quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Contos ao redor da fogueira. Um Chefe chamado Trovão.



 Contos ao redor da fogueira.
Um Chefe chamado Trovão.

             Contaram-me esta história. Quem contou disse que nunca tinha visto um Chefe como ele. Perfeito em tudo que fazia. Eu recém no grupo acreditei. Nós novatos acreditamos em tudo. Disseram-me que era enérgico, cobrava sempre a postura e não aceitava atrasos. Dizem que por outro lado era um amigo e tanto. Nunca deixava ninguém só e conversava com todo mundo. Não era o chefão do Grupo Escoteiro e assim como chegou um dia desapareceu, mas sempre mandando um alô, um Sempre Alerta ou mesmo uma cartinha. Falaram-me que era um expert em escotismo. Dirigia cursos, viaja pelos estados do Brasil e ia muito ao exterior. – Olhe Chefe, ele me dizia: – Tornou-se para nós um grande amigo. Visitava-nos em nossas casas, sempre convidando para uma churrascada ou comer uma pizza onde rolava papos deliciosos acompanhado de bons chopes.

             - Acredite Chefe, nunca vi ninguém igual a ele. Chegou a arregimentar trinta pais do grupo, adestrou, deu cursos e dentre eles tivemos muitos Insígnias de Madeira. Nossa maneira de pensar mudou com ele. Ele nos fez sentir mordido pelo mosquito encantado de Baden-Powell. Lembro que nos mês de julho o programa indicava um acampamento da Tropa Escoteira. Os seniores iriam também, mas separados dos demais. Ele fez questão de deixar que cada um de nós aprendesse como preparar o material, a intendência, as caixas de patrulha, ou seja, tudo aquilo que os Escoteiros conhecem tão bem. Chefes que acamparam com ele se encantaram com seu estilo, mas reclamaram muito de suas exigências. Contaram-nos que ele fazia questão que todos participassem do banho das três e meia da manhã. Rimos quando soubemos disto, mas porque não? Sempre no primeiro dia de acampamento. Chovendo ou frio intenso ninguém podia faltar.

                  Chefe acredite, eu ri de tudo isto. Disseram-me que para ele era uma tradição e ninguém podia faltar. – “Que diabos” é isto? Eu pensei. Não entendi a finalidade. Mas se havia um respeito nato com ele e pelas “Barbas do Profeta” que eu aceitaria. No dia marcado partimos. Alegria geral. Chegamos cedo ao local. Lindo se quer saber. Um grande lago tendo em volta uma pequena floresta nativa. Havia uma bela clareira e a poucos metros acima corria um córrego com águas limpas e com uma pequena cascata. Mais acima uma bica que chamavam de Bica Molhada por todos que acamparam ali. Os monitores escolheram seu campo e nós ficamos em um campo próprio não muito distantes deles. Esqueci-me de contar do frio. As noites descia a dois ou três graus positivos. Contaram-nos que nas madrugadas facilmente chegaria a um ou dois negativos.

                  Tudo transcorreu nos conformes.  À tardinha, ainda com sol, todos se lavaram junto ao lago, e nós fomos até uma bica bem abaixo, que corria em bambus formando uma ducha sem igual. Um banho gelado delicioso. O Chefe Trovão não tomou banho. À noite após o jogo e da Reunião de monitores nos recolhemos. Nem nos lembrávamos do pedido do Chefe Trovão. Mas o danado apareceu na porta da barraca e disse que as três e vinte e cinco nos esperava próximo à bica da lagoa. Repetiu que aceitava desculpa. Não falou mais nada. Nesta hora foi que nos lembramos do tal banho. Achei um absurdo. Um frio de rachar. Para que isto? Pensei em discordar, mas vi o Chefe Trovão me olhando enviesado como a adivinhar meu pensamento. “Diacho” E agora? Como não podia fugir e os demais não comentaram, não falamos nada. Tínhamos todos enorme respeito pelo Chefe Trovão. Dormi preocupado. Era o cúmulo do absurdo. Se isto era escotismo meu pai era um macaco falante. Pensei até em ir embora no outro dia. Nunca passei por isto. Mas meu filho estava ali. Seria uma falta muito grande e uma tremenda decepção para ele. O jeito era esperar a madrugada, pois achava que aquilo não passava de uma piada.

                Não acordei às três e meia. Ninguém acordou. Não fomos chamados. Mas o Cléu um dos pais acordou dez minutos após e chamou a todos nós. Levantamos assustados, um frio de rachar. Enrolado em um cobertor nos reunimos em volta do que restava do fogo aceso frente às barracas. O chefe Trovão não estava na sua. Já tinha partido sozinho. O que fazer então? Cada um deu sua opinião no final, resolvemos ir até a ducha onde ele estaria e pedir desculpas. Não era longe nem perto. Uns 200 metros abaixo da lagoa. Saímos tiritando de frio. Na trilha todos nós sentíamos calafrios. Não acredito em fantasmas nem em alma do outro mundo. Mas não sei por que, talvez o silêncio, as arvores sombrias, sombras na lagoa. O medo me bambeava as pernas.

               Pé ante pé avistamos a ducha (ficava uns 10 metros abaixo de nós). Assustamos! O chefe Trovão só de short, debaixo da ducha que saia fumaça com o frio e com as mãos levantadas, parecia estar a rezar algum que não entendíamos. Um susto enorme quando uma luz brilhante apareceu. – Chefe, eu tremia mais que vara verde. Nunca em minha vida tinha visto nada igual. A luz foi aumentando e em poucos segundos, diversos vultos como sombras também lá estavam saudando o chefe Trovão. Pensei em rezar. Alí só podia ser a imagem do demônio. Em seguida o Chefe Trovão levantou as mãos para o céu e ficou acima do chão uns dois metros girando sobre si mesmo. Os vultos em uma espécie de dança ficaram rodando em sua volta. Um grande redemoinho foi formado. Não vi mais os vultos e o chefe Trovão. A luz brilhante começou a faiscar, lançando raios para todos os lados. Fugimos dalí esbaforidos, tremendo, alguns garanto que tinham molhado os pijamas, ninguém falou nada, todos queriam ir à frente e ninguém atrás.

              Cada um entrou em sua barraca, ofegando, esperando a calma chegar. Que nada, a tremedeira não passava. Não estávamos acostumados com isto. Os minutos foram passando, estávamos acalmando e eis que bem no inicio da trilha, pela fresta da barraca avistamos o chefe Trovão. Com um short curto, a toalha jogada nos ombros, assoviava alegre o “Acampei lá na montanha”. Parecia estar em uma praia num escaldante verão. Não mostrou curiosidade em saber se estávamos acordados. Fez uma pequena ondulação com o corpo, mexeu com os braços e se dirigiu a sua barraca. Ao entrar se voltou e abanou as mãos em direção à mata. Nada vimos.               No dia seguinte levantamos calados. Poucos conseguiram dormir.

              O acampamento cumpriu seu programa. Os escoteiros alegres, os seniores com seu grito de guerra, enfim uma grande exaltação de um programa que se não fosse o acontecido, poderia dizer sem similar. Retornamos no dia marcado. O Chefe Trovão parecia o mesmo. Professor, tutor, instrutor, mas sempre quando nos encarava, um sorriso maroto brotava para logo mostrar sua carranca de chefão. Na semana seguinte, notei que somente eu e mais dez pais ainda estávamos participando do grupo. Os demais assustados não voltaram mais. Um pacto de silêncio ficou entre os chefes que lá estiveram. Eu mesmo nem com minha esposa falei do assunto e do acontecido. Acho que todos tinham medo de serem ridicularizados. Mas acredito e disso não tenho nenhuma dúvida, que o Chefe Trovão tem parte com o coisa-ruim ou então com espíritos malignos, cuja visita recebe sempre no afamado “banho das três e meia e seu sabonete mágico”. Até hoje Chefe não entendi o porquê ele nos convidou. Quem sabe pode ter alguma lógica que nunca descobrimos.

                 Olhei para o Chefe que me contou esta história. Queria rir, mas ele estava sério. No sábado seguinte chegou um convite para um curso avançado da Insígnia da Madeira. Era o curso que esperava. Assustei quando vi quem iria dirigir o curso. Nada mais nada menos que o Chefe Trovão. Inscrevi-me. Eu precisava do curso e ia passar a limpo o Chefe Trovão e suas estripulias com o demônio. Aguardem meu segundo conto sobre esta figura fantasmagórica

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Lendas Escoteiras. As Sete Pragas do Rio Mimoso.




