quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Lendas Escoteiras. Cinquenta anos depois...



Lendas Escoteiras.
Cinquenta anos depois...

               A poeira não mudou. A rua também não. Tudo era igual como no passado. A rua principal era a mesma. Ali parecia que o tempo não passou. Moradores chegavam às janelas para olhar quem chegava. Ao entrar na Rua do Outono vi que estava asfaltada. A Rua Teófilo Otoni também. Sinal que houve melhora na cidade. A Praça Dom Giovani estava linda com árvores enormes. Uma grama aparada e toda florida. Bateu uma saudade enorme. Antes não sabia por que retornava, não tinha o porquê de voltar. O que aconteceu deveria ficar esquecido nas areias do tempo. Reviver o passado não valia a pena, mas eu insistente retornei. Parei o carro em frente à Pensão Pedreira. Seria por pouco tempo. Iria comprar uma morada só para mim. Quem sabe nela fazer meu consultório e viver em paz.

                Olhei para a prefeitura, saudades do Benevides, um prefeito amigo dos Escoteiros acho que se não fosse ele nosso grupo não teria resistido. Duas senhoras passaram por mim me encarando. Eu sabia como era. Cidade pequena tinha os mesmos sinais e defeitos. Defeitos? Quem sabe uma qualidade? Antes de entrar na Pensão sentei no banco de outrora. A Macaxeira cresceu. Deu-me uma saudade enorme. Fechei os olhos e voltei no tempo. Cinquenta anos muito tempo. Parece que eu a via correndo com suas amigas entre as flores do jardim. Porque foi assim? O destino? Acredito que sim, eu sabia que do destino ninguém foge. Via ao meu lado Zé Antonio. Éramos amigos inseparáveis. Ele Sub da Morcego e eu Monitor. Quanto tempo ficamos juntos? Impossível dizer. Sorria pensando quantas aventuras fizemos na serra do lagarto, nas montanhas da lua e nos vales sem fim.

                   Quando jovens nossos sonhos são fáceis de realizar. Via-me médico, com uma maleta andando pela rua a socorrer os pobres. E depois ia para casa, minha casinha branca de janelas e portas azuis. No alto do telhado a fumaça do fogão saia calmamente pela chaminé. Andaluzia preparava meu jantar. Daria nela um beijo apaixonado, tomaria um banho e após o jantar iriamos falar do mundo no banco do jardim. Sonhos... Meninos sonham tão bonito. Engraçado que nos meus sonhos não tinha filhos. Esquecia-me de tudo e de todos menos de Andaluzia. Nem mesmo Zé Antônio aparecia na minha mente. E nos acampamentos? E nas noites de outono quando a chuva caia fina na nossa barraca de duas lonas? Puxando o pé para não molhar ouvíamos o martelar dos pingos da chuva. Era gostoso a chuva. Eu gostava daquelas noites. Dormia com ela aparecendo para mim e sorrindo.

                  Até hoje não sei o que aconteceu com ela. Ninguém me contou ninguém me disse. Só disseram que ela fugira com Capistrano, um marginal da cidade que ninguém gostava. Por quê? Logo ele? Ela não sabia do meu amor? Como doeu. Uma dor difícil de explicar. Dizer que os sonhos de um menino de quinze anos não merecem credito eu não podia acreditar. Continuei amando o escotismo. Diferente, pois meus sonhos não eram mais os mesmos e nem iam mais se realizar. Esqueci a minha Lis de Ouro. Esqueci o meu Cordão Dourado. Não tinham mais importância. Minha mãe nem ligava e nem queria saber o que eu sentia. Meus Deus! Que burrice que eu fiz. Peguei minha mochila, meu cantil, minha capa negra e parti sem rumo.

                  Só por causa dela? Menino se ponha no seu lugar! Você ainda tem um enorme futuro dizia para mim mesmo. Mas a estrada parecia não ter fim. Um dia, dois um mês. Um ano depois parei. Já com meus desesseis anos e chorei. E como chorei. Por ela? Por minha mãe? Por meus amigos? Chorava por todos. Um Velho passou a cavalo e me viu chorando. Perguntou o que houve. Engasgado não sabia dizer. Suba na minha garupa, vou levar você até minha choupana. Lá vamos comer e conversar como homens. Eu estava magro, osso puro, quase não comia. Era apenas um menino sonhador de quinze anos. Fiquei morando com o Senhor Januário por dois anos até que ele morreu. De que não sei. O vi morto e pensei comigo o que fazer. O enterrei debaixo do pé de Juazeiro, pois ele me disse que ali estava Florinda sua mulher.

                    De novo pé na estrada até chegar ao Rio de Janeiro. Cidade grande. Ajudei a construir muitos prédios, estudei. Formei-me em medicina. Escotismo? Nunca esqueci. Ele morava para sempre em meu coração. Vez ou outra eu via os escoteiros correndo pelas praças e nos shoppings. Queria dar um Sempre Alerta, mas me envergonhava. Afinal eu não tinha história para contar. Conheci Maria Bonita. Bonita mesmo. Casamos e não sei por que não tivemos filhos. Um dia ela me deixou. Foi morar com um soldado que conheceu. Tinha que me adaptar. Médico os plantões e minha clínica era meu motivo de viver. Os anos foram passando, eu trabalhando. Plantão, clinica, Hospital São Marcelino e correndo pelas trilhas de favelas atrás de doentes terminais. Um dia vi que era hora de parar. Um clarão me fez lembrar-se de Rio Feliz. Era hora de voltar. Amigos da clinica choraram quando parti. Na viagem não pensei duas vezes. Não haveria volta.

                   Alguém sentou ao meu lado. Não reconheci. Barbas brancas enormes. Cabelos grandes grisalhos. Um boné amarelo na cabeça. Um sorriso que me lembrou de alguém. Olá Juvenal ele disse. Olhei para ele. Quem era? Meus olhos piscaram, Zé Antônio o meu Sub Monitor. Incrível este reencontro! Contei para ele minha vida, ele contou a sua. – Vai para minha casa até achar uma que lhe convenha comprar. - E o escotismo? Perguntei. – Até hoje ele vive na minha vida. Mas desde que você partiu, ele não foi o mesmo. – Me convida a visitar? Perguntei. Ele riu. Um sorriso de amigos que sabe o que é uma verdadeira amizade. Vamos lá agora. Tenho a chave da sede. Vai ver que nada mudou. Queria perguntar, mas não sabia como. Não sei se ele iria entender. – Ele me olhou. Abaixou a cabeça e disse – Sei o que está pensando. Andaluzia voltou cinco anos depois que você partiu. Nunca perguntou por você. Nunca perguntou por ninguém. Ela hoje vive na Casa de Repouso Dom Martinho. Lugar simples, ela não se lembra de ninguém.

