terça-feira, 30 de julho de 2019

Lendas da Jângal. A lenda da Fada Azul muito além de Avalon. (uma historia para os lobos da Jângal)




Lendas da Jângal.
A lenda da Fada Azul muito além de Avalon.
(uma historia para os lobos da Jângal)

Prólogo: - Conta-se uma lenda que antigamente as fadas e outros seres habitavam normalmente o mundo dos humanos, até que houve alguma mudança drástica, e elas tiveram que recuar e manter apenas pequenas passagens para o nosso mundo. No entanto as mesmas lendas dizem que ainda existem alguns portões entre nosso mundo, e o mundo das fadas. Aqueles que Têm algum dom magico, ou estão de posse de objetos encantados ou magia, podem entrar na terra das fadas a qualquer hora. Um conto para lobos e escoteiros que acreditam em fadas... Como eu!

Introito: - “A terra das Fadas ou o mundo das Fadas é o lugar onde as Fadas e outros seres mágicos habitam. Este lugar fica em outro plano de existência. O lugar também é conhecido como vários outros nomes devido às diversas lendas existentes, como Elfiand, Avalon, Pais das Fadas e muitos outros”. "Não há dúvida de que as fadas existem. Temos duas casas de fadas bem perto de nós e temos registros de conversas entre fadas e as pessoas da Alcateia dos lobos de Seeonee.". Quem me contou foi um Duende que mora próximo a Rio da Felicidade.

                     Julia morava no final da Rua Esperança. Não era uma rua feia e nem bonita. Não tinha calçamento e nos tempos de sol muita poeira, nas chuvas lamaçal em toda sua extensão. Mas Julia gostava de morar ali.  Sua mãe um dia disse que iria atrás de seu pai que foi embora. Ela também nunca mais voltou. Ela morava com a Vovó Francisca. Era pobre, muito pobre. A sua Vovó vivia da pensão do seu avô, não mais que um salário mínimo. Nunca tiveram uma TV e ela sonhava em ter uma mesmo que fosse preta e branca.  Julia tinha dois amores, porque não três? Sua Avó, sua matilha e seu sonho em ser uma fada. Ela tinha lido muito sobre elas. Tantas histórias ela leu, aprendeu seus costumes, suas cidades e seu castelo. Ela sabia que as fadas são seres fascinantes e sempre desejou conhecer melhor seus segredos, seus costumes e seus mistérios. Ela sabia que muitos procuravam as fadas atrás do Tesouro da Mãe D’água. Ela não. Queria sim ser uma fada para ter poderes de fazer as pessoas felizes.

                  Julia tinha oito anos e era uma menina esperta, alegre e nunca reclamou de nada em sua vida. Afinal sua Vovó não deixava faltar nada para ela. Por causa do mundo das fadas que ela tinha lido, sua avó comprou uma flauta e ela devagar aprendeu a tocar deliciosos acordes e melodias. Ela queria dançar como elas, seguir o ritmo da natureza e quem sabe aproveitar os sons da água e do vento para realizara grandes bailes na floresta encantada. Julia fazia de tudo para um dia encontrar com uma fada. Meditava, no lugar do cristal de quartzo leitoso ela usava um pequeno broche que sua mãe lhe deu. Mesmo fazendo todas as magias que aprendeu no livro das fadas da biblioteca da escola ela nunca conseguiu encontrar uma. A Akelá Nancy sorria sempre quando a via sonhar no seu mundo encantado das fadas. Todos sabiam do que ela gostava e muitos ficavam juntos a ela só para ouvir historias que nunca ouviram em suas vidas.

                   Uma vez o Chefe Tomé, um barbudo que vivia amedrontando seus escoteiros, disse para ela que os duendes são fadas e aparecem para as meninas como um homem Velho, duendes dizem adoram colecionar ouro e depois colocam numa panela e escondem em uma ponta do arco-íris. Ele vivia dizendo para ela: - Cuidado com a fada, pode ser um duende e levar você para seu castelo onde nunca mais você vai voltar. Ela saia correndo e chorando dizia a Akelá que o Chefe Tomé era um homem mau. A Akelá Nancy sorria e dizia para ela não se preocupar. Mas em toda reunião o Chefe Tomé aprontava. Um dia a Alcateia foi acantonar em uma fazenda de um antigo Escoteiro do Grupo. Quando desceram do ônibus ela viu que a casa sede era igual a um desenho onde morava a Fada Azul. Seus olhos brilharam.  Agora sabia que iria finalmente conhecer uma fada.

                   Seriam três dias acantonados. Mas no segundo dia Julia desapareceu. A procura foi intensa. Veio os bombeiros, a policia, escoteiros de todo lado ajudar. Nada. Nem uma pista em lugar nenhum. Ao mesmo tempo o Chefe Tomé também sumiu. Será ele o culpado? A esposa do Chefe Tomé não parava de chorar. Ele tinha três filhos todos escoteiros e uma escoteira. Impossível pensar algum de ruim. Uma semana depois o Guarda Polônio a encontrou dormindo na praça da estação. O povo todo veio ver e ela estava vestida de fada. Um lindo vestido de seda azul. Ela sorria de olhos fechados. Levada ao hospital ficou lá dois meses em coma profundo. Em Pedra Bonita uma cidade vizinha a policia encontrou o Chefe Tomé dormindo na praça da estação. Quem era? De onde veio? Ele sorria, mas de olhos fechados. Ficou três meses em coma. Em Esperança ninguém mais acreditava que ia voltar.

                   Ele acordou do coma e gritou chamando sua esposa e seus filhos. Avisados foram buscá-lo. Uma semana depois ele soube do acontecido com Julia. Foi até a casa dela e pediu sua Avó para entrar. Foi bem recebido. Julia sorriu para ele. – Vamos manter segredo? Ele disse. – Ela balançou a cabeça concordando. Ninguém iria acreditar. Ambos foram transportados para a cidade de Avalon. Lá foram recebidos por centenas de fadas. Chefe Tomé foi levado por um duende verde e ficou lá na cidade deles por muito tempo. Julia entrou a escola das fadas. Aprendeu a fazer o bem, a ajudar a todos sem distinção. Aprendeu a voar, a fazer magias, aprendeu tudo e a Fada Madrinha disse a ela que quando crescesse poderia morar ali com elas. Chefe Tomé sofreu na mão dos duendes. Afinal ele sentia prazer em fazer medos aos escoteiros e os lobos. Mas no último dia da sua estada o Duende Verde lhe disse: Se fizer novamente vai morar aqui para sempre e será aquele a puxar a carroça do Duende Azul.

                  O tempo passou Todos se esqueceram de Julia e o Chefe Tomé. No grupo Escoteiro todos notaram sua transformação. Uma educação enorme no trato com os escoteiros e lobos. E Julia quase não comentava mais sobre as fadas. Ela sabia que não iriam acreditar que foi aceita pela sociedade delas. Agora era mais uma. A noite quando todos dormiam e quando a lua se escondia, ela colocava suas asas e seu mantra mágico e saia voando pelo céu a brincar com suas amigas que moravam em Avalon.

- É contado nas lendas, que uma vez houve um tempo quando o mundo humano era um só com o mundo das fadas. Mas por causa de alguma mudança dramática, fadas tiveram que recuar e manterem-se distantes do nosso mundo. No entanto, as mesmas lendas dizem que ainda existem alguns portões entre o mundo das fadas e o nosso. Aqueles que têm o dom ou estão em posse do mantra mágico pode entrar no Mundo das Fadas quando bem quiserem.


segunda-feira, 29 de julho de 2019

Contos ao redor da fogueira. Um acampamento longe demais.




Contos ao redor da fogueira.
Um acampamento longe demais.

Prólogo: - Um acampamento esperado. Uma mentira inventada. Sozinho chorava perdido na trilha do medo. Noite alta o que fazer? Uma história que me contaram. Nem sei se aconteceu. Leia e espero que gostem e contem para seus escoteiros. A mentira nunca é companheira de um escoteiro.