Lendas Escoteiras.
As Sete Pragas do Rio Mimoso.

Nota - “Que as pulgas de mil camelos infestem o meio das pernas da pessoa que arruinar seu dia, e que os braços dessa pessoa sejam curtos demais pra se coçar”... Assim dizia Rabequita. Divirta-se com a história dela. Foi o Chefe Lépido quem me contou. Não acredita? Reze para Rabequita não passar por sua cidade!

- Foi em Pocitos (Montevidéu) que encontrei Marco Emílio Lépido. O chefe Lépido. Gente fina. Ficamos amigos em um Seminário Internacional Escoteiro em São José na Costa Rica. Passaram quatro anos quando nos vimos pela última vez. Abraços, sorrisos e entre uma cerveja e outra os “causos ia acontecendo”. Lépido me disse que estava indo para a Cidade do Cabo na África do Sul. Contou-me uma história inacreditável. A principio duvidei, mas o escoteiro não tem uma só palavra? Olha Chefe estive o ano passado em Mimoso. Cidade pequena menos de vinte mil habitantes. No Grupo Escoteiro da cidade fiz muitos amigos. Após o término da Reunião diversos chefes e escoteiros sentados embaixo de uma Copaíba me apresentaram a Samuel. Um escoteiro de seus treze anos. Foi ele quem me contou da vida de Rabequita. Folclore da cidade. Moradora no Morro da tristeza nunca ia para sua casa. Ela apoquentava todo mundo, falava palavrões e todos corriam dela como o Diabo da Cruz. O Prefeito Bafodonça e o Dr. Pasquelino Chifruido Gonzaga Juiz de Direito tentaram várias vezes interná-la em um hospício.

O Delegado Praxedes já tinha desistido. – Se amanhã ela morrer do seu enterro passo longe. As Damas dos Bons costumes odiavam Rabequita. Só Samuel um Escoteiro da Patrulha Corvo era seu amigo. Todo sábado pela manhã ele a levava a sua casa, lhe dava banho, roupas limpas doadas por famílias escoteiras. Sua mãe com seus 85 anos sorria e apoiava. Rabequita gostava de Samuel. Após o banho e um almoço a deixava dormir algumas horas em sua cama. O Chefe Calango gostava da boa ação de Samuel. Em janeiro o calor tomou conta da cidade. Nada de chuva e as Damas dos Bons costumes rezavam para São Pedro e Até São Tomas que não sei se gostava de banho. A represa secava. Os escoteiros levavam sua vidinha sempre acampando e correndo pelas encostas com bandeiras ao vento. Rabequita dava gargalhadas com tudo aquilo. As Damas ficavam tiriricas da vida. Reclamavam com o Vigário Dom Casmurro Sempinto. Ele reclamou com o Bispo que reclamou com o prefeito e o Delegado que nunca fizeram nada com Rabequita.

Dom Casmurro tinha ódio de Rabequita. Ela só falava palavrões. Vá a m... Seu padre! – Dormia algumas noites no chiqueiro do Zé Minhoca só para ficar fedida e rodopiar nas procissões. Ludovico o novo Delegado meteu ela no xadrez. Achou que ia dar uma lição nesta “Sapopemba dos infernos”. O cheiro que ela soltou na delegacia foi demais. Teve que soltá-la. Samuel Escoteiro era quem resolvia. Sempre a procurava e ela lhe obedecia. - Delegado, tenha paciência. - Não me enches a paciência menino, ela não sabe com quem está lidando. Rabequita jogou uma praga e uma colmeia de abelhas africanas invadiu a delegacia. O escrivão e dois soldados sumiram e ninguém os viu por mais de dois meses. O Delegado Ludovico Prometeu chingava a Deus e o mundo. À noite na procissão Rabequita gritou alto: - Querem chuva? Vou lhes dar chuva! E ria. E gargalhava. Trovões ribombaram no céu. Um mundo de água caiu sobre Rio Mimoso. O povo alegre dançava. Um dia, dois dias, três quatro uma semana. A chuva não parava. A ponte desabou. Rabequita dançava na chuva.

A Tropa Escoteira pensou em cancelar o acampamento anual nas Pedras Lisas. Era o acampamento do ano. – Chefe disse Samuel, não cancele dê-me dois dias. Vou resolver. Foi atrás de Rabequita. Ela lhe deu a mão pensando que era hora do banho. Samuel falou baixinho no seu ouvido – Rabequita, se a chuva não parar não poderemos acampar! O delegado na janela ameaçou: - Se esta feiticeira acha que vai rir de mim está enganada. Pediu um rabecão em Mar das Vertentes e internou a doida no Hospício de Esperança Feliz. Levaram Rabequita a noite. Ninguém viu. Foi à conta. Em Rio Mimoso agora só noite. O dia não amanhecia. Uma semana e nada. A cidade em polvorosa. O Delegado Prometeu cismado. Cacilda! A fedida tem parte com o Demônio? Mandou trazê-la de volta. Ela o olhou e disse: - A próxima vez você vai virar um macaco prego comedor de fezes dos pássaros. Irá morrer de tanto comer banana! O dia clareou para alegria de todos. O Prefeito Bafodonça o juiz e o delegado reuniram a fina flor da sociedade local. O que fazer?

                    Chamaram o Escoteiro Samuel. Quem sabe podia aconselhar. Querem resolver? Disse ele arrume uma casinha boa perto do Cemitério do Paletó Preto. A cada dez dias mande o Senhor Marombático do Supermercado Preço Alto entregar uma cesta de mantimentos. Não esqueçam duas caixas de charutos cubanos importados. Igual aos que o Ex-Presidente/Presidiário Lula fuma. Ele é caríssimo! - Disse o Prefeito. Durante cinco meses a paz voltou a reinar na cidade. Um dia Marombatico não cumpriu o prometido. O inferno voltou. Milhares de pássaros, cobras e macacos encheram as ruas e quintais. Samuel naquele sábado levou Rabequita para seu banho. Ela disse que ia embora. Antes deixaria a cidade feder por um ano. Samuel não gostou. No domingo o mau cheiro começou lá para os lados da sede do Perneta Footboll Club. A cidade em peso de mascaras. Janelas fechadas. O ar viciado.  Samuel intercedeu de novo. O cheiro desapareceu. Rabequita pediu um carro novo. Zero quilômetro. Samuel a cidade me deve muito! O Prefeito Bafodonça explodiu! Nunca andou nem de bicicleta e agora quer um carro? A catinga piorou.

                 O Carro foi entregue. Um Honda Civic vermelho lindo de morrer. As Damas dos Bons Costumes cuspiam de ódio. Resolveram botar fogo na casa de Rabequita. A casa não pegava fogo. Quando retornavam viram enormes chamas em suas casas. Meu Deus! É um demônio não é uma mulher!  Bem a história termina aqui. Samuel me disse que Rabequita cansou da cidade de Rio Mimoso. Mudou-se para a cidade de Boina Verde. Dizem que um foguetório enorme se ouviu. Olhei para o amigo Lépido. – Tu és bom para inventar! E dei boas risadas. Tomamos mais umas duas cervejas Westmalle por sugestão do garçom. Despedimo-nos e cada um foi para o seu lado. Um quarteirão antes do hotel que estava hospedado vi uma mulher desgrenhada, suja um mau cheiro horrível e chegou perto de mim e disse – Me paga uma cachaça filho da mãe! Paguei. Sei lá se era a Rabequita. Montevidéu não tem disto, mas não se pode acender uma alma a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo! E viva Samuel Escoteiro, sem ele seria um inferno... Ou será que era isso mesmo?


terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Histórias da Jângal. Era uma vez... Em Seeonee. Uma história para Lobinhos.




Histórias da Jângal.
Era uma vez... Em Seeonee.
Uma história para Lobinhos.

... - Esta é uma historia para lobinhos. O fundo de cena é que este lobinho é diferente dos outros. Mais astuto mais maldoso e deixou muitos lobos ressentidos com ele na Alcateia. A Akelá que amava a todos os lobos deu a ele uma tarefa para que ele modificasse sua maneira de ser. Mas não vou contar agora o que aconteceu. Leiam e vejam como ela teve uma excelente ideia para lhe ensinar a ser bom e fazer todos seus irmãos lobos felizes.

