sábado, 4 de janeiro de 2020

Borboletas também querem voar!




Borboletas também querem voar!

Não fuja deste desejo, te quero por inteiro,
Sem pensar num amanhã...
Quero viver o agora, quero delirar de prazer,
Realizar todas suas fantasias,
Ser possuída e dominada
Por você...

Nota – Não é um conto escoteiro. Também escrevo outros tipos de contos. Quem sabe acharão pesado, erotismo demais e tema já conhecido. Aos que gostam deste tipo de histórias são meus convidados. Abraços fraternos.

                Esta historia aconteceu na Itália na cidade de Milão, acho que foi em meados de janeiro de 1965. Não sei onde li ou se foi eu quem escreveu. Risos. Não sei se é verdadeira, se é real, não sei mesmo. Minha mente se confunde.                 Ela era jovem, cabelos compridos castanhos avermelhados, olhos castanhos, linda. Lábios carnudos, pedindo beijos. Tinha sonhos, como todas de sua idade. Escondidos claro, ninguém sabia. Gostava de sorrir, de sentir o mundo, fantasiava sair por aí, conhecer outros lugares, viver, sonhos que toda jovem tem.

               Todas as manhãs lá estava na janela. Observava as pessoas passando, uns vindo, outros indo caminhando com olhos baixos parecendo não ter destino certo. Sempre reparara nele. Um jovem de aparência meiga, olhos negros, andava de cabeça curvada como se soubesse seu destino. Parecia firme nos seus passos. Ela sentiu desejos pelo jovem. Desejo só seu. Ninguém podia saber. Católica fervorosa escondia de si e de seu Deus. Tinha medo. Rezava. Pedia perdão. Mas dentro de si, fervia estas fantasias pecaminosas. Ele sempre a via, de soslaio, sem encarar. Tinha medo, Nunca teve uma garota, nunca beijou. Mas sentia por ela um desejo profundo. Amor? Paixão? Não sabia.

              Chegava a casa, sentava em seu banquinho e ficava com a mente em devaneio, procurando concatenar um presente sólido para ela e para ele. Morava só. Seus pais haviam falecido. Era carpinteiro. Aprendera com o pai. Tinha medo de se aproximar. Tinha medo de ser repelido. As fantasias dele ficavam escondidas no recôndito de sua memória, feito monstros poderosos, que não deixavam ver a beleza de um amor profundo. Planejou, mentalizou um plano sórdido. Era um maldito. Achava ter nascido para o mal. Não era religioso, diziam que ele era frio, calculista, não tinha amor, não tinha passado. Ela sempre ia só à igreja à noite. Ele a espreita já sabia seu destino, onde passava e em um beco, subjugou-a colocando um lenço embebido em éter em seu rosto, ela desmaiando em seguida.

            Tinha alugado uma casa, na periferia afastada de tudo e de todos. Levou-a até lá. Até o porão, fechado, sem janelas, só com uma porta. Tinha preparado tudo. Iluminação, cama, água, roupas, alimentos. Deixou-a na cama, fechou a porta e se foi. Voltou dois dias depois. Abriu a porta, ela desesperada, gritando, explodindo e dizendo, maldito, filho da puta, desgraçado o que fez comigo? Ela o arranhava, o mordia, tentava fugir. Ele mais forte, a dominava. Nada dizia, permanecia calado. Uma semana, duas, ele sempre levava duas vezes por semana, sua alimentação e roupa de cama limpa. Sentava num banquinho de madeira e ficava olhando para ela, sempre de cabeça baixa, admirando, sonhando, mas sem nada fazer.

            Ela não parava de gritar. Palavrões que nunca tinha dito. Maldito! Perverso, desgraçado filho do Demônio do Príncipe das Trevas, O que queres de mim? – Queres me possuir? Possua filho da mãe, mas me solte pelo amor de Deus! Ele nada dizia. Permanecia calado e ia embora. Ela se desesperava. Quem era? Seu nome? Sua voz? Meu Deus! Um mês, dois meses. A rotina de sempre. Agora ela ficava sentava na cama, olhando para ele com os olhos vermelhos, inchados de tanto chorar. Calada também. Viu que gritar e xingar não adiantava. Tentou todas as formas de fuga. Bateu com o banquinho em sua cabeça quando entrou. A casa de grade não deu para fugir. Ele não reagiu. De novo em seu banquinho, sem falar, sem tentar nada, ficava ali sentado de cabeça baixa.

