare nos sonhos, ande e faça acontecer. Tente recapturar a sublime beleza que existe em você. Em tudo que existe ao seu redor e só assim será feliz. Se ver com alegria a beleza no céu a lua e as estrelas tudo se transformarão em maravilhas divinas e isto apaga todo o infortúnio. Sua estrela está lá, é sua. A estrela sabe que sua alma é imortal e vai acompanhar você por toda a vida.

Já não havia mais calor, as brasas deixaram para trás as fagulhas mágicas que brincavam de esconde, esconde na escuridão. Ali em volta aqueles seis meninos faziam planos de brincar de escoteiro por longos e longos anos. A floresta escondia as flores, o perfume da rosa donzela e agora todos podiam ver o clarão das estrelas que piscavam sucessivamente no céu. Um pardal procurando seu ninho voou ao redor. Picotou à moda do Pica Pau no seu galho e foi dormir. O Monitor sorria. Pensava como era feliz nos escoteiros. Ouvia compassadamente uma sonata de Uirapurus que tocavam no seio da mata como se fossem uma orquestra de violinos mágicos. A musica é celeste... A natureza divina realça a beleza que encanta a alma. Eles aqueles meninos da noite, com suas fardas brilhantes sabiam que a natureza não faz nada em vão.

Dormiram ali mesmo, sob a barraca do firmamento com a mão de Deus tomando conta dos seus sonhos, do seu amor, da sua fraternidade que apaixonados por um ideal faziam suas estripulias nas estradas cantantes ao lembrar dos tempos que não voltam mais. Dormiram sonhando até que a natureza em flor os acordou e o sol brilhando tocou um sublime som de um Urutau que bateu asas e voou. Hora de partir... Um cafezinho, sorrisos... O poeta escoteiro apenas um menino escoteiro soprou no ouvido de cada um: - Quem me compra um jardim com Flores? E as borboletas de muitas cores? O Beija Flor e passarinhos ovos verdes e azuis nos ninhos? E ele mesmo respondeu para seus irmãos de ideal – Plante seu jardim nas jornadas que irão fazer, decore sua alma e não espere que todos irão lhe levar flores. Já é hora de partir, nossos planos estão caminhando. Ainda vamos acampar na Jangal, nas matas distantes e beber água da fonte neste belo do meu país!     

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Moralto.




Moralto.

                - Em toda minha vida eu só o vi uma única vez. Na verdade aquele foi um dia especial, não me perguntem por quê. Notei sua figura surgindo na estrada do Alencar, a pé, com um cajado simples, mas com passadas belas sem se mostrar cansado. Ele não me disse quem era e nem eu perguntei. Quando se aproximou de mim senti um brilho em sua figura e inexplicavelmente ele se transformou. Juro que ao longe estava com uma bata branca e ali na minha frente estava agora com um lindo uniforme Escoteiro. Como ele podia fazer aquilo? Era mágico? Se fosse o truque era perfeito. Não usava o chapéu e eu sei que naquela áurea brilhante o chapéu tiraria toda sua pose badeniana. Quem seria? Ele sorria para mim, um sorriso gostoso, dentes alvos olhos negros, cabelos castanhos compridos.

                 Havia parado ali para descansar um pouco da minha jornada e fazer um café. Precisava. A Árvore da Colina já era minha velha conhecida. Pequena, mas com uma folhagem que em todo seu redor fazia uma sombra invejável. Não havia nascente, não havia rios e nem tampouco regatos por perto. Somente a árvore para nos dar o descanso devido. Pensava em chegar ao acampamento da patrulha ao entardecer. Uma obrigação com meu pai me obrigou a ir depois deles. O destino não era longe. Após a curva do Falcão já se podia avistar a mata pequena, a cascata e o bambuzal. Tirei a mochila, pendurei meu chapéu em um galho e duas achas facilitarem o Tropeiro que iria fazer. Na mochila tinha café e pó. Meu canecão militar serviria para esquentar a água.

                  Levantei e disse bem vindo! Ele sorria. Não era bonito, mas tinha algum especial que encantava a todos em seu redor. Em vez de sapatos usava sandálias. Calado se assentou a sombra junto ao tronco. Fechou os olhos e parecia rezar. Passei o café e ofereci uma caneca a ele. Olhou meu cantil, estava cheio pela metade. Passei para suas mãos e ele bebeu devagar, parecia sorver o líquido com carinho de quem tem sede. Tomou o café me olhando nos olhos. Minha caneca de esmalte parecia brilhar em suas mãos. Fechou os olhos e dormiu por alguns segundos. Acordou sorrindo e levantou. Colocou a mão em minha cabeça e disse – “Que a paz esteja convosco”. Partiu sorrindo acenando com a mão e ao longe vi que estava de novo com a bata branca e seu cajado.

                   Fiquei só naquela sombra da Árvore da Colina meditando. Quem seria? De onde veio e para onde iria? O sol já ia se por na Montanha do Cavalo. Era hora de partir. Ainda havia mais duas horas de jornada. Conhecia o caminho. Limpei o fogo, joguei uma pitada de água do meu cantil nas brasas, mochila nas costas e parti. Não olhei para trás. A Árvore da Colina tinha o dom de não deixar ninguém partir. A noite chegou mansa e calma. Meu caminho estranhamente era claro, uma estrela no céu jorrava raios brilhantes na estrada. Nunca tinha visto nada igual. Do alto da Colina avistei a curva do Falcão. Estava perto. Meus pensamentos giravam entre chegar e lembrar-se daquela figura tão simples, com um sorriso inesquecível e com uma áurea brilhante que me encantou para sempre.

                     Nunca soube quem era. Não perguntei. Acho que ele sabia que um dia eu iria lembrar-se dele e saber que ele veio do céu. Porque eu não sei. Eu era apenas um Escoteiro a ir para seu acampamento. Meu café ele tomou sorrindo sinal que não era ruim. Nunca contei esta história para ninguém. Eu sabia que a partir deste dia o meu mundo se transformaria pra sempre. Sabia que agora a paz morava em mim. A harmonia e o amor reinavam. A paz de um sorriso predominava. Agora eu sabia que naquele dia, naquela Árvore da Colina, Jesus me deixou entrar em seu coração!  

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Contos ao redor da fogueira. Julia.




Contos ao redor da fogueira.
Julia.