Era uma vez... Em uma selva muito distante, havia uma Alcateia de Lobinhos, que vivia muito feliz. Um dia um novo lobinho chegou e começou a aprontar das suas. No início ninguém reclamou, mas com o passar do tempo quase todos os lobos e lobinhas passaram a não gostar dele. Tinha prazer em ferir seus amigos da alcateia e se orgulhava do seu mau gênio. Sua Matilha corria dele.

Balu mais atento começou a notar que as outras matilhas se afastavam quando ele chegava. Muitos faziam tudo para nas formaturas ficarem longe dele. Quando a Akela chamava para um jogo nenhum lobo queria ser sua dupla ou mesmo jogar no mesmo time.

Ele não se incomodava e parecia se sentir feliz ao ver que a maioria não tinha nenhuma simpatia por ele. Nunca pediu desculpa e perdia a paciência sempre quando alguém o olhava enviesado. Um dia a Akela cansada de aconselhá-lo tomou uma decisão. O chamou na sala da sede e deu-lhe um saco cheio de pregos e um pequeno martelo. Lobo ela disse, cada vez que perder a paciência, for mal educado ou que um lobinho reclamasse dele ele teria como castigo bater um prego no portão de madeira da sede.

Ele espantado não entendeu. A Akelá foi dura com ele. Se não obedecer serei obrigado a desligar você da Alcateia. Você precisa pensar melhor e seguir a Lei do Lobinho. Vou repetir uma delas para você: O lobinho pensa primeiro nos outros! Todos reclamam de você. Se não melhorar direi a sua mãe para não o trazer mais nas reuniões. Se você deixar de cumprir a tarefa que estou passando não tem volta. Será desligado de sua Matilha e de sua alcatéia!

O lobinho ruim olhou para ela, mas não chorou. Ela então completou: É sua única chance de continuar como lobinho. O Lobinho amava a Alcateia. Nunca pensou que os outros lobos não gostavam dele. Não queria sair e cumpriu o que a Akela determinou. No primeiro dia para sua surpresa ele pregou oito pregos no portão. Com alegria notava que gradativamente o número foi decrescendo.

Semanas depois viu que o portão estava cheio de pregos. Cansado o Lobinho descobriu que era mais fácil controlar seu gênio, do que pregar pregos no portão. Finalmente chegou o dia, no qual o Lobinho não perdeu o controle sobre seu gênio. Sorridente correu a contar a Akelá. Ela lhe deu os parabéns e disse que agora ele devia tirar um prego do portão, por cada dia que ele fosse capaz de controlar o seu gênio e fizesse um lobinho feliz. Os dias foram passando, até que finalmente o Lobinho pôde contar a Akelá, que não havia mais pregos a serem retirados.

A Akelá carinhosamente pegou o Lobinho pela mão o levou até o portão e disse: - Meu querido lobo, você fez bem, mas olhe dê uma olhada no portão. Ele nunca mais será o mesmo. Veja o estado que ele ficou. Quando você diz coisas sem pensar ou mesmo irado, suas palavras deixam uma cicatriz como estas. Você pode bater em alguém e não importam quantas vezes você diga que sente muito. A ferida continuará ali. Uma ferida verbal é tão má quanto uma física.

Ela o abraçou sorrido e disse: - Lembre-se amigos são uma joia rara realmente. Eles te fazem sorrir e o encorajam a ter sucesso. Eles sempre te ouvem, tem uma palavra de apoio e sempre querem abrir seu coração para você. Mantenha isto em sua mente, antes de se irar com alguém.

E então... A Alcateia viveu feliz para sempre!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Lendas Escoteiras. “Gigante”.




Lendas Escoteiras.
“Gigante”.

... - “Aquilo que você faz, fala mais alto do que aquilo que você diz”. O que você plantar hoje certamente colherá amanhã. Já um disse um sábio: “Plante uma ação e você colherá um hábito. Cultive o hábito e você desenvolverá um caráter!”. Gigante não era anão, não era famoso, mas fez da tropa de Rio Vermelho a melhor de todo o estado. Não acreditam? Leiam a história e depois me digam.

              “Gigante”? Nunca... Não passava de um quase anão. Bem era um pouco maior, mas todos olhavam para ele como se ele fosse um anão. Laredo da Paz vivia sorrindo. Sua face, sua maneira era de um pequeno grande homem que nunca fez ou desejou mal a ninguém. Sua mãe morreu do parto e seu pai quando o viu sumiu de Morro Vermelho. Afinal que iria querer cuidar de um menino que nasceu assim? Coitado. Nasceu com síndrome de Down e isto afugentou boa parte da população do seu convívio que desconhecia esta característica e achou que era uma aberração da natureza. Nem sabiam que elas apresentam personalidades e características diferentes e únicas. Quem ia dizer para elas que Síndrome de Down se bem cuidada pode alcançar excelentes capacidades pessoais de desenvolvimento, de realização e autonomia. São entes que são capazes de sentir, amar, aprender, divertir e trabalhar. Iria aprender facilmente a ler e escrever e pode tranquilamente levar uma vida autônoma. Quem conhecia sabia que qualquer um com essa anomalia pode ser sombra de duvida ocupar seu lugar na sociedade.

                    Mas quem em Morro Vermelho sabia disto naquela época? Sua Avó já quase cega o levou para casa. Cuidou, deu carinho amor e tudo que ela podia dar com os parcos salários que recebia de aposentadoria. Laredo cresceu como um excluído, exilado ou um Pariá que ninguém queria se aproximar. Aos quinze anos viram que ele não era um perigo para a sociedade. Mesmo excluído de amigos da sua idade ele sorria, nunca fez nenhum mal a ninguém. Era aquele que senta lá atrás na sala de aula e nunca reclamou. Aos vinte anos sua Avó faleceu. Ficou só e não sabia como sobreviver. Tentou de tudo, mas não teve oportunidade. Foi Dona Ana que acreditou e o levou para ajudante em sua vendinha na esquina da Rua do Contador. Recebia uma migalha, mas não reclamava. Os “fregueses” gostavam dele. Educado prestativo e sempre com um sorriso seu atendimento era o melhor que podiam encontrar.

                     Substantivo e Adverbio monitor e Submonitor da Patrulha Garça discutiam o futuro da patrulha e da Tropa. Chefe Corel ficou muito doente. Diziam que era câncer e que em breve ele iria “bater as botas”. Poucos gostavam dele. Prepotente, se julgava o melhor e dizendo que deviam seguir seu exemplo. Pelo sim pelo não a Tropa não chorou sua partida para tratar na capital. Sem Chefe a Corte de Honra se reunia todas as semanas atrás de uma solução. Seu Domingos presidente disse que sem Chefe não poderiam ficar. Melhor fechar a tropa. A Alcatéia fechou há tempos por falta de chefes. Parecia uma maldição em vez de uma graça para alguém ser voluntário na formação de jovens. Por quê? Bem o escotismo desde sua fundação pelo Sargento Cacildo nunca foi bem visto. Uma história que ninguém queria contar.

                    Substantivo andava pela cidade chorando e pedindo a Deus que os ajudasse. Sentou em uma calçada e começou a passar mal. Filho de imigrantes Japoneses nunca foi aceito pelos matutos de Morro Vermelho – Dizem que são “camicases”, dizia Bonfá o barbeiro. Ninguém nem sabia o que era camicase. Gigante o viu passando mal. O pegou no colo e levou para sua casa. Deu-lhe um refresco de groselha, lavou sua testa com agua fria e a respiração de Substantivo voltou ao normal. Era apenas uma insolação e a água fresca e sombra foi um perfeito remédio. Surgiu daí uma grande amizade. Substantivo pensou: - Porque ele não poderia ser nosso Chefe? Levou a ideia para a patrulha e a Tropa. Todos se espantaram. - Ele? Não dizem que é irmão do capeta? Disse Parafuso. Pelo sim pelo não aceitaram a visita de Gigante em um sábado para conhecerem melhor.

