quarta-feira, 6 de maio de 2020

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...


Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras.

Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia. Venha leia uma duas e comprove. Quem sabe poderá utilizar em reuniões com dias chuvosos, frio intenso e até em acampamentos ou acantonamentos. Agradeço sua visita, volte sempre!
Chefe Osvaldo. 

Lembranças inesquecíveis. Luar do sertão.




Lembranças inesquecíveis.
Luar do sertão.

... – Fui um Administrador de fazenda... Até hoje sinto saudades dos cinco anos vividos as margens do Rio das Velhas e próximo ao São Francisco. O Velho Chico. Lembranças, belas lembranças que não se apagam. Escrevi ali tantas histórias tantas que nem sei como contar sob o céu estrelado de lá. Norte de Minas, Pirapora, inesquecível, até hoje sinto falta daqueles tempos... Daqueles momentos!

- Era uma casinha pequenina, pintada de branco, cheia de flores em volta. Cercada por dezenas de árvores não muito altas. Buriti, Jatobá, Pequi, Pau Terra, Tingui e tantas outras. Terra de cerrado. A casinha tinha dois quartos. Eu e Célia em um e os quatro meninos em outro. Uma salinha de nadinha com uma poltrona, uma cômoda com um pequeno rádio a pilha e mais nada. Uma cozinha estreita. Eu mesmo com a ajuda do Mané Vaqueiro e Antonio Tratorista construí um puxadinho atrás. Um fogão de barro, um forno de barro de onde saia gostosuras de bolos, biscoitos de polvilhos deliciosos e assados. Era de piso de terra batida e bancos toscos. Na frente da casa uma diminuta varanda. Uma cadeira de balanço e dois bancos de madeira.

Muitos jarros de plantas e centenas de bromélias, rosas brancas e vermelhas e outras que faziam um jardim florido em volta exalando um perfume inesquecível. Célia gostava. Ao lado da casa uns quarenta passos ela fez uma horta. Tomates, couve, repolho, pés de mandioca, cebolinha, batata doce, alface, pés de mamão, goiaba, taioba (adoro) e muito mais. Nos fundos há uns oitenta metros um chiqueirinho. Sempre com dois ou três capados no ponto. Mais a frente o galinheiro. Como tinha galinhas nossa senhora! Celia colhia tranquilamente uma a duas dúzias de ovos por dia. Franguinho a molho pardo uma vez por semana. Amigos da cidade adoravam quando aparecíamos com cestas enormes de verdura e ovos.

Como a gente era feliz. Sem preocupações das grandes cidades. Durante o dia o passear dos avestruzes, das galinhas d’angola, um ou outro veadinho que passava correndo, passarinhada que escureciam o céu fazendo um espetáculo fantástico. Na época certa as cigarras faziam a festa. À noite então! Coisa linda! Quando se aninhavam em frente a minha casa os vagalumes aos milhares eu apagava a luz. (Luz de gerador ligado só à noite). Não precisava, pois eles os vagalumes davam conta. Um espetáculo digno de se ver. No porto da fazenda um belo barco a motor. O Rio das Velhas ficava próximo ao grotão onde uma pequena cachoeira embelezava o rio cheio de esplendor. Na piracema todos ficavam boquiabertos com os pulos dos peixes querendo subir a corredeira. Descendo uns três quilômetros o Rio abraçava o Velho Chico. O Rio São Francisco. Gente, minha mente mexe comigo ao lembrar. – Célia quer comer um peixe? – Marido traga um pequeno, não tem mais lugar na geladeira. Geladeira movida a gás. Sempre cheia, carne de porco de vaca, de frango até de tatu e capivara. Meu cavalo sempre arriado. Sem pestanejar eu saia para pescar e trazia um dourado ou um pintado. Coisa de trinta minutos. Conversa de pescador? O Escoteiro tem uma só palavra!

Milhares de cabeça de gado. Quase dez mil. Cria recria e engorda. De manhã correr as curralamas para “escriturar” os novos bezerrinhos que chegavam ao mundo e depois ir vaquejar nas largas e a tarde tratorar um pouco nos piquetes da curralama. Leite à vontade, de graça aos que espichassem uma viagem até um dos currais. Célia adorava. Queijo mineiro, requeijão doces, manteiga, bolos e tantas guloseimas que é melhor nem lembrar. Dormia-se de janela aberta, o som de um veículo era considerado intruso na área. Água à vontade, até uma pequena piscina nós fizemos para a filharada. Hoje quando meus filhos me visitam e lembram-se dos tempos na fazenda à gente vê nos seus olhos lágrimas de saudade de um tempo que ficou marcado. A cidade de Pirapora ficava a menos de vinte e cinco quilômetros.

- Vovó Lavínia era uma grande amiga. Tinha o apelido de Vovó, mas era pouco mais velha que eu. Era uma Akelá de um grupo Escoteiro da Capital. Nunca se esqueceu da gente. Foi fazer uma visita de uma semana. Ficou lá duas. Só foi embora porque o colégio que ela lecionava mandou um telegrama raivoso. Rs. Não sabia que ela conversava com a natureza. Vi com estes olhos que a terra há de comer que a vi uma tarde acariciando o pêlo de um pequeno veadinho. Selvagem é arisco que só vendo. Eu a vi várias vezes conversando com os avestruzes que lá faziam sua morada. E olhe que eles eram também ariscos. Deixar alguém tocá-los? Nem pensar, mas ela tocava. Eu na verdade nunca tinha visto ninguém fazer isto, mas Vovó Lavínia tinha lá seu encantamento. Levei o maior susto quando vi uma cobra enorme que não identifiquei atrás dela. Gritei para ela correr, ela parou olhou para a cobra que se enrolou toda. Vai dar o bote pensei. Impossível, Vovó Lavínia agachou olhando e sorrindo para o réptil e parecia falar ou sussurrar para a cobra. Instantes depois a cobra sumiu no meio do mato e foi embora. Palavra de Escoteiro.

Uma noite sentados na varanda, filharada dormindo ela pôs os dedos nos lábios e pediu silencio. Eu e Celia prestamos atenção.  – Escutem falou baixinho! As estrelas estão cantando no céu! Gente, na fazenda havia o mais belo céu que tinha visto em minha vida. E olhe que estive em milhares de lugares por este mundão de Deus. Não precisava contar, eu sabia que tinha bilhões e bilhões de estrelas no céu. Uma via láctea que marcava qualquer um. Fizemos silêncio. Olhávamos para o céu. Ouvimos um som calmo e refrescante como a brisa da madrugada. Se foi o cantar das estrelas não sei, mas o som, as estrelas brilhantes, o vento calmo e ali ou acolá um vagalume tornaram aquela e outras noites parte de minhas lembranças nunca mais esquecidas, parte da minha vida. 

Quando ela foi embora sentimos uma tristeza enorme. Um vazio grande. Tentei várias vezes ouvir as estrelas cantarem. Nunca mais. Acho que preciso de mais tempo nesta e em outra vida para poder ouvir o cantar das estrelas. É eu era mesmo feliz e estes tempos ficaram marcados para sempre. Daria tudo para voltar no tempo. Mas o tempo não para. Dele só fica as lembranças, gostosas, incrivelmente belas para que possamos continuar a labuta nesta vida.

- Eu fui um Administrador de Fazenda, e até hoje as lembranças do gado, dos passeios de barco no Velho Chico, no Rio das Velhas, das viagens das comitivas, de dias fazendo calo nas nádegas, de ter sido um professor do MOBRAL de tantas coisas que não esqueço jamais!

terça-feira, 5 de maio de 2020

Contos ao redor da fogueira. Quando o fogo aquece a alma.




Contos ao redor da fogueira.
Quando o fogo aquece a alma.