                                O mundo caiu aos seus pés. Um sonho de meses sumindo e ele sem saber o que fazer. Um acampamento esperado, programado, preparado nos seus mínimos detalhes. Dormia pensando e acordava com o que seria o seu acampamento dos sonhos. – Dona Olga deu seu veredito. Destruiu tudo, pisou em seu coração sem nenhuma piedade. – Faremos a recuperação quarta feira pela manhã. Quem falta já sabe, vai repetir o ano!

                              – Deus meu! Porque não estudei? Porque achei que os escoteiros me dariam a alegria e com isto eu iria tirar boas notas? Mas ele sabia que os escoteiros não tinham culpa. A culpa era dele. Seu pai sabia, disse que se ele repetisse seria castigado. Nada de escoteiro, nada de internet, nada de nada. Não tinha saída, a patrulha se preparou para sair na quarta às seis da manhã. Jornada longa, onze quilômetros. Desmarcar? Ele sabia que Tomé o monitor não iria aceitar. - Diremos ao seu pai que iremos a tarde, mas não será verdade. Você Mozart pode seguir e nos achar facilmente nas planícies do Vale da Lontra. Não é difícil, faremos um mapa, um croqui e se sair às duas as seis vai chegar! – Mozart pensou. Uma mentira? Nunca mentiu, mas a vontade de estar com eles era tanta que aceitou. O pior, era novato, não entendia de mapas, croquis bussola nada. Partiu sozinho a tarde como se acreditasse que o vento seria sua bussola. Pegou a estrada do Vale conforme tinham explicado. Uma estradinha de terra onde nem carro passava. Cinco quilômetros e ela terminou.

                               - E agora? A explicação é que seu final seria em uma porteira e uma bifurcação apareceria. Nela devia entrar. Mas cadê a porteira? – Mozart estava com medo. Muito medo. A estrada acabou agora só uma trilha. Mais uma hora e o sol iria se por. Não sabia o que fazer a não ser seguir em frente. A trilha foi diminuindo ate que chegou a uma floresta escura. Mozart parou sem saber aonde ir. Nos seus onze anos começou a chorar. Menino medroso, sem experiência não sabia o que fazer. A noite foi chegando e ele tremendo de medo. Acendeu um foguinho com o isqueiro que pegou de seu pai. Nem o calor nem a chama lhe deram ânimo para tomar uma decisão. A Floresta falava, ouvia gritos distantes, rosnados e sons que ele não conhecia e sem condições de explicar. O medo era tanto que dormiu abraçado a sua mochila.

                                Madrugada, o sol já a pino, ele ainda dormindo. Um barulho, sorrisos, alguém gritou: - Vamos lá Mozart, é hora de partir. Acordou e viu que o sol se espalhava pelo vale. Viu sua patrulha rindo a sua volta, o fogo apagado, uma noite mal dormida, mas salvo pelo gongo. Foi um belo acampamento. Cinco dias inesquecíveis. Tomé contou na conversa ao pé do fogo que alguma coisa tinha acontecido. Voltaram pela manhã e o acharam na “boca” da Mata. Mozart quando chegou em casa contou para seu pai. Prometeu nunca mais mentir. Seu pai nada disse só escreveu em um pedaço de papel: - A lição muitas vezes vem tarde demais. Aprender a fazer fazendo é uma arte, mas não abuse da sorte!

domingo, 28 de julho de 2019

Lendas Escoteiras. João de Deus.




Lendas Escoteiras.
João de Deus.

Nota - Escrevi este conto ouvindo “Noturno” com a orquestra de Carlos Slivskin. Sou emocionalmente chorão. Escrever uma historia e chorar não dá para entender. Quando escrevi meus olhos se encheram de lágrimas. Quem sabe a história mais linda que escrevi. Quem ler será difícil não se emocionar. As coisas são assim, a beleza da vida não está só na realidade, ela está também nos sonhos realizados ou não. Existe sempre um final feliz, seja aqui ou do outro lado da vida. Uma história de ficção sem exemplos para dar a não ser o amor.

                  Dois dentes grandes o faziam parecer um coelho quando sorria. Afável, gostava de um sorriso. Moreno cabelo cortados com máquina zero. Fazia parte do lugar onde estava. Magro e pequeno para sua idade de onze anos. Poderia ser Lobinho que ninguém viria à diferença. Filho de Dona Maria Noêmia, mulher boemia que passava as noites onde ninguém podia contar. Dificilmente ia visitar seu filho. Seu pai fugiu um dia e nunca mais voltou. Ele sentia falta. Queria um pai. Olhava para Miro como se fosse seu pai. O escotismo lhe deu outra vida outro motivo para voltar a viver. Esteva internado havia dois anos. Tinha um câncer que o estava matando. O tratamento de quimioterapia nem sempre ajudava. Tossia, sentia dores tremendas no peito, gritava de dor e os médicos sem nada poder fazer a não ser aplicar morfina. Nunca esqueceu aquele dia que Miro entrou na enfermaria. Uniformizado na mão segurava um bastão com um totem do Tico-Tico. – Gritou alto! – Quem quer ser de minha patrulha? João nem pestanejou. Gemendo de dor se levantou. – Eu quero!

                 Todo sábado pela manhã Miro chegava, sempre só, sempre falando alto: - Patrulha em forma! João se levantava com dores horríveis, mas formava com mais três. Leonel, Pedro e Josias. Josias morreu dois meses depois, Pedro ficou mais tempo na enfermaria até o dia que saiu para operar e nunca mais voltou. Leonel morreu sorrindo no dia que a patrulha ouvia a historia de Caio Vianna Martins que Miro contava com emoção. Todos ouvindo atentamente. Ninguem viu Leonel escorregando da cama e caindo ao chão. Chamaram as enfermeiras que o levaram. Também nunca mais voltou. A patrulha teve mais dois patrulheiros novos na enfermaria que aceitaram entrar. João contava nos dedos o dia de reunião. Aguardava ansioso. Miro um dia narrou fazendo gestos como eram os acampamentos Escoteiros. As barracas, a mesa, as poltronas de madeira a cozinha e o fogão de barro. João sorria um sorriso de um jovem que sonhava em ser sem saber que nunca poderia ser um deles.

                  Ele imaginou como seria a barraca, sorria pensando que estava dormindo em uma delas, como seria a mesa que chamavam de pioneiria. Imaginou o fogão aceso, as brasas, a panela fazendo arroz e a frigideira fritando ovo. Sonhava com o fogo de conselho. Era lindo pensava. Um dia Miro não foi. João de Deus sentiu tanta falta que chorou baixinho por muito tempo. Miro era seu bastão, seu sonho que nunca se tornaria realidade. Dois sábados seguinte Pablo chegou. Era o Sub. Monitor. Explicou que Miro foi operar na cidade grande. Queria despedir, mas o Doutor do Hospital disse que não. Seria muito triste sua despedida e não iria fazer bem para ninguém. Pablo era diferente. Pequeno, olhos negros enormes. Mas era um Escoteiro legal. Logo fez amizade com todos. Disse que a patrulha Tico-Tico não iria acabar. Ele estava ali para levantar o bastão e darem o grito. João de Deus sentiu saudades de Miro, mas voltou a sorrir o que não fazia há muito tempo.

                    Pablo ensinou a Canção da Despedida. João gostou, mas achou muito triste. Preferia o Cuco, a árvore da montanha e adorava o Avançam as patrulhas. Pablo trouxe xerocado uma foto de patrulhas correndo pelas campinas, com a bandeira do Brasil. Era do caderno Avante. Lindo de morrer. João não tirava os olhos. O tempo todo ali olhando até desligarem as luzes. Fechava os olhos e seu corpo era transportado para os montes, para as montanhas, para as campinas e junto com seus companheiros eles cantavam o Rataplã. Seu sonho era fazer a promessa, pois sabia a Lei de cor e salteado. Um sábado também Pablo não apareceu. Ninguem explicou por que. Quem sabe a enfermaria só com ele presente a patrulha não podia se reunir. Juca, Moisés, Nonato também partiram para as estrelas conforme Dona Matilde a enfermeira explicava a morte dos jovens enfermos.