                     Pedi a ele que me levasse lá. Depois iriamos a sede Escoteira. Ele sorriu e falou: - Eu sabia que seria este seu pedido. Sabia que iria pedir para reviver o passado. Olhei para ele e nada disse. Amigos são assim não dizem não e nos atendem sem fazer muitas perguntas. Um novo momento iria começar em minha vida. Não foi por isto que voltei? Não sei se o futuro seria melhor do que o meu que passou. Um amigo que nunca pensei em rever agora estava ao meu lado e um grande amor ressurgiu das sombras para o meu presente que sempre sonhei. O sol estava se pondo na Serra do Gavião. O mesmo sol de antigamente. Quem sabe um novo sol em minha vida? O futuro? Só Deus para dizer. Não me disseram um dia que do destino ninguém foge?   

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Lendas escoteiras. Ele era apenas um índio... Um índio brasileiro!



Lendas escoteiras.
Ele era apenas um índio... Um índio brasileiro!

Prologo: - “Porque o meu irmão índio também me ensinou o valor da terra, o amor pelo chão e por seus frutos”. “Nós não herdamos a Terra de nossos antecessores, nós a pegamos emprestada de nossas crianças”. Mais uma história, mais uma lenda sobre nossos índios. Índios do Brasil!

                    Ele não era de uma extirpe de índios famosos. Seus antepassados sim, mas agora eram uma tribo de gente triste e sem futuro. Foi batizado como José Raposo. Seus pais disseram que ele se chamava Guaraciaba, aquele que tem cabelos de sol. Zé era um índio simples, curtido, usava um calção verde e com ele ficava por uma semana ou mais. Apesar de jovem tinha um medo atroz de uma doença maldita que quase acabou com sua tribo. Kerexu o pagé ainda contava belas histórias dos índios Botocudos, quando eram fortes e famosos e habitavam a Serra do Onça no Alto Rio Doce. Kerexu dizia ter duzentos anos, não era verdade. Devia ter uns 90 não mais. Na tribo era o Pajé o doutor o psicanalista e o religioso. À noitinha a meninada corria para a porta de sua Oca, e ali ficavam esperando de butuca para contar histórias. Com seu cachimbo enorme, com folhas de tabaco ressequidas soltava gostosos rolos de fumaça que fazia os olhinhos da turma seguirem as letras que ele fazia com a fumaça do cachimbo. Kerexu era uma alma boa. José Raposo o considerava como um pai.

                Zé não tinha o que fazer. Zanzava para um lado e outro da aldeia e seus arredores. Sempre de olho nas águas modorrentas do Rio Doce. Ele sabia que terminando a estação das chuvas Anajé o Branco poderia aparecer. Eles se conheceram quando Zé viu-os acampados próximo à cachoeira do Limão, bem abaixo da curva da serpente. Ficou a olhar de longe os meninos brancos de chapéu longo, de lenços no pescoço e gostava de ver o que iriam fazer. Alguém o cutucou por trás e Zé deu um salto se preparando para a luta. Anajé riu quando viu ele se encrespando. – Paz amigo, muita paz! E sem ele esperar o Branco lhe deu um abraço. – Como se chama? Zé pensou dar seu nome de guerra. Guaraciaba. Mas evitou e disse – Zé... E depois gritou orgulhoso: - Guaraciaba, o índio dos cabelos do sol! - Muito prazer Guaraciaba, meu nome é Vado um Escoteiro, mas me chame de Anajé, o gavião das montanhas! Assim batizado quando saltei a fogueira no Vale das Corujas.

                Ali nasceu uma amizade por toda a vida. À noite na fogueira Anajé cortou seu pulso com a faca, repetiu o mesmo com os demais brancos da patrulha. Juntou as junções que sangravam e disse – Guaraciaba, você e eu e os Patrulheiros da Raposa agora somos irmãos de sangue para sempre. Guaraciaba sorriu. Nunca teve amigos brancos e viu que os jovens de lenço e chapelão bateram palmas. Guaraciaba os convidou para visitar a aldeia.  Meu amigo Anajé, não espere ver tendas de lona redondas feitas de pele de búfalo ou cavalos malhados a saciarem a sede na beira do nosso rio. Não espere roupas coloridas, colares feito de pedras preciosas, penachos de penas de pássaros que só nas mais altas montanhas se encontram. Nada disto, nossas tradições se perderam no tempo, hoje somos à sombra de uma famosa tribo dos Botocudos que um dia se orgulharam de suas histórias e lendas que desapareceram com o vento. Anajé riu. – Amigo e irmão Guaraciaba, não quero ver grandiosidades, basta o amor que vocês têm no coração. Anajé ficou amigo de Kerexu e voltou na tribo por muitas luas.

            Quando Anajé chegava ele e Guaraciaba corriam pelas campinas, pisando em flores macias, saltando riachos de águas cristalinas, escalando montanhas e picos próximos a Nanuque, Crenaque ou na Mata do Condor. Guaraciaba mudou. Sentiu uma felicidade imensa. Kerexu preveniu Guaraciaba que a amizade dos dois era para sempre, mas avisou que um dia Anajé iria desaparecer como o vento da chuva. Anajé o levou a visitar sua cidade, o alojou em sua própria casa. Quando se sentou à mesa com a mãe e o pai de Anajé se sentiu importante por fazer as refeições junto aos brancos. Antes não gostava dos brancos. Zumbiara o Chefe da FUNAI era traiçoeiro. Sempre mandava chamar o seu pai o Cacique Aritana para dar ordens, remédios e mantimentos. O fazia com desprezo, como se estivesse dando do próprio bolso. Mas ali, junto à família de Anajé Guaraciaba se sentiu outro. Mesmo com o orgulho de um índio brasileiro ele sabia que seu coração era feito de sangue vermelho como seus antepassados que nunca esqueceu.

              Foi na reunião deles e foi apresentado a Tropa, a Alcateia, e Guaraciaba chorou. Não queria demonstrar fraqueza. Índios não choram pensou. São fortes e valentes, mas ali ele sentiu a força dos meninos de amarelos e azuis, de lenço e chapéu grande. Sentiu uma amizade entre eles incrível. Quem sabe ele poderia fazer isto na sua tribo? Retornou pensando em mudar. Porque não voltar no tempo dos valentes guerreiros que nunca esqueceram os seus antepassados? Guaraciaba casou com Avati e com ela teve dois filhos homens. Mandou vinte guerreiros estudar na capital. Dois voltaram doutores. A tribo mudou. Agora ela tinha uma escola e um posto de saúde e Guaraciaba corria pelos campos, pelos rios e riachos a procura dos gazeteiros. Dava um sermão e eles de cabeça baixa voltavam para a escola. Anajé disse a ele: - Guaraciaba um dia não vou voltar. Tenho que partir para longe em busca do meu destino. Mas quero que lembre que meu sangue está junto com o seu. Em espirito estarei com você para sempre.