          Seis meses, ele sabia das buscas, das investigações na cidade. Desistiram. Acharam que ela tinha fugido da cidade com outro. Nada descobriram. Um ano. Ela calada, ele calado. Ela nunca entendeu. Quem era ele? Um Louco? Um psicopata? Que era isso meu Deus? Como um homem podia agir assim? Nunca pensou que este era seu destino. Quem era ele? Como seria ele? O que fazia o porquê de tudo aquilo? Sem respostas. Ele sempre calado. Quase dois anos. Começou a se apaixonar por ele. Calada, nada dizia. Mas as fantasias voltaram. Uma vontade louca de fazer amor com ele. Um dia ficou em sua frente, tirou suas roupas e o possuiu ali mesmo com ele sentado no banquinho, sem dizer nada, sentiu seu corpo por inteiro colado ao seu. Fechou os olhos. Sentava e levantava. Que prazer meu Deus! Ele aceitou que ela conduzisse. Não falou nada. Ela sentiu um prazer imenso. Nunca havia sentido prazer assim em sua vida. Ele não gemeu uma única vez.

          Foi embora. Ela sabia. Ele nunca mais iria deixá-la sair. Uma ou duas vezes chegava, sentava no banquinho, ela o possuía, tirava suas roupas ali ou na cama. Apossou-se do seu corpo fazia o que pensou em fazer. Ele sempre calado, viu que sentia tudo, gemia rouco, ela fazendo amor bruto e animal com ele, de todo jeito, ele nada dizia, pois era ela quem comandava tudo. Cinco anos. Ela estava perdidamente apaixonada por ele. Desgraçado. Mudou sua vida. Donzela virgem e agora amante do homem que a sequestrara. Seus desejos de fugir acabou. Não tinha mais sonhos. Esquecera sua família. Esquecera-se de tudo. Aceitava ser uma prisioneira. Era agora sua vida. Se conformava. Contava os dias que ele iria aparecer. Era sua única forma de combater a solidão.

        Quinze anos. Seus cabelos começaram a embranquecer. A rotina de sempre. Ele chegava, ela olhava para ele com olhos de gazela faminta. Esquecia tudo. Fazia amor com ele. Gritante, calmo, sensual. Gostava do seu jeito, adorava quando estava dentro dela. Esquecia-se de tudo quando sentia o jorro quente dentro de sí.  Ele sempre ali, olhando para ela, nada dizia. Agora ele demonstrava prazer e ao terminar vestia as roupas e ia embora. Ela não sabia seu nome e nem conhecia sua voz. Trinta anos prisioneira. Uma tosse rouca, seu corpo definhando, ele lhe dando remédios, uma semana, duas e ela se foi.

Ele se dirigiu a um bosque de azinheiro, procurou a árvore mais alta e se enforcou. Alguns meses depois o encontraram pendurado, com o corpo perfeito sem nenhum sinal cadavérico. Descobriram a casa. No porão a encontraram. Bonita, deitada na cama rosto angelical, vestida de noiva, cabelos soltos. Nada parecia que ela estivesse morta. Sorria, como se alguém estivesse com ela.  Comentaram muito do acontecido, mas ninguém, ninguém mesmo até hoje foi capaz de explicar o que aconteceu.

Milão, outubro 1998. Uma nota no jornal Corriere Della Sera falava pouco do acontecido. Quase não dizia nada. Alguém se interessou pelo fato. Ele conhecia uma moça, linda, sempre a via quando passava. Quem sabe?...

Me chama me conta, me diz
Como vai sua vida
Mas diz a verdade com jeito,
Para não machucar
Engana que sente saudades
Que ainda não me esqueceu
Que seu amor ainda sou eu...

Confessa que eu tinha razão
E você estava errada, disfarça
E não diz que esse outro
Te faz feliz, me engana
Me esconde a verdade
Sonhar é melhor que sofrer,
Mente para mim, me ajuda a viver!
(José Augusto).

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