terça-feira, 30 de abril de 2019

Crônicas de um Chefe Escoteiro. Nas asas da imaginação. Mamãe! Eu vou acampar!




Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Nas asas da imaginação.
Mamãe! Eu vou acampar!

       Mamãe! Por favor, não chore! Eu disse que voltarei, eu não vou para a guerra, eu vou acampar, pois sou um bom escoteiro e já volto. Irei aprender a ser homem Mamãe! A senhora ouviu o Chefe falar, que aqui é uma escola de honra! Aqui se aprende à ética e ter palavra, seguimos uma lei e nos orgulhamos de segui-la. Temos na mente nosso Herói Caio Martins. Não foi ele quem disse que todos nós devemos andar com nossas próprias pernas Mamãe? A senhora não quer me ver crescer e depois se orgulhar em saber que sou um homem de caráter? Eu vou acampar minha Mãe. Eu vou pisar nas terras puras do meu país, vou sentir a natureza em meu coração. Deixe que leve seu espírito comigo, me dá um beijo e um abraço e enxugue estas lágrimas. Elas estão fora de lugar. Minha querida Mamãe reze por mim e por meus amigos. Peça a Deus que ele nos proteja, pois ele nunca deixou de proteger os Escoteiros. E quando voltar Mamãe eu estarei sujo por fora, mas limpo por dentro e quem sabe apesar de que o Escoteiro está sempre limpo, mas se isto acontecer não se preocupe, estou aprendendo a ser homem.

        É Mamãe, agora sou um Escoteiro, e isto significa muito. Poderei olhar as águas do oceano de outra maneira. Vou entender porque as ondas do mar se arrebentam na praia, Irei entender as gaivotas que voam pelo céu azul. Irei aprender a beber na cuia onde fica a nascente, a pureza daquelas águas que nos dão a vida. E sabe Mamãe, vou dormir em uma barraca junto aos meus companheiros e me deliciar com os sons da floresta. Afinal Mamãe não diziam os poetas que sem sonhos, a vida é uma manhã sem orvalhos, um céu sem estrelas, um oceano sem ondas, uma vida sem aventura, uma existência sem sentido? Ah! Mamãe! Enxugue estas lágrimas, seu filho vai partir, mas vai voltar. São poucos dias e eu pensarei em você. Nunca vou esquecer a minha querida mãezinha. Você sabe que sempre estará em meu coração.

        Quando chegar na floresta eu vou ver as aves que moram lá, verei os peixes que pulam na lagoa encantada, vou andar nas trilhas da imaginação e ver as pegadas dos animais. Como deve ser belo Mamãe poder sentir a brisa da madrugada, olhar o nascer do sol, o cantar da passarada vai ser um doce amanhecer. Mamãe deixe eu lhe dar um beijo, neste teu semblante preocupado, nesta tua tez franzida, nos seus olhos molhados e pedir para sorrir. Sorria mamãezinha querida, seu filho já vai crescer. Ele vai aprender a cozinhar. Pode Mamãe? Será que vou gostar? Ah! Mamãe eu acho que vai ser o máximo em minha vida. Vou poder sentir o aroma da minha refeição, me lembrarei da senhora e seus quitutes imortais. Mas farei coisas difíceis de imaginar. Na montanha que escalarei vou avistar o mundo aos meus pés.  Poderei dizer às nuvens que agora sou uma delas. Quem sabe bem lá do alto irei ver o grande Gavião da montanha passar?

        Mamãezinha meu amor, te amo demais, mas preciso enfrentar a vida. Um dia eu vou crescer e preciso aprender as maneiras de viver como um homem respeitado. Quero aprender com a natureza o que aprendi com a senhora. Sabe Mamãe, me contaram tantas coisas que eu quero viver também o que os outros viveram. Quero fechar os olhos e ouvir o som de uma bica de águas cristalinas, vou beber a água da fonte, sentir seu sabor, deixarei que ela molhe meu rosto tão cheio de felicidade. Pois é mamãe, pense no seu filho feliz, junto aos seus companheiros, eles são bons Escoteiros e brincam de aprender a crescer. Eu quero também contar estrelas, pois eu nunca contei. Vou descobrir onde fica a constelação de Aquarius, quem sabe verei a Gemine o Caranguejo, do Escorpião e nunca terei medo, nossa Mamãe são tantas. Mas já conheço o Cruzeiro do Sul no hemisfério celestial sul. São tantas coisas no céu que penso que ele é imenso demais Mamãe.

         E o tal fogo de conselho que eles falam muito? Acho que amarei demais. Ver o fogo esvoaçante, querendo subir aos céus, as labaredas brilhantes a fazerem escarcéus. E as palmas minha Mãe? Dizem que elas são lindas, e os esquetes nunca esquecidos as risadas coloridas, alguém a gritar! – Sou o próximo! Disseram-me que farei parte em uma. Vai ser a primeira vez. E os aplausos Mamãe eu sei que serão demais. Pois eu vou me preparar com alegria e quem sabe serei um ator por um dia? É Mamãe dizem que no final do fogo todos choram, mas é de alegria, eles dão as mãos entrelaçadas e cantam uma canção tão linda que tenho de decorar! - “Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus”!  

        O último beijo de hoje Mamãe. O Chefe está chamando, a patrulha me esperando e tenho que partir. Irei acampar nos montes, nos altos dos horizontes para aprender ser alguém. Voltarei de novo a nossa casa e serei um homem digno, a senhora pode acreditar. Sabe Mamãe uma estrofe de um poema que não esqueço? – “Mamãe, um dia fiz a promessa, a todos eu prometi, que seria homem honrado, e do escotismo uma apaixonado, subindo lá nas alturas, em busca de aventuras, que só podemos encontrar no meu escotismo amado”. Adeus Mamãe preciso partir, a senhora que fica não chore com minha brusca partida, e se um amigo me procurar diga a ele onde estou. Que ele coloque a mochila aprume sua bandeira e cante uma bela canção, com um belo sorriso no rosto vai correndo me encontrar.

Adeus Mamãe, adeus não até logo, pois logo eu voltarei!

É gostoso é bom demais, sentir o cheiro do mato,
Ouvir o som do regato, o cantar de um sabiá,
Um vagalume perdido, o uivo de um lobo guará,
Lá ao longe bem distante, nas montanhas verdejantes,
Onde ele uiva errante, onde é o seu habitat.

Gente que coisa boa, beber água da nascente,
Tão fresca e tão brilhante, de olhos fechados sorrindo,
Sentir o orvalho caindo, no rosto de uma manhã.
Do som da passarinhada ao anunciar nos gritantes,
Até o grilo falante, cantando ao alvorecer.

domingo, 28 de abril de 2019

Contos ao redor da fogueira. Uma glória feita de sangue.




Contos ao redor da fogueira.
Uma glória feita de sangue.

Prólogo: - Nota - Panchito parou de contar. Ali no Bar do Ademir eu também deixei algumas lágrimas rolar. Uma luta de sangue em uma simples briga de galo! Um menino que aceitou um desafio. Uma luta de honra ou será que não seria melhor dizer: “Uma luta feita de Gloria e sangue”?