                    Mas ele queria continuar Escoteiro. Sabia que mesmo com um ele podia ser. Foi Miro antes de ir embora quem disse que onde houver um Escoteiro tem uma Tropa. Ele não sabia o que era Tropa, mas sabia que podia continuar amando sua patrulha e o escotismo. Um sábado bem tarde apareceu um Escoteiro bem mais velho. Já com seus dezesseis anos. Procurou João de Deus. Disse para ele que se chamava Rael. Não podia ficar ali, pois o Diretor do Hospital proibiu. Achavam que a patrulha estava prejudicando muitos os meninos doentes e eles no último momento sempre pediam para dar o ultimo grito de patrulha. Era impossível. Isto não ajuda contou Leo o Sênior. – João, estou aqui a pedido de patrulha Tico-Tico. Ela está na porta do hospital. Não deixaram eles entrarem. Só eu e me pediram para sair logo. Mandaram entregar para você o Livro do Fundador do Escotismo. Baden-Powell O Escotismo Para Rapazes. Eu mesmo comprei outro para presenteá-lo. O Guia do Escoteiro do Chefe Velho Lobo.

                    Leo partiu e João de Deus começou a ler os livros que fizeram dele um Escoteiro diferente. Agora conhecia tudo porque ele deveria ter sido um. Deveria ter acampado, deveria ter conhecido trilhas e montes, deveria ter subido nos mais altos picos, deveria ter acampado nas mais lindas florestas do Brasil. Seu sonho era sentar em volta de um fogo, bater palmas, cantar sorrir e representar uma bela esquete.  Quase não jantou naquele dia. Quando a luz apagou ele chorou. Não queria parar de ler. Nunca na vida se sentiu assim. Fechou os olhos devagar. Suas lagrimas caiam sobre a cama. Sentiu uma luz azulada entrar no quarto. Viu um velhinho sorrindo para ele. Parou ao pé da sua cama. Falou pausadamente o lema Escoteiro – Sempre Alerta João de Deus. Quer ir comigo para o Grande Acampamento do céu? João de Deus parou de chorar. Olhou para um lado e outro e viu centenas de patrulhas formadas. Havia uma, um jovem sorrindo chegou até ele: - João vim buscar você. Era Miro. A Patrulha Tico-Tico não é a mesma desde que você foi morar na terra!

                      Na vida real ninguém viu uma enorme nuvem brilhante e alva sobre o Hospital. Uma linda estrela esperava o menino João de Deus. O Doutor Tavares sentiu um calafrio. Correu até a enfermaria e viu João de Deus de olhos fechados e sorrindo. Viu que ele estava morto. Ninguem viu seu último suspiro, mas o Doutor Tavares sorriu pensando que João de Deus morreu feliz. Na porta do hospital uma multidão de escoteiros de mãos entrelaçadas cantava uma canção estranha para ele. Diziam que não era mais que um até logo, não mais que um breve adeus. Completavam dizendo que breve muito breve todos iriam se encontrar nos braços do Senhor. 

sábado, 27 de julho de 2019

Lendas Escoteiras. Meu amigo... O Cacique Itagiba.




Lendas Escoteiras.
Meu amigo... O Cacique Itagiba.

Prólogo: - Naquele sábado do retorno, na hora do apagar das luzes do quartel, toquei em meu clarim o toque de Silêncio mais triste que um dia toquei em minha vida. Para dizer a verdade as notas do clarim se misturaram ao sabor das minhas lágrimas que caiam harmoniosamente. Itagiba nunca saiu da minha memória. Eu sei que um dia vamos nos encontrar, pois nosso caminho nos levava ao mesmo lugar. Eu também iria morar um dia do outro lado do oceano.

              Acordei cedo. Rotina de um Cabo Corneteiro na 4ª Brigada de Infantaria em Juiz de Fora. Um soldado me avisou que o Capitão Barbosinha queria falar comigo. Ordens superiores não se discutem. Apresentei-me a ele em sua sala as sete da manhã. – Cabo, recebi este telegrama. Entregou-me e Dizia: – “Meu irmão em breve irei passar para o outro lado do oceano. Não quero ir antes de me despedir de você”. – Cabo o que significa passar para o outro lado do oceano? – Capitão, significa que meu amigo o Cacique Itagiba está morrendo e não quer ir antes de despedir de mim – Os índios Botocudos quando estão para passar para o outro lado se preocupam com suas três almas na hora da morte conforme ouviu de seus ancestrais: a nhe’enguê ou nhe’em, a alma boa espiritual, que vai para o Além quando a pessoa morre, não afetando os vivos; a anguêry, a alma animal, responsável pelas más inclinações e que fica na terra por um tempo depois da morte, assombrando os vivos; a avyu-kuê, a sombra, uma cópia imperfeita da pessoa, permanecendo nos ares e não incomodando ninguém. A doença é a ausência temporária da nhe’em, da alma boa. A morte é a saída definitiva dessa alma. O sonho é a saída nhe’em para esse outro mundo.

                O Capitão Barbosinha sorriu. Ele me conhecia. Sabia da minha lealdade e das minhas aventuras escoteiras. – Tem uma semana para ir e voltar. Às nove da manhã consegui uma carona em um Posto Shell. Tive sorte. Um caminhoneiro ia para Teófilo Otoni se prontificou a me levar. Estava com o uniforme de campanha do exército. Às onze da noite estava em casa. Contei aos meus pais o acontecido. Um banho, vesti meu uniforme e parti para a estação ferroviária. Duas da manhã e o Nonô Chefe da Estação me disse – Vado, as três e meia passa um trem de carga para Aimorés. Você pode pegar uma carona. Não deu outra. Tive sorte era Dedé Peito de Pato o maquinista. Fora Escoteiro sênior e pioneiro. Cheguei a Crenaque as cinco da matina. O dia clareava. Não consegui um barco para atravessar o Rio Doce.

               Fazer uma jangada demoraria demais. O rio estava calmo e as águas baixas. Escolhi um local onde havia uma grande pedra no meio do rio. Cada braça uns 80 metros. Tirei o uniforme e enrolei em esfoladas de bananeira minha tralha e amarrei as costas. Iria atravessar a nado. Não foi difícil. Às oito da manhã avistei no alto do morro do Grilo a Aldeia dos Pataxós, remanescentes dos Botocudos e Aimorés. Nada mudou. A mesma aldeia miserável do passado. Os índios ali não tinham vez. A FUNAI nunca ajudou. Parei para descansar, não queria chegar com ar de cansado. Precisava motivar meu amigo o Cacique Itagiba. Eu sempre disse que o sorriso é um remédio dos deuses. Meus pensamentos voltaram ao passado, cinco anos antes. Tinha passado para os seniores. Muitos conhecidos quando foram escoteiros.

                Nossa Patrulha sempre pensou em visitar os índios do vale do Rio Doce. Sabíamos que de uma população de mais de cem mil índios, hoje não eram mais que uns três mil. Havia quatro aldeias no vale do Rio Doce. Em Crenaque, em Conselheiro Pena, em Aimorés e a última em Colatina. – Porque não vamos visitar a de Crenaque? É perto e poderemos conhecer mais a história deles. Todos aprovaram. O Chefe deu sinal verde. Uma época que os chefes confiavam. Em uma sexta pegamos o Trem Rápido para Vitória. Não pagávamos passagem. Tínhamos passe livre na ferrovia Vale do Rio Doce. Às seis da tarde chegamos a Crenaque. Chegar à Aldeia a noite? Não era uma boa ideia, mas poderíamos atravessar o rio. Um menino de uns doze anos se ofereceu com a canoa de seu pai. Juntamos uns tostões e demos a ele.

