sábado, 31 de março de 2018

Lendas Escoteiras. Apenas uma patrulha escoteira... E nada mais!



Lendas Escoteiras.
Apenas uma patrulha escoteira... E nada mais!

                          - Bonifácio Luz era o monitor. Tomé Lindolfo o sub. José Nonato o intendente. Flávio Rosado o Cozinheiro. Tomás Lívio o Bombeiro e lenhador. Nas horas vagas socorrista. Eu Wantuil Leal o Escrevente e Construtor. A Patrulha Touro tinha história para contar. Vinte anos de vida! No oitavo livro da Patrulha tudo que importasse era anotado. Os acampamentos, as excursões às viagens, os distintivos conquistados e até mesmo as estrelas de atividade. Ela tinha um lema: - O que é de um é de todos! O grito de Patrulha simples, mas que viveram no coração de todos que nela participaram: – Qui, que, code, com o Touro ninguém pode!

                         Já tivemos oito escoteiros. Agora seis. Todos grandes amigos. Se um aparecia tinha que ficar para o almoço ou o jantar. Ninguem era rico, Flávio Rosado o cozinheiro era o mais bem aquinhoado. Seu pai Escrevente do cartório ganhava razoavelmente bem. Tomé Lindolfo o sub o mais pobre. Negro, morava na Favela do Chico Bento. Ali era seu lar e o nosso também. Chefe Lontra quando chegava apertava a mão de cada um e perguntava: - E aí turma, como foi à semana? Sempre a mesma coisa entra sábado sai sábado fora quando íamos acampar. Chefe gente fina, nosso herói. Podíamos procurá-lo a qualquer hora do dia ou da noite e ele sempre com aquele sorriso de amigo e irmão mais velho.

                       - Ferroviário conseguia passagens de primeira classe para onde quiséssemos ir. Um dia nos convidou para um passeio até Baixo Guandu em um comboio de mais de duzentos vagões de minério. Foi demais. Estávamos em reunião de patrulha quando ele se aproximou: – Dá licença? – A casa é sua Chefe! – Este é João Quaresma. Pensei em colocar na Patrulha de vocês! Bonifácio comentou – Ele é bem vindo Chefe! - Chefe Lontra sorriu e o apresentou a todos nós.

                     João Quaresma era alto e forte. Tenho doze anos. Ninguém acreditou. Parecia ter quatorze. Sorridente, aspecto de sabe tudo. – Quem é o monitor? Perguntou. Sou eu disse Bonifácio Luz. Ele olhou Bonifácio de cima em baixo. Tem eleição para ser monitor? – Não tem. O Chefe indica a patrulha opina. Foi seu primeiro dia. Cada um olhando o que ele fazia e como fazia. Dizem que o primeiro dia do novato é madeira de dar em doido. Mesmo exigindo dele aos poucos fomos nos acostumando com João Quaresma. A Patrulha tinha quatro segundas classes e dois primeira. Não havia noviços. João Quaresma foi o primeiro noviço a chegar à patrulha.

                        Fiquei em duvida. Será que ele queria se mostrar? Mostrar o que? Escotismo não dá para isto. Nos jogos ele dava a alma e a vida para ganhar. Acostumamos a jogar em equipe. Quem ganha é a Patrulha e não um só patrulheiro. João Quaresma queria ganhar sozinho. Na Reunião de Patrulhas comentamos e ele não deu bola. Fizemos um Conselho de Patrulha e ele concordou em trabalhar como equipe. Um dia procurou o Chefe Lontra para dizer que estava pronto para ser um primeira classe. Chefe Lontra o levou até a sede. Conversaram sobre isso. – João tem uma escada. Primeiro a promessa o demais depois.

                       Na quarta reunião chegou uniformizado. Bonifácio tentou contornar e ele não ligou. Na ferradura durante a inspeção quando ele ficou em posição de sentido e mostrou às mãos limpas e unhas cortadas o Chefe não disse nada. Ao dirigirmos ao canto de Patrulha Bonifácio disse que o Chefe queria falar com ele. – Foi embora naquela tarde revoltado. O Chefe o mandou de volta. Sabiamos que uniforme só na promessa! No portão deu uma banana para todos e disse que nunca mais ia voltar. Mas voltou. No sábado seguinte de cabeça baixa pediu desculpas.

                    Desse dia em diante João Quaresma virou outro. Obediente, disciplinado, cumpridor de ordens e sempre dando bons palpites. No acampamento na Foz do Rio Iguaçu ele nos surpreendeu. Acordamos fora do horário. Tinha a física as seis, o café as sete e a inspeção as nove. Acordamos por volta de sete e meia. Na noite anterior antes de dormir fizemos um Conselho de Patrulha. Decidimos o que cada um devia fazer. Nossa pontuação deixava a desejar. João Quaresma levantou no horário, tinha feito o café, renovou as amarras das pioneirías e o vasilhame estava um brinco. João Quaresma parecia entender do riscado. Na inspeção o Chefe sorriu. O campo ficou nos trinques.

                  Não ficamos em primeiro lugar e sim em segundo que era bom demais.  O tempo foi passando e João Quaresma mostrava suas qualidades como escoteiro. Agora já era um dos nossos. Foi uma festa sua promessa. Alguns meses depois recebeu sua segunda classe. Fez jus as especialidades que conquistou. Nunca nos convidou para ir a sua casa. Quase um ano de Tropa e não sabíamos quem era seu pai e sua mãe. Ficamos sabendo que morava no Bairro do Toledo e só. Um dia no Conselho de Patrulha nos fez um convite. Quero que vocês almocem domingo comigo. Não reparem casa simples e singela. Ele morava em um barraco de madeira. Na porta ele e sua Avó, sorrindo. Não tinha pai e nem mãe. Um almoço de primeira. Sua avó quase não podia andar e se aproveitava de uma bengala simples.

                João Quaresma a partir daquele dia selou para sempre a amizade com todos os patrulheiros. O tempo passou, Crescemos e viramos homens sem perceber. Bonifácio Luz virou prefeito da cidade. José Nonato foi para o Acre atrás de ouro que o faria rico. Tomé Lindolfo abriu uma casa de material de construção. Flávio Rosado tinha o melhor restaurante da cidade. Tomas Lívio virou bombeiro e já era capitão. João Quaresma casou com uma dama rica e foi morar na capital.