                      - Uma faca Bowie para o primeiro lugar e um Canivete suíço Fisherman para o segundo lugar! Manuelito arregalou os olhos. Era o sonho de qualquer escoteiro. Posso participar? Panchito sorriu. Sabia que Manuelito não tinha nenhuma chance. Olhe você pode escrever, mas o Chefe Jô pode não aceitar. Manuelito se lembrou do último jogo quando no final caiu ao chão com golfadas de sangue. Manuelito conhecia o Jogo Briga de Galo. Nunca se interessou. Achou que poderia se machucar. Agora não, era uma competição que o Distrito fazia e os prêmios eram de dar água na boca! Eu e Panchito bebericávamos uma caipirinha no Bar do Ademir. – Vado, não gosto de contar esta história. É triste e alegre. Marcou muito, mas teve raça, teve ideal teve sonhos e teve escotismo!

                       - No nosso tempo Vado Escoteiro o Jogo Briga de Galo era famoso. Hoje não mais. No Distrito 42, o Comissário Tomé fazia questão de todos os anos organizar um torneio. Durou anos. Conseguia no comércio local os prêmios. Vi que Panchito contava emocionado. – Vado, Manuelito era magro, raquítico e seus olhos brilharam quando pensou que podia ganhar. Logo ele? Para mim impossível. Manuelito procurou Lino Touro. Pioneiro famoso que foi um dos maiores ganhadores do torneio. Lino riu na cara dele. – Magrelo, não tem a menor chance! Não tem a mínima ideia no que vai se meter! Mas a insistência de Manuelito foi tal que ele resolveu ensinar alguns truques. Ele conhecia as técnicas, participou de lutas que duraram horas. Todos os dias Manuelito chegava cedo à casa de Lino Touro. Estudou tudo sobre Briga de Galo. Desenhou e treinava no tronco da Goiabeira. No recreio da escola treinava ficando em um pé só.  

                         Com uma semana sabia usar uma Asa Direita ou esquerda (os cotovelos em forma de V). Paquiderme seu Monitor pensou duas vezes em fazer sua inscrição. A escoteirada do distrito deram risadas e acharam que era uma piada de mau gosto da Patrulha Corvo. Na tropa a prévia de quem seria escolhido, todos se surpreenderam com Manuelito. Neco, Lastimer e Juventino não acreditaram. O Grande Dia chegou. As arquibancadas de madeira do Circo Garcia fervilhava. Dom Orlando Orfei fora Escoteiro e fazia questão de estar na cidade nesses dias. Orgulhava-se de seu Circo ser o escolhido para a grande competição. Quatros cidades seriam representadas. Os doze escoteiros finalistas foram apresentados sobre forte emoção. O Comissário Tomé do Distrito 42 fez a apresentação. Manuelito assustou com as vaias. – Tira o magrelo! Tira o “pistiado”! Se participar vai morrer! Gritavam em uníssemos.

                       O Jogo começou com o apito do Comissário Tomé. Agora era “guerra”! – A luta não parava. Manuelito como um herói sem bandeira chegou à final. Cofiava no uso do Joelho de Papagaio que aprendeu. Para ele fatal! Na semifinal enfrentou Matusalém. Ele deu risadas quando viu Manuelito. Está no papo disse! – Dois minutos depois e Matusalém estava esborrachado no chão. Ninguém acreditava no que via. Botelho Papa Léguas e ele foram os finalistas. Não havia apostas eram escoteiros, mas as arquibancadas fervilhavam. Um silêncio de morte quando a luta começou. Botelho não subestimou Manuelito. Seu Chefe o orientou como ele era. – Botelho, basta dar uma Asa de Direita na cara e você será vencedor. Está no papo! Botelho olhou nos olhos de Manuelito, deu alguns passos para trás fez oito longos com a Asa Direita e pegou Manuelito com um tiro certeiro no rosto.

                       Mesmo esquivando Manuelito sentiu uma dor incrível. O sangue enchia sua boca. Se soltasse seria desclassificado. Seu pai tinha prevenido sobre a hemorragia. Imaginava que duas ou mais veias do seu corpo tinham partido. Botelho Papa Léguas não tinha piedade. Deu uma Asa Voadora para terminar a luta de vez. Manuelito não chorava, pedia a Deus que o ajudasse, ele precisava ganhar o prêmio, era seu sonho. Manuelito saltou de lado e Botelho quase caiu! - Manuelito sabia que se não parasse iria morrer. – Deus! Não posso parar me ajude! Botelho Papa Léguas riu como vencedor. Deu uma asa esquerda para terminar de vez a luta. Manuelito não caiu. Pulou no ar e convidou Botelho a repetir. Rindo ele não se fez de rogado. Iria usar a Espora do Diabo. Um truque mortal. Podia machucar e daí? Quem entra na água é para se molhar! Não teria dó e nem piedade. Era escoteiro, mas ali a luta era de morte!

                     - Botelho partiu para acabar com Manuelito. A vida é cruel, mas reserva surpresas que ninguém acredita. Manuelito respirando com dificuldade, em um só pé, cansado, a boca cheia de sangue, esperou Botelho. Ele também tinha suas artimanhas que aprendeu com o Pioneiro Lino Touro. Quando sentiu o hálito quente de Botelho se abaixou e levantou em segundos pegando Botelho desprevenido. Impossível gritaram todos na arquibancada.

                      Como dizia minha avó, disse Panchito, “jogo é jogado e lambari é pescado”! Botelho Papa Léguas se esparramou no chão e perdeu a luta! Ninguém acreditava! Manuelito não conseguiu conter o sangue. Ele esguichou na sua boca e ele caiu desmaiado no chão. Ficou seis meses em tratamento. Voltou para a tropa, mas não era mais o mesmo. Uma tarde o Comissário Tomé chegou à sede. Após o cerimonial chamou Manuelito. Entregou para ele sua sonhada “Faca Bowie”. 

                        - Vado, foi uma das cerimônias mais marcante que já vi.  Toda a tropa em posição de sentido fazendo continência. Botelho chegou espavorido e abraçou Manuelito chorando. Manuelito viveu muitos anos. Descobriu que tinha tuberculose. Não curou, mas viveu escoteirando por toda sua vida!
        

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Negócio de ocasião. A venda um coração Escoteiro!




Negócio de ocasião.
A venda um coração Escoteiro!

Prologo: Quando se vê tantas discordâncias, tantas idiossincrasias diferente do escotismo que sonhei, quando se vê tanto egoísmo tanta prepotência, quando se vê pessoas que não tem a mínima noção de Espirito Escoteiro, quando se sente impotente na luta por dirigentes que querem a todo custo manter a pose de alguém que não é, a gente pensa que é hora de abdicar e passar a frente um velho e longo sonho escoteiro que parece não vai se realizar.

- Vendo a quem se interessar um canivete Suíço, usado por muitos anos e que serviu para limpar peixes que pesquei nos acampamentos que fiz. Vendo uma mochila verde musgo, que ganhei de um Capitão do Exercito lá pelos idos de 1951 em ótimo estado de conservação. Viajou em meus costados por longas jornadas me levou a lugares incríveis, serras e montanhas nunca imaginadas. Vendo um colchão feito de dois sacos de estopa, vazios, só fica cheio quando colocar o capim ou folha seca quando for acampar. Vendo uma marmita clara sem carvão, que ganhei de um soldado e nem sei se ele teve autorização para me dar. Vai junto um garfo e uma colher de pau que fiz quando tirei minha segunda classe lá pelos anos de 1952. A caneca eu não tenho mais. Uso folhas de bananeira ou de taioba que me servem sem reclamar.