... – Este conto é uma homenagem ao chefe Alexandre Fejes Neto, mais conhecido como chefe Lecão e grande escritor escoteiro. Em dezembro de 2016 tive a honra de conhecer e conviver com ele por algumas horas em seu grupo escoteiro em uma agradável conversa ao pé do fogo que deixou saudades. A ele meu Anrê e sei que lá no céu ainda está fazendo escotismo dos bons, uma de suas maiores escolhas desde que entrou para o Movimento Escoteiro. 

- Uma noite como as outras... Na grande cidade não se via estrelas, cometas e a lua não deu sinal de vida. Ventos calmos sopravam de leste para oeste. A chama pequena da fogueira tinha toda a atenção dos Chefes Cabeças Brancas e do Escoteiro a sua volta. Vez ou outra surgia um caso, um conto um pedaço de alguma lembrança.  Despretensioso o fogo não se importava quando alguém com um pequeno galho mexia e remexia nas suas brasas e ele danado soltava fagulhas no ar. Sem alarde um Cabeça Branca contou a história de Minarã, pois diziam que só ele possuía o fogo. Dizia à lenda que os Caingangues sabiam do valor da luz e o calor vindo do sol. Os alimentos ainda eram comidos crus. Minarã um índio de raça estranha, egoísta guardava para si os segredos do fogo. Sua cabana era constantemente vigiada e sua filha Iaravi era quem mantinha o fogo sempre aceso. Os Caingangues, porém, não desistiam de possuir o fogo também. Precisavam para sobrevivência e não se conformavam com a atitude egoística de Minarã.

Os Cabeças Brancas sentados em volta do fogo e o jovem Escoteiro olharam para o narrador que sentado com pernas cruzadas à moda índia, tirava pedaços quentes da lenda que nunca foi contada. Fiietó um inteligente e astuto jovem da tribo, decidiu tirar de Minarã o segredo do fogo. Transformou-se em gralha branca, apelidado Xakxó e partiu voando para o local da cabana e viu Iaravi banhar-se nas águas do Gôio-Xopin, um rio largo e translucido. Fiietó lançou-se no rio e se deixou levar pela correnteza ainda disfarçado de gralha. A jovem índia fez o que Fiietó previa. Pegou a gralha e a levou para dentro da cabana e ainda molhada sentaram em frente ao fogo. Quando secou suas penas, a gralha pegou uma brasa e fugiu... – Um interesse momentâneo surgiu no piscar das sobrancelhas dos Cabeças Brancas e do Escoteiro.

Minarã, sabendo do ocorrido perseguiu a gralha que se escondeu em um toca entre as pedras. Minarã tocou na toca até que viu a vara ficar manchada de sangue. Pensando que havia matado, Xakxó regressou contente à sua cabana. Esperto Fiietó esmurrara seu próprio nariz para enganar o índio egoísta. Saiu do esconderijo voou até um pinheiro. Ali reascendeu a brasa quase extinta e com ela incendiou um ramo de sapé, levando-o no bico. Mas com o vento o ramo incendiou-se e pesado caiu do bico de Xakxó. Algumas brasas caídas propagaram fogo nas matas e florestas distantes. Veio à noite e tudo continuou claro como o dia. Foi assim dias e dias. Os índios das tribos próximas nunca tinham visto tamanho espetáculo e cada um levou brasas e tições para suas palhoças.

Um dos Cabeças Brancas levantou e atiçou novamente a fogueira. Um outro tossiu provavelmente pelo orvalho da noite. Até o Escoteiro calado pensou qual seria o final do conto, da fábula que acabava de ouvir. Um dos cabeças brancas do Ar, falou com voz rouca para todos ouvirem: “Somos da terra... A terra somos... Todo dia é nosso... Os nossos somos todos... Precisamos usar nossa flecha da sabedoria com o arco da esperança e reconquistarmos o que éramos”. Seria uma conotação do fogo? De suas origens? Ou seria do seu “escoteirismo” tão vivido e que hoje não era mais?  E eis que lá no cantinho da Serra da Cantareira avistaram a lua surgindo, e ele saudoso dos seus tempos de Aeroplano, terminou assim: - “Procure conhecer-se, por si próprio. Não permita que outros façam seu caminho por você. É sua estrada, e somente sua. Outros podem andar ao seu lado, mas ninguém pode andar por você”!

E o fogo apagou o dia e a noite dos Cabeças Brancas e do Escoteiro. Dizem que um deles hoje mora no céu, alguns outros sobreviveram para contar esta história. Para um deles o Decano, foi seu último fogo do conselho até hoje lembrado e nunca esquecido. Saudades que ficam saudades que se vão saudades que não deixa a gente esquecer jamais!

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Uma pequena historia. Amanhã eu vou!




Uma pequena historia.
Amanhã eu vou!

... - Conta na lenda da carimbamba, que toda lua cheia à meia noite um pássaro ia até a lagoa cantar: "-Amanhã eu vou, amanhã eu vou, amanhã eu vou..." Perto dessa lagoa morava uma menina muito bonita chamada Rosabela; acontece que Rosabela acordava toda noite para ouvir o canto triste da carimbamba. A lenda diz que quando ele cantava alguém morria e uma noite de lua cheia Rosabela morreu de amor. Em tempos que os pássaros de belos cantos e admirados e ameaçados, imagine para quem carrega a fama de ser agourenta e mal querida dos sertanejos que acreditam em sua maldição. O certo é que quase não se ouve mais o canto do “Coã” pelas matas do sertão.

- Foi nos belos tempos, no meu retiro na serra da Anta, fogueira acesa, árvores fazendo sombra eis que em um instante, posou na ponta do galho seco, no alto de uma Peroba-rosa bem próximo do meu acampamento, ele o conhecido “Amanhã eu vou” e não se sabe se vai voltar. Era ele sempre ele o Bacurau. Cantou docemente fazendo dueto com um Urutau, ajudado pelo Curiango que cansado voou pela serra do mar. O “amanhã eu vou” ressoou por toda parte da serra e até chegou ao vale onde um dia acampei. “Seu” Manezinho dos cem anos me contou uma lenda da Carimbamba, que toda lua cheia a meia noite ele o Bacurau aparecia para cantar. É nessa hora que senti o tempo parar, a cascata emudecer e as estrelas pararem de brilhar. Naquele silêncio calmo, eis que incrivelmente trepado na Peroba-Rosa o vi pulando no galho seco sem cair e a me olhar. Ali no seu habitat só ele reinava acima do bem e do mal. Tunico Tornado um dia me disse que era uma ave de rapina, parecido com a coruja e costuma hipnotizar Escoteiros quando começa a cantar. Voei até o passado que não esqueço e me lembrei de Rael que me contou conhecer aquele canto sem nunca tê-lo visto cantar. Meu amigo ele disse, dizem que é um Curupira e que muitos por anos e anos não dormiram quando escutava aquele som, de tanto medo que sentia... Mas eu beato das crenças escoteiras, embalado pela musica dormi tanto que custei a acordar! E naquela noite juro por Deus que ninguém Morreu!

Uma ótima noite para todos!

sábado, 2 de maio de 2020

Em volta da fogueira... “Adios” Francisco.




Em volta da fogueira...
“Adios” Francisco.

... – São dezenas ou centenas de causos da perda da sede, de assaltos e cada Grupo Escoteiro que perdeu tudo, perdeu seu lar, sua barraca onde moravam os sonhos de badenianos que amavam sua associação. Desistir nunca... Recomeçar sim... A vida destes jovens que dependem de um lugar ao sol nem sempre é entendida pelos donos do poder. O que aconselhar? A quem recorrer? Quem sabe o sonho de não desistir, a força de vontade, aos braços fortes, as pisadas firmes de que sabe que tudo tem um recomeço.

                     As areias viajam nas asas do vento... Ele via sua vida se acabando na ampulheta do tempo... Seu mundo se esmoronava. Seriam poucos meses ou quem sabe algumas semanas para manter a chama da vida acesa. Doutora Sissi com olhos tristes dizia para ele: Não tem volta Antônio. Tentei tudo, mas o câncer não perdoa. - Doença cruel que o fazia morrer devagar e sofrido. A quimioterapia era um suplicio. Cada sessão pedia a Deus que o levasse. Não estava aguentando mais. Chegou a pensar em tirar a vida antes de Morrer do Diretor Ângelo. Foi apenas um momento de raiva que logo esqueceu.