               Anualmente nossa patrulha se encontra para um papo gostoso em algum lugar. E eu? Eu continuo o mesmo, Escoteiro, aprendiz de sonhador. É o tempo passou e nem mesmo sei nesse momento quem sou. Enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então. Bom domingo!


Nota – Apenas uma Patrulha. Touro era seu nome. Bonifácio Luz era o monitor. Tomé Lindolfo o sub. José Nonato o intendente. Flávio Rosado o Cozinheiro. Tomás Lívio Bombeiro e lenhador. Eu Wantuil Leal o Escrevente e Construtor. João Quaresma o novato virou Faz Tudo e nas horas vagas socorrista. Afinal amávamos a patrulha Touro e o nosso Chefe Lontra.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Em volta de uma fogueira. São coisas de escoteiros.



Em volta de uma fogueira.
São coisas de escoteiros.

- Há muitos anos me aconteceu um fato que nunca esqueci. Acampados não tão próximo da cidade com quatro patrulhas, no segundo dia cheio de aventuras, deixei que as patrulhas tivessem um tempo livre maior para fazerem o jantar um pouco mais cedo. Eram patrulhas experientes com poucos noviços. Um dos monitores me pediu para dispensar o jogo noturno e quando me confirmou que os demais assim pensavam ele foi cancelado.

- Fiz meu jantar cedo. Só fazia as refeições nas patrulhas quando convidado ou quando estava tirando uma prova de “cozinheiro”. Em frente a minha barraca havia diversos troncos que encontrei na mata próxima e isto servia para quando os escoteiros quisessem papear nas fogueiras noturnas que fazia Ao sinal das primeiras estrelas, dos sapos coaxando na lagoa próxima ascendi à fogueira. Um foguito não muito grande, o bastante para esquentar quem estava a sua volta.

- Não faltou o Café no bule, amargo, sem muito açúcar esquentando nas brasas mais amenas. Tinha dois pacotes de biscoito de Maisena e deixei o tempo passar esperando a chegada dos escoteiros como sempre faziam as noites em conversas ao pé do fogo que eles gostavam. Muitos cansados foram dormir mais cedo. Lá pelas tantas estava só eu e Tornado. Sua Patrulha há tempos dormia.

- Vi que Tornado queria “prosear”. Fato comum. Sempre deixei meus escoteiros a vontade para falar o que quisessem. Nunca fui de sermões ou de aconselhamentos. Aprendi que ouvir era um caminho para se tomar uma decisão. No fogo uma ou duas chamas ainda se arriscavam a subir aos céus. Na lagoa podia ainda se ouvir os sapos cururus a procura de namorada. Poucas aves noturnas se faziam ouvir. O céu de estrelas como sempre dava seu espetáculo particular.  

- Chefe, eu queria tanto ir ao Jamboree! – Olhei para Tornado. Estava programado em um estado do Brasil um grande encontro de escoteiros que muitos diziam que seria o maior Jamboree já realizado no Brasil. – Sabe Chefe sempre sonhei em participar de um. Deve ser maravilhoso, conhecer milhares de irmãos escoteiros, trocar lenços quem sabe poderia levar algumas bugigangas que minha avó faz... Não disse nada. Permaneci calado. – Chefe não irei o senhor sabe que meu pai não tem condições de pagar!

- Conrado não chorava. Seus olhos estavam brilhantes. Era um escoteiro de Segunda Classe nunca correu do perigo e sabia enfrentar as dificuldades. – Chefe, eu sei que da tropa ninguém vai, todos são como eu. Olhou-me pensativo deu-me boa noite e foi para a barraca dormir. Fiquei sozinho em volta do fogo. Sabia que todos na tropa escoteira tinham esse sonho. Sabia que outras tropas seus chefes faziam promoções para conseguir as taxas necessárias. Eu não era assim.

- Nunca soube como resolver. Quando jovem também sonhei muitas vezes em viajar de avião, cruzar o oceano e bater em um Jamboree em um país qualquer. Sempre dizia aos meus escoteiros que sonhos se realizam. Cada um deve fazer por merecer. Valorizar a escola, aprender um ofício e nada os impediria de estar juntos aos seus irmãos do outro lado do oceano.

- Sempre disse aos noviços ou mesmo aos antigos que entrar na tropa escoteira é fácil, mas ser escoteiro não era para qualquer um. Naquela noite não olhei as estrelas no céu. Naquela noite eu não sonhei. Antes de fazer minhas orações da noite me lembrei da frase que um dia alguém me contou: - “A esperança é como o sol”. Se você apenas acredita quando vê, você nunca vai sobreviver à noite!

Nota - Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante. Augusto Branco.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Minhas publicações



Olá,
Estou colocando a disposição dos meus amigos escoteiros ou não, quase tudo que escrevi até hoje sobre escotismo. São contos, histórias, artigos, técnicas escoteiras, simbolismo, místicas, temas sobre Baden-Powell e também os meus sonetos de boa noite.  Muitas das publicações não são de minha autoria. Compactei os contos para facilitar a leitura e ter sempre a mão quando quiser ler. Tudo em PDF e sem ônus. Não existe nenhum livro ainda publicado. O sonho persiste. Ficar guardado sem oferecer aos amigos seria um contrassenso do meu lema Servir! Se estiver interessado peça primeiro a Lista dos Blocos pelo meu Imbox ou pelo e-mail para conhecer os títulos oferecidos. Os Blocos são numerados de 01 a 27. Ao receber e fazer o pedido se atenha as instruções na Lista. Fora dela não poderei enviar o pedido. Acredito que todos sabem da minha saúde que me impossibilita ficar além do tempo na internet. Lembre-se é um prazer atender você. Fraternos abraços e Sempre Alerta!
Chefe Osvaldo

Nota – Os que quiserem compartilhar em outros grupos ou páginas fiquem a vontade. Quem sabe tem outros que irão se interessar. Obrigado.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Contos ao redor da fogueira. Uma glória feita de sangue.