                   No alto do morro do Grilo avistamos a aldeia. Nenhuma iluminação. Algumas lamparinas e mais nada. Casas de alvenaria. – Mas eles não deveriam ter Ocas? Eu iria averiguar. – Armamos duas barracas e dormimos como sempre. Sem medo e sem receios vivendo somente nossos sonhos de jovens escoteiros seniores. Acordamos com o sol nascendo. Na frente da barraca uma dezena de índios na maioria jovens como nós. Eles sorriam. Nenhum fazendo gestos de maldade. Levantamos acampamento e metido a entendido disse um bom dia no idioma tupi-guarani. Eles riram a valer. Foi então que um jovem forte e atlético, vestindo um calção azul e sem camisa nos convidou para visitar a aldeia e conhecer seu pai o Cacique Upiara e sua mãe a índia Poranga. Foi a primeira vez que conheci o Cacique Itagiba. Entramos na aldeia e todos sorriram ao nos ver. O Cacique Upiara muito educado. Com seu pequeno cocar de duas penas ele se orgulhava, uma de um Azulão Vermelho e outra do Uirapuru. Só os valentes da tribo conseguiam tais penas.

                        Ficamos lá até domingo. Conversamos e apesar de não entender sobre FUNAI, indigenistas e piratas de bebidas alcoólicas aprendemos muito. Um povo sofrido. As terras que o governo lhes deu foram invadidas diversas vezes. A caça desapareceu. Plantavam mandioca e muitas vezes era seu único alimento. Os homens da FUNAI não eram honestos. Eles viviam como podiam, mas ainda tinham o orgulho dos seus antepassados. Entre os indígenas não há classes sociais e todos tem o mesmo direito e o mesmo tratamento. O pequeno pedaço de terra que ainda tinham pertencia a todos. Quem conseguisse alguma caça e ou uma boa pesca era dividido com todos. Cada casa morava oito ou doze famílias. Até mesmo o Cacique Upiara e sua esposa a índia Poranga moravam com mais oito famílias.

             Ficamos amigos. Muitas vezes fui só como se diz a “escoteira”. Juntos fizemos belas aventuras. Caçamos uma Jaguatirica só com armadilhas. Ficávamos horas na pedra do Açu junto ao rio Doce tentando pescar uns dourados. Fizemos uma jornada até a Lagoa dos Macacos muito longe da aldeia. Uma lagoa enorme e nunca tinha visto tantos peixes. Aprendi a gostar do Cacique Upiara e a Índia Poranga. Fiz amizade com o Pajé Jurecê. Quatro anos depois fui servir a Pátria em Juiz de Fora. Sempre mantendo contato com Itagiba pelo correio. Encontrei Itagiba deitado em um catre de folhas de bananeira. Ele já sabia que eu estava chegando, seus guerreiros avisaram. Levantou com dificuldade e ficou em pé com a ajuda de sua mulher a índia Ibotira. Abraçou-me fortemente com os olhos cheios de lágrimas. Não me contive e chorei também. Ficamos ali a falar do passado, e sua tristeza com o futuro da aldeia.

            Ele acreditava que poderia reencarnar. Um dia me disse – Sabe Vado Escoteiro quando eu reencarnar novamente quero ser seu irmão. Quero estar sempre ao seu lado. Morreu a noite sorrindo e olhando para mim. Voltei no dia seguinte do seu sepultamento para o quartel. Naquele sábado do retorno, na hora do apagar das luzes, toquei em meu clarim o toque de Silêncio mais triste que um dia toquei em minha vida. Para dizer a verdade as notas do clarim se misturaram ao sabor das minhas lágrimas que caiam harmoniosamente. Até mesmo o Sargento da Guarda me olhou assustado. Ele não conhecia a história, mas sua experiência com corneteiros sabia de antemão que uma bela história de amor e amizade tinha acontecido. Itagiba ficou na minha memória para sempre. Eu sei que um dia vamos nos encontrar, pois nosso caminho nos levava ao mesmo lugar. Eu também iria morar um dia do outro lado do oceano.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Era uma vez... Na Jângal! O meu amigo, o Mowgly. (uma história para lobinhos)




Era uma vez... Na Jângal!
O meu amigo, o Mowgly.
(uma história para lobinhos)

Prólogo: - Menina Lobinha mantenha a paz dentre os senhores da selva, o tigre, a pantera, o urso; E não perturbe Hathi, o Silencioso, e não perturbe o javali em seu ninho. - Quando alcateia encontra alcateia na selva, nenhum dos bandos saí do caminho, Melhor Possível e boa caça!

                    A Akelá me deu um “pito” na frente da Alcateia. Queria chorar e não chorei. Era meu primeiro acantonamento e eu tinha sonhado com ele. Sonhei na prova da escola e quase não tive nota. Sonhei no café da manhã e acordei com meu Pai dizendo que estava na hora. Porque ela gritou comigo? Era bondosa, e juro que achei que era minha amiga. Levava no bolso um sonho de valsa e me deu vontade de comer. Não pode? – Ninguém me avisou. Ela me deixou na varanda da “Hacienda Esmeraldas” onde acantonávamos de castigo. Vi os lobinhos cantando rumo à trilha da Hathi. Ela contou que os elefantes quando vão morrer se dirigem ao seu Cemitério na Selva. Eu queria tanto conhecer! Será que Hathi estava lá? Eles sumiram na curva do Monte Mali. Queria conhecer esse monte, o Baloo contou que lá mora Shery Kaan. Não tenho medo dele. Minha mãe me deu um isqueiro. Qualquer coisa faria uma Flor Vermelha!

                   Sou obediente e disciplinada. Esperei e esperei e eles não voltaram. Dona Noêmia estava na cozinha fazendo nosso farnel. Nome esquisito foi a Bagheera quem nos ensinou. Fui até lá e ela nem me olhou, voltei novamente para a varanda e resolvi ir até o Monte Mali. Não iria muito longe. Entrei em um pequeno bosque e avistei um riacho. Bonito, águas clarinhas davam para ver os peixes a nadar. Sorri, gostava de peixe, tinha pena deles quando comia. Joguei umas pedras para deslizarem como meu pai fazia quando íamos ao Parque e até o lago. Cansei. Sentei olhando ao longe o Monte Mali. Resolvi voltar. Qual o caminho? Não sabia. Não marquei afinal meus sete anos não entendem muito dessas coisas. Será que ela a Bagheera vai me procurar? Kaa contou que ela tem um faro enorme! Comecei a ter medo. Tremia, deu vontade de chorar e chorei. Os sons do meu choro retumbaram na floresta.

                    Alguém me colocou a mão no ombro. Olhei e vi um menino de tanga e cabelos grandes amarrados.  – Mowgly? Ele riu. O que fazes aqui menininha? Buldeo também te expulsou da Aldeia? Olhei para ele novamente e sorri. Não Mowgly, a Akelá me deixou de castigo vim aqui e não sei voltar! – Alguém gritou ao longe chamando Mowgly. – Olhei e era a Bagheera, não a aquela da minha alcateia, mas a Pantera Negra que gostava dos tempos das falas novas. Mowgly fez sinal para ela chamando. Não entendi o que dizia. – Ele me olhou e disse: Vou caçar. Bagheera e Baloo me chamam. A Kaa disse que encontrou um pomar cheio de mangas e laranjas! – Posso ir? Perguntei. – Mowgly disse que não. Primeiro vamos achar onde você mora. Akelá sempre sabe aonde vamos. Ele e Raksha dizem que os pata tenra não podem ficar longe da Matilha.

                  Balu chegou. Um urso enorme. Tive medo. Ele bondoso disse: - Você fugiu de onde? Mowgly explicou. Precisamos levar esta menina para sua aldeia. Qual? Perguntou Bagheera. – Acho que vi lá pelos lados do Waingunga uma aldeia. É onde vivem o Povo Livre próximo às colinas de Seeonee. Ela me olhou ferozmente nos olhos. – Ainda bem que os Bandar-log o povo macaco não encontrou você! Mowgly olhou para Baloo. “Sabe Baloo, essas duas coisas brigam dentro de mim assim como as cobras brigam na primavera”.  “Eu sou dois Mowgly, mas a pele de Shere Khan está sob meus pés.”. Baloo sorriu. Não esqueça Mowgly esta é a Lei da Selva, tão antiga e imutável quanto o céu; quando um lobo a viola, ele morre, mas prospera o lobo que é fiel. Como a hera que envolve o tronco, a lei sobe, desce e volteia – pois a força da alcateia é o lobo, e a força do lobo é a alcateia.

