terça-feira, 5 de maio de 2020

Contos ao redor da fogueira. Quando o fogo aquece a alma.




Contos ao redor da fogueira.
Quando o fogo aquece a alma.

... – Este conto é uma homenagem ao chefe Alexandre Fejes Neto, mais conhecido como chefe Lecão e grande escritor escoteiro. Em dezembro de 2016 tive a honra de conhecer e conviver com ele por algumas horas em seu grupo escoteiro em uma agradável conversa ao pé do fogo que deixou saudades. A ele meu Anrê e sei que lá no céu ainda está fazendo escotismo dos bons, uma de suas maiores escolhas desde que entrou para o Movimento Escoteiro. 

- Uma noite como as outras... Na grande cidade não se via estrelas, cometas e a lua não deu sinal de vida. Ventos calmos sopravam de leste para oeste. A chama pequena da fogueira tinha toda a atenção dos Chefes Cabeças Brancas e do Escoteiro a sua volta. Vez ou outra surgia um caso, um conto um pedaço de alguma lembrança.  Despretensioso o fogo não se importava quando alguém com um pequeno galho mexia e remexia nas suas brasas e ele danado soltava fagulhas no ar. Sem alarde um Cabeça Branca contou a história de Minarã, pois diziam que só ele possuía o fogo. Dizia à lenda que os Caingangues sabiam do valor da luz e o calor vindo do sol. Os alimentos ainda eram comidos crus. Minarã um índio de raça estranha, egoísta guardava para si os segredos do fogo. Sua cabana era constantemente vigiada e sua filha Iaravi era quem mantinha o fogo sempre aceso. Os Caingangues, porém, não desistiam de possuir o fogo também. Precisavam para sobrevivência e não se conformavam com a atitude egoística de Minarã.

Os Cabeças Brancas sentados em volta do fogo e o jovem Escoteiro olharam para o narrador que sentado com pernas cruzadas à moda índia, tirava pedaços quentes da lenda que nunca foi contada. Fiietó um inteligente e astuto jovem da tribo, decidiu tirar de Minarã o segredo do fogo. Transformou-se em gralha branca, apelidado Xakxó e partiu voando para o local da cabana e viu Iaravi banhar-se nas águas do Gôio-Xopin, um rio largo e translucido. Fiietó lançou-se no rio e se deixou levar pela correnteza ainda disfarçado de gralha. A jovem índia fez o que Fiietó previa. Pegou a gralha e a levou para dentro da cabana e ainda molhada sentaram em frente ao fogo. Quando secou suas penas, a gralha pegou uma brasa e fugiu... – Um interesse momentâneo surgiu no piscar das sobrancelhas dos Cabeças Brancas e do Escoteiro.

Minarã, sabendo do ocorrido perseguiu a gralha que se escondeu em um toca entre as pedras. Minarã tocou na toca até que viu a vara ficar manchada de sangue. Pensando que havia matado, Xakxó regressou contente à sua cabana. Esperto Fiietó esmurrara seu próprio nariz para enganar o índio egoísta. Saiu do esconderijo voou até um pinheiro. Ali reascendeu a brasa quase extinta e com ela incendiou um ramo de sapé, levando-o no bico. Mas com o vento o ramo incendiou-se e pesado caiu do bico de Xakxó. Algumas brasas caídas propagaram fogo nas matas e florestas distantes. Veio à noite e tudo continuou claro como o dia. Foi assim dias e dias. Os índios das tribos próximas nunca tinham visto tamanho espetáculo e cada um levou brasas e tições para suas palhoças.

Um dos Cabeças Brancas levantou e atiçou novamente a fogueira. Um outro tossiu provavelmente pelo orvalho da noite. Até o Escoteiro calado pensou qual seria o final do conto, da fábula que acabava de ouvir. Um dos cabeças brancas do Ar, falou com voz rouca para todos ouvirem: “Somos da terra... A terra somos... Todo dia é nosso... Os nossos somos todos... Precisamos usar nossa flecha da sabedoria com o arco da esperança e reconquistarmos o que éramos”. Seria uma conotação do fogo? De suas origens? Ou seria do seu “escoteirismo” tão vivido e que hoje não era mais?  E eis que lá no cantinho da Serra da Cantareira avistaram a lua surgindo, e ele saudoso dos seus tempos de Aeroplano, terminou assim: - “Procure conhecer-se, por si próprio. Não permita que outros façam seu caminho por você. É sua estrada, e somente sua. Outros podem andar ao seu lado, mas ninguém pode andar por você”!

E o fogo apagou o dia e a noite dos Cabeças Brancas e do Escoteiro. Dizem que um deles hoje mora no céu, alguns outros sobreviveram para contar esta história. Para um deles o Decano, foi seu último fogo do conselho até hoje lembrado e nunca esquecido. Saudades que ficam saudades que se vão saudades que não deixa a gente esquecer jamais!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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