                    No dia 16 de maio de 1956 ele foi empossado como Chefe da Tropa. Como? Não sei. Seu Domingos presidente nem ligava mais para o Grupo que só tinha um Chefe de Tropa com uma doença incurável. - Quem se importa? Pensou. Seis meses depois se apresentou um Chefe impoluto com banca de chefão um homem que se chamava Zé Boquinha e era representante do Escotismo nacional. – Ele não pode ficar! Não tem curso, nem ler sabe e é um doente, uma aberração da natureza! Gigante no alto da sua humildade disse que sabia ler e escrever e ser irmão e amigo de todos nunca uma aberração. Sabia matemática, português, e estava aprendendo filosofia. O Chefe da capital riu. – Não quero saber. Fora daqui! Enfrentou a ira de 30 escoteiros com seus bastões prontos para agredi-lo. Saiu correndo e nunca mais voltou. A cidade riu quando soube de tudo. Orgulhou-se dos seus meninos e bateu palmas para Gigante que não levantou uma mão para agredir ou machucar alguém.

                       Passaram quinze anos. Muitos dos meninos daquela Tropa viraram homens feitos. Alguns foram embora para tentar uma faculdade, outros arrumaram emprego e até mesmo Zé Dedão um antigo cozinheiro se casou e se tornou um grande industrial da cidade. Mosca Branca o intendente dos Touros se formou “Devogado” e voltou juiz de direito. Morro Vermelho hoje se sente orgulhosa com seus mais de 140 escoteiros e lobinhos. Na escola quando da matrícula perguntam: - É Escoteiro? Nada contra, qualquer um pode entrar sendo Escoteiro ou não, mas os escoteiros sorriam mais, eram corteses educados e bons estudantes.  O melhor mesmo é Gigante. Tirou o segundo grau, e não quis continuar estudando. Deu sua vida pelo Grupo Escoteiro. Era seu amor sua paixão. A meninada adorava seu Chefe. Hoje tem muitos oriundos daquela época, mas Gigante nunca quis ser o chefão do grupo. Boticário o Monitor mais antigo assumiu a chefia do Grupo. Não faz nada sem primeiro consultar Gigante.

                      Pelo sim pelo não tudo deu certo para Gigante. O Grupo nunca se registrou. Tentaram processos de todos os tipos para fechá-lo. Mosca Branca agora Juiz ria e dizia – Que eles se preparem para uma boa luta de Scalp! Gigante continua na vendinha de Dona Ana. São sócios. Dona Ana quase não aparece. A vendinha cresceu e ele foi aconselhado a construir um Super Mercado. – Eu? Nunca meus amigos. Sou feliz assim e porque mudar? Gigante descobriu o caminho da felicidade. Dizem que se Baden-Powell olhasse na terra sua criação, ficaria orgulho do Grupo Escoteiro de Morro Vermelho. “Mais ainda de Gigante, um Chefe que não precisou ser dono da verdade, prepotente ou mesmo o líder que muitos esperam e que foi amado e idolatrado pelos escoteiros que tiveram Gigante como seu Chefe.    


domingo, 26 de janeiro de 2020

Lendas Escoteiras. O Escoteiro Juquinha e sua fantástica viagem a bordo da USS Enterprise.




Lendas Escoteiras.
O Escoteiro Juquinha e sua fantástica viagem a bordo da USS Enterprise.

 ... - Bem vindos a bordo da Enterprise! - “Espaço, a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise em sua missão de cinco anos em busca de estranhos novos mundos, novas vidas e novas civilizações. Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve”!  

... - Diário de bordo: data estelar 15.1213.1. Nossa posição, órbita do planeta M-113. A bordo da nave Enterprise, Sr. Spock, temporariamente no comando. No planeta, ruínas de uma civilização antiga e parece que alguns escoteiros estão fazendo acampamento. “Nossa missão, saber quem são estes tais de escoteiros”.

                          Juquinha era gordinho, sorridente e gostava de sonhar. Excelente cozinheiro fez fama em sua Patrulha Raposa. Dizia a todos que iria um dia viajar na Nave USS Enterprise, a convite do capitão Kirk. Era o cozinheiro da Patrulha. Ficou famoso com seus fornos de barro e nos acampamentos fazia belos bolos de chocolate. Em qualquer lugar aonde ia só falava na viagem interestelar. Cumprimentava dizendo: - “Vida Longa e Prospera”! Deixava mensagens onde quer que fosse. - “Audaciosamente indo, onde nenhum homem jamais esteve”. Gostava de contar histórias do Capitão Kirk, do Senhor Spock, do Doutor Mc Koy e dos demais tripulantes da nave. Sonhava em conhecer Uhura a oficial e o navegador russo Chekov. Contava que um dia a nave sobrevoando a Baia da Guanabara se chocou com um urubu. Fez um pouso forçado. O Doutor Mc Koy disse: Que pais é este? Todos adoravam Juquinha. Sua mãe preocupada com sua nova trekkersmania criada por Gene Roddenberry.  

                     Juquinha era bom escoteiro. Trabalhava para comprar seus badulaques. Refez seu quarto como se fosse a Ponte de Comando da nave. Amava o escotismo, mas sonhava conhecer a Enterprise. Um desejo impossível. O tempo passou. Juquinha seguiu escoteirando. Nas noites de lua sonhava com a nave interestelar. – Nas reuniões de Patrulha repetia o Capitão Kirk: - “Uma das vantagens em ser um líder, é ser capaz de pedir conselhos, sem necessariamente ter que segui-los”! - Juquinha sabia tudo que havia na nave. Decorou os versos do Capitão Kirk quando falava para sua tripulação: - “Precisamos saber explorar mais e aprender”. Incentivar a criatividade e a inovação, ouvindo os conselhos das pessoas que tenham opiniões diferentes. Precisamos ocasionalmente descer nas trincheiras com os membros da nossa equipe para entender suas necessidades e conquistar sua confiança e lealdade. Todos na Patrulha ficavam estupefatos com Juquinha.

                 Fez o uniforme Dourado dos tripulantes da Interprise. Usava nos fogos de conselho. Construiu um tricorde (comunicador). Seria seu contato com a nave. No acampamento na Fazenda Montana Juquinha nas folgas caminhava a procura dos tripulantes da Interprise. A Patrulha de Juquinha fez um belo trabalho. Duas barracas suspensas um belo refeitório, com uma mesa firme e bancos e um belo pórtico. No terceiro dia fez um almoço dos Deuses. Um arroz soltinho, uma bela polenta e um doce de leite delicioso. Almoçaram, limparam o vasilhame e partiram para o jogo da Carta Prego. Andaram dois quilômetros e deram falta de Juquinha. Como sempre parou para um cochilo. Gordinho vivia cansado. - Acordou assustado. Na sua frente nada mais que o Senhor Spock com suas orelhas pontudas.

            - Menino eu sou o Senhor Spock, não sei onde estou! - O senhor está no planeta terra, em um país chamado Brasil disse Juquinha. - Spock franziu a testa, pegou seu tricorde e falou – Capitão, aqui tem um garoto com um uniforme esquisito e diz que estamos no planeta terra. – Pois não capitão. Iremos agora. Spock avisou Juquinha que seriam telestransportados para a nave USS Enterprise. Urra! Consegui! Em segundos chegaram à sala de Teletransporte e foram direito para a Ponte de Comando. Juquinha boquiaberto vibrava. Na parte central, num nível mais alto a poltrona do capitão Kirk. Viu Chekov, Sulu e Hhura em seu computador da ultima geração. O Doutor Spock disse – Kirk eu encontrei este mocinho que disse ser escoteiro. - O Capitão Kirk sorrindo perguntou para ele: - Escoteiro? Juquinha em posição de sentido respondeu: - Capitão! Eu sou Cozinheiro da Patrulha Raposa! Kirk olhou para Spock que franziu a testa. – Escoteiros disse Spock. Li sobre eles. Em 1907 um General Inglês chamado Robert Baden Powell na Inglaterra fez um acampamento que foi um sucesso.