                 Nossa! Parecia a história que minha Akelá contou quando entrei para os lobinhos. Eles me pegaram pela mão e logo chegamos a Hacienda Esmeraldas. Vi todos os lobinhos, a Akelá o Baloo homem e a Bagheera mulher assustados e me chamando aos gritos. Dei um beijo no Baloo, acariciei a pele negra e felpuda da Bagueera, dei um abraço enorme no Mowgly e corri em direção a eles. Akelá chorava. Martinha onde estava? Olhei para a selva. Sorri para ela, o Baloo e a Bagheera me abraçaram. – Eu? Eu estava caçando próximo ao Rio Waingunga onde se avista as Planícies de Seeonee! Encontrei eles Akelá! Eles quem? – Sorri, não iria dizer. Não iriam acreditar. Quem sabe iriam me dizer tantas coisas que nunca iriam superar o meu medo, que transformou na maior alegria em poder encontrar pessoalmente eles: - O Mowgly, o Baloo e a Bagheera!

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Lendas Escoteiras. Eram mil gaivotas no ar.




Lendas Escoteiras.
Eram mil gaivotas no ar.

Prólogo: - “Me senti puxado, arrancado como se fosse jogado no ar. Olhei e vi meu corpo, esticado nas areias brancas do mar. Sabia que chegou a hora, hora de partir e quem sabe nunca mais voltar. Ainda tentei olhei procurei implorei aos que se foram e não vi as gaivotas no ar. Meu corpo flutuava ao sabor das ondas do mar”.

Gaivota que se preza tem de sentir as estrelas, 
analisar paraísos, conquistar múltiplos espaços.
Gaivota que se preza precisa buscar perfeição.
Importante é olhar de frente, em uma, em dez, cem mil vidas.

                        Como tinha chegado até ali eu não sabia. Meu corpo se recusava a obedecer, mas eu precisava ver as gaivotas voando no ar. Teria que ser naquela tarde preguiçosa, com o sol se pondo no horizonte, naquela praia antes de tudo desaparecer de minha mente. Passos trôpegos cheguei a areia branca, as ondas ainda não haviam alcançado a ponta da praia no seu esplendor da tarde. Parei, não sabia se eu iria conseguir. Olhei para minha perna que sorria. – Não dá mais Velho Escoteiro. Eu o servi a vida inteira não me obrigue mais a caminhar. Sorri sem graça, mas era verdade, minhas pernas me serviram de maneira exemplar por toda minha vida. Não podia agora reclamar. Tentei levantar os ombros e não consegui, franzi a testa com meu olhar perscrutando o horizonte. Nenhuma gaivota no ar. Olhei o oceano até onde minha vista alcançava. O som das ondas me embalou como se eu ainda fosse uma criança no colo de minha mãe. Senti as pernas fraquejarem. Elas insistiam em dobrar. Pausadamente fui descendo de minha altura até as areias do mar.

                            Ah! O perfume das águas azuis que rebatiam nas pedras da enseada mostrando uma força incrível para me reverenciar. O Ribombar nos rochedos me enchia de prazer e emoção. O mar sempre foi meu céu, meu amor minha paixão. Sentei-me devagar na areia branca cujas ondas ainda não podiam me alcançar. Meus olhos quase fechados viram próximo da mão uma concha, pequena linda e na sua cor branca e me lembrei de um poema que gostava de declamar: “A simplicidade de uma concha do mar junta-se o colo da areia onde ela se aninha. As ondas do mar embalam-na num vaivém paternal. Do sol um pingo de ouro suscita-lhe um sorriso madrepérola. E o menino que a colhe tão cheio de curiosidade torna-a num pequeno mundo de mistérios. A simplicidade de uma concha do mar junta-se o universo”! Senti uma pontada no peito. Sabia que minha hora se aproximava. Tentei levantar meus olhos, queria levar comigo a vastidão do mar ver nos meus últimos momentos uma gaivota no ar. Meus olhos incompetentes reclamavam querendo fechar. Pensei em rezar, pedir a Deus um último instante. Se houver quem diga o que não falo diz à sorte, ao acaso selvagem, pois já nem sei de mim, sei a imagem do mar que nem mais o sinto, e por isto minhas lagrimas me fazem calar.

                      Meus olhos vão aos poucos se fechando, e como uma tela gigantesca vai se formando na areia branca daquela praia onde minha vida se voltou para me mostrar os acertos e desacertos de tudo que criei ao sabor do tempo. Tempos que já se foram, uma promessa adormecida, embaladas em uma bandeira do Brasil. Uma patrulha de navegantes, valentes escoteiros do mar, eu ali na frente mostrando ser o Pioneiro, o primeiro a achar os caminhos perdidos nas matas a descobrir o luar atrás das estrelas. Tempos que já se foram, quantos sorrisos? Quantas luas para amar? Quantas estrelas no céu para contar? Vi-me um homem feito, esquecendo-se de seus amores, pois meus pendores era o escotismo e nada mais. Eu sabia que fiz amigos, muitos e inimigos? Quem não os teve em sua vida? Afinal sempre nos lembraremos deles de suas palavras silenciosas, mas o bom mesmo era o silêncio amoroso dos nossos amigos. Resolvi ter uma família, mas me esqueci dela por muito tempo. Me dedicava de corpo e alma aquele movimento pelo prazer de servir.

                      E o tempo foi passando, e os meus de sangue foram ficando. Viajei por plagas inacessíveis, fiz acampamentos impossíveis. Amei cada fogo que ascendi, e as brasas hoje adormecidas na trilha do tempo distraídas, deixei-as queimar sem me importar até quando. Quantos apertos de mão? Quantos abraços floridos? E os seus de sangue a lhe esperar? Deu-lhes por acaso neles os abraços merecidos? Não, se um dia pensar o que não penso, em uma trilha de nevoeiro denso, nas terras das sombras que nem existem mais. Esqueceu-se de suas mentes, de suas bocas, olhares sentimentos nobres. Só viu os vales e os mares, à crina das espumas e vendavais. Seus rebentos um dia partiram, suas famílias foram criar. E ela? Sozinha em casa sempre a me esperar.

                     Sei que lhe dei abraços, beijos, mas isto poderia pagar o tempo que passei vagando nos montes e horizontes sem fim? Pelas frestas da sala e da janela, via você fatiada, a boca do sangue esperando um beijo que nunca lhe foi dado. E ela como uma lã, com linho pensando ser artesã, parecia flutuar sobre os lençóis nus que esperavam muitos abraços... Que não vieram... E eu com a mente longe distante, bem além do horizonte, usurpava seu trono seu recato. Um dia ela se foi, e eu fiquei sozinho. Merecia ter este destino. Escolhi o que não poderia escolher. As minhas escolhas não entendiam o que dei, o que fiz, o que deixei de bom para eles. Sabia que era meus últimos momentos, fui ali à praia, pisar nas areias brancas que amei, para ver gaivotas perdidas no ar. Haverá alguém quem diga, o que não falo, pois diz à sorte que ela vem ao acaso, selvagem, pois agora nem tenho imagem, verdade é que nem sei o que sinto ou o que falo.