- Vendo um lenço verde amarelo, quadrado da minha promessa de lobo, pois assim era usado e bem dobrado ainda em perfeito estado de uso. Vendo uma faca mundial simples, com bainha em perfeito estado e toda ela bem preservada com talco para não enferrujar. Vendo uma machadinha de Escoteiro, perfeita, cabo de madeira cortada de uma aroeira, envernizada, limpa, bem afiada e segue junto uma pedra de amolar que usei por muitos e muitos e muitos anos. Vendo um sapato Vulcabrás, usado sim, mas ainda pronto para percorrer léguas e léguas nas estradas de terra do meu Brasil. Vendo uma bússola Silva, quando fiz minha jornada de Primeira Classe em perfeito estado, sem quebras ou riscos. Vendo uma bússola Prismática, que ganhei quando Sênior do Chefe João Soldado.

- Vendo um bastão Escoteiro, duas polegadas de diâmetro, um metro e sessenta com ponteira de aço, com diversas marcas a fogo dos acampamentos que fiz. Tem a marca do Cordão Verde e amarelo, o dourado e do Correia de Mateiro que conquistei. Tem várias especialidades não tanto como hoje, mas me orgulho da de Sinaleiro, Mateiro, Construtor de Pioneirías, acampador cozinheiro e Socorrista. Vai junto uma bandeirola que ganhei de uma aventura no Pico da Bandeira e quem me deu foi um Policial Rural radicado na Serra do Caparaó. Vendo com uma dor no coração meu cantil francês, que um Escoteiro do Rio ganhou em um Jamboree no Canada e me presenteou. Está limpo, sua capa bem adornada sem manchas. Vendo cinco meiões já gastos, alguns puídos, pois viajaram por tantos lugares e guardam ainda belas recordações. Vendo um chapelão Escoteiro, de três bicos e garanto que ainda conservo as abas retas sem tortura. Tive três deles, mas só posso vender um os outros valem uma vida que nem posso mensurar...

- Com tristeza vendo também minhas estrelas de atividade. Todas de metal, algumas com cinco dez ou quinze anos e outras somente de um ano. Estão em perfeito estado, pois meu Chefe fazia questão delas brilharem. Vendo um livro de aventuras, onde anotei minhas noites e noites de acampamentos, fogos de conselhos, jogos noturnos, travessias em rios e balsas incríveis que hoje não existem mais. Vendo um sonho de menino que se realizou como escoteiro e dele nunca esqueceu jamais. Não posso vender minha honra escoteira. Dela não abro mão. Meu caráter seguirá comigo para a estrela que for me receber. Ainda guardo no coração o primeiro artigo da lei Pois o Escoteiro tem uma só palavra, nem posso vender ou ceder minha ética escoteira minha lealdade e meu cavalheirismo aliado à cortesia que nunca abandonei. Fica também sem oferta meus setenta e dois anos escoteirando e minha fé em Deus, pois sei que ele nunca vai me abandonar.

- Pensei em vender as estrelas brilhantes do céu que me acompanharam todos estes anos neste mundão sem fim. Os fogos de conselho que participei as canções que cantei as frases que fiz os tombos que levei.  Inegociável o sol meu amigo que não me pertence assim como e a lua espetada no céu. Desculpe não oferecer os milhares de cometas que passaram por mim em velocidades incríveis sem dizer adeus. Ah! Ia esquecendo, A coruja buraqueira minha amiga não me autorizou vender. O pardal o bem ti vi e a rolinha que me beijou um dia também não posso dispor. Quanto ao Lobo Guará, sempre desconfiado me dizia: - Nem pensar Vado Escoteiro, nem pensar...

- Quem se interessar espere minha partida e me procure em Capella, uma estrela distante onde irei morar quando partir. Está tudo lá, pois levarei tudo comigo amarrados em um cabo trançado que aprendi com um vaqueiro do nordeste e sempre bem apertado no meu cinto escoteiro que nunca troquei. Mas se um dia sentirem saudades das minhas histórias, venham sentar comigo em volta do fogo, da brasa ainda sem adormecer que todas as noites acendo na minha estrela.

- E então eu contarei a viva voz os dias felizes que escoteirando viajei nos meus sonhos e os transformei em realidades mil. Preço? Quanto valem? Não sei calcular. Venha se assente, use minha caneca e sirva de um cafezinho que está na chaleira na brasa. Faça uma oferta, e aguarde, pois mesmo decepcionado não sei se venderei meu sonho escoteiro. Ele não tem preço, são saudades que nunca irão se apagar na minha mente no meu sonho no meu orgulho de ser e acreditar que meu Escotismo está na alma e no coração de um Velho Chefe Escoteiro e nunca irá morrer.  

“DIGA NÃO AOS ESTATUTOS DA ESCOTEIRO DO BRASIL”!

terça-feira, 23 de abril de 2019

Lendas Escoteiras. No dia do escoteiro me enamorei de Luiza.




Lendas Escoteiras.
No dia do escoteiro me enamorei de Luiza.

Prologo: - Apenas uma história de vidas em comum muito parecida com muitos que fazem o mesmo. Escotismo é vida, mas família é tudo. Sem ela não pode e nem temos condições de pensar em uma filosofia escoteira. Cada um escolhe o seu caminho e todos nós um dia prestaremos contas dos nossos erros e acertos.

                  Era uma rotina. Sempre nas tardes de domingo Baltazar ia até a Capela do Sino e lá ficava até escurecer. Idade avançada sentia que a subida cada domingo ficava mais íngreme e pensava quando não conseguisse chegar mais lá. Já não rezava, disse para si mesmo que rezou tanto que nem sabe se estava vivo até hoje foi por causa da sua fé. Fé? Ele achava que tinha perdido.

                 Dezesseis anos vivendo sozinho e remoendo seus erros que no passado cometeu. Os dias felizes que passou ao lado de Luiza naquela capela nunca foram esquecidos. Nunca esqueceu aquele 23 de abril quando a conheceu. Pensou que seria uma marca de um amor escoteiro para sempre. Olhava o altar e a via tão bela no seu vestido de noiva e ele ao seu lado de uniforme Escoteiro sorrindo feito um amante apaixonado. Deus! Não posso voltar atrás? Se ela me deixou eu fui o culpado e me penitencio.

                  Descia e subia a trilha do morro do Sino quase de olhos fechados tantas e tantas vezes que se martirizava a relembrar os momentos felizes que estivera ao lado dela. Porque não cedi aos seus desejos? Maldizia-se a todo tempo em achar que a verdade era dele e de mais ninguém. Trinta anos juntos e ela não me entendia. Ou será que eu era que não entendia o que ela me pedia? –

                   - Baltazar! Ela dizia seja Escoteiro, mas não esqueça que estou ao seu lado. Amo você e não quero perdê-lo. Você não me dá mais atenção e vive para seus escoteiros. Ele olhava para ela como se ela não fosse sua companheira de tantos anos. Quando Noel nasceu ela achou que ele iria dar mais atenção a casa. Engano. Continuou o mesmo, acampando indo a Jamborees distantes, Camporees, encontros internacionais e gastando o que não tinha.

                   Foi um baque quando viu que Noel já crescido não quis ser Lobinho e depois Escoteiro. Mas eu o incentivei tanto! – Pensava que Luiza o induzia a não participar para não ficar como ele que não dava atenção a sua família. Trinta anos, e ele parou de ouvir Luiza e seus lamentos como sempre dizia. Não bastava dizer que a amava? Que ela era tudo para ele, mas o escotismo vinha em primeiro lugar. Seus amigos tentaram mostrar que ele não estava no bom caminho. Nada. Luiza passou a não comentar mais. Ele achou que agora sim seriam o casal que sempre sonhara ser.

