sexta-feira, 30 de março de 2018

Em volta de uma fogueira. São coisas de escoteiros.



Em volta de uma fogueira.
São coisas de escoteiros.

- Há muitos anos me aconteceu um fato que nunca esqueci. Acampados não tão próximo da cidade com quatro patrulhas, no segundo dia cheio de aventuras, deixei que as patrulhas tivessem um tempo livre maior para fazerem o jantar um pouco mais cedo. Eram patrulhas experientes com poucos noviços. Um dos monitores me pediu para dispensar o jogo noturno e quando me confirmou que os demais assim pensavam ele foi cancelado.

- Fiz meu jantar cedo. Só fazia as refeições nas patrulhas quando convidado ou quando estava tirando uma prova de “cozinheiro”. Em frente a minha barraca havia diversos troncos que encontrei na mata próxima e isto servia para quando os escoteiros quisessem papear nas fogueiras noturnas que fazia Ao sinal das primeiras estrelas, dos sapos coaxando na lagoa próxima ascendi à fogueira. Um foguito não muito grande, o bastante para esquentar quem estava a sua volta.

- Não faltou o Café no bule, amargo, sem muito açúcar esquentando nas brasas mais amenas. Tinha dois pacotes de biscoito de Maisena e deixei o tempo passar esperando a chegada dos escoteiros como sempre faziam as noites em conversas ao pé do fogo que eles gostavam. Muitos cansados foram dormir mais cedo. Lá pelas tantas estava só eu e Tornado. Sua Patrulha há tempos dormia.

- Vi que Tornado queria “prosear”. Fato comum. Sempre deixei meus escoteiros a vontade para falar o que quisessem. Nunca fui de sermões ou de aconselhamentos. Aprendi que ouvir era um caminho para se tomar uma decisão. No fogo uma ou duas chamas ainda se arriscavam a subir aos céus. Na lagoa podia ainda se ouvir os sapos cururus a procura de namorada. Poucas aves noturnas se faziam ouvir. O céu de estrelas como sempre dava seu espetáculo particular.  

- Chefe, eu queria tanto ir ao Jamboree! – Olhei para Tornado. Estava programado em um estado do Brasil um grande encontro de escoteiros que muitos diziam que seria o maior Jamboree já realizado no Brasil. – Sabe Chefe sempre sonhei em participar de um. Deve ser maravilhoso, conhecer milhares de irmãos escoteiros, trocar lenços quem sabe poderia levar algumas bugigangas que minha avó faz... Não disse nada. Permaneci calado. – Chefe não irei o senhor sabe que meu pai não tem condições de pagar!

- Conrado não chorava. Seus olhos estavam brilhantes. Era um escoteiro de Segunda Classe nunca correu do perigo e sabia enfrentar as dificuldades. – Chefe, eu sei que da tropa ninguém vai, todos são como eu. Olhou-me pensativo deu-me boa noite e foi para a barraca dormir. Fiquei sozinho em volta do fogo. Sabia que todos na tropa escoteira tinham esse sonho. Sabia que outras tropas seus chefes faziam promoções para conseguir as taxas necessárias. Eu não era assim.

- Nunca soube como resolver. Quando jovem também sonhei muitas vezes em viajar de avião, cruzar o oceano e bater em um Jamboree em um país qualquer. Sempre dizia aos meus escoteiros que sonhos se realizam. Cada um deve fazer por merecer. Valorizar a escola, aprender um ofício e nada os impediria de estar juntos aos seus irmãos do outro lado do oceano.

- Sempre disse aos noviços ou mesmo aos antigos que entrar na tropa escoteira é fácil, mas ser escoteiro não era para qualquer um. Naquela noite não olhei as estrelas no céu. Naquela noite eu não sonhei. Antes de fazer minhas orações da noite me lembrei da frase que um dia alguém me contou: - “A esperança é como o sol”. Se você apenas acredita quando vê, você nunca vai sobreviver à noite!

Nota - Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante. Augusto Branco.

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