segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Lendas Escoteiras. “Gigante”.




Lendas Escoteiras.
“Gigante”.

... - “Aquilo que você faz, fala mais alto do que aquilo que você diz”. O que você plantar hoje certamente colherá amanhã. Já um disse um sábio: “Plante uma ação e você colherá um hábito. Cultive o hábito e você desenvolverá um caráter!”. Gigante não era anão, não era famoso, mas fez da tropa de Rio Vermelho a melhor de todo o estado. Não acreditam? Leiam a história e depois me digam.

              “Gigante”? Nunca... Não passava de um quase anão. Bem era um pouco maior, mas todos olhavam para ele como se ele fosse um anão. Laredo da Paz vivia sorrindo. Sua face, sua maneira era de um pequeno grande homem que nunca fez ou desejou mal a ninguém. Sua mãe morreu do parto e seu pai quando o viu sumiu de Morro Vermelho. Afinal que iria querer cuidar de um menino que nasceu assim? Coitado. Nasceu com síndrome de Down e isto afugentou boa parte da população do seu convívio que desconhecia esta característica e achou que era uma aberração da natureza. Nem sabiam que elas apresentam personalidades e características diferentes e únicas. Quem ia dizer para elas que Síndrome de Down se bem cuidada pode alcançar excelentes capacidades pessoais de desenvolvimento, de realização e autonomia. São entes que são capazes de sentir, amar, aprender, divertir e trabalhar. Iria aprender facilmente a ler e escrever e pode tranquilamente levar uma vida autônoma. Quem conhecia sabia que qualquer um com essa anomalia pode ser sombra de duvida ocupar seu lugar na sociedade.

                    Mas quem em Morro Vermelho sabia disto naquela época? Sua Avó já quase cega o levou para casa. Cuidou, deu carinho amor e tudo que ela podia dar com os parcos salários que recebia de aposentadoria. Laredo cresceu como um excluído, exilado ou um Pariá que ninguém queria se aproximar. Aos quinze anos viram que ele não era um perigo para a sociedade. Mesmo excluído de amigos da sua idade ele sorria, nunca fez nenhum mal a ninguém. Era aquele que senta lá atrás na sala de aula e nunca reclamou. Aos vinte anos sua Avó faleceu. Ficou só e não sabia como sobreviver. Tentou de tudo, mas não teve oportunidade. Foi Dona Ana que acreditou e o levou para ajudante em sua vendinha na esquina da Rua do Contador. Recebia uma migalha, mas não reclamava. Os “fregueses” gostavam dele. Educado prestativo e sempre com um sorriso seu atendimento era o melhor que podiam encontrar.

                     Substantivo e Adverbio monitor e Submonitor da Patrulha Garça discutiam o futuro da patrulha e da Tropa. Chefe Corel ficou muito doente. Diziam que era câncer e que em breve ele iria “bater as botas”. Poucos gostavam dele. Prepotente, se julgava o melhor e dizendo que deviam seguir seu exemplo. Pelo sim pelo não a Tropa não chorou sua partida para tratar na capital. Sem Chefe a Corte de Honra se reunia todas as semanas atrás de uma solução. Seu Domingos presidente disse que sem Chefe não poderiam ficar. Melhor fechar a tropa. A Alcatéia fechou há tempos por falta de chefes. Parecia uma maldição em vez de uma graça para alguém ser voluntário na formação de jovens. Por quê? Bem o escotismo desde sua fundação pelo Sargento Cacildo nunca foi bem visto. Uma história que ninguém queria contar.

                    Substantivo andava pela cidade chorando e pedindo a Deus que os ajudasse. Sentou em uma calçada e começou a passar mal. Filho de imigrantes Japoneses nunca foi aceito pelos matutos de Morro Vermelho – Dizem que são “camicases”, dizia Bonfá o barbeiro. Ninguém nem sabia o que era camicase. Gigante o viu passando mal. O pegou no colo e levou para sua casa. Deu-lhe um refresco de groselha, lavou sua testa com agua fria e a respiração de Substantivo voltou ao normal. Era apenas uma insolação e a água fresca e sombra foi um perfeito remédio. Surgiu daí uma grande amizade. Substantivo pensou: - Porque ele não poderia ser nosso Chefe? Levou a ideia para a patrulha e a Tropa. Todos se espantaram. - Ele? Não dizem que é irmão do capeta? Disse Parafuso. Pelo sim pelo não aceitaram a visita de Gigante em um sábado para conhecerem melhor.

                    No dia 16 de maio de 1956 ele foi empossado como Chefe da Tropa. Como? Não sei. Seu Domingos presidente nem ligava mais para o Grupo que só tinha um Chefe de Tropa com uma doença incurável. - Quem se importa? Pensou. Seis meses depois se apresentou um Chefe impoluto com banca de chefão um homem que se chamava Zé Boquinha e era representante do Escotismo nacional. – Ele não pode ficar! Não tem curso, nem ler sabe e é um doente, uma aberração da natureza! Gigante no alto da sua humildade disse que sabia ler e escrever e ser irmão e amigo de todos nunca uma aberração. Sabia matemática, português, e estava aprendendo filosofia. O Chefe da capital riu. – Não quero saber. Fora daqui! Enfrentou a ira de 30 escoteiros com seus bastões prontos para agredi-lo. Saiu correndo e nunca mais voltou. A cidade riu quando soube de tudo. Orgulhou-se dos seus meninos e bateu palmas para Gigante que não levantou uma mão para agredir ou machucar alguém.

                       Passaram quinze anos. Muitos dos meninos daquela Tropa viraram homens feitos. Alguns foram embora para tentar uma faculdade, outros arrumaram emprego e até mesmo Zé Dedão um antigo cozinheiro se casou e se tornou um grande industrial da cidade. Mosca Branca o intendente dos Touros se formou “Devogado” e voltou juiz de direito. Morro Vermelho hoje se sente orgulhosa com seus mais de 140 escoteiros e lobinhos. Na escola quando da matrícula perguntam: - É Escoteiro? Nada contra, qualquer um pode entrar sendo Escoteiro ou não, mas os escoteiros sorriam mais, eram corteses educados e bons estudantes.  O melhor mesmo é Gigante. Tirou o segundo grau, e não quis continuar estudando. Deu sua vida pelo Grupo Escoteiro. Era seu amor sua paixão. A meninada adorava seu Chefe. Hoje tem muitos oriundos daquela época, mas Gigante nunca quis ser o chefão do grupo. Boticário o Monitor mais antigo assumiu a chefia do Grupo. Não faz nada sem primeiro consultar Gigante.

                      Pelo sim pelo não tudo deu certo para Gigante. O Grupo nunca se registrou. Tentaram processos de todos os tipos para fechá-lo. Mosca Branca agora Juiz ria e dizia – Que eles se preparem para uma boa luta de Scalp! Gigante continua na vendinha de Dona Ana. São sócios. Dona Ana quase não aparece. A vendinha cresceu e ele foi aconselhado a construir um Super Mercado. – Eu? Nunca meus amigos. Sou feliz assim e porque mudar? Gigante descobriu o caminho da felicidade. Dizem que se Baden-Powell olhasse na terra sua criação, ficaria orgulho do Grupo Escoteiro de Morro Vermelho. “Mais ainda de Gigante, um Chefe que não precisou ser dono da verdade, prepotente ou mesmo o líder que muitos esperam e que foi amado e idolatrado pelos escoteiros que tiveram Gigante como seu Chefe.    


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