quarta-feira, 10 de abril de 2019

Lendas Escoteiras. Maria Morena Escoteira que nos fez sonhar...




Lendas Escoteiras.
Maria Morena Escoteira que nos fez sonhar...

¶ Linda morena, morena, morena que me faz penar
A lua cheia que tanto brilha, não brilha tanto quanto o teu olhar.¶

              Ah! Rotina. Quanta rotina nos meus sábados Escoteiros. Não que eu não gostasse de estar lá com a meninada. Nada disto, eles para mim eram parte da minha vida, mas vai chegando momentos que a gente não se motiva, nada ajuda uma tarde modorrenta e mesmo acampando aquele “Tchan” do começo não existe mais. Vez ou outra eu me perguntava o que estava fazendo ali em Luar do Sertão. Já devia ter ido embora há muito tempo. Afinal estava solteiro vinte e cinco anos em uma cidade onde só se falava da vida dos outros, onde os velhos sentavam na praça a jogar damas, e o programa aos sábado se resumir a um baile no Clube Mediterrâneo, ou um sessão no cinema Palácios. Não podia reclamar, tinha um bom emprego no Banco do Brasil. Bem quisto e me disseram que seria um futuro gerente, pois meu trabalho era elogiado. Mas não era só isto, meus pais velhinhos não podiam ser abandonados pelo seu único filho. E os Escoteiros? Nasci lá como lobo e até hoje sou um eterno apaixonado.

¶ Tu és morena uma ótima pequena não há branco que não perca até o juízo
Onde tu passas sai às vezes bofetão toda gente faz questão do teu sorriso ¶

           Mas era só. As moçoilas de Luar do Sertão eram insossas, sem graça e até que namorei umas três, mas não deu certo. No inicio como Chefe estranhei. Queria era continuar Escoteiro, fazendo estripulias no campo, pioneirías impossíveis, descobrir novos campos campinas e montes onde eu achava que ninguém ainda conhecia. Mas o tempo foi passando, a rotina seguia seu rumo e o vento da alegria esqueceu-se de me dar um luar com muitas estrelas no céu. Os meninos Escoteiros da tropa estavam enfadados, já havia alguns que não apareciam sempre. Naquele sábado nem sei por que estava fazendo o jogo de feiticeiros e estátuas. Jogo chato, amolante e sem graça. Eu não gostava dele e sabia que a meninada Escoteira também não. Matias Risonho me fez um sinal – O que foi Matias? – O chefão está chamando. – De novo pensei. De vez em quando Matusalém o Diretor Técnico dava nos nervos. O cara era de doer e gostava de falar. Olhei para trás e até pensei em deixá-lo de molho por alguns minutos. Ele merecia.

¶ Teu coração é uma espécie de pensão de pensão familiar à beira-mar
Oh! Moreninha, não alugues tudo não deixe ao menos o porão pra eu morar.¶

               O que? Quem estava com ele? Quem era ela? Uma Deusa? Desceu do céu? Onde ele arrumou aquilo tudo? Uma linda morena como nunca tinha visto, linda? Não mais que isto estupenda morena. Larguei a tropa jogando e fui em passos rápidos até ela. Ela sorria para mim, meu Deus! Que sorriso! Morena linda, esgalga, penumbrosa, parece à flor colhida ainda orvalhada no justo amanhecer. Apresentou-se – Maria Morena, Escoteira da cidade do Garanhuns. Sou Chefe lá! Pronto! Já sabia qual cidade ia morar para sempre! Graças a Deus que naquele sábado de homem só eu. Mais Elisete, Elizabeth e Noreth da Alcateia. Estava pasmado, ou melhor abestalhado com tão magnifica mulher. Uma morena de olhos grandes, parecendo jabuticabas colhidas na hora do amanhecer, lábios carnudos avermelhados, sorrisos que derrubavam os maiores exércitos que marchavam para a guerra. Era um sorriso de Atena, deusa da guerra, da sabedoria, da habilidade a titã da sabedoria.
    
¶ Por tua causa já se faz revolução vai haver transformação na cor da lua
Antigamente a mulata era a rainha desta vez, ó moreninha, a taça é tua.¶

             Dei um sempre alerta sem graça tentando fazer uma pose de Brad Pitt. Meu corpo tremia, meu coração batia e abestalhado por ver tão linda mulher no pátio da sede. Ela me olhou com os olhos húmidos brilhantes e com uma voz de Afrodite a dizer que seus exércitos iriam vencer a mais sublime das batalhas me perguntou: Posso fazer um estágio com o Senhor por dois meses? – Dois? Nunca, você vai estagiar comigo para sempre! Agora meu coração é seu e a tropa é sua, pensei. Uma voz chata me dizia – “Ah, porque não a deixa intocada Chefe Poeta, tu que és Chefe, na misteriosa fragrância do seu ser, feito de cada Coisa tão frágil que perfaz esta rosa”! – Uma voz esganiçada, grossa, feia, mil vezes maldita ecoou no ar – Mozinho! Vai demorar? – Olhei para o maldito. Moreno brabo, feio, atarraxado, pior vestimentado com camisa solta endiabrado uniforme disformado, de uma vez só estraçalhou meu coração! Seu marido? Noivo? Acosturado? Pé de Café? Danado, estragou tudo! – Olhei para ela, ela desanuviou o horizonte que despontava raios e trovões e disse: – Já vou Mozinho! Virou para mim, com aquela cara inocente, tão doce, tão amada, tão linda, tão adocicada e disse: – Posso voltar no sábado? 

- ¶ Mas (diz-me a Voz) por que deixá-la em haste agora que ela é rosa comovida
De ser na tua vida o que buscaste tão dolorosamente pela vida ? Ela é morena rosa, poeta... Assim se chama... Sente bem seu perfume... Ela te ama...¶

Linda Morena, uma marchinha de Lamartine Babo.

Alguns versos de Vinicius de Morais. 

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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