              Anajé partiu. Muitas luas se passaram e Guaraciaba ficou doente. Seus doutores e Kerexu fizeram tudo para salvá-lo, mas não conseguiram. Os filhos de Guaraciaba agora adultos juraram ao seu pai que os antepassados dos Botocudos iriam se orgulhar na nova tribo. Uma semana depois Guaraciaba estava nas últimas. Seus olhos quase não abriam. A taba cheia de índios rezando. Alguém pediu passagem e eis que Anajé apareceu. Deu um abraço em Guaraciaba. – Meu amigo, eu estava longe e uma noite Caapora e Catu me apareceram em sonhos. Disseram que você precisava de mim e sumiram em uma nuvem branca no céu. Aqui estou e vim trazer para você o meu amor Escoteiro. Nossos sangues se cruzaram e nossa amizade irá viver além do firmamento e na terra dos seus antepassados. Quando você partir o sol vai sorrir, quando você chegar ao meio do céu Tupanã o Deus do Universo vai abraçar você. Então Tupanã vai dizer – Aqui Guaraciaba você vai esfriar sua sede, aqui o fogo do céu vai aquecer seu corpo quando sentir frio, aqui você vai correr pela terra dos seus pais. 

                 Guaraciaba morreu sorrindo. A tribo começou a cantar aos sons de tambores, chocalhos, guizos e cabaças. No céu um trovão anunciou a chegada de Guaraciaba junto a Tupanã.  Anajé partiu três dias depois. Abraçou Piatã e Apuã os filhos de Guaraciaba – Estarei com vocês em todas as horas e em todos os momentos. Pensem em mim quando precisarem de ajuda. Anajé colocou seu chapéu de abas largas, firmou seu lenço verde e amarelo no pescoço, amarrou sua bota negra e alçou sua mochila verde nas costas. Em uma simples jangada atravessou as águas tranquilas do Rio Doce levando consigo as saudades de um índio que sempre amou!





terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Lendas Escoteiras. Rosana.



Lendas Escoteiras.
Rosana.

Prólogo: - Entreguei-me sem hesitar de corpo e alma. Ele parecia enxergar minha alma e seu sorriso era conquistador. Enquanto eu pensava que era apenas um sonho sonhado, havia nos seus planos lindas cores para eu descobrir e amar para sempre. Agora eu sabia que onde estava nunca existiria a palavra Adeus! – Escotismo uma filosofia de vida. 

                 - Aceito a aposta. Espero que vocês cumpram a palavra empenhada e me paguem por cada mês que estiver lá! – Rosana era considerada uma jovem frívola, fútil, inconstante e mesmo tendo amigas no Colégio eram poucos que se aproximavam. Seu ar pedante afastava quem queria se aproximar. Não era rica, família classe média e seus pais gastavam o que não podiam para que ela chegasse pelo menos na faculdade. Tudo começou quando um Chefe na semana do escoteiro fez uma pequena palestra em sua sala de aula sobre o que é e o que pretende o escotismo. A maioria dos alunos acharam interessante, mas teve aqueles que acharam que era o maior blefe de todos os tempos.

                   Na hora do recreio Anita brincando fez o desafio. Aposto que você não fica um mês! Joelma e Toninha disseram o mesmo. – Quanto? Perguntou Rosana. 50 pratas que você ficar lá mais de dois meses. Se conseguirem cinco meninas para apostar eu topo. Estou sem dinheiro e meu pai disse que mesada só se melhorar minhas notas. Se eu perder o que irei pagar? – O mesmo Rosana, 50 pratas para cada uma. Mas lhe damos três meses para pagar. Aposta feita e lá foi Rosana e sua mãe no sábado para fazer a inscrição. No tempo programado cobrou sua aposta. As colegas riram, mas pagaram os duzentos e cinquenta que deviam. – Cochicharam dizendo que ela não ia aguentar mais um mês.

                   Quatro meses depois pediram “arrego”. – Você está ficando rica com nosso dinheirinho. È melhor parar por aqui! Rosana riu. Sabem aonde vai o dinheiro? Para o Caixa da Patrulha Gavião. – Você não vai sair mais? – Nunca mais disse Rosana. – Mas o que te prende tanto assim nesta turma sem graça com um uniforme militar e fica em fila feito soldadinha de chumbo? Rosana olhou uma por uma. Querem mesmo saber? Quando entrei nem pensei que seria assim. Pensava que ia lucrar um ou dois meses e ganhar o dinheiro da aposta. Nunca pensei que estava enganada e que Baden-Powell iria mudar minha vida.

                   Baden-Powell? Ele mesmo, um general inglês que fez um movimento que hoje passa de trinta milhões. Que mais de setecentos milhões já passaram pelo escotismo em todo o mundo. As colegas caladas. – Rosana continuou: - Sou reconhecida como alguém que aprendeu a ser fraterna. Respeitam-me na patrulha. Ninguem é uma só e somos todos unidos por uma lei e uma promessa que fiz e quase chorei. Brincamos com lealdade, respeitamos nossas individualidades, mas sempre tem alguém para nos ajudar a vencer as adversidades. As colegas espantadas ouviam tudo que Rosana dizia.

                    Lá tudo é belo, belo as idéias, belo a filosofia, belo minha patrulha, belo o meu novo crescimento individual. Belos os meus chefes que me tratam com
carinho não gritam e me respeitam. Vocês nem imaginam como são nossos acampamentos. Lindos demais. O ar do campo sempre agradável, a brisa da madrugada que aqui na cidade nunca tinha ouvido falar. Nem imaginam as tardes a passarada cantando procurando seus ninhos os seus hotéis cinco estrelas. Pensem em um céu estrelado tão lindo que a gente quer tocar, quer contar quantas são e chora de alegria só em ver.

                   - E dormir em uma barraca ouvindo através da lona, os pingos da chuva caindo? E na penumbra da noite com uma coruja tomando conta de você? O anoitecer é tão belo que eu fico embriagada do perfume que se espalham no ar. Beija flor se despedindo, a última abelha levando seu néctar para alimentar suas irmãs de colmeia. E os pirilampos? Os grilos falantes? Belo demais ouvir o cantar de uma cigarra. Tudo isto faz da boca da noite uma espetacular orquestra com o maestro invisível lá em cima no céu sorrindo e fazendo vibrar os ruídos da noite em nossos ouvidos humanos. A madrugada então é mais bela. O nascer do sol, a lua se escondendo os pássaros voando no ar para mais um dia de vida na selva que é o seu lar.

                    - Rosana se calou. Seus olhos humedecidos mostravam o seu novo amor conquistado. Ela agora tinha outra vida. Outra filosofia. Outro céu, uma barraca que não precisava armar nas noites enluaradas. As suas amigas olhando pensavam onde ela poderia ter tirado tanta beleza na vida aventureira, no seu contato com a natureza. Rosana sabia que agora seria escoteira para sempre. Gostava de ficar só nas tardes dos acampamentos pensando e olhando longe uma árvore copada que parecia estar de braços abertos para ela: Sou escoteira, vou continuar sendo e levarei o espírito de B-P para sempre em meu coração.

                    Ah! Escotismo que conquista quem tem uma força sem igual. Rosana não convidou ninguém, ela sempre pensou que cada um tem sua hora, a dela aconteceu. Afinal se ela amou e ama o escotismo ela sabe que nem todos podem pensar como ela, mas um dia, qualquer dia irão descobrir e irão amar para sempre!



domingo, 27 de janeiro de 2019

Um domingo ao entardecer...



Um domingo ao entardecer...