                 Quando ele voltou de um acampamento Nacional no Sul, queria encontrá-la e contar à felicidade que teve as amizades que fez e o presente que trouxera para ela. Uma blusa de lã não tão cara, mas pensou que ela ia gostar. Ela não estava. Um bilhete dizia que tinha ido embora e nunca mais ia voltar. Não disse para onde e levou Noel consigo. Turrão disse para si mesmo: - Que seja prefiro viver sozinho com meu escotismo que ter alguém ao meu lado que não sabe me fazer feliz.

                O tempo passou um dois três trinta anos sem ela. Envelheceu. Não era fácil viver sozinho. Achou que ia acostumar e a cada dia, a cada ano mais sofria com a sua falta. Dona Norma cozinhava e lavava para ele. Podia pagar apesar de que cada dia o dinheiro rareava no seu consultório. Ninguem queria um médico que não tinha horário para atendê-los.

                  Foi Tomázio Chefe Sênior quem contou que a viu em Arara Vermelha uma cidade do outro lado do mundo onde morava. Matutou uma semana e sua lembrança não saia de sua memória. Pediu demissão ao Grupo Escoteiro e partiu atrás dela. Todos estranharam, pois era como se o grupo fosse dele e sempre levou sozinho sem assistentes. Nunca dividiu responsabilidades. Aceitava sugestões, mas a dele prevalecia no final. Muitos que entraram no grupo saiam em pouco tempo.

                 Como em todo Grupo Escoteiro ele tinha aqueles mais fieis que nunca o abandonaram. – Elejam um novo líder para vocês! – Eleger? Eles não fazia ideia de como seria. Mais de 65 anos com ele na frente de tudo. Quando partiu poucos foram despedir na rodoviária. – Não volto mais, disse. Em Arara Vermelha ficou seis dias procurando e no dia 24 de dezembro soube que ela estava internada em uma casa de repouso na saída da cidade. Encontrou. Ela sorriu. Seus olhos encheram-se de lágrimas. A mulher da minha vida e eu não soube valorizar.

              Ajoelhou-se aos seus pés e chorando pediu perdão. Reconciliaram. Ela tinha perdido a visão e uma das pernas devido à tuberculose avançada. Ele doou boa parte do que tinha para a Instituição que a acolheu. Viveu com ela até o último dos seus dias. Soube que Noel fora para os Estados Unidos e se tornara um cirurgião famoso. Dizem que tentou encontrá-la e não conseguiu.

                  No dia 23 de abril dia do escoteiro, dois anos depois foram encontrados mortos no quarto que moravam. Ambos sorriam e estavam abraçados como dois amantes apaixonados. Antes de sua morte mandou construir um Mausoléu simples onde mandou plantar muitas rosas e crisântemos, pois eram as flores preferidas dela. – Uma placa de bronze dizia: - Ela o perdoou. Agora vivem felizes para sempre no céu!

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Lendas escoteiras. (Um repeteco gostoso de reler) João Papudo que morava nas florestas verdes do Brasil.




Lendas escoteiras.
(Um repeteco gostoso de reler)
João Papudo que morava nas florestas verdes do Brasil.

            O aviso estava dado. Chefe João Soldado (era sargento, mas o apelido pegou) autorizou. Batista nosso intendente logo nos disse que não nos preocupássemos. O material estaria pronto em vinte e quatro horas. Platão o cozinheiro iria entregar a lista de mantimentos para cada um dia seguinte bem cedo. Tudo era dividido, ração C. Pedrinho o Monitor sorriu de orgulho da patrulha. Todos sabiam como e quando deviam fazer. – Sairemos na quinta pela manhã. Vamos aproveitar bem o feriado. A reunião de patrulha acontecia na casa do Mino Pastel o sub. monitor. Seriam quatro dias bem aproveitados. Destino? As Florestas Verdes do Brasil. Que nome eim? Mas foi Ditinho quem a batizou assim. Estivemos lá duas vezes. Na primeira vez ao chegarmos ao cume do morro do João Papudo ficamos abismados. A floresta era verde, um verde musgo lindo, no seu seio muitos Ipês das flores amarelas. – Ditinho, para ser o Brasil falta o branco e o azul, eu disse. Ele riu. Vado Escoteiro O céu meu amigo e as nuvens em sua volta.

         Ninguém nunca esqueceu João Papudo. Ele tinha no pescoço um papo enorme. Hoje chamam de Bócio que é devido ao aumento da glândula tireoide. Fácil de operar nos dias de hoje, mas naquela época não. Ficou nosso amigo pelo simples fato de o cumprimentarmos, tomar café com ele e comer sua “brevidade” uma das melhores que já comi. Ninguém gostava dele. Logo ele uma alma de Deus. Só por causa do papo no pescoço todos tinham medo e asco. Um absurdo. Na primeira vez que chegamos lá para acampar assustamos. Ele estava na porta com uma foice enorme. Ninguém se mexeu. – Um café? Ele disse. - Porque não? Respondeu Pedrinho. Daí para a amizade foi um pulo. Ele queria conhecer o grupo e a escoteirada. –Apareça amigo, será bem recebido. Nunca foi. Quando ele precisava fazer compras ou vender suas plantações só ia à cidade à noite, e enrolava no pescoço um cachecol para ninguém ver sua deformidade.

           Foi Motosserra, isto é o Lorenzo o escriba da patrulha quem deu a ideia de uma vez por mês fazermos uma campanha do quilo e levar para ele. Na primeira vez chorou e disse não. Ele não merecia. Não falamos nada. Deixamos lá e voltamos. Pedrinho colocou em votação qual o melhor local para acamparmos naquele feriado prolongado. Foi descartada a Lagoa da Lua Branca, a montanha do Gavião, o vale do Esplendor e as Campinas da flor vermelha. Eram ótimos locais, mas as Florestas verdes do Brasil ganhavam de longe de todas e iriamos saudar nosso amigo João Papudo. Dito e feito, seis da manhã café no papinho, pé no caminho. Sete e meia a bordo das nossas máquinas voadoras chegamos. Na porta ninguém. Estranhamos. João Papudo sempre estava lá nesta hora. A porta estava aberta e chamamos. Nada. Entramos, pois ficamos preocupados. João Papudo estava gemendo e suando na sua cama de palha. Seu corpo tremia. No chão vimos muita água e sujeira, sinal que ele estava ali há dias.

          O que fazer? Sabíamos que nosso acampamento nas Florestas Verdes do Brasil foi para o brejo. João Papudo tinha prioridades. Nunca iriamos deixá-lo ali a mingua e sem ninguém. Tinhamos que levá-lo urgente para o Hospital Santa Inês, o único da cidade. Mais de quinze quilômetros. Patrulha boa não se aperta. Luiz Nantes o Porta Corrente, nosso Sinaleiro e socorrista deu a solução. Mãos a obra. Duas horas e estava pronto. Fizemos uma maca com o toldo da cozinha, cada ponta amarramos em uma bicicleta. Usamos quatro e pé na taboa. Antes das onze estávamos na porta do hospital. Não o deixaram entrar. Ninguém se arriscou a ir ver o que se tratava. Pedrinho correu a chamar o Chefe João Soldado. Estava na sede do batalhão e veio correndo. Ameaçou, xingou fez tudo e eles nem deram bola. Foi até a casa do Juiz Ponderado e nada. Chamou o Delegado Praxedes e nada. Uma enfermeira Dona Adelaide nos chamou e deu uns comprimidos. Quem sabe ajuda? Com nosso cantil fizemos João Papudo tomar.