Contos ao redor da fogueira.

Uma glória feita de sangue.

                      - Uma faca Bowie para o primeiro lugar e um Canivete suíço Fisherman para o segundo lugar! Manuelito arregalou os olhos. Era o sonho de qualquer escoteiro. Posso participar? Panchito sorriu. Sabia que Manuelito não tinha nenhuma chance. Olhe você pode escrever, mas o Chefe Jô pode não aceitar. Manuelito se lembrou do último jogo quando no final caiu ao chão com golfadas de sangue.

                        Manuelito conhecia o Jogo Briga de Galo. Nunca se interessou. Achou que poderia se machucar. Agora não, era uma competição que o Distrito fazia e os prêmios eram de dar água na boca! Eu e Panchito bebericávamos uma caipirinha no Bar do Ademir. – Vado, não gosto de contar esta história. É triste e alegre. Marcou muito, mas teve raça, teve ideal teve sonhos e teve escotismo!

                       - No nosso tempo Vado Escoteiro o Jogo Briga de Galo era famoso. Hoje não mais. No Distrito 42, o Comissário Tomé fazia questão de todos os anos organizar um torneio. Durou anos. Conseguia no comércio local os prêmios. Vi que Panchito contava emocionado. – Vado, Manuelito era magro, raquítico e seus olhos brilharam quando pensou que podia ganhar. Logo ele? Para mim impossível.

                         Manuelito procurou Lino Touro. Pioneiro famoso que foi um dos maiores ganhadores do torneio. Lino riu na cara dele. – Magrelo, não tem a menor chance! Não tem a mínima ideia no que vai se meter! Mas a insistência de Manuelito foi tal que ele resolveu ensinar alguns truques. Ele conhecia as técnicas, participou de lutas que duraram horas. Todos os dias Manuelito chegava cedo à casa de Lino Touro. Estudou tudo sobre Briga de Galo. Desenhou e treinava no tronco da Goiabeira. No recreio da escola treinava ficando em um pé só.  

                         Com uma semana sabia usar uma Asa Direita ou esquerda (os cotovelos em forma de V). Paquiderme seu Monitor pensou duas vezes em fazer sua inscrição. A escoteirada do distrito deram risadas e acharam que era uma piada de mau gosto da Patrulha Corvo. Na tropa a prévia de quem seria escolhido, todos se surpreenderam com Manuelito. Neco, Lastimer e Juventino não acreditaram.

                       O Grande Dia chegou. As arquibancadas de madeira do Circo Garcia fervilhava. Dom Orlando Orfei fora Escoteiro e fazia questão de estar na cidade nesses dias. Orgulhava-se de seu Circo ser o escolhido para a grande competição. Quatros cidades seriam representadas. Os doze escoteiros finalistas foram apresentados sobre forte emoção. O Comissário Tomé do Distrito 42 fez a apresentação. Manuelito assustou com as vaias. – Tira o magrelo! Tira o “pistiado”! Se participar vai morrer! Gritavam em uníssemos.

                       O Jogo começou com o apito do Comissário Tomé. Agora era “guerra”! – A luta não parava. Manuelito como um herói sem bandeira chegou à final. Cofiava no uso do Joelho de Papagaio que aprendeu. Para ele fatal! Na semifinal enfrentou Matusalém. Ele deu risadas quando viu Manuelito. Está no papo disse! – Dois minutos depois e Matusalém estava esborrachado no chão. Ninguém acreditava no que via.

                       Botelho Papa Léguas e ele foram os finalistas. Não havia apostas eram escoteiros, mas as arquibancadas fervilhavam. Um silêncio de morte quando a luta começou. Botelho não subestimou Manuelito. Seu Chefe o orientou como ele era. – Botelho, basta dar uma Asa de Direita na cara e você será vencedor. Está no papo! Botelho olhou nos olhos de Manuelito, deu alguns passos para trás fez oito longos com a Asa Direita e pegou Manuelito com um tiro certeiro no rosto.

                       Mesmo esquivando Manuelito sentiu uma dor incrível. O sangue enchia sua boca. Se soltasse seria desclassificado. Seu pai tinha prevenido sobre a hemorragia. Imaginava que duas ou mais veias do seu corpo tinham partido. Botelho Papa Léguas não tinha piedade. Deu uma Asa Voadora para terminar a luta de vez. Manuelito não chorava, pedia a Deus que o ajudasse, ele precisava ganhar o prêmio, era seu sonho. Manuelito saltou de lado e Botelho quase caiu!

                     - Manuelito sabia que se não parasse iria morrer. – Deus! Não posso parar me ajude! Botelho Papa Léguas riu como vencedor. Deu uma asa esquerda para terminar de vez a luta. Manuelito não caiu. Pulou no ar e convidou Botelho a repetir. Rindo ele não se fez de rogado. Iria usar a Espora do Diabo. Um truque mortal. Podia machucar e daí? Quem entra na água é para se molhar! Não teria dó e nem piedade. Era escoteiro, mas ali a luta era de morte!

                     - Botelho partiu para acabar com Manuelito. A vida é cruel, mas reserva surpresas que ninguém acredita. Manuelito respirando com dificuldade, em um só pé, cansado, a boca cheia de sangue, esperou Botelho. Ele também tinha suas artimanhas que aprendeu com o Pioneiro Lino Touro. Quando sentiu o hálito quente de Botelho se abaixou e levantou em segundos pegando Botelho desprevenido. Impossível gritaram todos na arquibancada.

                      Como dizia minha avó, disse Panchito, “jogo é jogado e lambari é pescado”! Botelho Papa Léguas se esparramou no chão e perdeu a luta! Ninguém acreditava! Manuelito não conseguiu conter o sangue. Ele esguichou na sua boca e ele caiu desmaiado no chão. Ficou seis meses em tratamento. Voltou para a tropa, mas não era mais o mesmo. Uma tarde o Comissário Tomé chegou à sede. Após o cerimonial chamou Manuelito. Entregou para ele sua sonhada “Faca Bowie”. 