                                 Tenho andado cansado de tanto subir montanhas. Montanhas altas demais para que eu na minha idade possa alcançar o topo. Os anos não perdoam, mas o Velho Chefe Escoteiro insiste em continuar na trilha. Eu sei que faz parte do desafio da vida. Hoje foi um dia de altos e baixos. Um sol gostoso e uma corrida a procura do homem do Jaleco Branco. Não tem como fugir. A vida continua o remédio vem em seguida uma breve melhora uma volta para casa sabendo que não para por ai. Assim vão os dias e as horas passando e a gente esperando melhorar. Mas vamos chegar lá com toda certeza.

                                 Quando a noitinha cai, o vício frenético de uma “Passada no Facebook” nos da força para sentir o prazer de rever amigos, de ver seus escritos, comentários coisas que enche o peito e a alma de um Escoteiro que hoje não pode mais velejar a não ser em suas saudades. Eita BP sempre dizendo, “escoteirada reme sua própria canoa”! A gente olha e sente a amizade de pessoas que nunca estarão ao lado da gente. São palavras amigas, desejando breve restabelecimento e dá uma vontade imensa de abraçar a cada um pessoalmente. A distância é enorme e somente um breve brilho de mente nos concede o Senhor. Obrigado aos que nos querem bem.
              
                               Final de domingo, chega de reclamar, melhor é ler um bom livro, cochilar e até cantar uma canção, ouvir um poema, e falar para aqueles que estão morando em nossa mente: - Eu amo você meu amigo, minha amiga. Um amor distante sem ser pedante e cheio de fraternidade. Lendo comentários, curtidas, meu sorriso desabrocha. Sei que minhas forças não ajudam, e mal e mal escrevo o que ainda me segura no meio deles, meus sonhos, meus amores, meu passado Escoteiro meus sentimentos, meus contos, minhas lendas e artigos em profusão.

                              A cada dia dou falta de um ou outro que se foi por motivos que a gente entende. Mas não fico sozinho. Chegam outros lendo comentando copiando e isso continua a me fazer feliz. Às vezes fico pasmado e perplexo com os dizeres dos amigos que me deram a honra de dizer algumas palavras, de agradecimento de tantos louvores que sei que não mereço.

                             - Chefe! Sou seu amigo, sou seu fã, leio tudo que escreves! – Demais isto não? Meu peito onde o ar se foi volta a crescer de orgulho. E outros amigos que dizem tantas coisas bonitas que mesmo tentando manter o ânimo de bom moço, bem casado sorrio leve a pensar: - Hã se eu fosse mais novo o que faria? Risos. Nada, nada, pois sem a minha Celia eu não seria ninguém e graças a ela eu sou o que sou. Muitos gostam das minhas escritas e outros até são mais verdadeiros dizem que tudo que escrevo reluz em ouro.

                             Domingo é sempre o dia do Senhor apesar do sábado ter o seu valor. Dia de sorrir, de correr ao PS a procura de alivio, e voltar para casa melhor, mais disposto sabendo que isto não vai parar. Não posso desperdiçar a oportunidade do leitor e dizer: - Obrigado meu amigo, um orgulho danado em sermos irmãos escoteiros. Desejo a você uma linda semana, cheia de sucesso paz e amor.

- Bom final de domingo e uma ótima semana cheia de felicidade. Bons ventos!
Boa noite!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Histórias da Jângal. Era uma vez... Em Seeonee. Uma história para Lobinhos.


Histórias da Jângal.
Era uma vez... Em Seeonee.
Uma história para Lobinhos.

Prologo: - Esta é uma historia para ser contada aos lobinhos. O fundo de cena é que este lobinho é diferente dos outros. Mais astuto mais maldoso e deixou muitos lobos ressentidos com ele na Alcateia. A Akelá que amava a todos os lobos deu a ele uma tarefa para que ele modificasse sua maneira de ser. Mas não vou contar a historia. Leiam e vejam como ela teve uma excelente ideia para fazer ali todos irmãos e felizes.

                   Era uma vez... Em uma selva muito distante, havia uma Alcateia de Lobinhos, que por muitos anos vivia feliz. Um dia um novo lobinho. No início ninguém reclamou, mas com o passar do tempo quase todos os lobos e lobinhas passaram a não gostar dele. Tinha prazer em ferir seus amigos da alcateia e se orgulhava do seu mau gênio. Sua Matilha corria dele.

                       Balu mais atento começou a notar que as outras matilhas se afastavam quando ele chegava. Muitos faziam tudo para nas formaturas ficarem longe dele. Quando a Akela os chamavam para um jogo nenhum lobo queria ser sua dupla ou mesmo jogar no mesmo time.

                    Ele não se incomodava e parecia se sentir feliz ao ver que a maioria não tinha nenhuma simpatia por ele. Nunca pediu desculpa e perdia a paciência sempre quando alguém o olhava enviesado. Um dia a Akela cansada de aconselhá-lo tomou uma decisão. O chamou na sala da sede e deu-lhe um saco cheio de pregos. Lobo ela disse, cada vez que perder a paciência, for mal educado ou que um lobinho reclamasse dele ele teria como castigo bater um prego no portão de madeira da sede.

                   Ele espantado não entendeu. A Akelá foi dura com ele. Se não obedecer serei obrigado a desligar você da Alcateia. Lembre-se se gosta de ser lobinho vou repetir uma lei do lobo para você: O lobinho pensa primeiro nos outros! Se você deixar de cumprir a tarefa que estou passando para você serei obrigada a chamar sua mãe e dizer para ela que infelizmente você não pode mais ser um lobo da nossa alcateia.

                   O lobinho ruim olhou para ela, mas não chorou. Ela então completou: É sua única chance de continuar como lobinho. O Lobinho amava a Alcateia. Nunca pensou que os outros lobos não gostavam dele. Não queria sair e cumpriu o que a Akela determinou. No primeiro dia para sua surpresa ele pregou trinta e sete pregos no portão. Com alegria notava que gradativamente o número foi decrescendo.

                  Cansado o Lobinho descobriu que era mais fácil controlar seu gênio, do que pregar pregos no portão. Finalmente chegou o dia, no qual o Lobinho não perdeu o controle sobre seu gênio. Sorridente correu a contar a Akelá. Ela lhe deu os parabéns e disse que agora ele devia tirar um prego do portão, por cada dia que ele fosse capaz de controlar o seu gênio e não aborrecesse seus amigos. Os dias foram passando, até que finalmente o Lobinho pôde contar a Akelá, que não havia mais pregos a serem retirados.

                 A Akelá carinhosamente pegou o Lobinho pela mão o levou até o portão e disse: - Meu querido lobo, você fez bem, mas olhe dê uma olhada no portão. Ele nunca mais será o mesmo. Veja o estado que ele ficou. Quando você diz coisas sem pensar ou mesmo irado, suas palavras deixam uma cicatriz como estas. Você pode bater em alguém e não importam quantas vezes você diga que sente muito. A ferida continuará ali. Uma ferida verbal é tão má quanto uma física.