              - Kirk olhou para Juquinha. – Escoteiro! Meu tataravô foi um. Conseguiu em sua época a medalha Eagle Scout. Ele foi astronauta! - Foi então que Chekov gritou: - Uma nave Kllngons se aproxima. – Kirk perguntou: Dá para esconder nesse planeta? Não sei senhor. Acho melhor entrar em dobra espacial. Aqui há gravidade pode atrapalhar. Kirk disse: Mantenha o rumo. Vá para a dobra oito e alerte toda tripulação! Kirk virou para Juquinha: – Bem vindo a bordo escoteiro, não pode ficar aqui. Uma frota dos Kllngons se aproximando e vamos enfrentá-los. - Chekov o levou até a sala de Teletransporte. – Desculpe jovem, mas aqui vai virar um inferno. Estará melhor na terra. Em segundos estava na terra. Juquinha sorria. Ele conseguiu viajar na nave USS Enterprise! Pouco importava se acreditassem ou não. Sorriu ao ver na sua mochila um uniforme completo dos tripulantes da nave. Um tecido especial que só seria fabricado 4.000 anos depois. Procurou sua Patrulha. Ajudou na parte de sinalização. Foi maravilhoso. Na sopa que fez quase nada sobrou.

                 Pensava se devia contar sua viagem na Enterprise. No fogo de Conselho vestiu o uniforme usado pela tribulação da nave. Todos olhavam embevecidos. Depois da Cadeia da Fraternidade contou tudo. Tudo que aconteceu na sua viagem na nave Enterprise. Contou sobre o Capitão Kirk e o Doutor Spock. Contou a briga com a nave Kingston que iriam enfrentar. Recebeu uma palma escoteira. Quando já ia sentar, ouviu um chamado. - Apalpou a camisa e viu um tricorde pequeno. Um sinal longo e a voz do Capitão Kirk. – Adeus meu caro Escoteiro Juquinha. É o Capitão Kirk. Gostei de você. Vai ser um grande Escoteiro. Voltaremos em breve na terra. Estamos seguindo para a Estelar de Bernal. Um dos onze planetas da classe M. Vamos ajudar uma população nativa e humanoide assim como vocês. Os Kingston fugiram. Spock disse que achou você um jovem de ouro. Até a próxima!

                   O tricorde se calou. A tropa calada. O Chefe olhava para Juquinha assustado. Juquinha riu e disse – apenas uma mensagem do capitão Kirk chefe. E começou a dar belas gargalhadas fazendo com que toda a tropa o acompanhasse. E ao deitar falou para a patrulha: – “Não importa aonde vá, aprecie paisagem no espaço sideral”!


sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Lendas da Jangal. A lenda do Arco-Íris. Uma História para lobinhos.




Lendas da Jangal.
                                              A lenda do Arco-Íris.                                
Uma História para lobinhos.

... - Publiquei há anos esta história. Foi-me pedido para republicar. Histórias de crianças encantam e prendem a mente dos pequeninos. Dizem que os contos de fadas e lendas transmitem aos lobos de variadas formas, a ideia de que a luta contra graves dificuldades da vida é inevitável e faz parte do ser humano da sociedade dos lobos. Se um lobo não se furtar a elas e as enfrentar com coragem e determinação acabará por vencê-las. Espero que os que não conhecem não deixem de contar para seus lobinhos. Melhor Possível!

                        Após o jantar, eis que a Akelá Lucinha pede ajuda as matilhas para lavarem as vasilhas e dar uma folga a Vovó Maria. Os lobos ficaram encantados com ela quando na noite anterior contou a história do Boi Lavrador. Esperavam com muita ansiedade outra história por isto ninguém se negou a ajudar. Tão logo terminaram correram até Vovó Maria e ela sorrindo prontamente atendeu ao pedido dos lobos. Foram até o pátio gramado, O Balu e a Kaa acenderam um lampião e todos de olho na luz ofuscante viram quando Vovó Maria se elevou no ar e começou a contar:

                       Era uma vez... Em uma cidade muito linda onde todos aprenderam a sorrir e cantar. Eis que morava em casebre em uma rua sem nome uma família que não era feliz. – Ele se chamava João e era pobre. O pai tinha morrido e era muito difícil a mãe manter a casa e sustentar os filhos. Um dia ela pediu-lhe que fosse pescar alguns peixes para o jantar. João reparou numa coisa a mexer-se no meio do arvoredo… Viu um pequeno Coelho Amarelo… Aproximou-se sorrateiro, abaixou-se, afastou as folhas devagarinho e viu que ele estava sentado num minúsculo banco de madeira. Costurava um colete verde com um ar compenetrado enquanto cantarolava uma musiquinha.

                       - À frente do João estava um Coelho. Um Coelho Amarelo. Rapidamente esticou o braço e prendeu o Coelho entre os dedos. – Boa tarde Senhor Coelho. - Como estás João? – Respondeu o Coelho com um sorriso malicioso. João não sabia, mas o Coelho tinha montes de truques para se libertar dos humanos. Inventava pessoas e animais a aproximarem-se, para que desviassem o olhar e ele pudesse escapar. – O Coelho astuciosamente perguntou a João: - Diz-me lá, onde fica o tesouro do arco-íris? Eis que na curva do caminho apareceu um touro a correr para o João, e o Coelho espertamente gritou para o João que vinha lá um touro bravo a correr bem na sua direção. Ele assustou-se, abriu a mão e o Coelho desapareceu.

                        - João sentiu uma grande tristeza, pois quase tinha ficado rico. Tinham contado para ele que quem prende um Coelho Amarelo encontra o Arco-Íris e fica rico. E tristonho voltou para casa de mãos a abanar, sem ter pescado peixe nenhum. Mal chegou contou à mãe o sucedido. Ela, que já conhecia a manha dos Coelhos Amarelos, ensinou-o: - Se alguma vez o encontrares, diz-lhe que traga o tesouro imediatamente. Passaram-se meses. João um dia encontrou de novo o Coelho Amarelo. O viu ao voltar para casa, sentiu os olhos ofuscados com um brilho intenso. O Coelho estava sentado no mesmo pequeno banco de madeira, só que desta vez consertava um dos seus sapatos.

                         - O Coelho sabidamente gritou para João – Cuidado! Vem lá o gavião! – e fez uma cara de medo. – Não me tentes enganar! – disse o João. – Traz já o pote de ouro! – Traz já o pote de ouro ou eu nunca mais te solto. – Está bem! – concordou o Coelho. – Desta vez ganhaste! O pequeno Coelho fez um gesto com a mão e imediatamente um belíssimo arco-íris iluminou o céu, saindo do meio de duas montanhas e terminando bem aos pés do João… Até esconderam o pequeno pote… As sete cores eram tão intensas que precisaram esconder o pequeno pote de barro, cheio de ouro e pedras preciosas, que estava à sua frente.

                      - O Coelho Amarelo abaixou-se, com o chapéu fez-lhe um aceno de despedida, e gritou, pouco antes de desaparecer para sempre: – Adeus, João! És um menino esperto! Terás sorte e serás feliz para sempre! E foi o que aconteceu. O pote de ouro nunca se esgotou e o João e a sua família tiveram uma vida de muita fartura e de muita alegria. E como toda lenda o pote nunca se esgotou!

                      E a lobada foi dormir feliz sonhando um dia também encontrarem um Coelho Amarelo para ver o Arco-Íris e o pote de ouro!

livros em PDF a disposição




A disposição gratuitamente 5 livros em PDF de Grandes histórias e aventuras Escoteiras.

- Há alguns anos resolvi escrever histórias escoteiras mais longas, contando a saga de patrulhas nas suas atividades aventureiras. Foi prazeroso ver o numero de pedidos atendidos por e-mail. Recebi centenas de comentários sobre os livros em PDF. Passados cinco anos resolvi coloca-los novamente a disposição. Tudo começou quando escrevi “A PATRULHA DA ESPERANÇA” onde seis meninas escoteiras fizeram um pacto de sangue para permaneceram juntas por toda a vida e até na eternidade sob a égide da mesma Patrulha. Contada em flashback a história vai se desenrolando no passado e no presente. Surpreendente e emocionante. Vale a pena ler. Posteriormente escrevi “O ESTRANHO FUNERAL DO CHEFE GAFANHOTO”. Um jovem Chefe é surpreendido com a morte por linchamento do seu antigo Chefe Escoteiro que sempre amou. Não acreditou no que leu nos jornais e partiu para investigar o que aconteceu em sua cidade de origem. Os fatos, os culpados, os antigos amigos da Patrulha o ajudaram a desvendar a trama que fizeram contra ele. Uma história digna de “Hercules Poirot”. Meses depois escrevi “O COMISSÁRIO LEOCÁCIO”. Um simples Chefe do interior, de origem humilde sem ter cursado faculdade, é escolhido para ser o Comissário Regional de um Estado Brasileiro. O conto se passa entre os anos de 1930 a 1940 onde os valores universitários estavam sendo valorizados no escotismo. O final surpreendente dá uma visão do Escotismo naquela época. Porque não um Grande Jogo noturno? E eis que escrevi “O FANTÁSTICO JOGO NOTURNO NA ILHA DO GAVIÃO NEGRO”. Uma ilha misteriosa, quatro patrulhas sedentas de aventura, o enfrentamento dos gaviões, o silencio da floresta e o homem misterioso que transformou um simples jogo numa grande aventura. Vale a pena conhecer o Sistema de Patrulhas nas mãos de grandes Monitores. Nesse interim escrevi um conto sobre a história de um jovem palestino recém-chegado ao Brasil. Foi então que surgiu a ideia de escrever o quinto conto da série: - A LENDA DO TESOURO PERDIDO NO DESERTO DE NEGEV. Um tesouro escondido, um pirata ainda vivo, história passada na palestina tem todo o sabor da Terra Prometida onde o Senhor viveu e morreu.