                        - Vado, foi uma das cerimônias mais marcante que já vi.  Toda a tropa em posição de sentido fazendo continência. Botelho chegou espavorido e abraçou Manuelito chorando. Manuelito viveu muitos anos. Descobriu que tinha tuberculose. Não curou, mas viveu escoteirando por toda sua vida! 

Panchito parou de contar. Ali no Bar do Ademir eu também deixei algumas lágrimas rolar. Uma luta de sangue em uma simples briga de galo! Um menino que aceitou um desafio. Uma luta de honra ou será que não seria melhor dizer: “Uma luta feita de Gloria e sangue”?

Meditações ao pé da fogueira. Quando...



Meditações ao pé da fogueira.
Quando...

- Sabe aquele dia que você acorda meio assim, pensativo, sem saber se o caminho do sucesso é o que você está percorrendo, se valeu tudo que fez e acreditou. Se foi sincero com suas respostas e acha que valeu. Pois é, hoje acordei de olhos fechados e meditando. Então resolvi postar este texto, fundamentado em um estilo fragmentário, na escrita filosófica, porque não dizer um Aforismo. Não sei se seria o indicado. Que seja. Espero que ele tenha algum valor ou significado para você.

Quando...
- Sentir-se bem no Grupo Escoteiro que colabora...
- Sentir-se amado e amar a todos ao redor...
- Sentir-se que houve respeito e aprendeu a respeitar...
- Sentir-se prestigiado, elogiado e sabendo que é mais um...
- Sentir-se que são presentes nas horas boas ou más...

Quando...
- Quando acreditar que aquela casa é seu segundo lar...
- Quando sentir que o sorriso é espontâneo e leal...
- Quando acreditar que ali se aprende a ser ético...
- Quando aprender a ter honra e dignidade...
- Quando se orgulhar da lei e de sua Promessa...

Quando...
- Sorrir por ver que o aplauso é verdadeiro...
- Sorrir e acreditar que são todos irmãos...
- Sorrir ao ser convidado para amar a natureza...
- Sorrir ao ser levado pelo vento, sol e as estrelas...
- Sorrir e sentir que mesmo cansado valeu a pena...

Quando...
- Acreditar que seu trabalho é dignificante...
- Acreditar que vale a pena tudo que faz...
- Acreditar que os frutos compensam o sacrifício...
- Acreditar que a todos ao seu redor pode confiar...
- Acreditar que ao dormir teve sonhos de paz...

Então...
- Se agora acredita que vale a pena ser mais um na equipe...
- Se agora se orgulha de ser Chefe ou voluntário não importa...
- Se agora aprendeu que seu salario é o sorriso de um jovem...
- Se agora se sente regiamente pago pelo que faz...
- Então meu amigo, o Escotismo de BP bate palmas para você!

segunda-feira, 26 de março de 2018

Deveres e responsabilidade. Por Baden-Powell of Gilwell.



Deveres e responsabilidade.
Por Baden-Powell of Gilwell.

- Metade do valor da formação que pretendemos obter dos escoteiros deve ser obtida colocando responsabilidades sobre seus ombros. Esperai muito dos nossos rapazes, e em geral obtê-lo-eis. O segredo da obtenção de bons resultados no desenvolvimento do caráter e do sentido das responsabilidades do rapaz consiste em esperar muito dele e de lhe confiar responsabilidades. Mas não entendo por isto ensiná-lo a nadar, atirando-o para dentro de água num sítio fundo e esperar que ele seja capaz de fazê-lo sem correr perigo.

- Como primeiro passo, devemos desenvolver nele a confiança nas suas próprias capacidades, ensinando-o e mostrando-lhe, através do nosso próprio exemplo, como nadar. Quem quiser contribuir para a sua carreira precisa de ser capaz de assumir responsabilidades. Para isso, exige-se confiança em si próprio, conhecimento do próprio trabalho e prática do exercício da responsabilidade.

- Para que venha a ser um bom cidadão, é essencial, em primeiro lugar, que o rapaz seja ensinado a ser individualmente responsável, perante si próprio, pelo desenvolvimento da sua própria saúde e do seu próprio caráter, e também pela sua própria carreira; em seguida, a ser uma pessoa responsável, isto é, alguém em quem podem confiar os seus pais e os seus superiores; e por fim, a ter o sentido do seu dever e da sua responsabilidade para com a Comunidade de que é membro.

- Se damos a um homem a responsabilidade por um trabalho, devemos, para sermos justos para com ele, deixá-lo escolher os seus próprios utensílios.
Do livro Rastros do Fundador.

domingo, 25 de março de 2018



Em volta de uma fogueira em uma noite de luar...
Origens do Fogo de Conselho.

                     Do Lobinho ao Antigo Escoteiro todos amam um Fogo de Conselho. O primeiro de cada um é inesquecível. Conheci escoteiros que eram mestres para desenvolver o Fogo de Conselho no verdadeiro espírito da tropa. Chefe! Diziam-me: Aquele da tropa é demais! O do Grupo Escoteiro e o Festivo também valem a pena. Fogo de Conselho é uma reunião em torno de uma fogueira, uma atividade noturna feita ao ar livre para sorrir cantar e segurar a emoção!

                    Nos lobinhos passaram a chamar de Flor Vermelha. Mowgly levou para a alcateia quando aprendeu na Aldeia dos Homens. A Flor Vermelha ajudou a matar o Chery Kaan. Que o Tigre Cruel devia morrer, todos torciam. Será que ele merecia morrer queimado? Ruim ele era. Não sei por que mudaram, pois Fogo de Conselho sempre foi tradicional. Nunca me contaram se os lobos na Alcateia de Seeonee brincavam e contavam suas histórias em volta da Flor Vermelha. Algum dirigente tirou da mente e mudou. Se assim é melhor não sei.

                   No Guia do Escoteiro o Velho Lobo escreveu que no Fogo de Conselho não se cozinha. É um fogo simbólico. É o fogo da paz o fogo do amor. Concordo, mas fui um emérito assador de bananas e batatas doces quando encontradas nas florestas ou planícies. Adoro bem passadas! O bule do café nunca faltou nas brasas da fogueira. Mas isto não é cozinhar! Participei de centenas de fogo em lugares incríveis com patrulhas sênior ou escoteira. Amadores quando dirigem sempre tem uma pitada de emoção.  