- Chefe, vou sair! - Porque Julia? - Não me sinto bem, não me enquadro, acho que não nasci para ser escoteira. - O que dizer para ela? Pensei. – Julia, nunca desista de algo que você não consegue passar um dia sem pensar. Vai esquecer tudo assim jogando fora um sonho que ainda não acabou? Se nada dura para sempre, pense se você é um nada, por favor! - Julia não esperava o meu silêncio. Foi somente um momento, uma ilusão pensando que tinha as palavras bonitas para fazer com que ela mudasse de pensar. - Três meses, participando, dizendo que amava que nunca mais iria esquecer e agora vai partir? – Falei baixinho: - Por quê? - Chefe é a Lei. Artigos difíceis de cumprir. Como olhar uma bandeira, lembrar-se de Deus e a pátria e prometer? Tenho medo Chefe, muito medo! - Poucos como ela raciocinavam assim. – Julia, faça o que é certo, não o que é fácil. Lembre-se que seu sacrifício se houver fica entre o intervalo e seu objetivo que será sua gloria! Nunca ande pelo caminho traçado pelos outros, ele te conduz somente até onde os outros já foram...

– Poderia ter acrescentado que chega um tempo na vida que a gente aprende que ninguém nos decepciona, nós que colocamos expectativa demais sobre as pessoas. Cada um é o que é e oferece aquilo que tem para oferecer. - Julia não quer dar um tempo? Pensar melhor? Nada na vida é fácil e afinal mesmo sendo uma promessa você vai sim fazer o melhor possível. - Julia me olhou. Sabia que eu era seu amigo. Sabia que podia contar sempre comigo. Eu disse isso para ela quando nos procurou sorrindo dizendo que seria mais uma de nós. – Ela levantou a cabeça e repetiu a frase que eu mesmo disse a ela naquela primeira jornada: - Chefe eu me lembro do que disse que a dor nos faz mais forte, que o medo nos faz mais corajosa e a paciência nos faz mais sábio. Vou continuar!

- Ela me deu um Sempre Alerta, um sorriso e voltou para sua patrulha que amava. Pensei comigo: - Comece onde você está, use o que você tem e faça o que você pode. As pessoas mais felizes não tem o melhor de tudo, elas apenas fazem o melhor com tudo o que têm.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Lendas escoteiras. Escafederam com Don Pedrito no cargo de prefeito. De quem é a culpa? Dos escoteiros!




Lendas escoteiras.
Escafederam com Don Pedrito no cargo de prefeito.
De quem é a culpa? Dos escoteiros!

... - Sete escoteiros chegaram a Jaboticabal. Sem perceber eles dominaram o lugar. A história conta que o prefeito foi contra. Cassaram o seu mandado e quem assumiu mandou fechar o pensionato e lá um grupo Escoteiro Surgiu. Aos sábados, de cabeça erguida de cada casa cada ermida, surgiam jovens meninos, de uniforme e calça curta, um lenço e um chapelão, corriam daqui para ali dizendo: Vamos todos! Pois hoje tem reunião!

                  Linguarudo foi quem me contou na Barbearia Tapioca. Era lá que se contavam fofocas. – Como foi? Perguntei! – Com uma fileira de dentes cariados, mal tratados ele deu um sorriso mocho. – A culpa foi dele! Queria ser o maioral dizia ser o tal e não deu vez aos escoteiros. Os vereadores puxa-sacos não deram colher de chá. Não deu outra. Cassaram o mandado do Cabrito, isto é de Dom Pedrito. As faladeiras Dona Malvina e Dona Sinhá Marina metiam o pau no prefeito: A besta deve estar cego, manda ele pru caixa prego! Deu 18 votos a favor da cassação, um contra e uma abstenção. Don Pedrito esperneou, traidores! Bico Doce seu advogado reclamou na Corte Suprema e não teve meu pé me dói. Pé no traseiro do prefeito, bem feito por não ajudar a formar o Grupo de escoteiros.

                   Foi no sábado de Aleluia, velhos na praça do arrebol, crianças jogando pelada, outros soltando papagaios, moleques quebrando vidraças e fazendo arruaças. As fofoqueiras davam conta do riscado com as vizinhas do pedaço. Os homens bebiam pinga no Bar do Zebedeu. Alguns vereadores no Paço Municipal de Jaboticabal, cidade pacata, todo mundo sabia da vida de todo mundo, mas nunca houve um roubo, uma morte a não ser por morte morrida e nunca matada. Eis que adentraram na cidade sete escoteiros a toda velocidade nas suas bicicletas embandeiradas. Frearam bonito na Praça Don Cabrito. A meninada largou o que fazia e ficou em volta admirando. Nossa que gente bacana! Chapelões, cinto de couro com fivela de ouro, meias de futebol, calça curta, um lenço vermelho no pescoço preso por um arganel com desenho de ouro. Era bacana demais. Mochilas amarrada no bagajeiro, e no guidom a Bandeira do Brasil.

                    O que era Monitor o mais velho falou: - Aqui é Jaboticabal? A meninada engasgada disse siiiim! Outros escoteiros já chegaram? A meninada engasgada disse nãaao! Tem um campinho para a gente acampar? Ai foi à conta, o campinho era de Don Pedrito e ele não arredou pé. No meu campo não. Se eles quiserem acampar que seja no barreiro ou no meio do inferno! A meninada gritou, chamaram mamãe e papai que vieram correndo depressa demais. - Porque não prefeito, disseram! – Porque não quero aqui quem manda sou eu! Gentil Salgado foi correndo procurar Joaquim Leitão dono da Padaria Chimarrão. Ele tinha um terreno arborizado, uma nascente e tudo gramado. - Acampem a vontade ele disse! Mas não se esqueçam de mim nas próximas eleições! Dito e feito, a escoteirada foi para lá, barracas em pé, fogão no chão, até dona Maria Tereza ficou de pronto chulé, sentindo o cheiro do café!

                    À tardinha uma revoada de escoteiros. Seis patrulhas pedalando, chegando, armando mais barracas no campo do seu Leitão. Todos se abraçavam, uma alegria tremenda, cantando canções escoteiras, e um tal de Rataplã! A fogueira afastou o frio do vento sul que soprava. A meninada em volta. Olhos arregalados! Gente que coisa bonita! Se eles são aventureiros eu também quero ser! À noite fizeram um Tal Fogo de Conselho. Brincaram de Chiquito Pedrosa o contador de histórias e piadas do lugar. Fizeram mil brincadeiras, na fogueira só zoeira.  Convidaram todo mundo. Mãos entrelaçadas meus amigos, agora vamos cantar. Eita! Bonito demais, até dona Malvina Bisbilhoteira e Dona Sinhá Lavadeira se puseram a chorar.  O Chefe deles, um menino afeiçoado, falou alto para a meninada ouvir. Amanhã é o último dia que ficaremos aqui. Pela manhã estão todos convidados, haverá jogos, canções e treinamento. Quem quiser ser aventureiro amanhã será um Escoteiro! Basta querer participar!