                     Me senti puxado, arrancado como se fosse jogado no ar. Olhei e vi meu corpo, esticado nas areias brancas do mar. Sabia que chegou a hora, hora de partir e quem sabe nunca mais voltar. Ainda tentei olhei procurei implorei aos que se foram e não vi as gaivotas no ar. Meu corpo flutuava ao sabor das ondas do mar. Jogado aqui e ali eis que me detive, eram eles, a patrulha do meu tempo, surgiu ali vindo do firmamento todos sorrindo e dizendo bem vindo meu monitor! Lembrei-me de poema do meu tempo. Dizia ele que é ingrato contar sorrisos, pelas praias do amanhã. Quem vai quem fica nada os encanta. Não levam olhos de ver os sem brilhos, os cadafalsos de rotina, os pelourinhos do cansaço. Você aqui na terra era um hospede, morando nas esquinas da vida, de olho no seu passado pensando no seu presente e no seu amanhã. Abracei-os chorando, pedindo perdão. Eles sorrindo me abraçaram cantando, dizendo meu monitor meu amigo, para você, aqui estão, mil gaivotas voando no ar...

terça-feira, 23 de julho de 2019

Lendas Escoteiras. O homem de Nazaré.




Lendas Escoteiras.
O homem de Nazaré.

                - Eu só o vi uma única vez na vida. Na verdade aquele foi um dia especial, não me perguntem por quê. Notei sua figura surgindo na estrada do Alencar, a pé, com um cajado simples, mas com passadas belas sem se mostrar cansado. Ele não me disse quem era e eu nem perguntei. Quando se aproximou de mim senti um brilho em sua figura e inexplicavelmente ele se transformou. Juro que ao longe estava com uma bata branca e ali na minha frente estava agora com um lindo uniforme Escoteiro. Como ele podia fazer aquilo? Era mágico? Se fosse o truque era perfeito. Não usava o chapéu e eu sei que aquela áurea brilhante o chapéu tiraria toda sua pose badeniana. Quem seria? Ele sorria para mim, um sorriso gostoso, dentes alvos olhos negros, cabelos castanhos compridos.

                  Havia parado ali para descansar um pouco da minha jornada e fazer um café. Precisava. A Árvore da Colina já era minha velha conhecida. Pequena, mas com uma folhagem que em todo seu redor fazia uma sombra invejável. Não havia nascente, não havia rios e nem tampouco regatos por perto. Somente a árvore para nos dar o descanso devido. Pensava em chegar ao acampamento da patrulha ao entardecer. Uma obrigação com meu pai me obrigou a ir depois deles. O destino não era longe. Após a curva do Falcão se poderia avistar a mata pequena, a cascata e o bambuzal e até mesmo o campo de patrulha. Tirei a mochila, pendurei meu chapéu em um galho e duas achas facilitarem o Tropeiro que iria fazer. Na mochila tinha café e pó. Meu canecão militar serviria para esquentar a água do cantil.

                  Levantei e com respeito disse a ele: - Bem vindo! Ele sorria. Não era bonito, mas tinha alguma coisa especial que encantava só de olhar. Em vez de sapatos usava uma sandália. Calado se assentou a sombra junto ao tronco. Fechou os olhos e parecia rezar. Passei o café e ofereci a ele. Olhou meu cantil, estava cheio pela metade. Passei para suas mãos e ele bebeu devagar, parecia sorver o líquido com carinho de quem tem sede. Tomou o café me olhando nos olhos. Minha caneca de esmalte parecia brilhar em suas mãos. Fechou os olhos e dormiu por alguns segundos. Acordou sorrindo e levantou. Colocou a mão em minha cabeça e disse – “Que a paz esteja convosco”. Partiu sorrindo acenando com a mão e ao longe vi que estava de novo com a bata branca e seu cajado.

                   Fiquei só naquela sombra da Árvore da Colina meditando. Quem seria? De onde veio e para onde iria? O sol já ia se por na Montanha do Cavalo. Era hora de partir. Ainda havia mais duas horas de jornada. Conhecia o caminho. Limpei o fogo, joguei uma pitada de água do meu cantil nas brasas, mochila nas costas e parti. Não olhei para trás. A Árvore da Colina tinha o dom de não deixar ninguém partir. A noite chegou mansa e calma. Meu caminho estranhamente era claro, uma estrela no céu jorrava raios brilhantes na estrada. Nunca tinha visto nada igual. Do alto da Colina avistei a curva do Falcão. Estava perto. Meus pensamentos giravam entre chegar e lembrar-se daquela figura tão simples, com um sorriso inesquecível e com uma áurea brilhante que me encantou para sempre.

                     Nunca soube quem era. Não perguntei. Acho que ele sabia que um dia eu iria lembrar-se dele e saber que ele veio do céu. Porque eu não sei. Eu era apenas um Escoteiro a ir para seu acampamento. Meu café ele tomou sorrindo sinal que não era ruim. Nunca contei esta história para ninguém. Eu sabia que a partir deste dia o meu mundo se transformou pra sempre. Sabia que agora a paz morava em mim. A harmonia e o amor reinavam. A paz de um sorriso predominava. Agora eu sabia que naquele dia, naquela Árvore da Colina, Jesus de Nazaré me deixou entrar em seu coração!  

E que a paz esteja sempre convosco!

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Lendas Escoteiras. Ariranha, um Cão Lobo inesquecível. (Uma história baseada em fatos reais).




Lendas Escoteiras.
Ariranha, um Cão Lobo inesquecível.
(Uma história baseada em fatos reais).

Prólogo: - De vez em quando escuto alguém me dizer: - Para com isso! É apenas um cão! Ou então... - Mas é muito dinheiro pra se gastar com ele! É apenas um cão. Estas pessoas não sabem do caminho percorrido, do tempo gasto ou dos custos que significam "apenas um cão". “Muitos dos meus melhores momentos me foram trazidos por apenas um cão". O mais altruísta dos amigos que um homem pode ter neste mundo egoísta, aquele que nunca o abandona e nunca mostra ingratidão, é o cão. 

              Aconteceu há muitos anos atrás. Um fato que ficou marcado em minha vida para sempre. Escoteiro da Patrulha Lobo corria o ano de 1953. Foi quando apareceu Ariranha, um cão lobo nas Matas do Quati. Seis dias para ser exato convivemos juntos em um acampamento de tropa que acontecia todos os anos. Não dá para esquecer, pois foi nossa terceira Olimpíada Escoteira, e a cada ano elas marcavam época. Idéia do Munir, um Pioneiro que também tinha a função de Mestre da Banda. Gostava de ser chamado Maestro Munir. Chefe Jessé relutou, mas a Corte de Honra achou a ideia esplêndida. Era uma Olimpíada diferente que visava técnicas escoteiras e nada mais. Sempre acampávamos em uma clareira próxima ao Rio do Morcego, onde se avistava a bela cachoeira do Sonho. Na época da Piracema era um espetáculo ver os peixes tentando subir nas corredeiras e pulando sobre as pedras. Se podia pegar com a mão.

          As provas eram divertidas. Só técnicas escoteiras. – Subir em árvores de seis metros de altura descendo pelo nó de evasão com tempo marcado – atravessar o rio nadando em dez minutos ida e volta (60 metros). – Fazer vinte e cinco nós escoteiros ou de marinheiro em seis minutos pendurados de cabeça para baixo em uma corda – Deixar-se cair da cachoeira (oitos metros) em um tambor vazio de duzentos litros. – Semáforas e Morse uma prova onde tínhamos grandes sinaleiros. – Montar um fogo, fazer um café e pão do caçador em oito minutos. – Uma fogueira que durasse pelo menos uma hora sem ser abastecida. – Cortar uma tora de madeira de oito polegadas em oito minutos usando só um facão. – Trilha e pista de animais e tantas outras que deixaram saudades.

