domingo, 2 de fevereiro de 2020

Contos ao redor da fogueira. Ser Escoteiro é saber amar de coração aberto.




Contos ao redor da fogueira.
Ser Escoteiro é saber amar de coração aberto.

... Esta historia quase real se passa em 1970 em Belo Horizonte MG.

- Olhe Comissário, nem lhe conto, se fosse em outra ocasião eu tinha partido para a ignorância. Aquele Chefe merecia uns tabefes. Afinal não adianta dizer – Vocês são escoteiros, mesmo sendo chefes fizeram uma promessa para cumprir a Lei Escoteira. Termos que ser exemplo e ter uma norma de conduta! – Entendo... Mas o Chefe estava passando da conta. Preferi não discutir, virei às costas e fui embora. Sempre dizem que somos irmãos. Acho que são palavras nada mais que palavras. Por Deus chefe me deu vontade de sair do escotismo. A gente lê tantas palavras bonitas, uma filosofia que encanta e vem um “Zé Ninguém” e joga tudo por terra. - O pior chefe é aquele que não quer acordar pela sua falta de fraternidade. Aquele quem não tem o escotismo na mente, na alma e no coração e o Senhor sabe, assim é muito difícil, ou melhor, impossível continuar. Nem sei por que não saí logo.

- Mas o que houve? Perguntei. Estava boiando. Ele ali na minha frente, vermelho, abrindo o verbo contra alguém que devia ter aprontado poucas e boas com ele. Não éramos tão amigos há não ser um Sempre Alerta ou um abraço fraternal. Quando voltava do meu trabalho, o ônibus da empresa me deixava no centro da cidade. Dava uma passada rápida no Escritório Regional e no caminho do ônibus do meu bairro não deixava de dar uma parada no Bar do Grilo. O melhor chope da cidade e uma empada de camarão sem igual. Sentei e ele sentou ao meu lado. Cumprimentos de praxe e ele começou a contar sua história com o tal Chefe. Precisava desabafar. Sou bom ouvinte. Falo pouco. Deixo a própria pessoa achar sua conclusão. Muitas vezes isto não acontece e então dou meus pitacos.

- Pois é Chefe, continuou. - Eu nunca fui com a cara dele. Mostrava-se em ser saber de tudo mais que os outros. Era prepotente, só sabia dizer o “meu grupo”, os “meus chefes”, os “meus Monitores”, os “meus lobinhos” e os “meus escoteiros”. Caramba Chefe parecia que ele era o dono de tudo. Um dia perguntei quanto custou o “seu grupo” e se pagou a vista ou cartão de crédito. Foi um Deus nos acuda. A rusga vinha de longe. E olhe, ele não é único em nosso movimento. O que tem de chefes assim por aí não está no “Gibi”. Nosso movimento tem cada tipo de tirar o chapéu. Quando sabia que ele estaria presente em alguma atividade eu evitava ir. Encontrar com ele seria o fim do mundo. Um “garganta” e que “garganta”. Dono da verdade. Só ele sabia só ele era o melhor. Era daqueles de dizer “a verdade dói”. Qual verdade? A dele? Um dia me perguntei: E se ele terminar sua Insígnia? E se for convidado para ser um Assistente distrital ou regional? – Até pensei nos pobres coitados que entram e ele passa a ser seu Chefe. Comissário juro, se isto vier a acontecer saio do escotismo na mesma hora!

Tudo piorou no ultimo encontro de chefes do distrito da nossa área. O distrital iria informar o programa do distrito e queria a colaboração de todos. Iria também eleger um Assistente Escoteiro. Reunião simples sem pompa. E não é que o Talzinho foi de uniforme? Todo cheio de si e colocou todas suas estrelas de atividades. 12 anos. Sim Chefe a figura tinha doze anos de movimento. Putz Comissário, verdade! Este tempo todo e não aprendeu nada. Que reunião minha nossa! Só ele falava, só ele sabia, queria dar ordens, dizia o que tínhamos de fazer. Os jovens de sua tropa já tinham reclamado. O “Moço” só sabia dizer: Suspenso por uma semana. Suspenso por três meses. Quem chegar atrasado vai pagar cem joelhos quebrados. Não quero ver sua cara mais aqui! Coitados dos jovens daquela tropa. Muitos amavam o escotismo e não queriam sair. Mas eram menos de dez participantes ativos, pois os demais já haviam desistido há tempos.

- Tinha terminado o meu chope e minhas duas empadas. Deliciosas. Queria chegar cedo em casa. – Escotismo! Ah! Escotismo o que você nos faz sofrer eim? – E ele nem desconfiou, nem pediu um chope, só falava e reclamava. – Pois é Comissário. Todos querendo dar sugestões e ele não deixava. Quando um começava ele pedia a palavra e mudava tudo. Não aguentei mais. Levantei-me e fui até ele: - Meu caro, só você é o dono da verdade? Só você conhece? Só você sabe? Fomos convidados para debater e não ouvir você com esta voz de jacaré azedo e seu estilo de Pavão empanado a falar e falar! – Comissário, foi à conta. Ele levantou e veio para cima de mim. Preparei-me. Sabia que aquilo iria acontecer. Se encostasse a mão em mim ia receber o dele. Olhe, não sou lutador, mas ele ia ver quem eu sou!

- Mas quer saber? Todos torciam para que eu desse uns sopapos nele. Não era só eu, mas quase a totalidade dos chefes do distrito. Quem sabe iria sair do escotismo e nós ficarmos livres deste pamonha? – Mas não, sabe o que aconteceu? Não vai acreditar ele levantou de um salto, foi bem em cima de mim, me ofereceu a mão esquerda, e me pediu desculpas. Desculpas Chefe! Isto mesmo! Não sabia o que falar, dizer e nem esconder minha cabeça naquela hora. Precisava de uma areia para cobrir o rosto! Depois se dirigiu a todos e pediu perdão. Prometeu que ia mudar. Jurou pela alma de sua mãe. E agora Comissário? Quase dez anos aturando sua soberba e seu estilo de mandão o que devo fazer?

- Dê tempo ao tempo, disse. O tempo é nosso melhor amigo. Quem sabe você tem muito a dar ao escotismo e ele também? Um homem que chega ao ponto de pedir desculpa e perdão não merece mais uma oportunidade? Pedi desculpas a ele dizendo que a família me esperava. Um aperto de mão um Sempre Alerta e ele para um lado e eu para outro. Pensei comigo. Mesmo no papel de Comissário da Região estas conversas e trocas de ideias vale a pena. – Quer ser um dos nossos? É bem vindo! Quer ajudar os meninos? É bem vindo. Mas nem sempre podemos sair por aí dizendo o que pensamos. Às vezes é preciso engolir e aturar. Como disse um Chefe que nem sei o nome: - tais tipos existem e no escotismo encontram seu lugar ao sol.

Cochilei no ônibus. Cheguei em casa depois das onze da noite. Celia me olhou de cara feia. Ela tinha razão. Disse para mim mesmo: Sei que você é um comissário e deve atender a todos sem distinção, mas está na hora de cuidar de sua esposa e suas família. Se sente prejudicado saia, mas ela a família está em primeiro lugar. Ah! Esta vida de comissário não é fácil. Mas cada um escolhe seu caminho e eu escolhi o meu! E cá prá nós, como é difícil no escotismo mudar certos comportamentos!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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