                  Gente foi “inté” bom demais. Mais de duzentos moleques correndo, fazendo patrulhas, brincando de esconde, esconde. O povo de olho arregalado olhava arrepiados aquela alegria sem fim. Era um tal de Lobo, lobo, Leão Touro e Jabuti, um gritava aqui e outro ali. Aprenderam a fazer nó de frade, nó de pescador e nó da calamidade! Meu Deus quantos nós! Outros aprendiam semáforas, Morse, Passo Escoteiro e alguns a mapear estradas e procurando estrelas no céu para se orientar. Brincaram de olho cego, da Ilha do Tesouro, briga de galo e o escambal.

                   Foi Mosquito e Joelho Bichado, dois meninos muito calados que gritaram! Eu quero ser Escoteiro! E agora José? Os meninos escoteiros com seus chapelões mateiros se foram, disseram que um dia iam voltar. Uma comissão foi formada. - Don Pedrito! Vamos os escoteiros organizar! – Nem necas, o prefeito nem se mexe escolha outro nesta eu não me embalo. A meninada na porta da prefeitura chorava. Urra, urra que este prefeito de araque suma de Jaboticabal. Ninguém merece ter defeito, e nesta besta do prefeito aqui eu não voto nunca mais.

                Joaquim Leitão da Padaria prometeu ajudar. – Organizo o grupo, vou ser o Chefe do grupo e votem em mim para prefeito do lugar. Dito e feito, o prefeito se escafedeu. Nem mesmo o Zebedeu que gostava de uma lambança o ajudou na mudança. Joaquim Leitão foi eleito, de uniforme Escoteiro foi empossado prefeito, as patrulhas deram o grito em ovação ao novo Chefe Leitão e que fundou a associação. Linguarudo sorria de leve, olhando meus cabelos cor de neve, dizia: - No dia da inauguração, escoteiros do Brasil chegaram de todo lugar.

                Disseram-me que eram mil outros cinco mil, sei lá para mim não importava, mas a festança foi demais. Depois de todos promessados, uniformizados, um churrasco foi realizado, vinte bois, duzentos cabritos, leitões chegavam de todo lugar. Na fazenda Galinhada os galos jogavam praga, pois ficaram sem nenhuma galinha para namorar. Até Dom Casmurro o Bispo de Montreal, que estava se preparando para ser um cardeal veio à festa prestigiar. Eu de matuto não sou bobo, olhei Linguarudo de novo, e pensei: - Logo na hora da sesta esse cara quer me fazer de besta! Ele desconfiado me apontou a Rua Pelanca, e disse sem muita tranca: - Foi dali que eles dominaram o lugar. E não é que logo em seguida, de cada casa de cada ermida, surgiam jovens meninos, de uniforme e calça curta, um caqui e seu meião, um lenço e um chapelão, corriam daqui para ali dizendo: Vamos todos! É hora da reunião!

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Histórias ao redor da fogueira. A lenda dos amores perdidos.




Histórias ao redor da fogueira.
A lenda dos amores perdidos.

... - Ah! Poetas, como eles são perfeitos em descrever os grandes amores e as grandes decepções. Dizem eles que só há uma força capaz de tentar matar o amor: a morte – que nos separa das pessoas que amamos. Entretanto, há uma única força capaz de sobreviver à morte... É o amor – porque o fato de nos separarmos de quem amamos não nos impede de continuar a amá-los. O amor sobrevive à morte porque continuamos amando a pessoa que morreu. E, no nosso amor, ela continua a viver para sempre. Que Deus nos ajude a honrarmos a sua memória.

                  Seu coração reclamava. Estava enlouquecendo e ninguém podia ajudar. Sabia que se continuasse assim perderia tudo, seu emprego, sua família e seus amigos. Quem ousava aproximar ele gritava, dizia coisas absurdas, renegava a Deus, renegava ao diabo nada para ele servia. Pensou em morrer e até hoje não soube por que não o fez - Meu Deus! O que fizeste comigo? Eu merecia? Nunca fiz mal a ninguém, ajudei a quem precisava e quando ela chegou minha vida mudou. - E porque você a levou? Com que direito? Nunca tive um amor como foi com ela. Transformei-a em minha princesa. Amei-a desde o primeiro dia em que a vi. Deixei amigos, deixei tudo para ficar com ela e você me tira a minha razão de viver? - Ele não se conformava, era como uma faca cravada em seu coração. Sangrava, machucava, agora não chorava mais. Não adiantava. Para que chorar?

                   Ele a conheceu em domingo de sol. Sorridente conduzia uma turma de guris. Todos sorrindo e cantando. Quando ela o olhou com aqueles olhos azuis, ele viu que era a mulher da sua vida. Iria dar a ela o que quisesse. Tudo para fazê-la feliz por toda a vida. Parado ficou olhando até vê-la sumir na curva da Praça Real. Não se deu por vencido. Seguiu-a. Encontrou-a brincando com seus meninos de azul da cor de seus olhos. Não sabia o que falar. Enquanto brincavam, cantavam diziam Lobo, Lobo não tirava os olhos dela. Pensou em entrar naquele pátio e se declarar, mas sabia que  faria papel de bobo. Viu que eram Escoteiros. Ele nunca foi e nunca teve vontade de ser. Esperou pacientemente tudo terminar e ela sair. Não ia perder aquela oportunidade. Quando ela abriu a porta do carro ele chegou e se apresentou. Ela sorriu e disse baixinho: - Sou Clarisse Chefe de Lobinhos.

                  Entrou no carro e partiu. Esqueceu-se de pedir seu telefone, se apresentar ou saber onde morava. Esperou sonhando por uma semana até o sábado seguinte. Montou campana na porta da sede. Ele não percebeu quando ela entrou. Os meninos de azuis ovacionaram-na e ela sorrindo gritou: - Lobo! Lobo! Lobo! Viu que eles a adoravam. Chamavam-na de Akelá. Desta vez não ia deixar a oportunidade passar. Entrou, foi até o circulo e olhando para ela que espantada não entendeu o que ele queria, Falou alto para todos ouvirem: - - Clarisse, eu estou apaixonado por você! Ela surpreendida viu seus lobos sorrirem: - Clarisse, nunca a vi e agora não quero perder você! Quer ser minha namorada? – Os lobos caíram na gargalhada. Uma palma esquisita ele ouviu. Ela sorria e que sorriso. – Moço, podemos conversar mais tarde? – Não moça eu quero sua resposta. Por ela saberei se vou viver ou morrer. Clarisse espantada não sabia o que dizer. – Olhe, podemos tomar um café juntos quando a reunião terminar?