Á ideia era que fossem editados como livro de bolso para ser levado facilmente pelos aficionados de histórias escoteiras. Não foi possível assim os coloquei a disposição de quem quisesse ler as histórias em PDF.  

Gostaria de ler? De ter em seus arquivos esses cinco contos escoteiros? Não são longos, média de 30 a 70 páginas por conto. Se interessar me mande um e-mail solicitando o BLOCO 30 (os livros escoteiros em PDF) e terei prazer em atendê-lo.

Escreva para mim no e-mail ferrazosvaldo@bol.com.br e não esqueça, fale um pouco de você. Gostaria de saber quem está lendo minhas histórias escoteiras.

Não faça seu pedido aqui. Só atendo pelo meu e-mail. Obrigado.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Lendas Escoteiras. A escoteirinha foi morar no céu!




Lendas Escoteiras.
A escoteirinha foi morar no céu!

Ela não se lembrava como fora parar ali. Sentia falta de visitas inclusive sua família que a visitava poucas vezes. Nati e Andi duas enfermeiras faziam o papel de mãe e pai. Ela amava as duas mais que seus próprios pais. Ela tinha dois tios que a faziam rir e sonhar que um dia poderia voltar para casa, correr na escola, abraçar amigos. Joshua o Contador de Histórias e Titio Aquiles, que se vestia de pirata ou palhaço eram tudo para aquela garotada naquela Ala C do hospital. No inicio sofreu muito. Seus pais não explicaram a ela o que tinha, e um dia a levaram para o hospital e ela nunca mais saiu de lá. Custou a entender o que lhe aplicavam três vezes por semana. Depois soube que se chamava quimioterapia e Dona Alma uma enfermeira sua amiga disse que só assim um dia ela podia voltar para casa. Ela chorava nos dias que precisava fazer a tal quimioterapia. Vomitava, gritava de dor e muitas vezes teve que ser levada a força. Seis meses e nada de melhorar. Tinha saudades de mamãe Eulália e do papai Alfredo. Filha única ela tinha tudo e agora não tinha nada.

Aconteceu em um domingo quando aqueles dois meninos e duas meninas de uniforme escoteiro disseram que iriam formar ali na ala C, uma tropa de Escoteiros. Ela riu quando disseram isto. Não sabia o que eram os Escoteiros e nem tampouco uma tropa. Os quatros eram formidáveis. Riam, cantavam, faziam jogos e ensinavam as técnicas Escoteiras. Maryany passou a ver sua vida de outra forma. Agora ia para a Quimio mais alegre mesmo sabendo que ia sofrer. Disseram para ela que os Escoteiros não tem medo, que sorriam nas dificuldades. Eram doze naquela ala do hospital. De vez em quando um ia embora e Nati ou Andi diziam que ele tinha partido para uma estrela no céu. Maryany ficava imaginando quando fosse chegar seu dia, se era longe ou perto demais.

Miro o Monitor dos Escoteiros não sabia ficar sério. Sempre sorrindo e brincando. Alencar sorria também, e Lena e Tatiana eram uns amores. Ficaram muito amigas de Maryany. Em pouco tempo a Tropa Escoteira Dos Guerreiros da Ala C aprendeu tudo para fazer a promessa. Adoravam quando um deles fazia um jogo, ensinavam um nó, cantavam uma canção. E a lei dos Escoteiros? Maryany sabia de cor. Naquele sábado de setembro ela sentiu no peito uma enorme pressão, calor falta de ar e uma dor enorme, mas não disse nada a ninguém. A quimio fazia efeitos terríveis. Mesmo assim participou de tudo que os meninos escoteiros fizeram. Sempre batiam palmas quando cantavam a canção das panelas. Riam demais pensando como seria lavar panelas. – Quando terminarem as provas, disse Miro, eu vou chamar o Chefe para fazer a promessa de vocês! – E o uniforme Miro? – Vamos trazer para cada um. Todos sorriam e ficavam esperançosos em vestir o uniforme dos Escoteiros.

Nati e Andi as enfermeiras sentiam-se felizes com os escoteiros. Choravam quando alguém era levado às pressas para a UTI. Elas sabiam que de lá não voltariam nunca mais. Mesmo amando aquelas crianças escondidas em um lugar qualquer do hospital deixavam uma lágrima correr pela face. O Doutor Pascoal sempre cobrando para endurecer o coração, mas era impossível. O câncer é terrível e nas crianças é mais terrível ainda. Na Ala C todos os médicos e enfermeiras sabiam que não tinha volta. Só um milagre para voltar novamente para casa. Todos sabiam que era terrível compartilhar com aquela doença e nas crianças era pior ainda. Vê-los sorrir, chorar, cabeça raspada, uma bata branca Sabiam que a esperança dificilmente faria morada na Ala C.

Aconteceu em um domingo. Miro disse a Maryany que ela Ia fazer a promessa. Prometeu trazer o uniforme dela no domingo seguinte. Disse que o Chefe e toda a Tropa Escoteira estariam presentes. Nunca se viu um sorriso como o dela. Nunca uma alegria foi tão forte naquela menina. Nem bem eles foram embora à dor no peito quase a levou. Foi uma semana onde Laura e Emília partiram para morar na Estrela do céu. Apesar de rotina todos sabiam que as experiências mesmo as mais difíceis são provas para que possamos crescer mais espiritualmente e aprender com os erros e entender a vida como ela realmente é.

Maryany na quarta gemia de dor. O doutor Pascoal pediu a Nati e Andi que a levassem para a UTI. Ela não iria sobreviver por mais do que uma semana. Com os remédios ele sabia que a dor seria menor e só com o um coma ela iria aguentar ate seu último dia. Seus pais não tinham mais esperanças. Tudo foi explicado a eles. Quando Maryany viu que ela seria levada para a UTI seu mundo desabou. Gritou, chorou, implorou que a levassem na segunda. - Doutor Pascoal! Vou fazer a promessa no domingo, é meu sonho! – Se for sei que nunca mais iria voltar. Preciso fazer a promessa. Irei dizer a Deus e a Pátria que serei uma boa Escoteira na Estrela do céu onde vou morar. Prometeu com água nos olhos que não iria chorar de dor. O doutor Pascoal nunca ficou tão emocionado. Aplicou nela uma dose extra de um forte analgésico para ela aguentar até domingo.

Não foi fácil para Maryany sobreviver àqueles dias. Sua força de vontade era tão grande que quando viu adentrarem na Ala C os Escoteiros ela esqueceu a dor que sentia. Quando Lena e Tatiana vestiram nela o uniforme ela chorava de alegria. Queria levantar e não conseguia. Estava fraca demais. Miro tirou seu lenço e amarrou na base onde estava colocado o soro e prendeu seu braço mais alto para que ele fizesse o sinal Escoteiro quando de sua promessa. Formaram em volta dos meninos e meninas da Ala C que acreditam em um milagre. Miro disse ao Chefe – Chefe! Apresento Maryany, uma Escoteira que está pronta para fazer a promessa. – Todos fizeram o sinal Escoteiro. Uma Bandeira Nacional foi desfraldada. Quando o Chefe ia dizer para ela repetir ela carregada de emoção começou – Prometo pela minha honra, fazer o melhor possível para – Cumprir os meus deveres para com Deus e a minha Pátria... Maryany não terminou. Seu semblante sorria, seus lindos olhos negros fitavam o infinito. Seu espirito havia partido. Ela não estava mais ali.