          Os Escoteiros e seniores do grupo estavam chegando. Uma aglomeração se fez. – Vamos levá-lo para a porta da prefeitura. Se o prefeito não tomar providências ele vai ver com quem estão se metendo, disse o Sênior Jovialto, nove anos no grupo. Tinha sido Guia de Tropa e todos tinham por ele um grande respeito. Aliás, tínhamos poucos amadores. O prefeito chamou a policia. Chefe João Soldado era policia. Nem deu bola. A patrulha Touro correu a sede e trouxe um enorme toldo da chefia. Armado com rapidez no jardim da prefeitura. Uma cama foi improvisada. João Papudo era tratado pelos Escoteiros na porta da prefeitura. Doutor Melão o prefeito foi lá reclamar. Pé de Pato um lobinho segunda estrela pegou na mão dele. – Doutor prefeito, venha ver como ele está. Afinal o senhor não tem coração? Ele deu meia volta e sumiu nas salas da prefeitura.  O povo aglomerava na praça em frente. Doutor Noel um medico antigo na cidade veio ver João Papudo. – Malditos disse – Um simples bócio faz dele um homem marcado? – Venham comigo a minha clinica.

               A história termina aqui. Doutor Noel tratou dele e conseguiu uma internação para operar na Santa Casa da Capital. Dois meses depois eu estava recebendo o meu Correia de Mateiro. Orgulhoso, já tinha o cordão dourado e o vermelho e branco. Esperando a Primeira Classe. Poucos conseguiam. Tinham de ralar para conseguir. Todo mundo olhou para o portão. Eis que ali estava João Papudo em carne e osso. Agora não tinha mais o papo. Orgulhoso levantava a cabeça como a mostrar – Nunca mais! Doutor Noel, vocês e Deus me deram a alegria de viver. João Bonito (mudamos o apelido dele) entrou na ferradura, foi saudado com uma enorme palma escoteira. Não teve jeito, chorou igual menino. Fez questão de dar um abraço em cada um. Abraço gostoso, sincero, amigo.

             Seis meses depois João Bonito fez a promessa. Nunca vi ninguém chorar assim. Vá lá, uma promessa é uma promessa. Nossa tropa ganhou um novo assistente. João Bonito era um novo homem. Trabalhava durante o dia na prefeitura (o prefeito com vergonha e não querendo perder as eleições o admitiu como auxiliar geral) e a noite estudava. Três anos depois terminou o curso Técnico em Contabilidade. João Papudo perdeu o papo, mas ganhou uma cidade. Hoje e feliz cortejando Dona Mocinha uma alegre e linda jovem do Bairro Tatu Bola. Ficou um Chefe Escoteiro todo pomposo. As Florestas Verdes do Brasil tiveram nossas presenças por muitos anos. A casa onde João Bonito morava foi jogada ao chão para uma nova estrada até Muzambinho. Histórias que se foram histórias de Escoteiros. E quantas mais por este Brasil imenso?

domingo, 21 de abril de 2019

Lendas Escoteiras. O céu pode esperar.




Lendas Escoteiras.
O céu pode esperar.

Prólogo: - Tentei segurar sua mão, queria dizer prá ela: - Lara o seu companheirismo e amizade foram os pontos marcantes e dignos de nossa admiração. Muito obrigado por tudo. Recitei para mim mesmo: - “Senhor, uns tem e não podem, outros podem, mas não tem. Nós que temos e podemos agradecemos ao Senhor”. Chorei, copiosamente... Engasgado na minha saudade não tinha mais nada a dizer!  

                              Ela me procurou no final da reunião. Nem bonita nem feia. Nem um belo sorriso tinha. Falava pouco, mas tinha um olhar encantador. Pela maneira de vestir devia ser pessoa simples daquelas que levantam cedo para trabalhar e só vão dormir quando a lua autorizar.  Entrou como se entra em um santuário que merece todo respeito. Não me olhou nos olhos, de cabeça baixa me perguntou: - Quanto? – Não entendi moça... Quanto vocês cobram para entrar? Agora me olhava como se eu fosse um santo ou quem sabe Papai Noel.

                              Expliquei. Não sei se entendeu. - Começo quando? Foi assim que tudo começou. Lara era de uma obediência canina. Sim senhor, sim senhor era assim que me respondia. Perguntei quantos anos e ela me disse que passara dos vinte e cinco, mas não tinha certeza. Era a primeira a chegar e a última a sair. Não se enturmou com nenhum dos chefes. Para sentir até quando ficaria lhe dei o cargo de colaboradora. Não discutiu nem perguntou. Até hoje não sei por que não fiz sua ficha de inscrição. Quem sabe pensei que no dia seguinte e ou nos próximos ela não voltaria mais.

                             Um mês, dois seis meses e ela firme nas suas obrigações. Sabia preencher questionários, fazia atas, montou um arquivo perfeito. Todo fim do mês lá vinha ela com sua mensalidade. Pontual no horário e nos pagamentos. No sétimo mês chorando me disse que não ia mais voltar. Sua hora havia chegado. – Que hora Lara? Não estou entendendo... – Melhor não entender Chefe, como disse o tal de Shakespeare? – “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”... Não despediu de ninguém, pois ninguém notou sua participação no Grupo Escoteiro por todo aquele tempo.

                            Um mês que ela se foi. Dois três e comecei a sentir sua falta, ou melhor, saudades... Olhei nos arquivos, não tinha sua inscrição, não sabia onde morava, se trabalhava se era casada ou solteira. De uma coisa eu sei às vezes ela olhava os meninos no pateo com um olhar de amor, de paz, e orgulho em saber que ela era mais um. Um dia pensei em dizer a ela que quanto maior a admiração, maior é o respeito e o amor. Mas ela entenderia? Que falta eu sentia dela. Enorme, brutal, incrivelmente saudosa.

                            Tibúrcio não gostava de ser chamado assim. – Chefe prefiro Tim Tim. Porque não? Procurou-me naquela tarde e displicentemente me perguntou se eu sabia o que aconteceu com Lara. – Olhei para ele espantando, nunca demostrei afeto além da fraternidade e amizade escoteira por ninguém. – Ela faleceu Chefe. Há dois meses. Trabalhava como gari no Bairro Resplendor. Entendi. Longe, nunca passei por lá. Sincronizando minhas palavras perguntei de que? Câncer Chefe. No pâncreas. – E como você sabe? – Chefe eu trabalho no posto de saúde daquele bairro, ela sempre aparecia lá quando sentia fortes dores.

                            Nina a Lobinha Cruzeiro do Sul, Tonico da Pardal e Laerte da Avanhagá esperavam a minha ordem. Já haviam se apresentado: - Chefe! Bandeira pronta! Meus pensamentos estavam longe. Coriolano Diretor Financeiro me cutucou: - Chefe a turma tá esperando há tempos! Acordei das minhas recordações. – Grupo Escoteiro Estrela Cadente, firme! A Bandeira em saudação!