                 Foi assim que surgiu o grande amor de sua vida. Ele a cortejava como um cavalheiro a moda antiga e ela passou a gostar dele também. Sentiu que ele seria sua voz, sua maneira de ser, sua estrela que ela tanto esperou. Casaram-se três meses depois. Ele não era rico, mas trabalhou com afinco para fazer seu novo lar agradável. Ela enfermeira em um grande hospital não tinha hora para chegar. Isto não o entristeceu. Fazia o almoço, o jantar, chegou a lavar roupa e passar. Ele jurou a sí mesmo que a faria feliz para sempre. Ela ficou grávida. – Vamos ter um filho! Incrível! Ele ia ser pai! Ele pediu a ela que diminuísse suas atividades nos Escoteiros, mas ela sorria e dizia: - Não me peça isto meu amor, antes de você era minha filosofia de vida.  – Ela o convidou várias vezes para ser um escoteiro. Quem sabe com ela na Alcateia. Nunca aceitou. Não sabia o porquê.

                Foi em um sábado chuvoso, que ela lhe disse que iria acantonar. – Vem comigo! Não fará nada! Basta ficar ao meu lado! - Ele agradeceu e não foi. Tentou fazê-la desistir. – Clarisse, faltam poucas semanas para Isabel nascer! Você não pode adiar? Não adiantou. Ela foi. Às duas da manhã foi avisado do aborto. Tropeçou em uma vala para socorrer um lobinho. Ele gritou de medo. Correu para o hospital. Ela estava morta. Ele sabia que estava morto também. Morria ali sua vida. Pensou que era o homem mais feliz do mundo. Não era mais. Sua filha um tiquitito de nada foi salva e ele a renegou. Sua vida não tinha mais valor. Chorou quando ela foi colocada no jazigo, chorou quando viu dezenas de Escoteiros cantando dizendo que não era mais que um até logo. Chorou e os maldisse para sempre. Malditos, vocês tiraram Clarisse de mim.

               O tempo passou. Um dia Isabel sorriu para ele. Era o sorriso dela. Ele tentou sorrir e não conseguiu. Aos poucos ele saia com Isabel a passear. Brincava na gangorra, corria entre flores no jardim do parque, e amava quando ela sorria vendo as borboletas voando quando ela as espantava. Um ano, dois e quando Isabel com sete anos pediu para ser Lobinha, seu mundo desabou. De novo? Não posso perder mais um. Não ele disse. Mas dormiu e sonhou com ela.                Clarisse sorria para ele e viu ao seu lado Isabel com o uniforme de lobo.

               No sábado a levou até o grupo. Todos sabiam quem ele era. Tiveram receio que ele pudesse desabar e maldizer a todos os culpando novamente pela morte de Clarisse. Ele sentou na escada da biblioteca e viu a alegria estampada em Isabel. Chorou. Lágrimas caíram. Sentiu uma mão em seu ombro. Olhou e não viu ninguém. Disse para sí mesmo: - Se ela estava feliz porque ele também não poderia estar? Conversou com o chefão, entrou, e hoje tem os lobinhos em seu coração... Ao lado dela e de Nestor! Nunca esqueceu Clarisse. Hoje ele sabe que o escotismo lhe trouxe de volta seu grande amor e uma filha que ele dedicaria seu amor pelo tempo que Deus quiser.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Lendas Escoteiras. Chefe Jonny Hidalgo. (Uma adaptação do poema “quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade).




Lendas Escoteiras.
Chefe Jonny Hidalgo.
(Uma adaptação do poema “quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade).

“Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba. Não ame por admiração, pois um dia você se decepciona. Ame apenas, pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação”. Madre Teresa de Calcutá.

Jonny amava Silvana, que amava Danilo
que amava Gisele que amava Salviano que amava Dorita
que não amava ninguém.
Jonny foi para a cadeia, Silvana para o convento,
Danilo foi para o Suriname, Gisele é Escoteira da Pátria, 
Salviano ficou maluco e Dorita se casou com Geninho que se tornou
Presidente do Brasil e
não tinha entrado na história.

                      Se eles eram unidos ninguém duvidava. Felizes também e todos tinham um grande amor entre sí. Diziam os pais que um dia eles iriam se casar e seriam as famílias mais felizes de Vale Encantado. Não eram muitos quem sabe um punhado de jovens que dizia ser um batalhão. Duas patrulhas, seis moços sorridentes e cinco mocinhas sonhadoras e pelo menos duas vezes por semana se encontravam para conversar, comer um lanche, beber um refrigerante, jogar conversa fora. Afinal era uma cidade pequena, onde todos se conheciam e sabiam que muitos ali nasceram e ali iriam partir para alguma estrela quando chegasse o tempo e a hora certa. Sem contar as reuniões de sábado ou as atividades mateiras de um domingo ou feriado, a vida era preenchida para aquela galera Escoteira como uma história de faz de conta. O nome de todos não importa na história, ficarei com Jonny, Silvana, Danilo, Gisele, Salviano e Dorita. Se havia jovens seniores e guias que se orgulhavam do que eram, tira-se o chapéu para todos eles principalmente os personagens desta história.

                     Jonny chegou um dia de céu azul a Vale do Encantado. Um amor de pessoa. Um visual alegre, um sorriso incrivelmente belo, um andar que mesmo com tudo que aconteceu foi copiado por muitos e muitos anos. Apareceu assim do nada na Tropa Senior naquele sábado de sol vermelho na reunião. Todos ficaram embasbacados. As moçoilas guias sentiram o coração batendo, os jovens seniores meio enciumados, mas a figura do Chefe era incrivelmente bela. Fez uma bela saudação Escoteira, sua voz entoou o mais lindo Sempre Alerta que a Tropa tinha ouvido. Seu porte era fantástico. Ninguém tinha visto nada igual. Um uniforme perfeito. Um chapéu de abas largas sem nenhum defeito, um lenço bem dobrado, sua camisa e calça curta com vinco era demais. O meião bem colocado conforme mandavam as normas. Não tinha medalhas, nem estrelas para dizer quanto tempo, só seu distintivo de promessa que pela cor todos entenderam que tinha tempos de uso. Foi direto a Chefe Norma e a saudou brilhantemente. Norma esposa do Chefe Jamil não cabia em sí de contente. Quase se derreteu em frente aquele Chefe soberbo.