         O caminhão da prefeitura nos deixou pela manhã na trilha da mata onde depois se transformou no Campo de Aviação e que nos levava ao Rio do Morcego. O resto era a pé. Apenas quatro quilômetros. Adorávamos este acampamento anual. A Patrulha se preparava meses antes. O troféu pela vitória alcançada não eram medalhas. Podia ser uma faca Escoteira, um canivete Suíço, uma bússola, distintivos de lapela com flor de lis, moedas de boa ação. Prêmios que ambicionávamos muito. Cada Patrulha tinha o seu campo separado da outra mais ou menos por quarenta metros. As pioneiras eram feitas no primeiro dia, pois no segundo as Olimpíadas começavam. Lembro que estava fazendo uma fossa para o WC quando avistei Ariranha. Notei algum diferente. Parecia um lobo Guará, mas tinha o pêlo meio amarelado e quase sem rabo diferente do lobo cinzento que conhecia bem. Quem sabe era um cruzamento com um vira-lata qualquer com alguma loba perdida ou habitante da mata. Ele nunca sentava. Sempre em pé, orelhas para o alto e olhando sem piscar o que fazíamos. Quando me aproximava ele dava alguns passos para trás e parava.

            Durante todo o dia ele ficou próximo ao nosso campo de patrulha. Lembro que foi Pedregulho o intendente quem lhe deu o nome de Ariranha. Porque não sei. À noite quando íamos dormir ele ficava na entrada do pórtico com se fosse velar nosso sono. Pela manhã impreterivelmente lá o encontrávamos. Passamos a alimentá-lo e ele parecia se sentir feliz com a nova família. Durante a realização das provas da Olimpíada, ele ficava próximo a mim. Uma vez entrando na mata a procura de uma pista pisei em falso e um enorme corte se fez em minha perna bem abaixo do joelho. Ele veio até a mim e levei um susto quando ele começou a lamber o sangue que escorria na perna. Parou na hora. Quando passei a mão em seu pêlo saltou de lado e tomou distância. Uma noite acordamos com seus latidos. Latia para uma enorme cascavel que impreterivelmente invadiria nosso campo. Ele a espantou. Outra vez seus latidos foram mais altos e foi à tarde quando estávamos tomando banho no córrego da Lagartixa. Desta vez era uma Onça parda. Fugiu com seus latidos.

          Durante os seis dias de campo, Ariranha permaneceu conosco. No último dia no cerimonial de bandeira Ariranha se colocou ao meu lado na ferradura. Não esperava por isto. Todos acharam divertida sua pose. Ele não me olhava. Seus olhos estavam fixos na bandeira Nacional. Devia ter assistido todos os cerimoniais que aconteceram. Enquanto ela farfalhava ao sabor do vento e descia dos céus seus olhos acompanhavam. Quando as patrulhas deram o grito ele ficou no meio e pela primeira vez se deixou abraçar. Foi um espetáculo comovente. Todos os escoteiros das demais patrulhas vieram também abraçá-lo, pois já era querido por todas as patrulhas. Ao partirmos ele nos acompanhou até a estrada onde pegaríamos o caminhão da prefeitura. Ao subir na carroceria ele estava lá me olhando. Abanando o pequeno rabo ele deu um uivo enorme. Gritante e choroso. Como se fosse um lobo de verdade se despedindo para sempre. Ainda nos acompanhou por alguns quilômetros na Estrada de São Raimundo e depois sumiu em uma curva no meio da poeira.

           Foi um retorno triste e comovente. Todos os Escoteiros tinham os olhos vermelhos e na carroceria do caminhão um silencio choroso. Eu voltei para casa com os olhos cheios de lagrimas. O uivo de Ariranha me marcou muito. As lembranças ficaram gravadas para sempre. Chorei por vários dias. Nunca me perdoei por não trazê-lo comigo, mas meu pai disse que ele era um cão da floresta e não iria se acostumar na cidade. Chamei o Romildo na semana seguinte e fomos até lá de bicicleta. Rodamos e rodamos e nem sinal de Ariranha. Nunca mais o vi, mas nunca mais o esqueci.

             Ariranha ficou marcado em nossa Patrulha Lobo. No nosso livro de Atas ele teve um lugar especial. Não sei se é fácil explicar como se ama um cão/lobo em poucos dias e nunca mais o esquece. Não sei mesmo. Até hoje me lembro de Ariranha com saudades. Histórias são histórias, tem umas que marcam, tem outras que ficam gravadas em nossa mente para sempre!

domingo, 21 de julho de 2019

Em volta de uma fogueira... O Vale da Redenção.




Em volta de uma fogueira...
O Vale da Redenção.

Nota – “Dizem que esta história nunca aconteceu”... Não sei. Eu conto em prosas as coisas belas que um dia vi... Vivi e ouvi... Por aí... No meu passado e no seu! - Danadamente ainda sinto uma enorme emoção... Ao contar essa história. Verdade é que João Santino me marcou muito. Sinto enormes saudades. Saudades que estão presas e não querem me abandonar. Um dia estaremos juntos novamente, Contando histórias em volta de uma fogueira em uma Floresta qualquer... Por aí... “No meio das estrelas no espaço sideral”! 

Introito.
- Chefe Vado, ele me pediu para o senhor vir aqui urgente! Diz que não vai ter outra oportunidade. Era Dona Neném. Desliguei o telefone e parti. Sabia que o pior estava para acontecer. Ele dizia que não era o pior, era apenas uma passagem para o outro lado para livrá-lo daquela dor terrível em seus intestinos. Um câncer estava acabando com ele. A porta cerrada entrei e fui direto ao seu quarto. Cabeça levantada em alguns travesseiros me viu e tentou sorrir. Uma cadeira na cabeceira da cama sentei. Dona Neném com os olhos rasos d’água estava ao seu lado. – Voz rouca inaudível deu para ouvir: - Vado Escoteiro! Que bom que está aqui! – Foi bom enquanto durou não Vado? – Olhei para ele. Parecia querer entrar em um túnel do tempo e voltar trinta e dois anos atrás. – Balancei a cabeça. Também estava engasgado. Vê-lo sofrendo sem poder fazer nada, era uma dor cruel ao ver um grande amigo agonizando.  

- Em um esforço incomum ele tentava falar. Fiquei mais próximo. Sussurrava. – Qual o melhor? – O que perguntei? – Acampamento Vado! – No Rio do Peixe? – Não, não foi... – Minha mente voou ao passado rebuscando no tempo e tentando lembrar. Muitos anos, muitos... – No Vale da Redenção! – Olhei para ele e tive de concordar. Para nós Velhos Escoteiros é difícil escolher qual o melhor. Foi um acampamento no Vale da Redenção que deixou saudades. - Voltei no tempo. Doze anos. Ele? Acho que catorze. Era bem mais velho quando cheguei na Patrulha Coruja vindo dos lobos. – Lembro até hoje. Ele me olhou e disse: - Lobo, aqui não tem chefinho para ajudar... Vais comer o pão que o “diabo” amassou... E riu. Disse por dizer. Foi meu amigo, meu irmão. Não saia lá de casa. Mamãe disse que iria adotá-lo. Ele nem sabia o que era adotar. – Olhei para ele, os olhos rasos d’água. João Santino se for chorar vou embora!

  - Foi Joelson Piaba Monitor da Pantera quem deu a ideia. – Um acampamento de seis dias para ver quem fazia a Pioneiría mais bonita. Sinfrônio disse que ninguém era páreo. Zeca Borboleta sorriu sabendo que não era um amador em pioneirías. Bartolomeu um grande mateiro aceitou a ideia e o desafio. Juca Pirama sorriu. Todos especialistas em construções de Pioneiría em suas patrulhas. A Corte de honra levou quinze minutos para aprovar. Chefe Condor apenas sorriu. Seu sorriso matreiro era sinônimo de “aprovado sem ressalvas”! Não vou comentar os preparativos. Os intendentes e almoxarifes passavam dias na sede. Se alguém tivesse barba às machadinhas e facões dariam conta do recado. A caixa de Patrulha só foi fechada no último dia. As carrocinhas abarrotadas e com a fricção do mancal no eixo, faziam um som extremamente belo cantado em um ruído constante nas subidas e descidas. “Dizem que é um gemido, mas para os escoteiros era uma canção escoteira “belamente” cantada em sustenido”. O Vale da Redenção era um velho amigo. Perdi a conta de quantas vezes acampamos lá.