Quarenta anos de escotismo, o último dos fundadores, de lobinho a diretor e ver tudo se acabar por causa de um Diretor hipócrita do Colégio onde tinham a sede. Ele decidiu sem consultar ninguém retomar o terreno da sede escoteira. Lembrou-se da festividade, do prefeito e tantas autoridades na entrega do documento na praça solene e que agora não valia mais. Tudo fora mentira? Não valeu colocar tijolo após tijolo para fazer a construção? Quanto sangue derramado? Quanto suor e lágrima para conseguir um tijolo, uma telha, uma porta e tudo agora perdido?

E seus direitos? Eram mais de cem crianças e adultos que todos os sábados levavam a bandeira aos céus. Pátria! Não reconheces isto? - O advogado Jamil que nunca foi escoteiro disse que não havia mais o que fazer. Trinta dias Chefe, se não saírem teremos policia e delegados a porta. A lei era clara. Deu sua vida, deu seu amor, viveu ali fazendo tudo pela cidade e agora não havia retribuição. Prefeito, vereadores se curvavam ao novo Diretor Nomeado da FATEC uma entidade governamental. Para onde iriam? Como continuar?

Todas as tardes ele sentava no banco da estação onde se fez tantas alegrias e felicidade e agora abandonada de cabeça baixa chorava. Não pela sua morte próxima, isto não era importante, o importante era aonde todos iriam. Procurava uma solução e não encontrava. Mesmo espiritualista maldizia o Diretor que nunca foi Escoteiro e não queria entender os benefícios de uma educação extraescolar. Prefiro morrer antes... Pensou. Não dá para assistir esta derrocada final. Lucy o abraçou. Chorou com ele as dores da perda e baixinho dizia: - Marido, agora pense em você, pense em se curar.

Duas semanas se passaram e ele foi levado ao hospital. Escoteiros e chefes acorreram ao local. Eis que extenuado chega o Presidente. Chefe Paulo sorria: - Graças a Deus! O decreto do Professor foi anulado. Uma petição entregue ao Ministério da Educação que ninguém sabe quem enviou foi aprovada. Agora somos proprietários com escritura lavrada! Uma palma estrondosa ecoou na porta do hospital. Na UTI Francisco agonizante sorria. A luta se encerrava. Valeu enviar aquela petição. Agora poderia morrer em paz!

E morreu com um sorriso, com glorias de escoteiro vencedor. Olhou para a terra quando subia para o paraíso. Sabia que deixava saudades, mas ele estava feliz. Jogou um beijo no vento e pediu que o levasse até sua querida Lucy. Foi uma luta incessante, mas sempre soube que nunca esteve só. Além dos irmãos escoteiros da terra ele teve mil anjos ao seu lado o ajudando para a vitória. O céu o recebeu com honras e junto aos novos amigos no espaço ele voltou a sorrir!

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Lendas Escoteiras. O sonho de Bob Longo.




Lendas Escoteiras.
O sonho de Bob Longo.

... - “Jamais humilhe ou deprecie alguém de seu Grupo ou sua Tropa perante os demais. Você pode demonstrar força e poder, mas aos olhos deles será visto com menosprezo. O génio de um bom Chefe é deixar atrás de si uma situação em que o bom senso, sem a graça de génio, possa continuar com êxito”. Sempre Alerta!

- Bob Longo era um homem não muito afoito a conversar. Preferia mais ouvir. Desde pequeno muito responsável. Bom estudante nunca repetiu de ano. Seus pais não tinham o que reclamar. Aos dezessete entrou para a faculdade. Futuro promissor todos diziam. Escolheu Engenharia Civil. Pensava em construir pontes, viadutos, tuneis, estradas e quem sabe um monte de arranha céus. Formou-se e um amigo de seu pai lhe ofereceu um emprego em uma repartição publica. – Supervisor, lá terá vinte funcionários sob suas ordens. Bom salário e futuro garantido. Bob Longo pensou e aceitou. No inicio se sentiu bem. Afinal seria um Chefe seu sonho. Nunca o chamaram de Chefe, mas quem sabe um dia? O tempo foi passando Bob Longo casou e sua casa iluminou com o nascimento de Roberta. Agora sim, tinha tudo que queria uma boa casa, outra na praia, um bom carro e uma boa esposa e uma filha que amava como nunca amou ninguém. Ficou esquecido na repartição. Não se filiou a nenhum partido e assim nunca teve oportunidades que muitos outros tiveram. Seu sonho de ser um Chefe foi passando...

Ele queria ser um chefe. Tinha qualidades competência e sabia decidir na hora certa. Oito anos e nada. Viu que ali nunca seria Chefe. Uma tarde Roberta pediu para ser Lobinha. Ele já tinha ouvido falar dos escoteiros, mas não entendia nada. Porque não? Pensou. Foi com ela até o Grupo Escoteiro. Estudou tudo que viu para deixar sua filha participar com eles. Conversou com Albert o chefão. Gostou do seu estilo. Tinha pose, voz empastada de politico experiente. Mandava e desmandava. Fazia sinal e meninada endurecia sem mexer nas intermináveis formaturas. Gostou de tudo que viu. Ia todos os sábados, ficou amigo, sabia que um dia iriam convidá-lo para ser Chefe. Aprendeu sozinho, comprou uma vasta literatura escoteira. Submisso fingia ser obediente para que os demais chefes pudessem acreditar que sabia tanto como eles. Notou que muitos chefes no Grupo gostavam de quem obedecia e não reclamava.

Bob Longo nunca foi Escoteiro. Estudou e aprendeu toda a filosofia, seu programa sua organização e seus métodos. Na repartição ninguém dava nada por ele. No seu tempo ocioso leu tudo que podia. Normas regulamentos e alguns livros do fundador. Passou a sonhar em ser um líder escoteiro. Sabia que podia brilhar dirigindo uma tropa. Quando o convidaram para ir em um acampamento viu que sua hora havia chegado. Afinal não iria confiar sua filha aqueles adultos que sorriam e diziam ser responsáveis. Sua filha era tudo que tinha e onde ela fosse ele iria também. Bob Longo sabia o que era aprender fazendo, sobre o jovem ser responsável pela sua autoeducação, sobre aprender a andar com suas próprias pernas. – Balela! Ele sabia que sua filha seria educada como pensava e não como os chefes dos escoteiros. Adorou o acampamento. Sentiu-se criança. Nem pensou na alegria dos jovens acampantes. Voltou com as mãos inchadas, cheias de calos. Fez pioneiria, se mostrou um expert em nós e amarras. Mostrou que tinha conhecimentos.

Fez todos os cursos possíveis. Achava-se um perfeito líder escoteiro. Disseram que o líder trabalha a descoberto, o Chefe trabalha encapotado. O líder lidera, o Chefe guia. Afinal era um Chefe ou um Líder? Para ele não havia diferença. Seu plano era ser Chefe de Tropa. Passava horas treinando em frente a um espelho a pose de chefão. Foi na Assembleia Regional. Viu tantos chefões, com medalhas, e poses bem estudadas. Todos mostrando sua posição no escotismo. Morreu de inveja dos chamados Velhos lobos. Sempre procurados bajulados e endeusados. Sorria para si próprio imaginando ser um deles. Passou a ler sobre os formadores, os diretores, os Insígnias de Madeira, sobre a Organização Mundial dos Escoteiros e um dia seu sonho se realizou quando convidado pelo Chefe Albert para chefiar a Tropa Escoteira.