Um silêncio sepulcral tomou conta da Ala C. O Chefe foi até ela e colocou o lenço. Miro o Monitor colocou nela o distintivo de promessa. A tropa cantava baixinho a Canção da Promessa. Maryany partira, mas sabia o que estava acontecendo. Amparada por anjos escoteiros estava feliz e orgulhosa com seu uniforme. Finalmente ela descansou. Foi morar na estrela que escolheu. Todos ali na Ala C sabiam que Maryany foi para o céu!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Lendas pioneiras. Lago do Enforcado – Onde moram os Pioneiros Fantasmas.




Lendas pioneiras.
Lago do Enforcado – Onde moram os Pioneiros Fantasmas.

- Esta é uma história de ficção. Mas não posso dizer que não existiu. Aconteceu há muitos anos. Ao meu modo contei para todos que me conheceram. Não sei os resultados, pois nunca mais falei com Max e Virgínia apesar de que me disseram que eram meus guias, meus gurus, meus anjos da guarda!   

Estava bivacando em volta do Lago do Enforcado há dois dias. Eu e mais cinco pioneiros. Normal naquela época. Com as bicicletas nas costas subíamos uma trilha até o outro lado, pois nos disseram que precisaríamos seis dias para dar a volta em todo o lago e tentar achar o local certo. Nunca tinha ouvido falar neste lago, foi Zé Tostão quem comentou. Zé Tostão era padeiro e dos bons, seus pães vendia-se que nem amor de moça bonita. Não era pioneiro e nunca foi Escoteiro, mas o danado sabia de coisas que nem podíamos imaginar. Foi ele que nos contou da Caverna do Cachorro Louco, da Curva da Cascavel que dizem matou mais de oitenta homens da Bandeira de Fernão dias Pais. – Zé porque não participa conosco? - Não posso Vado Escoteiro. Um dia você vai conhecer meu pai. Está louco varrido – Vive gritando e sabe, tem hora que dá vontade de interná-lo. Não o fiz porque sei que vai morrer em uma semana se for para Barbacena (cidade que ficou celebre com seu manicômio).

Foi meu pai quem me contou sobre o Lago do Enforcado. Ele diz que fala com os mortos e eu acredito. Disse para mim rindo e gritando que lá tem um Clã Pioneiro do Além. Ele nem sabia o que era Clã por isto acreditei. Ele contou-me de Max e Virginia, dois pioneiros de Cidade do Sol Nascente que eram namorados desde criança. Ao saírem da reunião do Clã seu fusquinha foi atropelado por uma jamanta. Morreram os dois na hora. Isto foi há muitos anos, poucas pessoas ficaram sabendo. Meu pai disse que eles amavam o pioneirismo e resolveram montar um Clã Pioneiro para ajudar as almas desencarnadas que um dia foram Escoteiros ou Pioneiros. Porque lá no Lago dos Enforcados eu não sei. Era uma história e como toda história precisava de averiguação. A equipe que estava comigo era experiente e todos tinham “larga moita de tempo” no escotismo. O medo ali era pouco e a vontade de conhecer e desvendar a “querelança” era maior que tudo.

 Encontramos um belo lugar para pernoitar. Seriam seis noites e uma em cada lugar. Achávamos que só assim poderíamos ter a visita dos dois pioneiros Fantasmas e porque não trocar uma ideia com eles? Aprender a fazer fazendo se aplica também a nós pioneiros. As primeiras quatro noites nada aconteceu. Esqueci-me de dizer que fora uma enorme sucuri que passou pelo campo sem notarmos não vimos mais nada de anormal. Lembrei-me do Chefe Montanha que na maior cara de pau contou que acampou com monitores a beira do rio Corrente e a noite, viram um enorme tronco proximo à barraca deles. Resolveram aproveitar para servir de banco, e fizeram uma ótima Conversa ao Pé do Fogo e só pararam quando sentiram que o tronco se mexia e escorregava para frente. Assustados e com seus lampiões a querosene “lumiando” à frente, deram de cara com uma enorme Sucuri. Garantiu-me que tinha mais de trinta metros. A gente acredita fazer o que?

Naquela penúltima noite eu perdi o sono. Os outros foram dormir. Eram duas barracas de duas lonas e era apertado dormir três em cada uma. O ar estava agradável. Um vento sul soprava calmamente vindo da mata a sudoeste do lago. As aguas mansas e calmas estavam paradas. Ao longe vi uma bruma cinzenta se aproximando, o engraçado é que a bruma tinha formato de um Gavião. Ela parou bem proximo a mim. Do meio dela surgiram dois pioneiros. Uma pioneira e Um pioneiro. Pensei com meus botões devem ser Max e Virginia. Ambos eram altos, muitos simpáticos para não dizer que Virginia era linda. Seus Cabelos negros esvoaçantes com o vento que soprava lhe davam um aspecto de uma bela mulher. Ambos bem uniformizados. Até no além eu vi que havia garbo e boa ordem. Sorriram para mim e educadamente fizeram a saudação escoteira me dando um Servir vibrante. Graças a Deus que não disseram SAPS! Arre!

Podemos sentar? Disseram. – Claro disse eu. – Posso chamar meus amigos pioneiros que estão dormindo? Viemos aqui para conhecê-los. Eles sorriram e acharam melhor não. Que eu não me preocupasse. Todos estavam sonhando com aquele momento e o Mestre Pioneiro deles o Chefe Arcanjo os levava onde está nossa sede. Ele vai mostrar como é e como funcionamos, Fiquei calado. Eu sonhava? Max riu e disse que não. - Pode beliscar para ver! Acreditei. Pioneiro não mente nem brincando. - Vado Escoteiro, venha conosco disseram. Todos os outros irão dormindo, mas queremos você acordado. Queremos se você aceitar ser o nosso porta voz, e contar a todos os Clãs do mundo que existimos, e como ajudamos a eles em todas as atividades. Se você assim o fizer seremos eternamente gratos. Recusar? Nunca! Fui com eles. Eu levitava acima do lago como uma flor levada pelo vento. Um enorme Arco Iris apareceu. À noite? Isto mesmo, à noite. Iluminava uma linda estrada que nos levou até perto do céu. Milhares de pioneiros iam e vinham como formigas a buscar algo a fazer.

Tudo aqui é bem organizado chefe. Disse Virginia. Era uma moça encantadora. Uma voz meiga e um olhar doce de alguém que sabia amar seu semelhante como se ama Nosso ser Supremo.  São mais de duzentos clãs divididos em 20 pioneiros cada. O trabalho de ajuda ao próximo é incessante. Damos preferencia aos que pertenceram ao Movimento Escoteiro. Quando eles sobem aos céus precisam de ajuda. Muitos têm parentes e amigos que estão ali tentando fazer o mesmo. Quando dizemos Servir, ou Sempre Alerta eles sempre dão um sorriso. Se quiserem morar com os familiares tem livre arbítrio se não temos barracas para eles ou podem dormir em nossa caverna. Já tivemos muito trabalho para ajudar aqueles que não querem ser ajudados. Eles não sabem que não estão mais na terra e não querem perder o vínculo.

Fiquei maravilhado com o trabalho. Levaram-me a dezenas de reuniões de Clãs. Todas elas voltadas para a ajuda ao próximo. Ali o lema Servir tinha grande significação. Participei de varias cerimônias de bandeira. Eles têm um sistema único. Cada um vê sua própria bandeira e canta seu próprio hino. Levaram-me a vários saraus e fiquei maravilhado. Um deles fez questão de cantar para mim a Canção do Clã. Chorei. Belo demais. Voltamos e pensei ter ficado lá muitos dias, na verdade foram menos de quinze minutos. Coisas do além. Eles se despediram e me disseram que seriam meu guia para sempre. Estariam sempre junto a mim. – Chefe Vado, todos do movimento tem um guia. São os anjos da guarda. Conte para todos o que viu. Não irão acreditar é claro, mas ficará na dúvida. E esta dúvida é que a abertura da verdade, do viver pioneiro e como ele poderá prosseguir. Servir Chefe, e se foram para sempre!