                Ela o abraçou sorrido e disse: - Lembre-se amigos são uma joia rara realmente. Eles te fazem sorrir e o encorajam a ter sucesso. Eles sempre te ouvem, tem uma palavra de apoio e sempre querem abrir seu coração para você. Mantenha isto em sua mente, antes de se irar com alguém.

E então... A Alcateia viveu muito feliz para sempre!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Lendas Escoteiras. O Lobinho herói de Santa Genoveva.



Lendas Escoteiras.
O Lobinho herói de Santa Genoveva.

Prefácio: - Me divirto ao contar historias. Pode ser de lobo, Escoteiro e Chefe. Quando fui Balu em uma Alcatéia tivemos um menino que falava fanhoso e envergonhado preferia ficar calado. Não sei se me baseei nele nesta história. Quem sabe tem um “tiquito” de nada do real. Dizem que ele foi o lobo herói de Santa Genoveva.

                              Em Santa Genoveva Jovelino era um herói. Foi um exemplo de vida não só para a Alcatéia como para os jovens da cidade. Se ele foi um Super Herói não sei. Vamos à história. Antes vamos conhecer quem foi o Lobinho Jovelino Troca Letras. Nasceu em 1950 e não chorou. Sua mãe trabalhava no correio e seu pai estava internado em um Manicômio Judiciário de Terra das Vertentes. Na cidade a família de Jovelino era tida como “malucos”. Quando fez quatro anos sua mãe observou que ele só ria. Diziam ser um riso de idiota que pouco falava.

                             Fanhoso na escola começaram a rir dele, fazendo “chacotas”, chamando-o de biruta, pirado, lunático, tantan e muito mais. O apelidaram de gaguinho e depois de Jovelino Troca Letras. Jovelino nunca retrucou. Sorria para todos. Aos seis anos descobriu os escoteiros. Aos sábados corria para ver as reuniões dos lobos. Vibrava com os jogos pulava e tentava emitir sons que dificilmente saia. Os lobinhos o conheciam do colégio e nas ruas da cidade. A Akelá Márcia perguntou a ele se queria ser lobinho. Seus olhos disseram tudo. Ele balançou a cabeça com a dizer que sim. Marcia ficou sabendo que era fanhoso e não gostava de falar. Martinha veio ao seu socorro. Akelá, Jovelino Troca letras é fanhoso e não fala.

                      Marcia pensou em ajudar. Iria conhecer a família de Jovelino. Falou com ele devagar – Jovelino! Peça a sua mãe para vir aqui. Certo? – Se ele entendeu ninguém soube, mas a mãe de Jovelino nunca apareceu. Marcia sabia que não podia admiti-lo sem a presença dos pais. Jovelino tinha boa aparência. Cabelos louros e ondulados. Suas roupas eram humildes, mas limpas. Calçava uma sandália de dedo limpa e com unhas aparadas. Magro, não era alto pela sua idade. Enquanto pequeno passou por todos os médicos do INSS. Pobre ninguém resolveu sua doença.

                       Uma tarde a mãe dele apareceu. Conversaram muito. Marcia mesmo sem entender e sem experiência disse a ela que queria ajudar. Jovelino Troca Letras foi aceito na Alcatéia e colocado na matilha cinzenta. No inicio os resultados foram desastrosos. Os lobinhos e as lobinhas riam dele. Difícil mudar isto. Oito meses depois o próprio Jovelino estava desistindo. Dizia para a Akelá Márcia: - Ão adianta ontinuar. Ou sair. Olo muito! Os chefes da Alcatéia se reuniam, discutiam e chegavam à conclusão que ele não estava ajudando.

                    - Ele não aprende nada diziam. Jovelino sonhava com o uniforme. Espere sua vez diziam. Um sábado Jovelino não apareceu. Alguns chefes acharam melhor assim. Marcia ficou preocupada. Afinal se sentia culpada. Resolveu ir a sua casa. Com sua filha que era Escoteira foi com ela até a Rua do Ouvidor. Não foi difícil achar sua casa. Na porta a mãe a recebeu com um sorriso triste. Estranharam. A mãe de Jovelino serviu um cafezinho e uns bolinhos.

                     – Chefe, eu fui obrigada a internar o Jovelino em uma casa de repouso. Ele passou a gritar, chorar, e violento dizia que queria morrer. Pessoas humildes, sem posse e conhecimento Marcia se preocupou. Que casa seria esta? Nunca ouviu falar. Pediu o endereço e foi lá. Coitado do Jovelino. No meio de homens e mulheres que estavam em processo de loucura totalmente insana e degradante. A maioria sem familiares para ajudar. Espalhados pelo pátio faziam suas necessidades na grama, uns gritavam outros davam gargalhadas. Enfermeiros agiam com brutalidade. Viu Jovelino em um canto, e caramba! Sorrindo! Estava com um buquê de flores e veio correndo entregar a Chefe Marcia. Ela não aguentou. Chorou e deu nele um abraço.

                  Na secretaria disseram que ele não podia sair. Nem a mãe poderia tirá-lo. Enquanto não melhorasse. Melhorar? Ali? Marcia foi direto ao juiz da cidade. Conhecia-o. Era pai de um Escoteiro. Jovelino saiu no outro dia. E agora o que fazer? Como reintegrá-lo na Alcatéia novamente? Falar com os lobinhos? Consultou os demais assistentes. Consultou o Presidente fizeram um Conselho de Chefes do Grupo. Todos se apiedaram e foram unânimes em concordar com sua volta. Perguntaram como ele iria interagir com os demais? Marcia aceitou o desafio. Logo deu a ele um uniforme. Ele sorria de orelha a orelha. Naquele sábado a reunião foi na Praça Central da cidade. Era uma maneira de fazer marketing para o grupo.

                    Na praça um homem grande, barbudo, com um revolver na mão chegou gritando. Pegou pelos cabelos a lobinha Martinha. Ela com os olhos arregalados começou a gritar e pedir socorro. O homem apontava a arma e dizia que a mataria se alguém se aproximasse. A policia que o procurava fez o cerco. Era assaltante de banco. Matou a tiros o gerente. Um silêncio sepulcral no Parque. Os lobinhos e as lobinhas soluçavam e choravam. Marcia e os assistentes indefesos. Os policiais pronto para atirar. Ele ria e dizia: - Vou matar! Vou matar! Vou levar esta junto comigo para o Inferno. Ninguém acreditava no que via. Jovelino sorrindo se aproximou: - Calma minha irmã! Tudo vai dar certo e foi chegando para perto dos dois. O bandido gritou para ele parar, pois o primeiro tiro seria dele. A polícia gritou para Jovelino sair dali.

                     Com grande agilidade Jovelino deu um salto e abraçou o bandido pelo pescoço. Ele sentindo o peso do menino soltou Martinha que saiu correndo. Com um safanão o bandido jogou Jovelino no chão e atirou. A policia nesta hora crivou o corpo do bandido de balas. Ele caiu ao chão ao lado de Jovelino que sangrava. Levaram Jovelino para o hospital. Ele quase não respirava. Internado na UTI ficou lá dois meses. Na porta do hospital uma multidão de lobinhos e escoteiros e seus familiares faziam vigília.