Era seu caminho para o sucesso como dizia Baden-Powell. Iria mostrar suas qualidades. O Presidente e o distrital iriam ver que surgia um novo líder dos escoteiros. Foi apresentado a tropa. Brilhou na Bandeira, na formação, saudando os monitores, uma bela oração e uma perfeita inspeção. Passou dias escolhendo jogos, pois sabiam que eles eram o sucesso para fazer os escoteiros gostarem dele. Amou seu primeiro dia. Já fazia planos em partir para o campo com seus escoteiros correr pelas campinas, pelos vales, pelas montanhas e picos sem fim. Queria fazer o escotismo que não fez quando criança. Certas horas esquecia-se de Roberta, só pensava em si mesmo e em sua pose de chefão. Fingiu ser subserviente para ser amigo do distrital e dos presidentes da região e da EB. Seu sonho era chegar lá. Iria ser Chefe, um chefão. Já pensou? Dirigir um curso e fazer aquele monte de alunos lhe obedecer? Firme! Descansar! – Seria bom demais.

Foi ovacionado muitas vezes pelos chefes do seu grupo e do distrito. Sentiu-se realizado quando fez seu curso da Insígnia de Madeira. Quando lhe entregaram o Lenço ele chorou. Agora sim, começou a ser um chefão. Absorto no pátio viu quando surgiu um ancião. Ele não o conhecia. Não estava de uniforme, não tinha lenço e nem chapéu. Só uma bengala que fazia toc, toc no cimento do pátio. – Parou em sua frente. Sorriu e disse olá! – O ancião falava baixo, chegou mais perto. - Ouça meu filho a voz da razão e viva sem dores, ouça o coração e seja feliz. – Quando for complicado decidir... Não deixe a razão agir. Ouça seu coração falar, pois com ele nada falha. Não se esqueça que mesmo que não concorde com tudo isto, com os objetivos da sua associação, faça seus escoteiros felizes. Chefe não é aquele que pensa só e sim aquele que briga para a felicidade de todos.

- E continuou: Um Chefe Kalapalo me disse – Não seja um homem solitário. Se você não pode ouvir o choro de uma ave então ouça o murmúrio do vento, deixe a chuva cair e perfumar a floresta do mundo. Quando chegar sua hora de morrer, não seja como aqueles cujos corações estão preenchidos de medo. Eles choram e rezam por um pouco mais de tempo para viverem sua vida novamente de uma forma diferente. Assim cante sua canção de morte e morra como um herói indo para casa! O “Chefe” Bob Longo estava estupefato. Não sabia o que dizer. O ancião se foi, ele não soube o seu nome. Aquele dia ele viu que ser Chefe é muito mais que pensava. Precisar dominar os outros é precisar dos outros. Ele agora sabia que um Chefe seria sempre um dependente dos outros e de si mesmo. Seus olhos vermelhos sabiam agora o caminho a seguir. Ele sabia que para ser Chefe ele sempre iria precisar dos outros. Aquele que quer aprender a ser Chefe tem de primeiro aprender a servir!

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Lendas escoteiras. A lenda dos milagres de Sophia.




Lendas escoteiras.
A lenda dos milagres de Sophia.

... - Se Sophia era mesmo um espírito cheio de luz eu não sei. Se isto é coisa do diabo eu também não sei. Dizem que Deus sabe o que faz e como eu acredito nele a história de Sophia para mim poderia ser verdadeira. Afinal temos ou não uma só palavra? Apenas uma lenda, nada mais que isto.

                          Não conheci a escoteira Sophia. Se não tivesse participado do desfile do Sete de Setembro naquele ano a história dela nunca seria conhecida por grande parte do movimento escoteiro. Sei que muitos sabiam, mas tudo era contado à boca pequena sem chances de até mesmo o Arcebispo Joshua pensar que um dia ela poderia ser canonizada. Ele ficou impressionado com o relato do vigário Honório. - Verdade mesmo Honório? – Eminência, são mais de vinte meninos e meninas que assistiram tudo no acampamento que fizeram Na Lagoa dos Sonhos. Ela pegava peixes com as mãos, curou doentes, acendeu um fogo sem fósforos em segundos. E não foram só estes foram vários! – E adultos tinha algum? Perguntou o Arcebispo. – Não eminência, só uma vez Dona Filó e o Chefe Manolo assistiram um milagre dela. Foi o mais simples. - Eles viram-na se elevar no ar e beijar um periquito no ninho de uma árvore há mais de oito metros de altura!

                  Sei que o Vigário Honório ficou mais de cinco horas a narrar para sua Eminência o Arcebispo Joshua tudo o que viu e tudo que lhe contaram. Saiu do Palácio Episcopal mais de meia noite. Deixou o Arcebispo com a pulga atrás da orelha. Ele já tinha lido e conversado com muitos sobre o tema mediunidade. Quem sabe esta escoteira não era assim? Mas se elevar no ar? Isto não é mediunidade. Mais parecia que era sensitiva. Ver os mortos, visualizar o futuro e ter visões extraordinárias. Agora se elevar no ar? Isto não saia da mente do Arcebispo. No dia seguinte ligou para o vigário. Pediu a ele se podia trazer a escoteira até o palácio. Ele queria conhecê-la. Dona Fabíola mãe de Sophia não se opôs. Partiram em uma manhã de sábado. Daria prazo para ela participar da reunião escoteira da tarde, disto ela não abria mão. O Arcebispo ficou maravilhado e abobalhado. Ela na sua presença conversa como gente grande. Inteligentíssima. Conversou com ela em inglês, francês e italiano e ate abusou do latim. 

      Mas vamos voltar ao início se não vocês não vão conhecer Sophia e sua história. Monossílabo era sênior da Antares, uma patrulha antiga e quatro Sêniores e duas guias. Eu cansado de uma manhã do desfile da cidade, sentei-me no banco da praça e ele sentou ao meu lado. – Sabe Chefe, se Sophia a escoteira tivesse vindo este desfile seria inesquecível. – Fiquei encucado. – Quem é a escoteira Sophia? – Chefe! O senhor ainda não ouviu falar dela? – Claro que não Monossílabo, se não eu não teria perguntado. – Bem Chefe, ela está conosco há dois anos. Quando chegou à sede ninguém deu nada por ela. Mas no primeiro dia de reunião Loquinho o Monitor da Águia ficou boquiaberto com ela. Em uma base de nós, com os olhos fechados ele fez mais de vinte nós escoteiros e de marinheiro. Ninguém acreditava no que via. Precisava ver no acampamento. Cortava um galho em segundos. Parecia que o facão era mágico.

     Monossílabo ficou me narrou por horas. A princípio não acreditei nele. Havia muito floreio em tudo. Mas me lembrei de um fato ocorrido há alguns anos e só não lembrava se era ela a protagonista. Ela e sua mãe chegaram correndo a delegacia, mais de duas da manhã dizendo que um acidente grave aconteceu na estrada 45. Na curva da onça um ônibus despencou por sobre a ponte. Mais de vinte mortos. Pinduca o Sargento da guarda não acreditou. Foi preciso chamar o prefeito que relutante em acordar acompanhou todos até a ponte fatídica. Gemidos, gritos de socorro e o trabalho de ajuda começou. Um menino de três anos ensanguentado foi colocado por sobre uma manta e o enfermeiro disse que estava morto. Não estava, pois Sophia pegou na mão dele e ele se levantou. Dizem que ela deu vida a mais oito pessoas. As demais não, pois conforme disse era desígnio de Deus. Teria que ser assim.

               Sophia não era linda, nada disto. Tinha o rosto fino, nariz comprido, uma boca pequena e cabelos crespos que ela insistia em não pentear. Ficava diferente e ela gostava. Falava fanhoso e deixou todo mundo boquiaberto quando um dia falou como uma rainha. Na patrulha era bem quista e ninguém notava nada diferente. Nas atividades que o Chefe Manolo e a Chefe Malena faziam na maioria das vezes a patrulha dela não se evidenciava. Só uns meses atrás que tudo mudou. Ela parava durante alguma corrida dizendo estar vendo pessoas mortas. Garantiu ao Chefe Manolo durante uma cerimônia de bandeira que o Chefe Tonon estava presente. Chefe Tonon foi o fundador do grupo a mais de setenta anos. Morrera há quinze anos. Sophia começou a ser procurada por doentes, cadeirantes e a cidade começou a ter turistas de todos os lugares por causa dela. Quando ia para o Grupo Escoteiro a sede ficava superlotada de pessoas querendo falar com ela ou ser abençoadas.