                  Sabemos que as fogueiras ao ar livre já existiam muito antes do fundador ter imaginado o escotismo. Os efeitos mágicos do fogo acompanham o homem desde sua origem até hoje. Essa origem se perde no tempo, quando o homem dormia ao ar livre. A luz e o calor espantavam as trevas, o frio e os animais selvagens. Era o local para conversar, cantar, contar histórias ou planejar caçada, decidir a paz e a guerra.

                 A história conta que Baden-Powell ao criar o Fogo de Conselho, se inspirou em rituais semelhantes. Os índios americanos faziam reuniões em torno das fogueiras para comentar seus feitos do dia, suas aventuras e suas preocupações. Na África existia a figura do “Contador de Histórias”, o homem que sabia de cor toda a história da tribo e era o guardião de todas as tradições. Era ele quem nas horas importantes relembrava os exemplos mais adequados.

                  No Fogo de Conselho aprende-se a escutar, aplaudir na hora certa, obedecer e apresentar com alegria às ordens de sentar, levantar e cantar. Estar junto com seus camaradas de Patrulha ou Matilha cria um espirito de camaradagem e união. É bom estar ali, com amigos vivendo, sorrindo cantando e amando o que há de mais belo em um Fogo de Conselho.

                   Vi milhares de apresentações (esquetes) em Fogos de Conselho. Desde os primórdios do escotismo se insistia dentro do possível a Matilha ou a Patrulha participar sempre com seu efetivo. Criatividade é melhor que “colagem” de velhas apresentações na TV. Aos poucos os contos imaginários, as imitações tudo dentro do espirito da Lei se fez prevalecer. Em 1954 participei pela primeira vez onde se cantou a Canção da Despedida. Pela primeira vez chorei. Foi demais.

                   Um fogo festivo bem planejado é uma maneira simples de se fazer marketing escoteiro que dão bons resultados. Os pais e simpatizantes são convidados e assim irão conhecer melhor a vivência escoteira. Tem criações de abertura do Fogo que merece aplauso. Lembro-me de uma que usamos bambus escondidos sobre a terra, com um rastilho de pólvora dentro e devidamente treinado o Animador gritou: - Ascenda-te fogo! E nada! Ele pensou que a saída estava entupida foi olhar e “Bum”! Nada demais, queimou as pestanas os cabelos, mas o danado continuou a animar o fogo até o final! Rsrsrs.  

                    Fogo do Conselho cria histórias. Em todos elas aprendemos novas palmas, esquetes e novas canções. Violões, harmônicas são importantes. Uma Chefe de lobinhos em um fogo em Malacacheta tocou soberbamente um violino a Árvore da Montanha e quando acompanhou a Canção da despedida foi demais. Nunca vi tantos chorando. Que choro gostoso de chorar. Maravilhoso!

                     Tive a honra de receber a minha Segunda Classe em um fogo de Conselho de tropa. Ascendi o fogo com um palito que deveria durar pelo menos trinta minutos. Pular a fogueira três vezes com a ajuda de um padrinho para receber o nome de guerra de origem indígena era comum. Não sei se ainda fazem assim. Lembro um escoteiro que iria receber a Primeira Classe e uma tempestade desabou. Não houve debandada. Todos aplaudiram quando o Chefe entregou o Distintivo e ele chorando de emoção nem se preocupou por estar todo molhado!

                    Baden-Powell foi realmente um iluminado. Suas criações místicas e símbolos são inigualável. Sir Percy Everett contou como foi o Primeiro fogo de Conselho na ilha de Brownsea. Ficou na história. Eu daria tudo para ver BP dirigindo e desenvolvendo o Fogo de Conselho, a camaradagem, a alegria a técnica que estava sendo criada naquele momento. Um aula do verdadeiro Espírito Escoteiro.

Sir Percy Everett: - “As memórias mais vividas de todas eram os fogos de conselho, antes das orações e do apagar dos lampiões. Ao redor do fogo à noite BP nos contava algumas histórias assustadoras, conduzia ele mesmo o canto Eengonyama e com seu jeito inimitável atraia a atenção de todos”. - “Eu ainda posso vê-lo como ele ficava diante da luz da fogueira, alerta, cheio de alegria e de vida, um momento grave, outro alegre, respondendo todas as questões, imitando o chamado dos pássaros, mostrando como tocaiar um animal selvagem, contando uma história, dançando e cantando ao redor do fogo, mostrando uma moral, não apenas em palavras, mas usando histórias e convencendo a todos os presentes, rapazes e adultos, que estavam prontos para segui-lo em qualquer direção”.

Nota – Um Velho Lobo contou uma bela tradição que ainda não conhecia. Na manhã seguinte ao fogo, se recolhem uns gravetos do Fogo e guardam em uma caixinha, para acender o próximo Fogo de Conselho. Assim, espiritualmente, o “fogo” é repassado de um Fogo de Conselho para outro, acendendo o atual com os gravetos do anterior. “Brilha fogueira ao pé do acampamento, para alegria não há melhor momento, velhos amigos não perdem ocasião de reunidos cantar uma canção”! Stodola...  


sábado, 24 de março de 2018

Lendas da Jângal. As estripulias e travessuras da Matilha Marrom



Lendas da Jângal.
As estripulias e travessuras da Matilha Marrom

                      A chefia da Alcatéia estava descontente com a Matilha Marrom. Não foi a primeira vez. O Balu estava preocupado. Eles conheciam a Lei do Lobinho e a matilha sabia o que isso significava. Na Marrom havia três meninas e três meninos. Quase todos com mais de um ano de Alcateia. O que fizeram, ora, ora! De novo aprontando. Na uma esquina avenida movimentada esperam o sinal ficar verde, escolhiam pessoas idosas para irem por traz e buzinar com grande algazarra uma Guguzela, bem perto do ouvido.

