sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Lembranças da meia noite. Os velhos, ah! Os velhos o que serão deles?




Lembranças da meia noite.
Os velhos, ah! Os velhos o que serão deles?

Os ventos que levam as dores são os mesmos que levam os nossos sonhos as margens da imaginação.

Dizem que as pessoas velhas, ou melhor, as idosas têm direitos que as outras não têm. Será? Quem sabe é verdade. Dizem para ele não sair na chuva e lá está ele revivendo filmes do passado, dançando na chuva com seu guarda chuva que o vento em um tempo levou. Relembrando um filme diferente que hoje a moçada não vai entender e nem gostar. Falam para ele não esquecer seus remédios da manhã, meio dia e da noite, chamam sua atenção que água gelada não pode e que no frio deve ficar sempre agasalhado. Eu olho com meu olhar triste e concordo.  Velho, não ande sozinho e se você não souber voltar? Não fique viciado no facebook e só escrevendo sobre escotismo. Faça outra coisa. Vá ver TV, vá ler o jornal, você comprou um belo livro e não leu? Eu abaixo a cabeça, balanço para um lado dizendo sim e para o outro dizendo não.

Mas quer saber, dizem que os velhos têm privilégios. Risos. Eu tenho e muitos. Hoje encontrei seu Chico nas minhas andanças por este mundão de Deus. (um quilometro ida e volta na mesma rua). Ele é tão Velho como eu. Resolvi sair para minha gostosa grande jornada diária. Preparei-me com esmero. Calcei minha “precata de trinta anos atrás”. Coloquei um short azul que comprei no Mappin há muitos anos, camiseta branca, na cabeça um boné e no bolso o RG e uma latinha para inalar e duas moedas de cinquenta centavos. Quanto vale duas moedas de cinquenta centavos? Nem um pão você compra diz a Célia. E se a “barra pesar”? Bussola? Machadinha? Facão Norueguês? Faca Escoteira? Bornal? Cabo trançado? Chapéu de três bicos? Bah! “Necas de catibiriba”!

Lá fui eu, como nos tempos antigos das grandes jornadas. Ufa, lembro-me de uma de quinhentos quilômetros em três estados no meu cavalo de aço. Hoje? Apenas 850 metros percorridos no “passo duplo”. O Passo Escoteiro não dá mais. A boca abre, o ar se expande o coração bate e valha-me Deus! É pegar a latinha chupa chupa, colocar na boca, prender a respiração e seja o que Deus quiser! Percorrido uns 500 metros, uma parada e lá estava ele a reclamar da vida. Seu Chico. Sou bom ouvinte. Fiquei ali com ele uma meia hora. Bem assim pensei. Só ele falava. Aí pensei comigo. Sou um "Velho" de sorte. Minha Celinha linda não faz comigo o que Dona Iracema faz com ele. Sou bom ouvinte. Fiquei com ele mais de uma hora. Desci a rua despreocupadamente e até tentei cantar o Cuco. Foi difícil, pois tem que bater nas pernas, no peito, dar uma palma e levar as mãos para trás e dizer: - Cuco! Quando fazia isto os vizinhos davam risadas. Hô louco meu!

Eu gosto de me divertir sozinho. Não porque fui só na vida, isto não. Sempre tive um mundão de pessoas ao meu redor. Mas quer saber? Adoro um silencio. Um silencio gostoso, tipo os que ouvi nas matas fechadas, nos picos mais altos, debaixo de uma cachoeira tocando um samba de uma nota só. O silêncio da noite me atrai muito. O silencio da madrugada com o sol nascendo me machuca por saber que nunca mais vou ver. Mas continuando, deixei o Seu Chico cantando e lá ao longe vejo um mundão de gente na porta da minha casa. Celia preocupada. – Marido! Onde você foi? –
Só então vi que naquele dia demorei mais de quatro horas para voltar! Ela estava certa em se preocupar. Pobre da minha Celinha. Não gosto de vê-la chorar. Este Velho prometeu – Nunca mais faço isto!

Bem chega de “cacengas” por hoje e vamos aos entretantos. Daqui a pouco é hora de dormir. Uns dias escoteirando nos meus sonhos e outros conversando com meus amigos. De volta onde nunca poderei sair, mas um dia... Ah! Um dia... Fraternos abraços e Melhor Possível a lobada e Sempre Alerta aos escoteiros. Uau! Servir!         

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