                    Quatro meses depois ele recebeu alta. Um milagre aconteceu. Ele agora falava sem gaguejar. Deram a ele uma medalha da cidade. O povo veio ver e aplaudiu. Os escoteiros em uma estrondosa palma Escoteira saudaram Jovelino. O lobinho herói de Santa Genoveva. Sei que Jovelino quando cresceu foi escoteiro Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria.  Dizem também que ele se formou em direito e é um grande advogado na capital. Dizem também que ele faz questão de participar de um Grupo Escoteiro lá. Só sei que em Santa Genoveva ninguém nunca mais esqueceu.   

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Lendas escoteiras. O Corvo.



Lendas escoteiras.
O Corvo.

Prólogo: “Ave ou demônio que negrejas! Profeta, ou o que quer que sejas! Cessa ai, cessa! Clamei, levantando-me, cessa! Regressa ao temporal, regressa À tua noite, deixa-me comigo. Vai-te, não fica no meu casto abrigo Pluma que lembre essa mentira tua, Tira-me ao peito essas fatais Garras que abrindo vão a minha dor já crua. E o Corvo disse: “Nunca mais.”. Edgar Allan Poe.

                  Noite alta. O Fogo de Conselho havia encerrado. Em volta do fogo eu, Lávio, Tomazo e Alice permanecemos para apreciar a lua cheia e o som da Floresta do Machado. Uma pequena mata as margens do Rio do Sal, local desconhecido onde acampamos pela primeira vez. Foi nesta noite que o Chefe Lávio nos contou esta interessante história. Contava devagar, poucos gestos que nos chamou a atenção. Foi um acampamento de tropa feito a cada três meses para não esquecermos a vida ao ar livre e com a natureza.

                  – Chefes, “Foi ha muito, muito tempo”... Eu morava em Monte Azul. Uma pequena cidade do interior. Vida simples, meninada nas ruas soltando pipas e brincando com suas bolinhas de gude. Época do respeito, da reverencia para as professoras quando passavam. Na missa de domingo a melhor roupa. Para surpresa o padre anunciou: - Paroquianos, nossa cidade vai organizar um grupo de Escoteiros. Inscrições abertas no Clube Remanso no sábado à tarde.

                   Acordei às três da manhã. Papai! Vamos! - Onde? Fazer minha inscrição. Tomamos café partimos. Uma fila enorme. Chefe Noel cumprimentava a todos. A inscrição está feita. – Educamente disse para todos os pais: Aguardem a chamada. Iremos treinar alguns para serem os lideres e daqui a três meses vamos chamar todos. Não foram todos. Eram muitos os inscritos. Três meses depois um escoteiro um Escoteiro uniformizado nos procurou para dizer que a minha vaga estava aberta. Comparecer no próximo sábado.

                  As onze almocei e as doze arrastei meu pai até a sede. Meu primeiro dia. Fui colocado na Patrulha Corvo. Que orgulho. Sete patrulheiros. Leones o Monitor nem sempre calmo com a gente. Primeiro acampamento em Águas Cantantes. Fiquei maravilhado. Nunca me senti herói como agora. Não falava outra coisa. O Monitor disse a todos para estudarmos e conhecer a linhagem do Corvo. Decorei tudo. Orgulhava-me de ser um corvo.

              Um ano e já era um veterano. A Patrulha passou a ser a minha vida. Juntos até fora das reuniões. Havíamos programado um acampamento em Morro Sião. Local lindo, uma pequena mata, uma cascata formando um lago ideal para dar uma boa pescada. Eu gostava de pescar. Aprendi com meu pai. A Patrulha aplaudia todas as vezes que levava um bagre ou uma bela traíra para o almoço ou jantar. Quatro dias de acampamento.

                   Uma excursão para encontrar a Mina do Fantasma foi um desastre. Recebemos um croqui, uma bussola, e uma carta prego. Instruções claras. Azimutes, pontos cardeais e colaterais. A Patrulha se saiu bem. Havia uma passagem em um barranco, largo que dava para um enorme despenhadeiro. Ficamos longe dele.

                   Hora de tomar novo rumo. E a bússola? Quem ficou responsável? Era eu. Não achei em meus bolsos e nem no bornal que levei. Deu vontade de chorar. Leones me olhou com cara feia. Jair nem falou. – E agora? – Pense Lávio. Tente lembrar onde pode ter esquecido! – Não lembrei. Resolvemos voltar pela trilha próximo ao barranco. Sem esperar ele cedeu. Toda a patrulha foi arrastada para o fundo do despenhadeiro. Oitenta metros de queda. Quase em queda livre.

                   No fundo da ravina caímos em cima de arbustos cheios de espinhos. Uma dor terrível. Sentíamos dores por todo corpo. Precisávamos sair dos espinheiros. Para onde ir? Até Leones Monitor não sabia o que fazer. Ouvimos ao longe um grasnado de um Corvo. “Croc, Croc, Croc.” Avistei-o em cima de uma árvore. Ele voava acima de nossas cabeças e depois seguia em outra direção.

                   Falei para Leones seguir o corvo. – Por quê? Ele disse. – Porque ele é o guia de nossa Patrulha. Ninguém riu. Com dificuldade saímos do espinheiro no rumo que o Corvo mostrava. Paramos e retirar os espinhos. Começou a escurecer. O corvo sempre voando e seguindo em uma direção. Perdemos a noção de tudo. Não dava mais para seguir o Corvo. Escureceu. Sabíamos que o Chefe e as demais patrulhas deviam estar aterrorizados com nosso sumiço. Fazer o que? Um frio uma bruma na ravina nos pegou em cheio. – Alguém tem fósforos? – Lembrei-me do isqueiro que sempre levava comigo.

                    Na ravina avistávamos o céu. Ficamos em baixo de uma Guaritá frondosa. Dormir com o frio não dava. Acendemos uma fogueira. Achamos gravetos e achas de madeira. Vi o Corvo em um galho no Guaritá. Ele desceu e pousou no meu ombro. Todos dormiam... ninguém viu. Vi que tinha uma pena dourada e as demais pretas. Ficou no meu ombro pouco tempo. Dormi... Acordei com o sol nascendo. Espantamos o frio colocando os Cavalos a Trotar. Deu para esquentar. O corvo voava sobre nossas cabeças e seguindo em uma direção. Atrás dele duas horas depois avistamos o acampamento. Abraçamo-nos chorando de alegria. Nosso Chefe foi complacente, mas as patrulhas deram boas risadas!

                   No dia seguinte avisei o Corvo. Grasnando e voando. Croc. Croc. Croc. Quando partimos nos acompanhou por muitos quilômetros. Da janela do ônibus o avistei diversas vezes. Parecia querer bicar os vidros da janela. Dormi, cansado demais. Nunca mais achei a bussola. Iria pagar, mas o Chefe não aceitou. – São coisas que acontecem. Que sirva de lição! No sábado seguinte a Tropa formada para o Cerimonial de Bandeira. No final fui encarregado da oração. – “Senhor ensinai-me a ser generoso” comecei. Vi o corvo voando em círculos sobre nós. Era lindo seu bailado. Desceu e pousou no meu ombro. No bico uma pena dourada. Colocou a pena no meu chapéu e saiu voando e grasnando rumo sul. Sumiu no céu azul daquela linda tarde de primavera.