- A Pantera construiu em dois dias uma Torre linda de cair o queixo. Toda com encaixe e amarras de cipó de Vidro. A Coruja fez um Bungee Jump espetacularmente assustador. No alto do Jacarandá próximo ao Riacho Natureza com mais de vinte metros de altura e feito de Cipó Amora o melhor para usar nesses casos. Nunca quebrava. Pular a vinte metros com o cipó amarrado no tornozelo era demais. Ainda bem se alguém caísse se perdia no remanso do Riacho. O Portal da Onça Parda foi um dos mais belos que já vi. O Caminho de Tarzan feito pela Lobo por mais de cem metros com corda cipó amora foi sensacional. - Olhei para João Santino. Ele não sabia se sorria ou chorava. Tentou falar, mas vi sangue escorrendo em um canto dos seus lábios. – Por favor, João, não fale, deixe que eu conto para você àquela epopeia que os que lá estiveram nunca esqueceram. – Realmente foi um acampamento inesquecível, as Pioneiras foram demais. No penúltimo dia o Chefe Condor esperava a visita do Renatinho Fotógrafo, um antigo escoteiro para fotografar as pioneirías que iriam ficar na história. 

- A visita do Renatinho nunca aconteceu. Um temporal desabou por mais de seis horas. Jogou no chão as pontes, os mata-burros e as cancelas para chegar até o local de campo. O Riacho da Natureza não perdoou. Levou sem pedir as barracas, as pioneirías, o material de sapa tudo que encontrou pelo caminho. Conseguimos subir em um platô para ver sumir o sonho de uma vida que levamos para construir. Quando o sol apareceu não restava nada em cima da terra. Voltamos com calções e camisetas, mas perfeitamente confortáveis em nossos Vulcabrás! Quando ia contar o tombo que João Santino levou próximo à cachoeira Cinzenta e foi levado entre as pedras gritando e pedido socorro, mas saiu ileso do outro lado do riacho, olhei para ele. Um sorriso nos lábios. Sereno, calmo com os olhos fechados, não respirava. João Santino tinha partido no meio da história. Quem sabe sentado em uma nuvem ouvia o final do fenomenal acampamento no Vale da Redenção!  E eu... E eu pacientemente olhando para sua figura inerte não parava de chorar!

sábado, 20 de julho de 2019

Lendas da Jângal. O livro da selva (cães vermelhos).




Lendas da Jângal.
O livro da selva (cães vermelhos).

Nota – Das histórias da Jângal esta é uma das minhas preferidas. Os Cães Vermelhos. Considerado obra prima das histórias da Jangal todo chefe atuante em alcateia deve fazer o máximo para lê-lo no seu integral. Alguns dizem que é o ápice da História da Jângal. Feliz reunião oh Chefe dos lobos!

                     Após a invasão da Jângal, inicia um período agradável na vida de Mowgly. Após inúmeras aventuras e feitos, Mowgly detinha o respeito dos animais da Jângal, devido à sua coragem, esperteza e astúcia. Pai lobo e mãe loba haviam morrido e Baloo estava tão velho que mal conseguia andar. Mesmo Bagheera com seus músculos de aço já andava cansada. Akelá já apresentava a pelagem branca de tão velho e Mowgly tinha que dividir sua caça com ele. A alcateia neste tempo era conhecida como povo de Mowgly, mesmo este não tendo assumido a liderança do grupo, para a qual foi escolhido Fao, filho de Faona.

                  Certo fim de tarde, Mowgly e seus irmãos ouviram gritos, era o fial, um uivo aterrador. Lobo Gris logo percebeu que se tratava de uma caçada. Juntos com a alcateia eles perceberam a chegada de um lobo, um Won-tolla (lobo sem alcateia). Ofegante e cansado ele explicou a alcateia que havia lutado contra os dholes, os cães vermelhos do Decão, os quais haviam matado sua companheira e seus três filhotes. O lobo forasteiro avisou que os cães eram muitos e estavam invadindo o território dos lobos em busca de alimentos. O grupo era composto por caçadores vermelhos, dispostos a matar. Akelá percebendo que não havia outra saída e que teriam que enfrentar os cães vermelhos pela própria vida, sugeriu que Mowgly de escondesse nas terras do norte e aguardasse a passagem dos dholes. Mas Mowgly retrucou dizendo que lutaria junto com o seu povo contra os dholes.

                    Ao sair para espionar os dholes e verificar seu número, Mowgly acabou tropeçando em Kaa, a grande cobra píton. Conversaram muito os dois e acabaram juntos montando uma estratégia astuta para vencer os destemidos e numerosos dholes. Kaa mostrou a Mowgly o povo Miúdo (as abelhas dos rochedos) e as corredeiras formadas pelo rio Waingunga junto aos rochedos. Se Mowgly conseguisse enfurecer os dholes, estes ficariam cegos de raiva e o seguiriam até os rochedos, onde seriam mortalmente atacados pelas abelhas, aqueles que sobrevivessem as abelhas teriam seu fim trágico ao caírem dos rochedos nas corredeiras do rio Waingunga, e aqueles que sobrevivessem a tudo isso, teriam a alcateia esperando logo abaixo para uma luta mortal.

               Então Mowgly se pôs a encontrar os cães vermelhos, ao avistá-los percebeu que eram em grande número, acima de duzentos. Trepado em uma árvore, Mowgly começa a insultar os dholes, que ficaram furiosos e o tentaram pegar a todo custo. Os insultos de Mowgly levaram os dholes do silêncio aos grunhidos, e dos grunhidos aos uivos e, finalmente, a raiva desenfreada, tal como desejada por Mowgly. O cão líder saltou no intuito de morder Mowgly, mas este, mais rápido, pegou o cão pelo pescoço e cortou seu rabo. Todo o grupo dos cães enfurecidos aguardava sob a árvore onde Mowgly se protegia, sabendo que uma hora ele teria que descer ou morreria de fome. Mowgly subiu até um galho mais alto e dormiu até o anoitecer, quando o povo miúdo finalizaria seu trabalho e retornaria as colmeias dos rochedos. Então, pulando de árvore em árvore, Mowgly tentava atrair os dholes para a armadilha das abelhas dos rochedos. Ao chegar à última árvore ele passou alho em todo o seu corpo (as abelhas odeiam o cheiro do alho), e lançou-se a toda velocidade em direção aos rochedos das abelhas. A alcateia de cães vermelhos o seguiu furiosamente.

                      Ao perceber as vibrações da corrida de Mowgly e dos cães, as abelhas se colocaram em prontidão. Mowgly correu tão rápido que conseguiu saltar dos rochedos no rio Waingunga antes de receber qualquer picada. Mowgly já havia combinado com Kaa para lhe aparar a queda no rio, evitando que se chocasse com as pedras nas corredeiras. Os dholes foram atacados brutalmente pelas abelhas, muitos foram mortos pelas picadas, outros ao caírem sobre as pedras do rio. Os poucos que sobraram foram forçados a se lançarem no rio para evitar a morte pelas picadas, e foram recebidos pela alcateia do povo livre logo abaixo em um remanso formado no rio. Uma luta pelo território e pelas suas vidas fora travada na beira do rio Waingunga. Mowgly, lobo Gris, Akelá, Fao e Won-tolla, juntamente com os outros lobos da alcateia de Seeonee, lutaram bravamente até acabar com todos os cães vermelhos. Nada resistia aos dholes assassinos, mas neste episódio eles foram aniquilados graças à estratégia bolada pelo Mowgly e pela Kaa.

                  Akelá fora gravemente ferido e antes de morrer pede para passar junto ao lado de seu amigo Mowgly. Akelá diz que logo Mowgly partirá para junto dos homens, mas Mowgly diz que faz parte do povo livre e não quer partir. Mas Akelá sabiamente alerta Mowgly que logo ele mesmo tomará esta decisão. Ao morrer, Akelá é saudado por toda a alcateia que por muito tempo liderou.

Melhor Possível lobos de Seeonee, boa caçada!

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....