                     Porque fizeram isto? Perguntou a Bagheera. - Ora Pantera Negra o sinal podia abrir e os carros passariam por cima deles. Só ajudarmos! Bela ajuda. Existiram outras. Entraram em um jardim de uma residência, e colheram todas as flores sem pedir destruindo boa parte delas. O proprietário vendo aquilo os pôs para correr e foi até ao Grupo Escoteiro reclamar. De novo? – Bagheera perguntou: - Bagheera, hoje é o dia da mulher e íamos distribuir rosas para elas!

                          Um dia amarraram não se sabe como uma matula de mais de 15 cães de rua. O que aprontaram em frente a um posto médico foi demais. Akelá ficou uma fera. – Chefe! A ideia era para facilitar os donos encontrarem quando procurassem seu cão perdido! A Akelá há tempos preocupada. Pensou em suspender todos eles por trinta dias. Conversou várias vezes em particular com cada um. Ameaçou contar pra os pais. O Diretor Técnico alma boa gargalhava quando lhe contavam as façanhas dos marrons. No Conselho de Chefes a maioria dizia: - São crianças e a idade permite.
                        
                           Os Marrons não eram assim. Tudo começou com a entrada de Lili. Calada, ninguém podia imaginar que ela exercesse tal liderança. Eles não eram maus. A Akelá dedicada amava todos eles. Fazia questão da Lei do Lobinho. A vizinhança passou a evitar os lobinhos. O Diretor Técnico começou a ficar preocupado. O nome do Grupo estava em jogo. A Akelá pensou em bolara um plano. Precisava dar uma lição em todos eles. Se o seu plano desse certo eles iriam parar com as traquinagens.

                     Lili nos seus oito anos pensava como um adulto, mas tinha seu lado criança. Seus pais já observavam isto. Quando foi inscrita no Grupo Escoteiro foi sugestão de uma psicóloga que conhecia um pouco o Movimento Escoteiro. Uma disciplina mais rígida, sem tolher sua liberdade e criatividade poderia ajudar. Lili foi aos poucos liderando a Matilha mesmo sem ser a Prima. Todos tinham por ela respeito e admiração. Fora ela quem planejara todas as traquinagens. Os lobinhos juraram manter segredo. – Somos irmãos disse. Tudo que fizermos manteremos segredo. Quintinho o menor de todos não entendeu bem, mas balançou a cabeça concordando. 

                      Verdade seja dita, Lili gostava muito da Akelá. Quando faziam coisas erradas Lili ficava com medo de ser descoberta e perder a amizade de sua Chefe. Passou a organizar suas “expedições” em locais mais distantes. Chegavam uma hora antes do início das reuniões. Ela inteligente conhecia bem a lei do Lobinho, a promessa e as etapas. Seus pais compraram para ela o Livro da Jângal e ela leu do começo ao fim. Sonhava com Mowgly e sempre pensou porque Kipling não tinham posto na história uma lobinha, companheira de Mowgly.

                    Sentia falta de receber seus distintivos e especialidades. Culpa dela que não se dedicou como devia. No sábado seguinte, após a reunião fora chamada para uma conversa em particular com a Akelá. Ela preocupada foi ao encontro. Pensava que só ela e a matilha sabiam que ela era a Chefe. Mas a Akelá parecia saber. Ficou com medo de ser suspensa. Seu coração bateu forte. E se fosse expulsa?

                  Foi de cabeça baixa. Seus olhos estavam vermelhos. A Akelá a abraçou e disse para não se preocupar. A Akela sabia de toda a potencialidade de Lili. Não entrou em detalhes e nem comentou sua liderança sobre os demais. Somente a convidou para ir com ela ao Zoológico no domingo. E os outros ela perguntou? Só eu e você, respondeu a Akelá. Já falei com seus pais e eles deram autorização. Quem sabe lá teremos muito a aprender você e eu?

                 Conversaram pouco durante a viagem. Mas se soltaram quando chegaram. A Akelá pediu para ela prestar atenção de como os animais, pássaros, repteis e peixes se comportavam. – Veja Lili, cada um tem sua morada e um respeita a individualidade do outro. Eles vivem juntos na floresta e só quando tem fome a lei da selva é considerada. Lili não entendeu bem. Queria entender.

                         Ao meio dia, pararam para um lanche em um quiosque. A Akelá começou a contar história da Jangal que ela não conhecia. Como Balu e Bagheera defendeu Mowgly dos outros animais. Como Káa foi uma amiga e sempre ao seu lado. Explicou como o Rei da Selva tratava os demais na floresta. Falou sobre o respeito, as normas e da Lei da dos animais e como viviam melhor que os homens vivem. Tinham respeito entre si, ninguém desfazia de ninguém.

                        Lili ficou pensando nas palavras da Akelá. Prometeu a si mesma mudar. Em nenhum momento a Akelá deu exemplos do que fizeram, mas Lili sabia onde ela queria chegar. Prometeu a si mesmo que iria mudar. Afinal todos nós temos nossos direitos e nossos deveres. Devemos ver onde começa e onde termina cada um para não prejudicarmos ninguém.

                 Dois meses depois a paz voltou a reinar na Alcatéia. Não houve mais traquinagens. A matilha Marrom era outra. Todas as matilhas passaram a admirar. Lili era agora muito querida. Recebeu sua segunda estrela e chorou de felicidade. Sonhava em ser uma lobinha cruzeiro do sul. A matilha Marrom continuou unida por muitos e muitos anos. O tempo passou. Lili fez a passagem para a tropa, mas sempre voltava a Alcateia para rever os amigos. Agora nas cerimônias do Grande Uivo, os marrons saltavam com alegria e vivacidade a dizer a plenos pulmões dizendo o que seriam: – “Melhor, melhor, melhor e melhor? – Sim, melhor, melhor, melhor e melhor”.


Nota – No escuro da floresta, Shery Kaan está por lá! Mowgly para e escuta... O Grande Tigre rosnar! – Apenas um história com final feliz. Afinal Kaa não disse aos lobos: - Somos irmãos de sangue... Tu e eu! Divirtam-se!  

sexta-feira, 23 de março de 2018

Histórias de Donato... Um escoteiro. Apenas uma pausa... E nada mais!



Histórias de Donato... Um escoteiro.
Apenas uma pausa... E nada mais!