                  Um silencio sepulcral na tropa. Até o Chefe estava extático e deslumbrado. Ele sabia da história do Corvo. Quando contamos ficou em dúvida. Tirei meu chapéu. Coloquei a pena dourada entre a correia e meu chapéu. Guardei a pena e só usava em atividades especiais. A pena dourada fez história. Tornou-se um mito. – Olhávamos para o Chefe Lávio. Alguns de nós não acreditávamos na sua história. Ele se levantou foi até sua barraca voltando em seguida. No topo do seu chapéu de três bicos estava a pena dourada. Linda, nunca tinha visto igual. Ah! Histórias são historias. Algumas marcam outras lembramos de tempos em tempos. E como diz um Velho Chefe Escoteiro: Histórias são feitas para sonhar...

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Lendas escoteiras. Do destino ninguém foge - parte II.



Lendas escoteiras.
Do destino ninguém foge - parte II.

Prólogo: “Saiu de casa para contar a um amigo a novidade”. Vibrava com sua entrada nos escoteiros. Ao atravessar a rua, foi pego por um carro a toda a velocidade, fugindo da policia que vinha logo atrás. Foi arremessado à grande distancia. Ficou inconsciente. Levado ao hospital ficou em coma dois meses. Saiu do coma, mas sem movimentos no corpo, ficara paraplégico. Durante um bom tempo não lembrou mais de seus sonhos. Agora eram outros. “Pensou que com o tempo seus movimentos voltariam, ele não desanimou e o tempo passou.”

                                   Quatro anos se passaram quando seus pais o levaram para casa. Nenhum movimento no corpo durante este tempo. Não desistiu e insistiu nos tratamentos que lhe recomendaram em um centro de reabilitação. As pernas não regiam. No primeiro falava pouco. Não tinha o que dizer. A voz engasgada. Uma terapeuta fez tudo para ele sorrir e nada. Ainda estava cético sobre sua recuperação. O dia mais feliz de sua vida se foi como uma grande tempestade. Seu atropelamento foi um desastre. Matou seu sonho e sua vontade de viver.

                                Treze anos uma vida a começar assim interrompida. Sua mãe sempre com os olhos vermelhos. Seu pai fez tudo que podia, gastou o que não tinha até que os médicos disseram que era melhor ele ir para casa. Seu corpo não mais reagia ao tratamento. Em casa pediu a sua mãe que colocasse o uniforme Escoteiro no baú do seu pai. Ele não queria vê-lo nunca mais. Seu quarto era aconchegante, a janela dava para um pequeno jardim que sua mãe cuidava diariamente.

                               Nunca sentiu o perfume das flores e o sol e a lua para ele não tinha diferença. Dormia de dia ficava acordado a noite. Trocava sempre à noite pelo dia. Nada lhe faltou. Sua mãe sempre presente. Banhos, fraldas, refeições, virá-lo sempre para não dar ferida ao corpo, enfim uma mãe incansável para que seu filho pelo menos sorrisse.

                               Uma tarde bateram em sua porta. Sua mãe atendeu. Surpresa. Dois escoteiros uniformizados queriam falar com ele. Não os conhecia. Nunca os viu e esteve na sede deles por pouco tempo. – O que querem? Falou. Mal educado retrucou que fossem breve, precisava descansar. Eles sorriram. Nós não queremos nada de você. É você que vai querer de nós. Miltinho, chega de auto piedade. Você só sabe sentir compaixão de sí mesmo? Está com dozinha de você? Lastimando-se? Não vê que tem pessoas sofrendo a sua volta? Afinal, você é um homem ou um rato?

                              – Quantas verdades eles disseram. - Quem são vocês? Quem lhes deu o direito de falarem assim comigo? – Eles não responderam.  Mudaram de assunto. – Sábado que vem vamos vir aqui e levar você para a reunião escoteira. Afinal não era seu sonho? Só porque se acidentou se acovardou?

                              Miltinho não escondia sua surpresa e eles foram embora. Chamou sua mãe e perguntou quem eram eles? - Eles quem? Ela disse. Os dois escoteiros que aqui estiveram. – Meu filho, não veio ninguém aqui hoje. Miltinho ficou mudo. Eram assombração? Afinal ele já estava com dezesseis anos e não tinha medo de nada mesmo entrevado numa cama. Mas porque, porque, insistiu com seu pensamento. No sábado bateram a porta. Lá estava os dois de novo. Vamos – disseram. Ir com voces? Voces são fantasmas! Não ando com fantasmas.

                             Eles riram. Pegaram Miltinho, colocaram-no em uma cadeira de rodas e saíram de casa rumo à sede Escoteira. Nem despediu de sua mãe e seu pai. Os dois a pé empurrando a cadeira de rodas. Uma festa. Aplausos de todos os jovens. Abraçaram-no, e foi para uma Patrulha Sênior com duas meninas e dois meninos. Ele era o quinto. Claro na cadeira de rodas.

                            Uma guia gritou para ele: - Miltinho! Largue esta cadeira, vamos fazer um jogo e não dá para você ficar sentado feito um folgado! Outro o levantou e outro empurrou a cadeira para o canto do pátio. Miltinho pensou que ia cair, mas suas pernas se firmaram. Ele não acreditava! Vamos molenga! Diziam todos! Miltinho sorriu, correu, brincou, suou e de volta a sua casa quando entrou viu que esqueceu a cadeira de rodas na sede. Que fique lá para sempre, disse para si mesmo. Aperto de mão, abraços e Sempre Alerta e lá foram os dois escoteiros.

                            Custou a acordar no dia seguinte. – Mãe a senhora me viu chegar ontem dos escoteiros? Como? Ela disse. Eu fui lá com os dois escoteiros. Sua mãe sorriu. Onde está a cadeira de rodas? Meu filho você nunca teve uma cadeira de rodas. Não pode sentar. - É bom que ele sonhe pensou sua mãe. Pelo menos não fica tão triste como estava. Se isto lhe faz bem vou ajudar. E eis que Miltinho senta na cama, se levanta e diz a sua mãe – Mãe, hoje vou escovar os dentes e me lavar sozinho. Quero estar com vocês no café da manhã!

                            Sua mãe estava boquiaberta! Meu Deus! Um milagre? Ela não sabia se ria ou chorava. Gritava de alegria e chamou seu pai que veio correndo. O abraçou. Quem visse veria uma família maravilhada e sorrindo como ninguém sorriu antes.

                            Miltinho voltou a estudar. Seu pai o levou aos escoteiros. Ele se tornou um jovem tão feliz que o mundo mudou e ele acompanhou. Poucos entenderam sua felicidade. Miltinho nunca soube explicar os dois escoteiros fantasmas, a tropa sênior do seu sonho. Não importava. Se Deus quis assim, agradecemos a Deus por ter me dado à vida de novo.