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Libachy, o Lobo Vermelho do Vale da Coruja. Uma história, uma lenda escoteira.




Libachy, o Lobo Vermelho do Vale da Coruja.
Uma história, uma lenda escoteira.

... - “Uivando alto no topo de uma montanha, provocando arrepios na espinha, Uma sentinela Solitária chamando a outros de sua espécie”. O último de uma raça em extinção. Seu crime - a necessidade de comer. Seu companheiro tem uma esperança, Para o pai que vai levar um pouco de carne para casa; Os pecuaristas dizem que ele é uma ameaça. Querem o fim de sua raça. Afinal não foram eles quem chegaram nesta terra em primeiro lugar?

                      Era uma vez... Ele sentou sob suas duas patas, pois estava cansado demais. Suas orelhas levantaram. A respiração ofegante terminara e agora seu sentido de observação estava em ação. Libachy o Lobo Vermelho passou todo o dia correndo no vale da Coruja para encontrar alguma caça. Quase se afogou na Vertente do Rio Pucumé. Com muito custo conseguiu pegar sua presa. Um quati raquítico e magro e ele quase desistiu. Ele sabia que seu pai Inûnpiac precisava comer. Dois dias sem nada no estomago. Libachy sabia que dia menos dia ele iria partir para a Estrela dos ventos Amigos, onde diziam os lobos vivem felizes para sempre. Agora precisava tomar uma decisão. Nascera há muitos anos ali na Caverna do Morcego e toda a sua vida ele viveu no Vale da Coruja. Sua história poderia já ter terminado. Ele era o último da estirpe dos Lobos Vermelhos. Antes eram centenas deles. Lembrava ainda quando nasceu. Sua Alcateia era forte, respeitada entre os demais lobos do Vale da Coruja.

                 Libachy olhava espantado para sua trilha que estava toda tomada por jovenzinhos humanos, com chapéus esquisitos e montando barracas por onde ele iria passar. Ele lembrava que há muitas luas outros haviam tentado atravessar o vale e desistiu. Pensou que nunca mais voltariam e ali estavam de volta. Nunca fez mal a eles. Libachy era um lobo amigo e não desejava mal a ninguém. Diferente de Sangue nos Olhos, a Onça Negra de mais de dois metros e que também era a única a afugentar todos os bichos do Vale do Morcego. Ele sabia que ela era a única culpada por todos os seus infortúnios. Há muitas luas todos viviam felizes e até mesmo Sangue nos Olhos não fazia mal a ninguém. Mas um dia resolveu ir para outras paragens e matou um bezerro recém-nascido. Foi à conta. Os fazendeiros em grupo foram à caça. Mataram quase todos de sua raça e de Sangue nos Olhos. Seu pai não conta, pois desde a lua nova dos tempos das chuvas mansas, que ficou aleijado não podendo mais andar. O Vale da Coruja não era mais o mesmo. Todos tinham medo de todos. O espirito andava sempre alerta para não ser morto por um tiro ou um animal mais forte e esfomeado.

                Libachy olhou de novo para a menininha que vinha em sua direção. Ele sabia que não ia lhe fazer nenhum mal, mas e ela? Iria gritar e ele tinha de fugir deixando sua caça para trás. – Viu “quando ela riu e disse – Olá lobinho, eu também já fui uma lobinha” – Libachy assustou. Ele entendia tudo que ela falava. Como? Nenhum humano jamais conversou com ele. Pensou em sair correndo, mas viu a paz nos olhos da menininha. – Eu preciso passar ele disse. Ela sorriu e replicou – Pode passar sim, ninguém vai proibir você. Como? Libachy criou coragem, pegou sua presa e correu como nunca. Chegou esbaforido na Caverna do Morcego onde estava seu pai. Pensou em não dizer nada para não assustar. Libachy aprendeu a dizer sempre a verdade – Seu pai o ouviu calado e no final disse – Um dia tudo vai terminar Libachy, enquanto os humanos não matarem Sangue nos Olhos e você, eles não ficaram felizes. Você está pagando por um crime que não cometeu.

                 Libachy não dormiu bem à noite. Um medo enorme dos caçadores. A menininha podia ter comentado com outros e eles não ficariam satisfeitos enquanto não exterminassem o último lobo vermelho e a última Onça Negra do Vale da Coruja. Mas ninguém veio. Pela manhã foi ver se já tinham ido embora. Eram muitos e divididos em turma. Em uma delas havia três menininhas e cinco menininhos. Educados, não gritavam, sorriam muito e cantavam canções que maravilhou Libachy. Seu medo agora era se Sangue nos Olhos não iria fazer mal a eles. Resolveu ficar ali e esperar. Se Sangue nos Olhos aparecesse ele os defenderia. Sabia que não podia enfrentar a Onça Negra, mas não iria deixar que ela fizesse mal aos meninos e meninas.

                   Sentiu que alguém acariciava sua pelagem ainda espessa.  Olhou e viu a menina de ontem. Olá meu amigo, ela disse. Sou Olhos Brilhantes, monitora da Patrulha Águia, e você tem nome? – Libachy falou de uma só vez. Vocês não devem ficar aqui. – Por quê? Se Sangue nos Olhos ficar com fome será um perigo para vocês! Ela ficou pensativa. – Olhe porque não vem à noite? Teremos fogo de Conselho e vou apresentar você à tropa. Assim poderá contar porque corremos perigo. Libachy aceitou o convite. Seu pai disse para ele tomar cuidado. Nunca confiou muito nos humanos. Ao descer a trilha da montanha avistou dois cavalos. Um perigo. Sempre eram caçadores. Pensou em voltar, mas seguiu em frente. Encontrou todos em volta de uma grande fogueira. Olhos Brilhantes a escoteirinha correu para ele dizendo - Bem vindo meu amigo! Fique ao meu lado, vou apresentar você. Foi bem recebido por uma palma escoteira.

                 Lá pelas tantas o convidaram para falar. Falou pouco. A menina Escoteira traduzia o que ele falava. Disse que era um dos últimos dos lobos vermelhos. Todos seus irmãos foram mortos por caçadores. Agora era difícil viver ali. Ele não podia ir muito longe à procura da caça, poderia levar um tiro. Contou sobre Sangue nos Olhos a Onça Negra da Caverna do Urso. Que ela era como ele, não tinha mais amigos, só vivia fugindo. Nisto ouviram um barulho – era Sangue nos Olhos, uma enorme onça negra. Entrou no circulo dos Escoteiros sem medo. Pediu a palavra – Os fazendeiros me condenaram. Um dia um bezerrinho fugiu da sua mãe e entrou na grota do quati, se perdeu e acabou morrendo lá no alto da cascata do Véu da Noiva. Eu estava com fome. Os abutres iriam comer o bezerro e porque não eu? Porque não podia aproveitar também? Mas me condenaram. Disseram que fui eu. Minha linhagem desapareceu. Todos que moravam junto comigo foram mortos por caçadores.

                Seu Normando um fazendeiro amigo dos Escoteiros que foi convidado para a cerimonia pediu a palavra. – Escoteiros e animais, ele disse – Não sabia disto. Achei que eram muitos. Eu mesmo matei muitos lobos e onças negras. Confesso que estou arrependido. O Vale da Coruja são terras minhas. A partir de hoje nenhum caçador vai entrar aqui. Todos os animais poderão viver em paz como sempre viveram. Uma estrondosa palma ecoou por todo o vale. Olhos Brilhantes a escoteirinha veio abraçar Libachy, abraçou também Sangue nos Olhos. A partir daquele instante ficaram irmãos de sangue. Como na história da Jângal fizeram um juramento que iria valer por toda a vida. Escoteiros, lobos e onças seriam felizes e irmãos para sempre.

                   Contaram-me que quatro anos depois já se avistava matilhas de lobos vermelhos a correr pelo vale. Muitas vezes acompanhados por grande quantidade de onças negras que vagam pelo vale e nunca mais ninguém soube de mortes ou mesmo de brigas entre eles. Dizem ainda que Sangue nos Olhos e Libachy sempre andam juntos e que se alguém atacar um tem de atacar os dois. Inûnpiac o pai de Libachy morreu alguns anos depois. Morreu sorrindo, pois seu vale agora era só de paz e felicidade.

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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