- Ventos acariciando. O sol machucando, vontade de parar e descansar. Nem sei por que resolvi de última hora sair para acampar. Estava cansado amigos reclamando, vida dura, diziam que não iam aguentar. Minha cabeça a mil. Donato me telefonou: - Chefe hoje é sexta, estou de férias e pensando em sair por aí para por a cabeça no lugar! – Donato, um sênior que parecia Chefe, inteligente tiradas excelentes sempre com um sorriso a dar. Duas da tarde, partimos. Um trem uma trilha e meia trilha percorrida.

- Na curva do caminho uma enorme castanheira. Uma sombra que não podia recusar. Olhando o sol inclemente ouvi Donato dizer: - Chefe, as dificuldades preparam pessoas comuns para destinos extraordinários. Não coloque limites em seus sonhos, coloque fé. – Olhei para Donato e sorri. Tirei o chapéu e aproveitei a sombra para meditar. Pensei nas palavras de Donato. Eu sabia que algumas pessoas jogam pedras em nosso caminho, mas sabia também que era eu que devia saber o que fazer com elas.

– Donato deitado com a cabeça na mochila como se estivesse cochilando olhou de lado e disse para mim: - Chefe uma parede ou uma ponte? Olhe independente do que estiver sentindo, não fique parado no mesmo lugar. Levante-se, vista-se e saia para brilhar! Não é isso que estamos fazendo? Quer um conselho Chefe? Valorize-se. E terminou dizendo, Chefe, prefira o sorriso, faz bem a você e aos que estão ao seu redor. Dê risadas de tudo até de si mesmo. Não adie alegrias. Sejas feliz hoje!

- Hora de partir, mochila no costado, chapéu no testão olhei a sombra do castanheiro e vi entre os galhos e folhas Donato me acenando e dizendo para seguirmos em frente. Lembrei-me dele quando no ano passado subimos até o pico do Itacolomy e ele ao meu lado dizendo: - Chefe que nunca falte um sonho para lutar, um projeto para realizar, algo para aprender, um lugar para ir e alguém para amar... Eita Donato! Por onde anda?

Nota - Algumas frases de Donato: Escoteiros, em algum dia a vida vai-te bater com força na cabeça com um tijolo. Portanto nunca percas a fé. Sejam quais forem os resultados com êxito ou não, o importante é que no final cada um possa dizer: “fiz o que pude”. Sempre Alerta!

quinta-feira, 22 de março de 2018

Os contos de Fogo de Conselho. Um lugar chamado Felicidade.



Os contos de Fogo de Conselho.
Um lugar chamado Felicidade.

                  Era uma vez... Uma cidade chamada Felicidade. Pequena graciosa apenas cinco mil almas viventes. Todos amavam sua cidade, tinham sonhos gostavam de sorrir e os habitantes se davam como irmãos. O sol trazia dias incríveis e as noites o céu de estrelas mostrava seu luar. Não havia ricos e nem pobres, todas as casas eram iguais. O Delegado nunca prendeu ninguém.

                 Dois ou três carros na garagem as bicicletas reinavam transportando o povo de Felicidade. As pessoas se amavam, as ruas eram limpas e ninguém jogava papel no chão. As crianças alegres corriam pelas praças, diziam “senhor”, pois não e obrigado. Na escola amavam e respeitavam seus mestres. Nas casas não havia grades e as portas e janelas sempre abertas.

                 À tardinha os casais namoravam com respeito na maior bem aventurança. Felicidade podia ser considerada o sonho de todos que um dia desejaram paz e tranquilidade. O Cabo Damião passava horas na praça cochilando. O Prefeito Nolasco nunca deu golpe honrando a honestidade. Fazia questão de respeitar os parcos recursos que recebia dos impostos de seus cidadãos.  O Juiz Tião desistiu e abriu uma loja de perfume. Dom Carmona o vigário aparecia aos sábados para celebrar a missa na capela cheia de fieis.

               A população sorria quando passava a tropa de escoteiros. Com suas mochilas as costas, um chapelão escondendo a chumaça dos cabelos, um meião cortante até o joelho e a calça curta faziam o sonho de seu Criador Baden-Powell. O Chefe Toledo se orgulhava dos seus meninos. Era uma tropa perfeita. Escoteiros cantantes, sorridentes e a chumaça da patuleia sabia que seus jovens meninos tinham conquistado o que toda cidade sonhava: - A honra, a palavra, a ética e o respeito para ser respeitado.

              Quando fizeram o juramento da bandeira no Campo do Peroba Futebol Clube, a cidade em peso compareceu. Montaram um palanque onde o Prefeito Nolasco o Vigário O Cabo Damião e o Juiz Tião discursaram para a escoteirada.  Não faltou o Cabo Damião e a professora Cacilda e até mesmo o Bispo Dom Joaquim fez questão de estar lá. Chefe Toledo todo envergado no seu caqui descomunal dava o exemplo para aquele povo feliz.

                Foi belo, foi lindo meninos dando continência com três dedos entrelaçados até o ombro e dizendo que iriam fazer um novo Brasil. Durante anos a cria escoteira cresceu. Mas tudo que é bom dura pouco. Uma doença mortal levou para a eternidade o Chefe Nolasco. Tristeza, choro, desânimo, e desalento.

                     Chefe Toledo cometeu um erro de muitos. Não preparou ninguém para substituí-lo. Sempre foi o “Faz Tudo”. Chefe da Tropa, da Alcateia, dos seniores e fazia às vezes da Diretoria. Poderia ter convidado, mas se sentiu possuído pela divindade e pensou que era um Deus Escoteiro. Morreu e ninguém para ficar no seu lugar. A cidade em pânico. Reuniões aconteciam. O prefeito reclamava. Vamos buscar ajuda na sede distrital. Enquanto isso as patrulhas foram diminuindo, não havia mais cantorias, acamamentos e até Ponciano dono da Fazenda Outeiro reclamou da falta dos escoteiros e dos acampamentos.  

                      O distrito não tinha ninguém. A poeira cobriu a sede. Tudo acabou? Virou fumaça? A tristeza invadiu o lugar. O que fazer? O tempo passou. A cidade acabrunhada. A escoteirada sem patrulha esqueceu-se do sol da lua e das estrelas nas lindas noites de fogo de conselho e de luar.