                            Naquele domingo chuvoso fui até o Cemitério da Saudade. Nicanor o coveiro me mostrou onde ela foi enterrada. Não levei flores, levei apenas o sonho de um dia ter conhecido e apertado sua mão. Ajoelhei, antes de rezar fechei os olhos e parecia vê-la ainda triste sem um sorriso a me olhar com satisfação. Baixinho falei... Lara, você se importa se eu te olhar um pouco? Quero me lembrar do seu rosto para os meus sonhos. Ela sorriu. Foi sumindo em uma tênue nevoa branca que atingia aquela parte do campo santo.

sábado, 20 de abril de 2019

Lendas escoteiras. As névoas brancas do Rio Formoso.




Lendas escoteiras.
As névoas brancas do Rio Formoso.

Prólogo: - Dê a ele a aventura que gostaria de viver. Deixe-o seguir com os outros a procura de sua felicidade. A vida é ou uma aventura audaciosa, ou não é nada. A segurança é geralmente uma superstição. Ela não existe na natureza.

O nada é a profecia da minha partida
o tudo é sopro que busca aquiescer
sou uma cor do arco-iris... Perdida
o lume solar na gota de chuva a correr
para beijar a névoa que deita escondida
a deleitar-se nos braços do amanhecer. (Cellina).


                      Faz muito, muito tempo quando a Patrulha descobriu as lindas e espetaculares cachoeiras do Rio Formoso. Eram incrivelmente belas. Ainda sem rastros humanos. Pensei comigo que precisava acampar ali. Três quedas simultâneas, um som imperdível das cataratas caindo sobre as pedras e dando outro salto no espaço. Em volta uma floresta ainda inóspita a névoa se formava a qualquer hora do dia. Uma visão fantástica. Quando vi pela primeira vez eu estava com meu quatorze anos. Descobrimos por acaso. Íamos fazer uma jornada até o Serrado do Gavião onde existiam milhões de Folhas Secas. Um terreno vazio, sem árvores e muitas folhas. Era um mistério saber de onde vinham. Soubemos da história. Vamos lá disse o Monitor. Patrulha Escoteira vivida, cheia de ardor, procurando aventuras, vontade de enfrentar desafios e nada como descobrir. Está no sangue dos escoteiros.

                    O caminho iniciava na Mata do Tenente, famosa porque uma patrulha do exército ficou vinte dias perdidos e saíram com dificuldade, fracos e quase morreram. Bem, eles não eram escoteiros como nós. Risos. A mata não era um obstáculo e o rio sim. Com quatro horas de viagem, vimos uma bruma cinza que se espraiava no ar. A mata parecia que estava sendo tomada por chamas de fuligem. Que seria? O ribombar da cachoeira nos fez estremecer. Um espetáculo magnifico. Incrivelmente fantástico! A cachoeira formava redemoinhos no ar. Uma nuvem de vapor cobria certas partes da queda d’água. Os pássaros se deleitavam. Voavam de supimpa naqueles redemoinhos e saiam do outro lado molhados como se estivessem sorrindo. Não entendemos o porquê da névoa. O Rio Formoso era todo formado por quedas de diversos tamanhos e na falta delas, as corredeiras davam outro brilho aquele magnífico rio. Quem o batizou deveria ter sonhado muito com coisas belas, pois o Rio era formoso e dava um grande espetáculo.

                    Pretendíamos chegar ao Serrado do Gavião ainda naquela tarde se não parássemos nossa jornada só no dia seguinte. Aquele espetáculo da cachoeira com seu ribombar parecendo trovão nos hipnotizava. Sentamos numa pedra próxima e os barulhos das diversas quedas d’água eram tão intensos que mal dava para conversarmos. O ribombar das águas batendo nas pedras eram vigorosos.  Nosso Monitor levantou e fez o sinal para prosseguir. Mochilas as costas. Fomos em frente. Com tristeza, pois sabíamos que na volta o caminho não seria o mesmo. Voltaríamos pela Mata do Peixoto já conhecida. Subimos as pedras, olhamos novamente, pois íamos embrenhar na mata longe do Rio Formoso. Impossível prosseguir.

                  Aquela cachoeira nos hipnotizava. Parecia dizer para nós que não podíamos deixá-la sozinha na noite que estava por vir. Paramos. Um círculo de seis escoteiros se formou. Ir ou parar? Seis votos a favor, nenhum contra. Todos escolheram e Monitor aceitou. Escolhemos um local próximo à primeira queda para pernoitar. Não armamos barracas. Iriamos dormir sob as estrelas em pedras lisas que as enchentes do Rio Formoso por anos e anos construíram. Sem sinal de chuva. “Vermelho ao sol por, delicia do pastor”. A noite chegou um jantarzinho gostoso foi servido pelo nosso cozinheiro. Comemos ali mesmo olhando para as quedas no lusco fusco da tarde. Um espetáculo maravilhoso. Era uma visão dos Deuses.

                   Ficamos horas e horas sem conversar. O barulho era imenso. Cada um de nós meditava as maravilhas que nos são reservadas pelo Mestre. A noite chegou de mansinho, o espetáculo maior ainda estava por vir. Uma bruma em forma de nevoa branca foi tomando conta onde estávamos e penetrando na mata calmamente. Ainda estávamos mudos com o espetáculo. Cada um olhando. Aqui e ali um canto de um gavião e de uma coruja procurando seu ninho. Um Tuiuiú posou próximo a nós. Sabíamos que ele iria cantar para chamar sua femea. Não deu para ouvir. O ribombar da cachoeira não deixava. Tonico acendeu um fogo. Pequeno. As chamas se misturavam com a névoa branca. Raios vermelhos das chamas do fogo ultrapassaram a nevoa. Que coisa linda meu Deus! Seria uma lembrança para sempre. Na névoa se formou um céu colorido como se fossem milhares de arco íris noturnos. Ninguém queria falar. Ninguém falou em dormir. Não sei quanto tempo ali ficamos. Estávamos como encantados por uma feiticeira da selva que perdida no tempo  nos inebriou naquela névoa e nos fez esquecer quem éramos.

                   Acordei de madrugada. Amanhecendo. O rosto molhado com o orvalho que caia da bruma branca. Ela nos fez companhia toda a noite. Cada um foi levantando. Arrumamos nossa tralha. Comemos uns biscoitos para saciar a fome, pois tínhamos mais de cinco horas pela frente. Olhamos pela última vez aquelas quedas que nos levou sem saber a um paraíso perdido daquele rio que chamavam de Formoso. Calados e mochilas as costas nos pomos em marcha. Alguém olhou para trás, a névoa branca se dissipava. Deu para ver centenas de pássaros se molhando nos respingos da cascata imensa. Durante horas ninguém falou. Sempre olhando para trás. Somente o pequeno trovejar ainda se ouvia das quedas que já haviam desaparecido no horizonte. Nunca mais voltei lá. Ninguém de nós voltou. Passaram uma cerca de “arame farpado” em tudo. O homem só o homem resolvia quem entra e quem sai. Já não havia mais a natureza, pois foi substituída pelos desmandos do ser humano. Aquele que mesmo chegando depois dela, diz arrogantemente: “sou o dono da terra, dono da natureza”.

♫ “Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri”!
O que importa é vencer o mal, mantenha sua alegria,
“Não importa você se zangar, pois o mal vai acabar”! ♫

Quanto ao Serrado do Gavião é outra historia. Não deixou tantas saudades como as Névoas brancas do Rio Formoso.   

sexta-feira, 19 de abril de 2019

A passagem. Uma história, uma lenda da Jangal.




A passagem.
Uma história, uma lenda da Jangal.