                    Apresentado a tropa pediu que todos ficassem a vontade. Perguntas mil começaram a se ouvir. De onde? A passeio? Qual Grupo? Quanto tempo? Ele respondeu a todas de maneira vaga. Entrou como lobo e nunca mais saiu. Silvana não se entusiasmou muito. Olhava para Danilo que não percebia seu olhar e olhava para Gisele. Mas ninguém sabia que naquele dia Silvana passou a morar no coração de Jonny. Foi convidado para o sarau que iriam realizar no salão nobre da escola naquela noite. Outras dezenas de moçoilas não Escoteiras acorreram para a festa. Souberam de Jonny e suspiros apaixonados eram jogados no ar. A vida depois da chegada de Jonny Hidalgo nunca mais foi à mesma em Vale Encantado. Ninguém perguntou quem era ele, sua família, qual cidade, pois suas respostas eram vagas e sem sentido. Uma semana, duas um mês e o tempo corria sem perguntar se podia parar.

                    Acampamentos, excursões belas toadas ao luar. Noites de lua cheia, de céu estrelado, de cometas riscando o espaço sabendo que nunca mais iriam voltar naquelas plagas do universo. Jonny Hidalgo era mais um sem ser de todos. Os amores vividos, os amores esquecidos para aqueles jovens Seniores e Guias sonhadoras continuavam como se ainda não houvesse vida depois da vida para sentir e viver. Só Gisele sonhava. Sem nada para fazer, o que restava a ela era lembrar-se de você que era apenas uma fagulha perdida entre mil. Chorar de saudades, recordar das lembranças e perguntar o porquê disso tudo. Ela queria amar e sentia que não amava, ela queria sonhar e seu sonho se perdia como as andorinhas que se escondiam no verão. Tudo era como os vagalumes brilhantes em volta da fogueira que riscavam o noturno da noite nos acampamentos inesquecíveis. O tempo sem perdoar enviou a primavera, passou pelo verão e o inverno chegou. Um vento frio soprava de norte a sul. Engastalhados em seu capotes os jovens seniores e guias não se assustavam com o amanhecer nas montanhas de poucos graus acima de zero.

                       Chico Capeta apareceu do nada. Apenas um tiro, mas que se resvalou na fivela do cinto escoteiro de Jonny Hidalgo. Tudo foi mostrado ao vivo e a cores para o populacho de Vale Encantado. Jonny estava armado e ninguém sabia. Outro tiro e Chico Capeta foi dançar com seus irmãos no inferno. Que ouve? Por quê? Quem era Jonny Hidalgo? Ele não era o Don Juan Escoteiro que conquistou a cidade? Uma tropa inocente, meninas e meninos sonhadores, um lindo jovem intrépido que foi amado por muitos era um matador? Ninguém nunca soube. Naquela tarde um homem alto, com um bigode enorme, um chapéu Escoteiro torto e um uniforme amarrotado, um lenço mal enrolado chegou à cidade. Apeou do seu cavalo como o fazem os caubóis dos filmes de faroeste. Entrou na delegacia e saiu de lá com Jonny Hidalgo algemado. Amarrou as mãos de Jonny em uma corda, passou em volta da cela e montou no seu cavalo partindo sem dizer adeus. Jonny ergueu os olhos para a cidade, olhou seus amigos seniores e guias, não sorriu. O cavalo do homem alto o puxou para longe de Vale Encantado. Para onde foi ninguém sabe, ninguém viu!
                        
                    Jonny amava Silvana, que amava Danilo que amava Gisele que amava Salviano que amava Dorita que não amava ninguém. Jonny foi para a cadeia, Silvana para o convento, Danilo foi para o Suriname, Gisele é Escoteira da Pátria,
Salviano ficou maluco e Dorita se casou com Geninho que se tornou Presidente do Brasil e que não tinha entrado na história.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Lembranças da meia noite. Os velhos, ah! Os velhos o que serão deles?




Lembranças da meia noite.
Os velhos, ah! Os velhos o que serão deles?

Os ventos que levam as dores são os mesmos que levam os nossos sonhos as margens da imaginação.

Dizem que as pessoas velhas, ou melhor, as idosas têm direitos que as outras não têm. Será? Quem sabe é verdade. Dizem para ele não sair na chuva e lá está ele revivendo filmes do passado, dançando na chuva com seu guarda chuva que o vento em um tempo levou. Relembrando um filme diferente que hoje a moçada não vai entender e nem gostar. Falam para ele não esquecer seus remédios da manhã, meio dia e da noite, chamam sua atenção que água gelada não pode e que no frio deve ficar sempre agasalhado. Eu olho com meu olhar triste e concordo.  Velho, não ande sozinho e se você não souber voltar? Não fique viciado no facebook e só escrevendo sobre escotismo. Faça outra coisa. Vá ver TV, vá ler o jornal, você comprou um belo livro e não leu? Eu abaixo a cabeça, balanço para um lado dizendo sim e para o outro dizendo não.

Mas quer saber, dizem que os velhos têm privilégios. Risos. Eu tenho e muitos. Hoje encontrei seu Chico nas minhas andanças por este mundão de Deus. (um quilometro ida e volta na mesma rua). Ele é tão Velho como eu. Resolvi sair para minha gostosa grande jornada diária. Preparei-me com esmero. Calcei minha “precata de trinta anos atrás”. Coloquei um short azul que comprei no Mappin há muitos anos, camiseta branca, na cabeça um boné e no bolso o RG e uma latinha para inalar e duas moedas de cinquenta centavos. Quanto vale duas moedas de cinquenta centavos? Nem um pão você compra diz a Célia. E se a “barra pesar”? Bussola? Machadinha? Facão Norueguês? Faca Escoteira? Bornal? Cabo trançado? Chapéu de três bicos? Bah! “Necas de catibiriba”!

Lá fui eu, como nos tempos antigos das grandes jornadas. Ufa, lembro-me de uma de quinhentos quilômetros em três estados no meu cavalo de aço. Hoje? Apenas 850 metros percorridos no “passo duplo”. O Passo Escoteiro não dá mais. A boca abre, o ar se expande o coração bate e valha-me Deus! É pegar a latinha chupa chupa, colocar na boca, prender a respiração e seja o que Deus quiser! Percorrido uns 500 metros, uma parada e lá estava ele a reclamar da vida. Seu Chico. Sou bom ouvinte. Fiquei ali com ele uma meia hora. Bem assim pensei. Só ele falava. Aí pensei comigo. Sou um "Velho" de sorte. Minha Celinha linda não faz comigo o que Dona Iracema faz com ele. Sou bom ouvinte. Fiquei com ele mais de uma hora. Desci a rua despreocupadamente e até tentei cantar o Cuco. Foi difícil, pois tem que bater nas pernas, no peito, dar uma palma e levar as mãos para trás e dizer: - Cuco! Quando fazia isto os vizinhos davam risadas. Hô louco meu!