      O vigário Honório correu a falar com o Arcebispo. Esqueceu-se de Don Antonio um Velho morador da cidade e Presidente do Centro Espirita Boa Vontade. Ele ria quieto em seu canto. Sabia que Aimée era um espírito superior e que os habitantes nunca podia imaginar quem ela fora no passado. Ele sabia que ela iria desencarnar aos quinze anos. Morte natural. Falar isto para o padre? Nem pensar. Comentou superficialmente com o Chefe Manolo. Um bom Chefe. Era evangélico e ficou incrédulo com tudo aquilo, mas o que vira em Sophia até que poderia ser verdade. Cinco meses depois chegou à cidade monsenhor Giuseph a mando da cúria papal. Era para averiguar e comprovar os milagres de Sophia. Não ficou dois dias. Quando a conheceu ela disse para ele – Senhor Monsenhor, daqui a dois anos o Papa Lozano III vai falecer e o senhor será eleito o novo papa!

                  Ninguém soube do fato e eu mesmo não sabia como Monossílabo sabia. Bem o final da história é que a Cúria Romana até hoje discute se Sophia era possuidora de receber o título de santa. Mesmo após sua morte ocorrida na aventura Sênior distrital que a tropa participou na Serra dos Órgãos eles continuaram investigando. Ainda investigam. Quem sabe teremos a primeira santa escoteira? Vai ser o máximo. O escotismo terá dado um enorme salto para o sucesso de marketing. Procurei saber como foi à morte de Sophia. Sua Patrulha jura de pé junto que ela se despediu de um por um e disse para não se preocuparem. Sua mãe já sabia que era hora de ir. Ninguém acreditou quando uma forte luz a levou. Seu corpo sumiu e até hoje não foi encontrado. A policia fez de tudo para ver se não havia outra história, mas teve que se contentar com a fantástica explicação dos seniores que estavam com ela. O delegado já saiba de seus poderes sobrenaturais e deu o caso como encerrado.

       Monossílabo me jurou que nas noites de acampamento, quando os seniores se reúnem em volta de um fogo para jogar conversa fora ela aparece e fica com eles por horas contando como são os escoteiros que moram no céu. Don Antonio o espírita tem boas relações com dona Fabiola mãe de Sophia. Conversam muito. A cidade não sabe o que conversam. Se Sophia é mesmo um espírito cheio de luz eu não sei. Se isto é coisa do diabo eu também não sei. Dizem que Deus sabe o que faz e como eu acredito nele a história de Sophia para mim é verdadeira. Afinal temos ou não uma só palavra?

terça-feira, 28 de abril de 2020

Contos ao Pé do Fogo. Evelyn anjo ou demônio?




Contos ao Pé do Fogo.
Evelyn anjo ou demônio?

... - Os que riram hoje choram, os que debochavam hoje respeitam, os que não acreditavam hoje procuram o caminho, o que estava morto foi ressuscitado. Fica fácil quando cada chave é colocada em sua devida fechadura. Nada como um dia após o outro dia. Tudo faz sentido, quando a motivação é o amor...

                     E daí se gostam de mim ou não? Não estou nem ai! – Michel tremeu de ódio. Permaneceu calado para evitar dizer uma saraiva de palavrões e ofensas. Leo que estava próximo pensou em interferir. Melhor não pensou. Não era só ele, toda a Patrulha Antares queria vê-la longe. Não entendiam a Chefe Sophia e o Chefe Montana que sempre aconselhavam relevar, pois ela um dia iria melhorar. Evelyn foi levada a Corte de Honra e a Tropa Sênior por diversas vezes se auto-convocou para um conselho de tropa. Por quê? Claro, Evelyn. Pensando bem Evelyn era uma jovem bonita, olhos negros incrivelmente belos. Mas sua apresentação era péssima. Vestia mal, nas inspeções ela sempre “enterrava” a Patrulha com sua uniformização sem garbo e boa ordem.

                    Ninguém explicava porque ela insistia em continuar como Guia. Quando entrou falou para Dante: - Olhe Escoteiro, as montanhas da vida não existem apenas para que você chegue no topo, mas para que você aprenda o valor da escalada. Viva sua vida e deixe-me viver a minha “- e quer saber”? Eu entrei nos escoteiros sem precisar de ninguém. Nem de minha mãe. Eu não preciso de você para ser feliz, eu sei como me alegrar todos os dias sem contar com nenhum de vocês. Evelyn era só amargura. Parecia não amar ninguém e não queria que os outros também gostassem dela. Porque tão mal educada? Essa grosseria seria uma defesa? Mas defender de que? Natanael o Monitor disse a Chefe Sophia que a Patrulha tinha votado para ela não ir ao acampamento. – Chefe, ninguém da Antares gosta dela. Acha-se a melhor, reclama e no acampamento de Julho ela foi um estorvo. A Senhora lembra que por dois dias ficamos em último lugar.

                   Chefe Sophia tinha uma alma e um coração de anjo. Nunca aprendeu a tomar atitudes firmes que precisavam ser tomadas. Sempre achou que deveria ter um caminho uma solução. Evelyn naquela sexta feira chegou como sempre emburrada e dizendo: Eu vou, mas não vou servir ninguém. Cada um que se vire! E deu aquela gargalhada de sempre. Rui o Sub pensou no que viu quando foi à casa de Evelyn. Não comentou com ninguém. Queria ver de perto. Nicolas um amigo do Colégio morava na mesma rua. Ficaram por horas conversando. Soube do seu padrasto, homem mau, de Sininho com seus dois anos que era mais paparicado do que Evelyn, soube também que na rua ninguém gostava dela, que sua mãe não se importava, não lavava louça e nem limpava casa. Evelyn fazia o mesmo.

                    Pensou em conversar com a Patrulha e colocar ao par tudo que viu e ouviu. Iria dizer que a vida pode ate derrubar, mas que escolhe a hora de levantar é você mesmo. Engraçado, diferente dos outros acampamentos Evelyn ao seu modo ajudou a Patrulha, mas sempre arredia. Lídia no segundo dia há encontrou chorando próximo ao Riacho das Flores. – Sentou ao seu lado, não disse nada. Ela sem olhar para Lídia disse baixinho: Na vida eu encontrei três tipos de pessoa. Aquelas que poderiam mudar minha vida, aquelas que querem predicar minha vida e ainda não encontrei aquela que será a minha vida. No terceiro dia um grande jogo foi realizado. Evelyn gostava de um grande jogo. Achava-se a melhor, resolvia sozinha, não dava satisfação a ninguém. Na subida do Morro do Macaco ela sumiu. Não era a primeira vez. A Patrulha se reuniu e discutiram em voltar e procurar ou seguir em frente e achar o Tesouro escondido.

                  Eles já tinham decifrado todas as pistas e sabiam onde estava o Tesouro. Poderiam ganhar o jogo, o que não acontecia há meses por causa de Evelyn. Uma revolta grande. Achar o tesouro ou voltar para encontrar Evelyn? Os artigos da Lei são aqueles que dão o tom para escoteiros de verdade. Vestir o uniforme nada significa se o coração não bate pela ajuda ao próximo. Era uma Patrulha unida, que se preocupava. Voltaram por aonde vieram. Vasculharam cada barranco, cada ladeira, cada ribanceira e o talude do Cristo.  Já iam desistir e chamar a tropa para ajudar quando ouviram um gemido. Na rampa havia duas trilhas e um enorme buraco. Viram Evelyn chorando. Desceram. Uma fratura exposta na perna e no braço. Ela devia estar sentindo dores terríveis.