Prólogo: - Lobos... “A Lei da Jângal vai lhe ensinar a dominar-se a ter segurança entre os novos amigos que irá fazer. Vai aprender que as Leis da sua nova morada que não conhecia vai te ensinar a amar a todos seus novos irmãos para o seu próprio bem”. E quando chegar a hora lembre-se a uma nova Promessa a sua espera. Tão sublime como a Promessa do Lobo e ela também tem traços de verdade que o farão feliz por toda a vida.

               Era uma vez... Havia muitos dias e muitas noites que Giovanna chorava. Ela não queria acreditar, pensava uma maneira de fugir e ficar ali para sempre na Alcateia. A Akelá, o Balu, a Bagueera sempre ao seu lado acalentando. – Chefe! Eu não quero sair daqui! – ela dizia. Eu quero ser lobinha para sempre. Não adianta me dizer que Mowgly um dia foi para a Alcateia dos homens, eu não sou Mowgly, eu sou uma lobinha da Alcateia de Seeonee que ele um dia participou! Chefe! Ela repetia, eu não sou o Shery Khan, não sou um tigre manco covarde e nem sou o Tabaqui aquele que permuta a própria honra para sua proteção. Não sou covarde e nem aduladora!  Um dia eu serei Hathi que se se fez respeitado pela sua experiência e sabedoria! – Nada, mas nada mesmo fazia Gigi mudar de ideia. Todos os chefes sabiam que ela tinha de passar para a tropa, sua idade e sua maturidade estavam chegando. Diversas vezes eles contaram as maravilhosas histórias de Mowgly, de Akelá o lobo cinzento forte e altaneiro. Do Baloo um urso pesado e grandalhão inofensivo, mas que era um amigão. De Bagheera a Pantera Negra de pelagem linda de seda. Astuta, intrépida, corajosa uma das poucas que compreendia bem Mowgly.

               Não tinha jeito. Gigi se tornou uma menina amarga em casa, na escola e na Alcateia. Tudo porque tinha chegado sua hora. Todos sabiam que este dia haveria de acontecer. No seu intimo ela achava que era Raksha uma loba valente e vigorosa que dava a vida pelos demais lobos. Contam nas alcatéias que os meninos e meninas ao entrarem na Jângal não sabem o que os espera. Eles vão atrás apenas das belezas e aventuras que a floresta oferece. Quando chegam aprendem que ali tudo é organizado, que existe leis a cumprir protegem-se uns aos outros e sabem que na matilha o primo é um irmão mais Velho que deve sempre ser consultado. Ela aprendeu que os erros acontecem na selva, e sabe também que todo erro será julgado, aconselhado ou se receberá uma punição, pois só assim a paz entre os lobos voltará a reinar. Tudo isto martelava a mente de Gigi. Ela lembrava como Naty chorou quando foi embora para a Alcateia dos homens. Ela chorou desde que foi obrigada a fazer a trilha. – Chefe! Ela contava, Naty me disse que não gostou da patrulha, não gostou dos Escoteiros!

                     A mãe de Gigi várias vezes procurou a Akelá para conversar. Ela sabia que um dia isto iria acontecer, as reuniões dos pais na Alcateia era uma gostosa vivência que fazia de todos eles lobos da Alcateia de Seeonee. Ela soube da história de Naty, pois Gigi lhe contou chorando. Chefe! Alguma coisa precisa ser feita. Quem sabe conversar melhor na tropa, tentar mostrar aos meninos e meninas que ali se encontravam que uma passagem significa muito. Gigi sabia que Tininho era para ela o Lobo Gris, seu melhor amigo na matilha verde. Sempre a avisava quando Shery Kaan estaria de volta. Era um irmão de verdade e ele sempre lhe disse isto. Eles eram um povo livre e na Alcateia a alegria reinava para todos sob a liderança de Akelá. Gigi adorava a Dança de Bagheera, a Dança de morte da Shery Khan: - ¶Mowgly está caçando, Mowgly está caçando, matou o Shery Khan, esfolou o come gado, Rá Rá Rá!¶ Ela adorava esta. Quando a Akela a escolhia para dizer melhor, melhor, melhor e melhor no Grande Uivo ela sabia que seria o dia mais alegre de sua vida.

                       Foi Kaa quem um dia contou o porquê Mowgly foi embora para a Alcateia dos homens. Contou tão bonito que ela ficou impressionada. - Gigi, ela dizia um dia Mowgly se cansou. O que os lobos faziam ele achava infantil. Tudo aquilo que para ele significava muito já não era como antes. Mesmo amando seus amigos ele se sentia do lado de fora da Jângal. Embora ele amasse seus amigos e os tivesse na mais alta consideração ele sabia que agora era importante para ele. Ele cresceu, viu na cidade dos homens um motivo para aprender a conviver e aprender como adulto uma nova vida. Sabe Gigi, o lobo ou a lobinha sabe que viveu e aprendeu os ensinamentos da selva. Mas agora crescido já tem maturidade para ver que precisa seguir adiante. A vida é assim, ela nos ensina a prosseguir sempre não podemos estacionar e pensar que aqui o vento sopra todos os dias com a mesma velocidade. Precisamos um dia ser o Mowgly, seguir com os outros para aprender a ser mais que um lobo. Se aqui na selva você se preparou, se amou seus irmãos se aprendeu a se defender do Shery Khan então chegou sua hora de partir. Isto nós chamamos de responsabilidade para com sua própria vida, a seguir as outras trilhas fora da floresta.

                       Gigi ouvia o Baloo e não chorava. Ela estava tentando entender. Ela olhou um pouco seu passado e viu que muitas das coisas que fazia era muito infantil. Quantas vezes pediu para a Akelá novos jogos, novas descobertas e até novos acampamentos mais fortes dormindo em barracas, subir em árvores, atravessar rios e tantas coisas que os lobinhos não faziam? Quando foi para casa Gigi conversou com sua mãe. Ela a abraçou e disse: - Olhe Gigi, você vai crescer, um dia vai-me dizer que precisa ter seu espaço, não vai mais querer morar aqui. Isto não vai significar que não me ama que não ama sua família. Vai chegar a hora de sair da sua segunda ou terceira floresta. Vai chegar a hora de você fazer nova passagem para sua vida adulta, para ter seu própria vida e o seu livre-arbítrio. No sábado Gigi disse para a Akelá que ela podia combinar com o Chefe Escoteiro sua trilha.

                       Naquele sábado ela estava preparada. A passagem foi linda e Gigi sabia que nunca mais iria esquecer aquele dia. Apertou a mão de cada lobo com um sorriso. Dizia para si própria que ia em busca de uma nova vida. Uma vida de descobertas para que ela pudesse assimilar mais seu crescimento interior. Todos fizeram a cadeia da fraternidade e uns poucos choraram. Ela não. Sabia que ia voltar sempre para estar um pouco junto deles. Quando vestiu seu uniforme de Escoteira Gigi sentiu orgulho e tristeza. Tristeza pequena por deixar o uniforme que amava, mas ela sabia que o novo ela o amaria também. Abraçou fortemente aos seus antigos chefes e se apresentou ao novo Chefe na tropa. Uma patrulha se aproximou e a convidou a dar o grito. Foi gostoso demais, foi formidável. Gigi agora sorria, Ela iria viver uma nova vida na cidade dos homens. Sabia que nunca desistiria de prosseguir a jornada que ela escolheu, ela sabia que tinha o escotismo na mente, junto dela e no seu coração Escoteiro!