Eu gosto de me divertir sozinho. Não porque fui só na vida, isto não. Sempre tive um mundão de pessoas ao meu redor. Mas quer saber? Adoro um silencio. Um silencio gostoso, tipo os que ouvi nas matas fechadas, nos picos mais altos, debaixo de uma cachoeira tocando um samba de uma nota só. O silêncio da noite me atrai muito. O silencio da madrugada com o sol nascendo me machuca por saber que nunca mais vou ver. Mas continuando, deixei o Seu Chico cantando e lá ao longe vejo um mundão de gente na porta da minha casa. Celia preocupada. – Marido! Onde você foi? –
Só então vi que naquele dia demorei mais de quatro horas para voltar! Ela estava certa em se preocupar. Pobre da minha Celinha. Não gosto de vê-la chorar. Este Velho prometeu – Nunca mais faço isto!

Bem chega de “cacengas” por hoje e vamos aos entretantos. Daqui a pouco é hora de dormir. Uns dias escoteirando nos meus sonhos e outros conversando com meus amigos. De volta onde nunca poderei sair, mas um dia... Ah! Um dia... Fraternos abraços e Melhor Possível a lobada e Sempre Alerta aos escoteiros. Uau! Servir!         

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Contos de fogo de conselho. Não deixe o vento levar o seu sonho.



Contos de fogo de conselho.
Não deixe o vento levar o seu sonho.

... - Nunca desista dos seus sonhos, pois a única saída dos fracos é a desistência das coisas e de seus sonhos, mas para os fortes a única alternativa é a persistência daquilo que tanto almejam! Aqui temos a história contada por um sonho, que amava fazer os outros acreditarem e realizarem seus sonhos. Venha conosco sonhar?

                    Lá estava ele, o sonho. Altaneiro, cheio de vida, correndo com o vento amigo que o levava onde ele queria ir. Ele sabia de sua importância, sabia que todos sempre pensavam nele e não queria decepcionar ninguém. Afinal ele era um Sonho e fazer os sonhos dos humanos realizar o fazia feliz muito feliz... Ele sabia que nem sempre conseguia seus intentos, sonhar e ver a realização do sonhador. Tinha a experiência de ver tantos sonhos realizados, de ver a força de vontade de cada um em acreditar nos seus sonhos. Ele tinha pena daqueles que não acreditavam e que achavam que realizar sonhos é impossível. Mas amava quando o sorriso de um sonhador brotava em ver que seu sonho aconteceu.

                   Nunca se importou quando o chamavam de utopia, aquele sonho que não existe. Ele acreditava que estes só viam o sol sem cor, a lua sem brilho e as estrelas tão longe de se tocar. Ele sabia que o vento não tinha sonhos, nem a brisa da manhã e o nascer o sol. Seus outros amigos sonhos diziam que existe neste mundo um oceano dos grandes amores, onde a felicidade existe e ali navegavam felizes nos sonhos de cada um. Ele se lembrou de Conchita. Linda menina sonhadora. Morava em uma cabana no alto da montanha de Cristal. Todas as tardes ela sentava em um pequeno banquinho e sonhava... E sonhava... Sua mente viajava sem destino, querendo um dia seu sonho realizar.

                Pois é Conchita acredite, eu vou realizar seu sonho. O que ela queria não era impossível, não para ele. Ele viu seus olhos cheios de lágrimas por viver sozinha naquele canto da montanha sem ninguém. Tinha sua mãe e seu pai, mas sonhava com um príncipe encantado para viver com ele para sempre. Ninguém soube explicar como naquela manhã de sol vermelho ela viu subindo a montanha oito Escoteiros alegres e cantantes. Junto estava Miguelito o Chefe que adorava acampar. Solteiro quando viu Conchita na porta da cabana ele disse: Vais ser minha princesa, você terá tudo de mim. Farei de você a moça mais feliz do universo, darei a você de presente todas as estrelas no céu. À noite rezarei para você e quando a lua cheia surgir irei pedir a ela para iluminar seus caminhos por onde o sol se for.

                       O Sonho lembrou que meses depois eles se casaram e viveram felizes para sempre. O Sonho não parava, estava atravessando uma majestosa floresta de um país tropical. O Sonho sentia falta de realizar o sonho de alguém. Ele sabia que um sonho para ser realizado o sonhador tem de acreditar, tem de partir na estrada dos sonhos e alcançá-lo nas luzes das estrelas e lutar para que ele seja real. Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho impossível só porque não acreditou.  

                       Viu um homem perdido no centro da floresta, tropeçando, caminhando sem rumo, pensando que não ia sobreviver. Ele não sonhava, lutava pela vida, pois sabia que em poucos dias ia morrer. O Sonho sorriu, é hora de trabalhar. O homem se chamava Molusco e fora no passado um Escoteiro. Aprendeu a navegar, aprendeu onde o norte se encontrava com o sul, nunca precisou de bussola para achar o seu caminho. Tinha vivido em florestas, aproveitou muitas vezes quando menino o que ela poderia oferecer. Um brilho passou diante dos seus olhos. Afinal isto é um sonho? Sonho ou não eu posso vencer!,

                       – Ele pensou. Olhou para as árvores, as folhas amarelas que podiam lhe dar um rumo. Um nesga do sol lhe mostrou o caminho a seguir. Enquanto caminhava pensava no seu filhinho que deixou na cidade, de Mariazinha sua amada tão pequenina. Um riacho encontrou, uma jangada ele fez. Dois dias depois uma cidade apareceu na curva do rio das almas perdidas. Molusco um Escoteiro estava salvo. Correu a encontrar seus amores, Picolino e Mariazinha sua amada ele foi abraçar.

                         Era hora de dormir para os humanos do mundo. O Sonho não dormia, mas se recolhia quando as noites quentes não deixavam ninguém sonhar. Ele imaginou que tantos poderiam sonhar sonhos lindos mesmo com aquele calor imenso. Ele sabia que poemas não são feitos para serem entendidos. Isso é utopia. Bastam aos poetas que seus poemas e sonhos sejam sentidos. Tiquinho ainda não tinha dez anos. Insistia com seus pais em ser um escoteiro. Nunca foi e este era seu maior sonho. Dom Casmurro tinha um bigodão que todos temiam. A maior fábrica de tecidos era dele. Funcionários tremiam só em olhar para seus olhos. Tiquinho era seu filho e sabia que ele nunca iria deixar.