                            Miltinho casou e tiveram um lindo filho, mas ele trabalhava tanto que quase não tinha tempo para ele. Aos 13 anos pediu para ser escoteiro. Miltinho sorriu. Sim ele também se chamava Miltinho. Deu para ele seu uniforme. Vou lá com você no sábado, seu filho sorria de alegria.

                            Como se fosse uma repetição do passado, Miltinho abriu as janelas e agradeceu a Deus pela vida. Correu até a casa de um amigo para contar a novidade. Ele seria escoteiro como seu pai foi. Ao atravessar a rua viu um carro em alta velocidade fugindo de um carro da policia. Pneus rangeram uma batida forte. Alguém gritava. Miltinho por sorte escapara.  Não sabe como não foi atropelado.

                           Notou ao seu lado dois escoteiros sorrindo. Foram eles! Um morto e um ferido os bandidos do carro. Miltinho respirava forte. Graças a Deus, Graças a Deus. Viu os dois escoteiros se afastando. Eram os escoteiros do sonho de seu pai. Acenou também. Meus anjos da guarda pensou. A vida nos reserva surpresas sem explicação. Fazer o que? Aceitar o seu destino, pois Miltinho sabia que do destino ninguém foge!

Fim.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Lendas Escoteiras. Do destino ninguém foge. Parte I



Lendas Escoteiras.
Do destino ninguém foge. Parte I

                          Seu nome era Matheus, gostava de ser chamado de Miltinho. Seu avô tinha o mesmo nome e diziam que ambos se pareciam. Era filho único e com 12 anos já estava no quinto ano do fundamental. Estudava em um bom colégio pago e não se achava um prodígio como aluno, mesmo assim não tinha como reclamar de suas notas.

                        Gostava de futebol e sempre que podia, ia para a quadra do colégio bater uma bola com os amigos. Sabia que não era um craque, mas fazia boas jogadas. Em seu bairro tinha alguns amigos, não muitos. A noite se encontrava com eles para um papo ou até uma brincadeira qualquer. Nos fins de semana às vezes saia com seus pais. Seu pai trabalhava como gerente financeiro de uma cadeia de lojas e nunca chegava em casa antes das 9 da noite. Sua mãe, dona de casa era quem mais estava junto a ele no dia a dia.

                        Nunca seu pai o levou para passear nos finais de semana e pouco interessava pela sua vida não perguntando nada quando se encontravam. Um tarde de um sábado, vindo da quadra de futebol, viu três escoteiros caminhando em sua direção. Já os tinha visto antes, mas não sabia como eram o que faziam e onde se encontravam. Passaram por ele conversando entre si e dobrando a esquina desapareceram como fumaça no ar. Ele ficou ali meditando, e pensou que poderia experimentar ser um deles.
 
                        Comentou com sua mãe sobre sua intenção. Ela não disse nem sim e nem não. Resolveu investigar por conta própria. Descobriu o local onde se reuniam. Era um colégio a oito quadras de sua casa. Foi lá em um sábado. Viu muitos meninos e meninas brincando, correndo e um chefe apitando. Não entendeu muito, mas pelo sorriso estampado no rosto de todos, achou que devia ser bom.

                        Procurou um Chefe e perguntou como fazia para participar. O encaminharam para a sala onde estava o que devia ser o chefão. Ele o olhou de alto a baixo. Perguntou por que queria ser escoteiro. Ele não soube responder, mas disse que queria experimentar. O chefão gentilmente explicou o que fazia um escoteiro. Suas responsabilidades suas atividades e muita responsabilidade quando fizer sua Promessa Escoteira.

                       Encantou quando o Chefe contou sobre os acampamentos, as excursões às viagens de longa distancia a grande fraternidade mundial; Disse sobre os Jamborees e emocionou-se ao saber que em muitos participavam milhares de escoteiros de todo mundo. Ficou sabendo de um tal General Inglês que foi o fundador. Soube que mais de 150 países possuíam grupamentos escoteiros.

                       Pensou que seria bom pertencer a uma patrulha. Jogar com eles. Tomar decisões, vida em grupo. Imaginava como era e sabia que iria gostar. Imaginava ter seu distintivo, fazer sua promessa, mas logo acordou do seu sonho, pois era apenas narrativa do Chefe, pois precisava tomar uma serie de providencias antes de sua aceitação. Recebeu uma ficha de inscrição a ser preenchida pelo seu pai e sua mãe. Foi para casa sonhando acordado e quase se perdeu no retorno, tomando um rumo desconhecido.

                        Entregou a ficha e a sua mãe. Contava com ele para convencer o seu pai. Quando ele chegou à mesma rotina. Boa noite, banho e voltou para ler o jornal na sala. Já estava desistindo. Sua mãe se aproximou e sussurrou para o pai o desejo do filho. Entregou a ele a ficha de inscrição para sua assinatura.

                         Ficou pensativo quando seu pai o chamou. Incrível... Sorria para ele! – Parabéns ele disse. Gostei de sua escolha. No próximo sábado irei com você até o Grupo Escoteiro. Ele não acreditou e seu pai o levou até seu quarto (o dele) e tirou de dentro de uma mala antiga, um uniforme de escoteiro e o lenço e o presenteou. Era o seu quando jovem. Participara por quatro anos. Fora monitor e primeira classe. Mudaram de cidade, onde foram não havia grupos. Mas ele não tinha esquecido.

                          Sempre pensou em colocá-lo em um Grupo Escoteiro, mas não sabia onde e ele não tinha se manifestado a respeito. O tempo foi passando e ele se esqueceu de tudo. O trabalho o absorvia muito. Pediu desculpas ao filho. Disse que iria apoiá-lo e acompanhar em todas as situações que se fizessem necessárias.

                           Foi o dia mais feliz de sua vida. Foi para o seu quarto e colocou o uniforme de seu pai na cama. Ficou ali a admirá-lo. Não se conteve. Vestiu a camisa, colocou a calça curta, devagar colocou os meiões. Olhando no espelho colocou o lenço. Ainda não sabia como colocar. Como gravata ou mais longe do pescoço. Viu que o uniforme era grande para ele. Não se importou. Achou que era o máximo.

                            Durante a semana sonhou tudo que o Chefe explicou. A promessa, seus novos amigos, sua Patrulha, acampar, excursionar e fazer grandes jornadas a pé. O dia amanheceu, acordou e foi até a janela. Sorriu para o sol e fez sua oração matinal agradecendo a Deus pela oportunidade. Saiu de casa para contar ao seu melhor amigo a novidade. Vibrava com a possibilidade de ser Escoteiro. Ao atravessar a rua, foi pego por um carro a toda a velocidade, fugindo da policia que vinha logo atrás. Foi arremessado à grande distancia. Ficou inconsciente.

Levado ao hospital ficou em coma dois meses. Saiu do coma, mas sem movimentos no corpo, ficara paraplégico. Durante um bom tempo não lembrou mais de seus sonhos. Agora eram outros. Pensou que com o tempo seus movimentos voltariam, ele não desanimou e o tempo passou.

Breve a parte II deste conto.

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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