                    Rui e Hélio voltaram para trazer socorro. Natanael, Rui Michel e Nair viram que não podiam esperar muito tempo. Ela estava perdendo muito sangue e pálida desmaiava e acordava. Michel no alto dos seus conhecimentos de Socorrista fez duas talas largas para não machucar. Amarrou uma na perna outra no braço. Ela desmaiada nada sentiu. Os lenços foram amarrados onde o sangue jorrava aos borbotões. Fizeram uma maca com dois bastões e com muita dificuldade arrastando morro acima a maca com uma corda chegaram ao topo. O tempo passou um dois três meses e num belo dia de sol, Evelyn retornou ao Grupo. Mancava da perna que ainda não tinha cicatrizado. No cerimonial de Bandeira ela pediu a palavra: - Olhou nos olhos de cada um e disse: - Não sei o que dizer sempre me disseram que o maior problema em acreditar nas pessoas é que um dia você acaba não acreditando em mais ninguém. Sei que é difícil o perdão de todos, mas a partir e hoje serei outra Evelyn. Vou provar que posso ser amiga e irmã de todos vocês!

                    Quem esteve lá naquele dia nunca esqueceu. Um silencio sepulcral quando ela falava, quando parou a tropa parecia não entender bem suas palavras. Maria Eduarda batendo palmas foi até ela e a abraçou. Todos correram para fazer o mesmo. Chefe Sophia sorrindo olhou para o alto e falou baixinho para ninguém ouvir: - “E tudo ficou tão claro, o que era raro, ficou comum. Como um dia depois de outro como um dia, um dia comum”!

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Uma história uma lenda. A árvore das folhas rosa.




Uma história uma lenda.
A árvore das folhas rosa.

“Queria ser Cerejeira rosa, alta e frondosa, enchendo o chão de sombras e os galhos de passarinhos, que nela, aos pares, construíssem ninhos, lançando aos ventos sonoros pensamentos. Então, a minha sombra à tarde, abrigaria namorados, trazendo juras de amor tão puras e ternas, que parecessem eternas. Como as flores rosa de meus galhos”. (Sonia Quartin).

... - Apenas uma arvore não uma qualquer... Era uma cerejeira em flor, na beira do caminho. Nunca tinha visto uma cerejeira igual. Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu redor. Só ela, ali, imponente e ao seu lado um pequeno riacho de águas claras. Visão maravilhosa. Um oásis dos deuses do paraíso naquele campo seco. Uma historia simples, mas para não esquecer jamais.

                   Bela caminhada na Estradinha do Neco Pastor. A Patrulha sorria mesmo com o sol inclemente. Era a primeira vez que arriscávamos a passar por ali. Eis que uma visão incrível apareceu... Assim do nada. Muitos disseram que seria lembrada por toda a vida. Dizem que só os escoteiros têm o privilegio de ver e ouvir coisas, pois eles têm o dom de enxergar de outra maneira a natureza hoje perseguida de maneira implacável pelos homens. Acredito piamente que isto é real. Éramos seis amigos escoteiros a seguir na pequena estrada. JG e Palestro seguiam juntos à frente, Nico Landi, Portentoso e Calango mais atrás dando risadas, devia ser uma boa piada escoteira. Eu olhava os pássaros a procura de um Bem ti vi cantante. Cortamos caminho para chegar ao Tanque dos Afogados. Não morreu ninguém lá e nem é um tanque. Uma represa pequena, dócil, rasa, de águas cristalinas que por duas vezes ali estivemos acampando. Sempre passamos pela estrada do Marquês mais de doze quilômetros. Não lembro quem deu a ideia de cortar caminho passando por um vale entre duas montanhas. Eu sabia que nem sempre as boas ideias prevalecem. Passava da uma da tarde. Um sol a pico e queimando. Quase quatro horas de caminhada. O suor escorrendo pelo rosto, os olhos vermelhos e o chapelão de três bicos faziam às vezes de um protetor carinhoso, mas que pouco ajudava.

                  Um local descampado, sem árvores, quem sabe para pasto do gado que ao longe pastava calmamente. Pensei em parar, mas sempre um animando dizia: - Vamos chegar! Vamos chegar! É só encontrar o riacho das Vertentes. E a sede chegando e o riacho não chegava. Uma fome brava. Nem um biscoitinho a solta. Já respirava com dificuldade quando avistei o paraíso. Um riacho e uma árvore. Não uma árvore qualquer. Era enorme. Incrivelmente linda! Incrivelmente bela! Nunca tinha visto uma cerejeira igual. Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu redor. Só ela, ali, imponente e ao seu lado o pequeno riacho de águas claras. Visão maravilhosa. Um oásis dos deuses do paraíso naquele campo seco. Incrivelmente maravilhosa. Molhei o rosto calmamente. A sombra da cerejeira nos dava uma sensação de calma silenciosa e gostosa. Uma brisa fresca soprava de este para oeste. Sentamos embaixo próximo ao tronco. Pés levantados. Dizem ser bom para a circulação. Dez minutos, quinze, vinte. Uma hora. Ninguém animava em partir. Estavam todos no mundo dos sonhos coloridos que só os escoteiros possuem.

                 A tarde chegou mansamente. O sol estava se despedindo e prometendo voltar amanhã. Vermelho atrás das montanhas verdejantes. Ainda de olhos fechados lembrei que tinha lido não sei onde – “A flor de cerejeira cai da árvore na primeira brisa mais forte, mas não dizemos que ela nunca viveu. Uma flor que só dura um dia, não é menos bonita por isso”. Não queria abrir os olhos. Não queria partir. Eu tinha encontrado o paraíso. Não disseram que o tempo é relativo? Que a flor da cerejeira, por exemplo, dura apenas uma semana e mesmo se durasse mil anos ainda seria efêmera? Flor tão bela como ela não merecia durar eternamente? E o que é eterno se não o que dura com tamanha intensidade? Dormi. Não queira acordar. Agora a cerejeira não dava mais sombra. Não precisava, a noite chegou escura, mas logo o clarão das estrelas no céu dava o seu espetáculo a parte.

                Reunião de Patrulha. Partir? Cinco a zero para ficar. Um foguinho. Uma sopa, um café na brasa. Cantávamos baixinho a Árvore da Montanha. O céu estrelado ainda dando seu espetáculo maravilhoso. Um cometa passou correndo deixando um rastro brilhante. Fiz um pedido. Que a cerejeira em flor durasse para sempre! Aos poucos alguns dormiam. A cerejeira das folhas rosa era nossa barraca. O tempo passou. Ao lado anjos velavam o sono dos escoteiros. Abri os olhos mansamente, uma réstia de luz aportava lá por trás das montanhas distantes. Era a madrugada chegando. O novo dia chegava sem fazer alarde. O orvalho caia de mansinho. A brisa eterna amiga não nos deixou. Um acalanto para nos dar um novo vigor no dia que chegava sem fazer ruído. O riacho ao lado parecia cantar canções de ninar. Pequenos peixinhos nadavam como a nos dizer bom dia!  Mochila as costas. Olhares e sorrisos vontade danada de ficar. Eis que o Monitor chama: - Escoteiros avante! Pé na estrada, pois o sol agora já estava firme no horizonte. Nosso destino? O Tanque dos Afogados. E lá fomos nós, em marcha de estrada sorrindo, mas saibam que nunca mais, em tempo algum, nós nos esqueceríamos da árvore das folhas rosa. Cerejeira em flor. Um amor, uma lembrança que ficou marcada para sempre!

sábado, 25 de abril de 2020

Lendas da Jangal. A lenda de Sasquatch, o lobo solitário da Montanha de Cristal. Uma história para lobinhos e escoteiros.




Lendas da Jangal.
A lenda de Sasquatch, o lobo solitário da Montanha de Cristal.
Uma história para lobinhos e escoteiros.