                       Uma noite de verão todos os funcionários foram para casa. Ele mesmo fechou as portas e o portão. Altas horas da noite foram lhe chamar: - A fabrica começou a pegar fogo, mas um menino conseguiu apagar. O menino estava queimado deitado na cama do hospital. - Como foi? Ele perguntou. Senhor ele é Juquinha Escoteiro filho da Filó das Mercês sua funcionária. Ele esperava sua mãe pelo fim do turno. Ela não sabia. Dormiu encostado no Varão da Sala Grande. Quando viu a fumaça, já treinado nos Escoteiros pelos bombeiros ele correu e conseguiu o fogo apagar. Um herói Dom Casmurro. Sem ele o senhor estaria pobre e sem sua fabrica!

                   Tiquinho teve seu sonho realizado. Promessado com as vistas de seu pai. Uma alegria sem par. O Sonho ali a lembrar dos tempos dos acampamentos, das alegrias que Tiquinho passou a ter. Ah! Os sonhos. Eles têm um destino, um lugar para ficar, um lugar para realizar todas as vontades de quem acredita neles. O Sonho partiu rumo à além mar. Havia outros lugares outras terras para ele ir. Sabia que iria encontrar meninos e meninas Escoteiras que sonham e ele podia fazer o que mais gostava... - Realizar seus sonhos.

                  E você? Acredita nos seus sonhos? Um sonho verdadeiro pode ser realizado. Um sonho sonhado, amado por aqueles que um dia acreditaram. Como dizia Augusto dos Anjos a Esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe a Crença, Vão-se sonhos nas asas da Descrença, Voltam sonhos nas asas da Esperança.

sábado, 8 de fevereiro de 2020

A mais linda canção de todos os tempos! “Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus”...



A mais linda canção de todos os tempos!
“Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus”...
Um conto longo, mas vale a pena ler!

... - Pessoas especiais deixam mais que saudades e lembranças, pois elas levam mais do que nosso pensamento... Levam uma parte de nosso coração!

                          Lembranças! Saudosas lembranças. Cicatrizes gostosas que ficaram marcadas para sempre. Estou aqui olhando o céu, sem nuvens, cinzento e minha mente volta no tempo, lembrando tudo que tive e vivi no Movimento Escoteiro. Fui abençoado por Deus, ele me proporcionou tudo isto, amigos maravilhosos, jovens esplêndidos, grandes amizades e uma fraternidade sem par. Deus me deu a felicidade de viver tudo que o escotismo me ofereceu. São situações típicas, horas de deleite, de meditação, de sorrisos, alegrias, felicidade e agora como nós, de lembranças, de tempos que se foram.

                          Tudo isto me vem à mente, quando coloco na minha vitrola antiga, um LP de Guy Lombardo, e fico a ouvir a melodia que toca em todos os corações escoteiros. “Auld Lang Syne”. Nada mais nada menos que a Canção da Despedida. Dizem que significa “velho longo tempo”, ou “muito tempo atrás”, ou então “como nos velhos tempos”. É um poema escocês, escrito por Robert Burns em 1788 e ajustada para uma tradicional melodia popular, bem conhecida no velho mundo. Francamente não sei quem nos trouxe e quem adaptou tão maravilhosa letra para nós escoteiros. Claro, estava ouvindo em inglês, mas quantas saudades, quantas recordações. Ela toca profundamente. Bate fundo no peito. De vez em quando dói, outras vezes nos trás a certeza que vamos nos reunir outra vez, naquele fogo, crepitante, com o coração firme, ardente esperando que vai ter bis, vai repetir e vamos juntos, dizer: - Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus... Bem cedo, junto ao fogo, tornaremos a nos ver... Belo! Simplesmente belo. Não há como dizer outra coisa.

                            Chamam-me de Chefe Leopardo, mas meu nome é Joel Mistran Moraes. Hoje aposentado, 88 anos. Poucos nos dias de hoje me conhecem. Hoje vivo de lembranças, um dos meus passatempos favoritos. Elas ainda me ajudam a viver. Foi um passado brilhante, saudoso, gostoso, O que mais este "Velho" tem? Tenho filhos, netos, e apesar das dificuldades do meu corpo não me obedecer mais, fico imaginando e agradecendo a Deus por ter me dado tantas alegrias de um tempo maravilhoso que já se foi. Meu primeiro acampamento, quanto tempo, final da 2ª Guerra Mundial. Novo na patrulha, onze anos, lobinho de coração. Estranho no ninho. Medo, receio. Uma nova etapa. Sem minha Akela e o Balu para me proteger. Lagrimas brotaram quando fiz a passagem. Aos poucos fui acostumando. Ângelo o Monitor, grande companheiro. Quando casei foi meu padrinho. Algumas excursões, mas nada como este acampamento. Seis dias. Mata fechada. Selva para mim inóspita, Pânico no primeiro dia. Depois, barracas montadas, cozinha coberta, fogão suspenso, sala de refeições, fossas, Até WC fizemos!

                           Quando a noite chegava, estava em pandarecos. Mas orgulhoso. Era mais um deles. Ajudei, colaborei. Dormia o sono dos justos. Só acordava com alguém me chamando ou puxando meu pé. E de novo, vivendo com meus amigos, fazendo, construindo, aprendendo, brincando, aventuras maravilhosas. Escaladas (tremia) balsas, pistas de animais, mosquitos, predadores, escorpiões, cobras (que medo!), colher goiabas, mangas, abacate, nas mais altas árvores. Quinto dia. Orgulho daquela patrulha, irmão das demais. Amigos, fraternos, uma chefia maravilhosa. Então a surpresa. Um Fogo de Conselho só da tropa. Senhor! Olhe, ficou marcado para sempre. Ria, cantava, batias palmas, pulava, corria, e então... E então... Todos deram as mãos em volta do fogo e começaram a cantar. A princípio não conhecia a letra, aos poucos fui entendo. Meu Deus! Que canção maravilhosa! Tocou-me fundo impossível aguentar a emoção. A primeira! Onze anos e chorando. Lágrimas caindo, mãos entrelaçadas, apertando uma as outras.  