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Lendas Escoteiras. A lenda da Iracema Escoteira e do Canto do Uirapuru.




Lendas Escoteiras.
A lenda da Iracema Escoteira e do Canto do Uirapuru.

Prólogo: - Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão. Canta Uirapuru, o Deus da floresta amante de Iracema e amigo de Tupã! Divirtam-se com a lenda do Uirapuru, aqui contada por escoteiros que um dia viram o Uirapuru cantar...

                  Conta-se uma lenda que um jovem índio guerreiro apaixonou-se pela esposa de um cacique. Ela também se enamorara dele, mas sabia que seria um amor proibido. Ambos sofriam muito, um amor à distância e sabiam que se um dia chegassem a se falar seriam mortos pela tribo. Com o tempo a esposa do cacique foi esquecendo seu amor, mas este sofria muito quando a via. Um dia ele amanheceu muito doente com febre. O Pagé fez tudo que sabia. Ninguem sabia que sua doença era de amor. Com tanto sofrimento pediu ao Deus Tupã que o transformasse em pássaro e assim poderia ficar ao lado da mulher que amava. Tupã o Deus da Bondade o atendeu. Todas as noites ele se aproximava de sua amada e cantava lindas canções de amor que só ela entendia. Mas o cacique com inveja resolveu aprisioná-lo numa gaiola e correu para capturá-lo e acabou-se perdendo na floresta. O Uirapuru agora um pássaro sabia que nunca haveria de ter sua amada. Só se ela descobrisse que ele era o jovem guerreiro que a amava. Isto nunca aconteceu. Diz à lenda que quem encontrar um na floresta pode fazer um pedido que se tornará realidade. Dizem que os nativos da floresta comentam quando o Uirapuru canta, toda a floresta fica em silêncio rendendo-lhe homenagens.

                 Os olhos de Iracema brilhavam quando lia e relia a lenda do Uirapuru. Não sabia quantas vezes leu, quantas vezes sonhou e dizem que ela entrou como escoteira porque acreditava que um dia iria encontrar o pássaro que amava. Muitos disseram a ela que são inúmeros os pássaros que encantam nas florestas seus cantos maravilhosos. Mas ela sabia que seu coração estava entregue a Uirapuru. Ela sabia que seu cantar magnifico capaz de improvisar incríveis melodias eram carregadas de profundas emoções espirituais. Ela conhecia o poliglota Sabiá, seu gorjeio, mas nenhum poderia imitar com a perfeição os trinados do Uirapuru. Na Alcatéia ela contava para seus amigos lobos os mistérios desconhecidos deste lindo pássaro, que quando canta há um silêncio total da natureza para ouvi-lo. A natureza fica muda. Os lobinhos se assustavam com suas historias. Quando passou para a Tropa escoteira Iracema levou consigo seus sonhos. Nunca acamparam em uma floresta densa, ela sabia que seria lá que encontraria seu amado Uirapuru.

                    O tempo passou e Iracema já Guia não esquecia seu amor. As amigas da patrulha compreendiam, mas os jovens seniores sorriam debochando quando ela em fogos de conselho chamava aos quatro ventos pelo Uirapuru, que ele viesse e cantasse sua melodia em forma de triste oração de agradecimento a Tupã, seu mentor. Rosaldo amava profundamente Iracema. Sempre a amou desde os tempos que eram lobos e escoteiros. Ela o aceitava como amigo e nada mais. Foi ela que no acampamento em Pedra Azul na beira do remanso do Rio Saudade disse para ele: Rosaldo, quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas, é de amor e poesia que estão falando! - Rosaldo não soube o que dizer. – Naquela tarde ele viu Iracema olhando para o céu, antes do anoitecer. Ele devagar fazia uma poltrona trançada só para ela, um presente para ela não esquecer que ele também existia. Calado ele sonhava e dizia para si: - Há quatro coisas misteriosas que eu não consigo entender: A águia voando no céu; A cobra se arrastando nas pedras; O navio que encontra seu caminho no mar; E o amor entre um homem e uma mulher.

                     O tempo foi passando célere. A idade chegou e a vida maravilhosa do Sênior e da guia agora eram somente saudades. Rosaldo não foi para os pioneiros, Iracema sabia que precisava continuar. Só com eles poderiam um dia ir a uma floresta densa, fechada, escura para que ela pudesse ver e ouvir seu amado Uirapuru cantar. Alguns pioneiros achavam que Iracema tinha problemas psiquiátricos. Não era possivel uma moça bonita como ela, não se interessar por ninguém a não ser por amizade. Sabiam que ela não fora Cruzeiro do Sul, não tivera interesse no Lis de Ouro e nem no Escoteiro da Pátria. Chefe Jonas o Mestre Pioneiro um dia perguntou a ela: - Não sonhas em ter a Insígnia de B.P? Ela sorriu e não respondeu. Naquela tarde observou Iracema olhando para o céu e declamando: - Bem-te-vi, Uirapuru, Pardal. Aves. Sempre belas aves. Emitem sons puros e calmos. No verde do mato, no laranja do sol, no azul do céu, no puro do ar. Tudo me lembra um lugar. Um lugar onde tudo pode haver, onde posso ser. Com todas as forças, ser Iracema do Uirapuru!

                      Um dia em uma reunião do Clã muitos pediram grandes aventuras, grandes atividades em um local inóspito, cheio de surpresas para acamparem. Foi Lorenzo um Pioneiro novato quem disse ter lido sobre uma floresta densa aluvia, nas terras baixas da Bahia com formação florística. Ela fazia parte da Mata Atlântica uma reserva florestal. Iracema ficou em pé, sem perceber bateu palmas, seu coração era como um grande tambor anunciando para breve rever seu grande amor. Era lá que iria encontrar o Uirapuru, o jovem guerreiro dos seus sonhos. Não dormiu bem até a data marcada, onde partiram para mais uma aventura pioneira, mas para o fato consumado de Iracema nunca mais voltar. Novamente ela se sentia como a águia queimando, querendo chegar às estrelas longínquas. Via Pícaro voando em céu cor de cinzas. Seria seu sonho em favor da Luz. Sua odisseia estava chegando ao fim. Mais um capítulo da sua saga. Ela sabia que precisava ser louvada, e em baixios calos dizia: - Água cristalina, água quem vem da colina, purifica minha alma e traz a calma para o fim da minha vida.

                    A história termina aqui. Ninguém nunca soube explicar para onde foi Iracema. Uma noite ela adentrou a floresta e não voltou nunca mais. Ninguém entendeu e as explicações surgiram no ar. Quem sabe Rosaldo que um dia foi procurar e só ouviu o cantar do Uirapuru? Ele sorria sabendo que lá estava Iracema a virgem que não era do mar e agora vivia seu sonho que acalentou por toda a vida. Dizem que em noites de lua cheia quem se atrever a avançar na floresta escura, ouvirá o Cantar do Uirapuru, sentado na beira da lua, e ao seu lado à bela Iracema cantando com ele canções de amor. É, são histórias que contam por este mundão de Deus. Não há fogo de conselho onde a lenda é lembrada, todos sonham com Iracema e seu guerreiro que contam por aí agora são dois Uirapurus a voar pelo céu azul. Eles como ninguém cantam lindas canções de ninar. Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão. Canta Uirapuru, o Deus da floresta amante de Iracema e amigo de Tupã!

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....