Era uma vez... Esta é uma história de um lobo, um lobo solitário que nas madrugadas vagava pela Montanha de Cristal com seu uivo sinistro como a pedir à ajuda que nunca teve. Dizem que ele chorava que em seus olhos negros havia sempre uma lágrima a cair. Não é uma história de um final feliz. Sei que os lobos nas montanhas andam em matilhas, o mais forte protege o mais fraco, mas quando ele está Velho, sem condições de sobrevivência é deixado pelos demais e morre uivando de fome sede e frio. Mas deixe-me contar a vocês a história de Sasquatch. Foi Sandra quem o apelidou assim. Sandra foi outra que viu seu mundo desmoronar. Não vamos avançar a história. Melhor narrar parte por parte para que vocês conheçam melhor tudo que aconteceu com Sandra e Sasquatch, o lobo solitário da Montanha de Cristal.

Sandra tinha trinta e seis anos quando Otávio seu marido faleceu. Durante quatro anos agonizou em um hospital do SUS até que Deus o levou e quem sabe para melhor. Sandra não chorou. Chorou sim quando soube que ele tinha uma grave doença pulmonar e que não sobreviveria por muito tempo. Viveu quatro anos dos mais felizes em sua vida com ele e o tratando com o maior carinho. A doença consumiu tudo que tinham. Gastaram todas suas economias. Vendeu sua casinha que compraram com muito sacrifício. Não tiveram filhos. Otávio no primeiro ano de casado resolveu assim. Seis meses depois da morte de Otávio, Sandra ainda morava só. Uma irmã no nordeste escreveu para ela para ir morar com ela. Sandra não quis e resolveu ficar. Sua tristeza quando chegava à noite em casa do seu trabalho era enorme. Lia um livro, um programa de TV e ia dormir sonhando com Otávio ao seu lado.

A vida de Sandra era uma rotina. Foi Amélia sua colega de trabalho quem mudou tudo. – Preciso de uma assistente. E você vai me ajudar disse. – Sandra riu e aceitou. Quem sabe o Escotismo lhe daria um novo caminho? O tempo passou. Amélia casou e saiu do Grupo. Sandra ficou em seu lugar. A Alcateia passou a ser um pouco sua vida. Dedicava de corpo e alma aos seus lobinhos. Adorava os meninos e as meninas. Fez curso, aprendeu muito em outras alcateias que visitou e acantonou. Tonho e Marilda eram suas assistentes. Baloo e Bagheera. Os lobinhos e as lobinhas tinham verdadeira adoração por eles. Sandra já não mais se sentia só. O escotismo deu a ela nova motivação e uma filosofia de vida que ela nunca esperava.

Tudo aconteceu em julho. Anualmente sempre faziam um acantonamento no Rancho Fundo do Seu Leôncio. Seu Ruan proprietário adorava os lobos e dizia enquanto fosse vivo aqui será um rancho de lobos! Atrás da casa sede tinha uma montanha. Linda. Muitos bosques e uma nascente. Sandra quando ia ali ficava horas e horas a olhar para ela. Chamavam-na de a Montanha de Cristal. Sandra não sabia por que, mas no dia da viagem para o acantonamento bateu uma enorme saudade de Otávio. Três anos sem ele e ela não entendia aquela melancolia, logo agora em um acantonamento. Quem sabe por que ia só e os seus dois assistentes iriam à noite. Duas mães foram juntas para ajudar na cozinha e limpeza diversas. Chegaram, arrancharam, e logo começou as atividades. Iam ficar três dias.

À tarde do primeiro dia enquanto os lobos arrumavam suas tralhas para a noite e o banho Sandra olhava para a Montanha. Assustou quando avistou um Lobo parado em uma pequena trilha olhando para ela. Não sabia o que fazer. Entrou correndo na casa sede. Olhou pela janela. O lobo se afastava. Mancando. Notou que sua perna direita estava quebrada. Sentiu pena dele. Sem perceber o chamou de Sasquatch. Nada há ver com a história do homem de neve que contam por aí. Ela saiu de novo da casa. O lobo parou e voltou. Ela notou seus olhos tristes. Parecia que lagrimas caiam. Não era possível. Ela devia estar enganada. Lobo não chora. Viu que ele se aproximou dela. Lambeu seus pés. Ela foi até a cozinha. Cortou um pedaço da carne do almoço do outro dia e deu para ele. Ele olhou para ela com os olhos húmidos e balançou a cabeça como a agradecer. Não comeu a carne. Pegou entre os dentes e subiu a trilha que levava ao alto da Montanha de Cristal.

Sandra acordou várias vezes. Jurava ouvir uivos enormes. Acordou pela manhã e alguém uivava lá fora. Era ele. Sasquatch. Sempre mancando. Sandra aproximou dele e ele deixou que ela o acariciasse. Viu que a perna estava curta e tinha sinal de perfuração de bala. Um caçador malvado só podia ser. Ela o olhou nos olhos, viu o brilho firme a encará-la. Foi de novo buscar alimentação para ele. Ele ajoelhou e balançou a cabeça. Deu um enorme uivo pegou a carne com os dentes e de novo seguiu a trilha da montanha. Vários lobinhos viram o lobo, tentaram se aproximar, mas ele mancando corria. Só com Sandra ele se deixava acariciar. Assim foram os três dias. No último ele fez um sinal para ela. Parecia saber que ela ia embora. Andava em direção à trilha, parava e olhava para trás. Sandra o seguiu. Não andou muito e ele entrou em uma pequena caverna.

Sandra ficou com medo de entrar lá. Por diversas vezes Sasquatch chegou à entrada e fez o sinal para ela entrar. Resolveu segui-lo. O que viu foi de estarrecer. Dois lobinhos recém-nascidos mortos e dois vivos entre a vida e a morte. Tinha carne junto deles, mas não conseguiam comer de tão fracos. Olhou de novo para Sasquatch. Viu que ele era um lobo macho. A femea devia ter morrido, mas ele não abandonou os lobinhos. Filhos dele? Sandra não sabia o que fazer. Ele olhava para ela com carinho como a pedir que o ajudasse. Ajudar como? Ela tinha de ir embora. Sentia enorme pena dos lobinhos e sabiam que eles iam morrer. Fazer o que? Saiu da caverna. Olhou para o céu e perguntou a Deus o que devia fazer. Viu em uma nuvem Otávio a sorrir para ela. Era alucinação, ela não acreditava nisto. Resolveu voltar ao Rancho. Olhou para trás, Sasquatch ajoelhado uivava. Um uivo dolorido, choroso, e lágrimas caiam de seus olhos.

Sandra voltou. Colocou os dois lobinhos no colo. Iria levá-los com ela. Não tinha outra saída. Desceu com Sasquatch a acompanhando. O ônibus chegou e a lobada cantando tomou seus lugares. Brincavam com os lobinhos que já estavam recuperando suas forças. Sandra deu leite para eles que beberam sofregamente. Ao entrar no ônibus deu uma última olhada em Sasquatch. Ele uivava e ela não sabia se de alegria ou tristeza. Sabia que não podia levá-lo. Não tinha condições. O ônibus foi saindo devagar pela estrada vermelha. Sasquatch tentou acompanhar, não conseguiu. Coxeava muito. Sua perna quebrada não deixava. Uivou muito e Sandra ouvia chorando baixinho. Quando o ônibus chegou à estrada asfaltada ele olhou pela ultima vez a Montanha de Cristal. Parecia que uma luz brilhante pairava sobre ela. Mas viu a figura novamente de Otávio sorrindo. Tranquilizou-se.