                             Quando a canção terminou, silencio geral. Final, fogueira crepitando, estrelas no céu. Vento frio, brisa no rosto, cheiro da terra, do capim meloso, grilo saltitando, vagalumes querendo mostrar seu brilho. Silencio. Lagrimas caindo, uns olhando para os outros, tentando disfarçar. Trombeta tocando. Reunir! Boa noite, Corte de Honra, oração. Fui para a barraca com um sorriso enorme! Deitei, coloquei as mãos debaixo da cabeça, olhava para o teto da barraca, ele desaparecia. Agora via estrelas piscando no céu. Chorei. De alegria, de saber que tinha encontrado amigos, irmãos e que agora pertencia a uma grande Fraternidade Escoteira. Agora eu era um deles, um escoteiro, um privilégio de poucos! Foi a primeira grande emoção. A Canção da despedida marca. Vocês que me leem sabem disto. Chorei depois muitas vezes. Era marcante. Não dava para esconder, que já participou sabe o que estou dizendo. Não sei explicar. Se dói se machuca se uma saudade gritante fala para nós, não perder as esperanças de que um dia voltaremos a nos ver. É uma situação inusitada. Se conta para um amigo ou amiga, eles riem. Acha que somos bobos, tolos. Não compreendem. Não entendem. Não sabem o que é isto. Nunca vão saber... Só nós, os privilegiados.

                             Centenas de vezes participei com orgulho. Dizia a mim mesmo que não mais iria chorar. Engano. Bebê chorão! Sempre ali, lágrimas e lágrimas escorrendo no rosto, caindo e molhando o chão abençoado. É, escotismo, você marca. Como você não existe outro. Por isto te amo, te adoro, vivo para ajudar a todos, mas que orgulho em ser escoteiro. Aprendi vivendo intensamente tudo aquilo que você tem. Sorrindo, cantando, Chorando! Sim mas sem nunca se esquecer das horas e horas maravilhosas que contigo passei. Cresci. Tornei-me Chefe! Cursos, Acampamentos Nacionais, regionais, internacionais viagens, Indabas, fóruns, congressos nacionais e internacionais. Conhecendo centenas e milhares de irmãos escoteiros. E em todos eles lá estavam os chorões. Choravam quando se despediam, alguns querendo ser durões, mas sempre uma pequena lágrima caindo, descendo devagar pelo rosto... Sempre cantando que não iriam perder a esperança, porque não era mais que um breve adeus...

                               A primeira vez, que chorei quando cantava, quando despertei para o escotismo, nunca esqueci e jamais, jamais mesmo esquecerei. Dizem que a primeira vez sempre marca e a gente nunca esquece. Mas teve outro marcante. No México, 1966. Convite para participar de uma festividade de  grupo, feito por um amigo chefe de coração enorme, amizade de encontros internacionais, Jamborees. Uma amizade sólida. Só existem nesta grande fraternidade mundial. Juarez Benito Santos. Da cidade de Hermosillo, capital do estado de Sonora. 50 anos de fundação do Grupo Escoteiro. Vários outros grupos irmãos. Achei que dava para enrolar no idioma. Nada. Um paspalho era eu para entender o que diziam. Mas que disse que em acampamentos escoteiros precisamos disto? Parece que falamos um só idioma. Claro, somos iguais em todas as nações.

                              Nossa! Marcou mesmo. Incrível a amizade dos escoteiros mexicanos. Simples, leal, honesta, sem altivez, soberba. Tocaram meu coração. Mas quando chegou à hora da despedida! Ah! Não, não queria sair dali. Chorei copiosamente. Um marmanjo. Vinte e seis anos! Abrindo a boca, lágrimas e lágrimas descendo pelo rosto. E o pior, quando terminou a Canção da Despedida vieram todos me abraçar, chorando também, dizendo, - “No te vayas, te queremos, quédade nosotros”... Quem aguenta? Diga-me quem? E o pior, no dia seguinte, a tomar o trem para a cidade do México, lá estavam eles na estação, barulhentos, amigos, abraçando, cantando canções típicas, e quando o trem foi se afastando, cantaram de novo a Canção da Despedida. Rapaz! Incrível suportar! Impossível! E repetiam, repetiam – “No te vayas, te queremos, quédade nosotros”! Marcou meu amigo. Marcou. Passageiros ao meu lado não entendiam. Um deles se aproximou. Be Prepared! Americano, boy Scouts. Incrível! Que movimento meu Deus!

                            O tempo passa. Tudo passa, só não passam as lembranças. Dizem que quem não as tem não viveu. Lembranças de tudo, do passado, de um grande amor, da perda de um amigo, de pais, irmãos, lembranças, lembranças... E claro, dos meus velhos tempos de escoteiro, bandeiras ao vento, para o acampamento de todo Brasil! Tempos que não voltam. Sorrisos, quando lembro não quero que a tristeza que me invade a alma volte. São lembranças lindas, maravilhosas de um tempo que já se foi... Hoje, como sempre acontece às tardes, estou aqui sentado nesta cadeira de balanço, na varanda da minha casa, vendo edifícios de pedra, uma garoa, chuva miúda, caindo, molhando o asfalto, um transeunte correndo outro se escondendo para não molhar. Um pequeno cobertor nas minhas pernas, que tanto me ajudou, me levou a lugares nunca antes imaginados e hoje resolveram se aposentar. Minha respiração ofegante, o ar faltando, corpo sem graça, relutante, mas a mente! Ah a minha mente! Busca incessante! Errante! De tudo aquilo que já vivi.

                             Desculpem os leitores, mas estou ouvindo Auld Lang Syne (A Canção da Despedida) e chorando. Minhas lágrimas não molham a terra, não há mais florestas onde posso ir cantar e viver. Mas olhem, sinto um enorme orgulho, fui Escoteiro! E serei escoteiro até morrer. Dizem que uma vez Escoteiro sempre Escoteiro! Felicidade de poucos e eu sou um abençoado por Deus! Me deu mais do que merecia! Sinto que meu corpo não obedece. Minha mente vai apagando. Meus olhos piscam querendo fechar. Uma dor aguda no coração. Não sei se e de saudades ou...

                             Se você leitor ou leitora pudesse materializar-se na frente daquele velho escoteiro, veria a alegria estampada no seu rosto, agora vestido com sua camisa caqui, seu lenço de Gilwell, preso pelo anel trançado, o chapéu de três bicos no seu colo, suas barbas brancas, cabelos brancos soltos na testa, olhos semicerrados, um sorriso nos lábios, o pulsar do seu coração parando, uma pequena lágrima que tentava correr pelo seu rosto, uma luz faiscante, brilhante saindo de dentro dele, dois lindos anjos ao seu lado, levando-o para grandes nuvens brancas no céu, e meu Deus! Uma grande Orquestra Sinfônica, regida pelo Santo Gabriel, tocando maravilhosamente “Auld Lang Syne”, e acompanhada pelo maravilhoso coro dos querubins, uniformizados, todos os uniformes de todas as nações, mãos entrelaçadas, num grande círculo de amor, vozes maravilhosas entoando em uníssemos...”Não é mais que um até logo”!
            

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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