                     Para-raios passou por Felicidade em uma noite de natal. Precisava descansar. Viajante cavaleiro, no seu Cavalo Trombone procurava uma fazenda para comprar. Comprou de dona Chiquita uma casinha atrás da venda do Seu Pascoal. Tinha de tudo. Seu Pascoal alma sofrida ajudava quem não podia pagar.

                     Para-Raios ficou sócio, amou Felicidade. Esqueceu o seu passado. Agora só o presente. Na porta da venda viu dois meninos escoteiros andando devagar, mochilas as costas, e lá na praça começaram a chorar. – O que é isto meu Deus? – pensou. Foi até eles. Uma conversa amena, um sorriso breve, um aperto de mão e ele voltou decidido a voltar. Ali precisam dele, e ele não podia negar. Não seria como em São Domingos, onde a chefia do grupo o despediu sem agradecer e dizer adeus. Um Grupo que só havia ódio em vez de amor.

                    Foi deverasmente bem recebido. Um antigo Escoteiro sabia onde era o seu lugar. Foi até a sede. Um abraço uma promessa. Os três hastearam a bandeira Nacional. Muitos curiosos aportaram para ver o acontecido. Ah! Ainda existe neste mundo um lugar chamado felicidade. A cidade voltou ao que era. Os sorrisos, os abraços e apertos de mão voltaram. O Prefeito Nolasco sorria de orelha a orelha. A missa de Dom Carmona foi a mais bela que já houve.

                    O Cabo Damião suspirou e soltou Bate Boca o bêbado que prendeu. O Juiz Tião sorria, Dona Cacilda suspirava de alegria, sabia que agora a meninada teria juízo, pois Escoteiro é assim, sabe obedecer, tem disciplina e sabe opinar. Ainda me lembro de quando naquela final de sexta, vinte e oito meninos escoteiros passaram marchando, envergando garbosamente seus uniformes com belos chapéus escoteiros rumo a Salamanca, um vale perto do Riacho das Flores onde iam acampar e atrás deles Para-Raios sorria. Ele voltou novamente a escoteirar!

Nota - Era uma vez uma cidade chamada Felicidade. Um lugar lindo, desses que qualquer um de nós gostaríamos de morar. Não tinha rico remediado ou pobre. Não tinha mansão nem favela. Os burricos que pastavam na praça eram bem considerados, as pessoas não brigavam. Felicidade amava seus escoteiros, eles amavam Felicidade até que um dia... Seu Chefe partiu para as estrelas... E quem iria ficar no seu lugar? Então descobriram que não havia mais Felicidade.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Contos de fogo de conselho. As qualidades de cada um.



Contos de fogo de conselho.
As qualidades de cada um.

                        O Pioneiro Roy Brown tinha o dom e a facilidade criar uma história em poucos segundos. Sempre surpreendia a todos com um novo conto. Após um esquete da patrulha Coruja onde se contou a história de um escoteiro que se achava melhor que os outros, Roy Brown pediu a palavra ao Monitor da Touro que era o responsável e o animador do Fogo de Conselho. Escoteiros! – Ele disse. Vu contar uma história para vocês. Depois me digam o que acharam.

                         Todos adoravam seu estilo. Tinha estilo de contador de histórias e seus gestos imitavam os personagens da história. Os escoteiros adoravam e quando contava um silencio reinava e todos prestavam a maior atenção.

                       - Era um homem que vivia em uma cidade bem longe daqui, que diziam ser o protótipo da ruindade. Vivia sozinho, não tinha amigos, não permitia que passassem em sua calçada em frente a sua casa, detestava animais e quando a bola da molecada caia em seu quintal ele a furava. Isto era o mínimo das maldades que fazia.

                       Ninguém gostava dele, era amaldiçoado e execrado por todos da cidade que o conheciam. Muitos que sofreram com ele e não foram poucos diziam que quando ele morresse não haveria pessoas disponíveis para carregar o seu caixão. Nesta cidade vivia outro homem bom, simples educado e simplório no trato com os demais. Tinha uma peculiaridade, ou melhor, um vicio em acompanhar todos os enterros que ali ocorriam e no cemitério tinha o hábito de antes do caixão baixar ao tumulo, enaltecer as qualidades do falecido.

                     Aconteceu que um dia, o homem ruim que todos não gostavam morreu. O zunzum correu por cada rua, por cada boca, por cada comadre e na praça até apostas eram feitas. - Por quê? Diziam os faladores que não haveria quatro homens para carregar o seu caixão. Interessante que o enterro do homem ruim foi o mais concorrido da cidade. Surpresos queriam saber o que ouve. Logo foi explicado. Foram porque queriam ouvir o que o homem bom teria a dizer para enaltecer das qualidades do morto já que ninguém gostava dele.

                    O cemitério lotado esperavam a hora de o caixão baixar ao túmulo e olharam para o homem bom que elogiava e era amigo de todos esperando o que ele teria a dizer. – Um silêncio sepulcral e eis que educadamente sem elevar a voz disse: - Coitado! Ele assobiava tão bem! – Pois é ele assobiava tão bem, e agora não tenho como ouvir mais o assobio dele!

                  - Portanto meus amigos de patrulha, tiremos a lição dessa história e vamos elogiar as qualidades das pessoas que com certeza vão sobrepor os defeitos na perfeita harmonia da vida... Ninguém é tão ruim que não possa ter um lado bom.

                   No final do fogo e após a Cadeia da Fraternidade os escoteiros foram dormir pensando na história do Pioneiro Roy Brown. Afinal ninguém é tão ruim que não tenha uma parte boa de sua vida que possa ser elogiada. Sei que até hoje ninguém esqueceu as histórias de Roy Brown que era sempre convidado para os Fogos de Conselhos.

Nota – Que ninguém é perfeito a gente sabe. Que nem sempre as amizades são o que se espera também. Que nada é sempre cor de rosa idem. Mas chega um dia que mesmo sabendo que ninguém é perfeito você verá que ele é perfeito para alguém e pode até ser perfeito para você... Se souber entender!

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....