Dizem que durante muitos anos Sandra cuidou dos dois lobos. Um ela chamou de Lobo Gris e o outro... Sasquatch. Por onde andava os dois lindos e enormes lobos a acompanhavam. Um de cada lado. Disseram-me que ela voltou muitas vezes a Montanha de Cristal. Foi até a caverna onde os lobos nasceram. Levou Gris e Sasquatch e eles uivaram por muito tempo como a lembrar de seu pai que deu a eles um grande carinho e amor e porque não a vida. Ao retornar ouviu bem no alto da montanha um uivo enorme. Sabia que era ele. Olhou para lá, não viu nada. Mas sentiu um calafrio. Não era ele em vida, mas ali estava seu espirito como a agradecer o belo gesto de Sandra. E posso garantir as mil e uma historia que um dia irei contar, Sandra viveu feliz para sempre na companhia dos dois lobos. Sei que ficaram amigos para sempre! E contam até hoje que uma estrela brilhante paira todas as luas cheias por cima da caverna da Montanha de Cristal. 

terça-feira, 21 de abril de 2020

Lendas Escoteiras. O pecado de todos nós.




Lendas Escoteiras.
O pecado de todos nós.

... - O corpo e a alma precisam de novos caminhos para se unir harmoniosamente. “O futuro bate à nossa porta, e todas as ideias - exceto as que envolvem preconceitos - terão chance de aparecer e serão valorizadas pelas pessoas”.

- Disseram-me uma vez que ser feliz não é pecado. A felicidade é desprezada por muita gente. É irritante ver alguém naturalmente lindo, rico, simpático, inteligente, culto, talentoso, apaixonado e, ainda por cima feliz! Estou citando isto porque quando conheci Diego pela primeira vez ele era quase tudo isto. Ele conseguiu dar alma ao Grupo Escoteiro Ventos do Norte. Trouxe o sorriso que faltava e todos ali o amavam. Um invejoso comentou que seu jeito, sua maneira de falar e andar, sua voz cheia de trejeitos poderia trazer resultados danosos ao movimento Escoteiro. Diego apareceu do nada e do nada se solidificou como pessoa importante na parte burocrática e em tempo algum alimentou seu sonho de um dia ser um Chefe Escoteiro ou de lobinho. Doutor Janílson o Presidente não sabia de onde ele veio. Não tinha filhos no Grupo e alguns o conheciam na cidade porque era gerente nas Lojas Abil, famosa pelos seus vestidos feitos pelos maiores estilistas do mundo. Ali se encontrava um Gabriell Miuccia Prada, um Bonheur Chanel, um Christian Dior ou mesmo um John Galliano sem falar nas famosas bolsas Louis Vuitton.

Era bem quisto pela sociedade local e muitas madames o procuravam para ser atendidas por ele. Diogo tinha um grande amor. O Escotismo. Como surgiu ninguém soube. Era incansável na colaboração ao Grupo Escoteiro. Conseguiu com suas amizades vultosas colaborações financeiras para o Grupo. Nunca fez a promessa e com seus olhos brilhantes admirava quando alguém no cerimonial jurava a Deus e a Pátria Ele sonhava em fazer a promessa, mas sabia que no Grupo Escoteiro seus trejeitos eram considerados anormais havia muito preconceito por pessoas como ele. Ele respeitava a todos. Mas não era o que pensava Jonny Vampuso. Ele mesmo se perguntou varias vezes se poderia estar no meio escoteiro um sujeito que era conhecido como um homossexual ou um sapatão.

Uma das maiores alegrias de Diogo foi quando a Akelá Sophia o convidou para ajudar no acantonamento distrital. Ele nunca se sentiu tão feliz. Parecia estar em casa, ou melhor, no paraíso. Os lobinhos o adoravam e os chefes passaram a ter por ele um carinho todo especial. Quando retornaram pensou que o Doutor Janílson o convidaria para ser um assistente. Mas nada aconteceu. Ele não sabia que seu algoz Jonny Vampuso o condenava no grupo e boa parte do Distrito e região. Sabemos que pessoas preconceituosas, são reflexos de defeitos não revelados por eles mesmos. Um dia foi chamado no Escritório Regional. O Doutor Janilson se desculpou e não foi com ele. Diogo sentiu-se um cordeiro a mercê dos lobos.

Eram quatro dirigentes. Sisudos. Cara feia. Nem um sorriso. Eram chefes Escoteiros zelando pelo bem da moral escoteira.  Fizeram mil perguntas e no final da reunião um querendo mostrar ser boa praça o convidou para um café. Falava baixinho, sobre o que pensavam dele, sobre os resultados maldosos que o escotismo poderia ter com sua presença, chegou até a citar Paulo Coelho que disse que quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. – Você meu amigo ele disse, sabe que não o aceitam em todos os lugares, sei que isto é cruel. Aceite meu conselho peça demissão e vá embora do Grupo Escoteiro. Vamos evitar rusgas e processos inúteis.

Diogo foi para casa com a alma ferida. Ele sabia quem era e o que pensavam dele. Chorou no ônibus, e a tristeza o invadiu por muito tempo. Pediu demissão de um cargo que não tinha e saiu do Grupo Escoteiro Ventos do Norte. Ficava aos sábados sonhando com seu passado Escoteiro que para dizer a verdade nunca existiu e nunca iria existir. Ele sabia que as nuvens das tristezas são como o vento. Quando elas desaparecem o dia fica mais lindo. Pensava em enfrentar os maledicentes, dizer que eles não eram os donos da verdade. Falava para si mesmo que nunca devia deixar de fazer algo de bom que seu coração pede. Se isto acontecer o tempo poderá passar e as oportunidades também.

Quando naquela tarde Jonny Vampuso entrou na loja com sua noiva para comprar um vestido ele pensou em não atendê-lo. Afinal ele sabia que o dedo duro foi ele. Porque fizera isto? Ele nunca lhe tinha feito nenhum mal. Ele sabia que seu coração não podia odiar. O atendeu até melhor que muitos que ali estiveram. A noiva de Jonny Vampuso se encantou com Diogo. Na saída Jonny Vampuso num impulso de bom Escoteiro foi até ele e lhe pediu desculpas. Diogo pensou consigo se aceitaria seu pedido. Ainda tinha uma mágoa guardada em seu peito. Sabia que Jonny Vampuso errara e não lhe negaria o perdão. Pensou mesmo em não apertar sua mão. Mas quando viu que ele lhe dera a esquerda, aquela que dizem ser do coração ele aceitou. Quando Jonny Vampuso foi embora as lagrimas desceram novamente.

A vida escoteira de Diogo encerrou ali. Naquele mesmo dia dois menores entraram para roubar e deram um tiro certeiro em Diogo. Morreu na hora. A sociedade em peso tristonha, mas não participativa não foram as suas exéquias. As Madames que ele sempre atendia com presteza e que sempre o trataram como um cão fiel também não foram. Ele sabia o que as madames queriam. Ele sempre elogiava dizendo: Eu posso reconhecer a senhora entre mil. Os seus passos têm a magia das grandes senhoras. A sua voz Madame é o sinal maior do meu momento feliz e às vezes Madame não precisam nem falar eu sei o que quer!

Eu fui ao enterro de Diogo. Simples. Nenhuma Madame presente. A sociedade não perdoa bajulação sem motivo. Escoteiros? Uns cinco lobos e a Akelá chorosa. Doutor Janilson apareceu para dizer olá e se foi. Jonny Vampuso também apareceu e ficou pouco tempo. Quando a terra sagrada o cobriu avistei uma senhora magrinha, vestida simplesmente, com um menino nos braços e em uma das mãos uma menina de uns oitos anos chorando. Não tendo mais ninguém lá elas se aproximaram da última morada de Diego. Fiquei curioso. Aproximei-me. – Vocês o conheciam? – A menina chorando e soluçando disse – Era meu pai! A Senhora me contou que era sua esposa. Ele fez um trato com ela quando casaram. Tenho meu amor que fingir o que não sou. Meu trabalho me obriga. A sociedade que eu atendo sente-se satisfeita com minha voz, meus trejeitos e sabe, um dia vamos embora daqui.

- Que vida, pensei. O acusaram de ser o que não era. Mas de quem seria a culpa? Dele? Dos que viveram a sua volta? Ou dos preconceitos que norteiam uma sociedade que não aceita os direitos dos que se acham possuídos dele? Que os anjos estejam com você Diogo. Para sempre!

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....