quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Crônicas de um Chefe Escoteiro. As flores da primavera.




Crônicas de um Chefe Escoteiro.
As flores da primavera.

Era uma vez... - “Na mesma pedra se encontram, conforme o povo traduz, Quando se nasce - uma estrela, quando se morre - uma cruz. Mas quantos que aqui repousam hão de emendar-nos assim: “Ponham-me a cruz no princípio”... E a luz da estrela no fim!”. Mario Quintana

- Naquela pequena clareira a fogueira estava apagada. Nem brasas havia mais. A lua esquecera-se que ele estava ali e se escondeu em uma montanha distante. As estrelas no céu desistiram de tentar alegrá-lo e ficaram paradas no céu sem brilhar. Ele não tinha forças para ao menos colocar um galho seco, soprar e quem sabe o calor do fogo poderia ajudar na sua imensa dor. Uma dor cruel, uma perda que machucava seu coração. Chorar? Ele chorou muito. Chorou quando soube, pensou em se matar, sentiu a vida se esvair nos meses que ficou só sem ter ela sorrindo ao seu lado como sempre fazia. Os amigos escoteiros tentaram consolar, palavras bonitas surgiram e ele sabia que seu coração estava morto. Não ligava. Porque falar do artigo da lei? O que sabem da dor de uma perda de alguém que nunca mais vai voltar? Sorrir? Para que sorrir se nunca mais ela estará junto dele? Preferia estar morto e não se matou por que acreditava em Deus.

- O vento soprava de leve e a brisa da noite começou a cair. Ele não sentia frio e nem calor, seu corpo embruteceu-se nas suas necessidades mais simples. Tentava, chorava e por dentro gritava para si que precisava esquecer se não ficaria louco. Os tempos das alegrias se fora. Há tempos não acampava mais com a tropa. Não tinha motivos mesmo porque parou de frequentar as reuniões. Seus Escoteiros o procuraram, mas só viam lágrimas nos seus olhos. Sentia-se bem acampando sozinho. Sem vozes, sem alguém com sua piedade que não o satisfazia. A dor vinha mais forte ele sabia, mas pelo menos a natureza poderia lhe trazer a calma que ele precisava. Fazia outra Pioneiría para passar o tempo. Não tinha fome, quase não comia. Pescara sim bons peixes que apodreceram na mesa rustica da cozinha que construiu. Ele gostava das noites sombrias. Nem ligava para a lua, para as estrelas e esquecera completamente o encanto do nascer e do por do sol.

- Nunca esqueceu o dia quando a viu pela primeira vez. A chuva caia torrencial e ela brincava na chuva cantando e dançando com uma alegria tal que o encantou para sempre. Quem era ela? Não importava ele sabia que foi assim do nada que surgiu um grande amor. Ele sempre acreditou que os Escoteiros são fortes, sabem pular uma dificuldade e sabem sorrir. Suas reuniões eram simples e rápidas. Queria terminar para ir se encontrar com ela. Rosamaria, seu nome era Rosa rainha das flores e Maria mãe de Jesus que diziam ter uma beleza sem igual. Passeavam de mãos dadas, viviam sorrindo um para o outro, iam a mil lugares e ele nunca a tocou a não ser roçar seus lábios vermelhos molhados como o néctar das flores. Ele gostava do cheiro dela. Gostava do seu modo de sorrir de olhar e de sua voz de anjo.

- Seu casamento foi inesquecível. O melhor dia de sua vida. A escoteirada sorrindo, brincando com seus bastões sobre suas cabeças, cantando o Rataplã e palmas escoteiras repaginando as folhas do livro da história que nunca existiu. Quando ficaram a sós ele não sabia o que fazer. Ela estava linda em uma camisola branca como sua pele e sorria envergonhada. Amaram-se sobre a proteção de Deus. Foram os dias mais felizes de sua vida. A escoteirada sentia sua força e sua nova forma de viver. Seu Chefe agora era outro. As atividades eram feitas com alegria tal que todos vibravam querendo mais. A pequena cidade ovacionava aquele casal maravilhoso e quando ela fez sua promessa foi uma apoteose. Parecia que o tempo reverenciava aquela moça dos olhos negros com seu sorriso enorme e sua vontade de amar para sempre o jovem Chefe Escoteiro que jurou fidelidade para toda a eternidade. 

- Ninguém soube realmente o que aconteceu. Ela começou a definhar e morreu em poucos meses. O tempo parou no espaço infinito. Ele definhava a olhos vistos. – Meu filho dizia o pároco sofrer pelos outros é caridade, sofrer voluntariamente por motivo próprio é egoísmo! Meu Deus, não deixe que ela morra, ele dizia. Mas ela estava morta. Ele se transformou em um zumbi que não comia não dormia e queria morrer. O que para uns é uma coisa terrível, para outros é apenas um pequeno choque; o que para certas pessoas é uma verdadeira tragédia, para outras não passa de um golpe contornável, mas para ele era como se fosse uma faca transpassando a cada minuto seu coração que ele dera para ela. - Naquele ultimo dia ele fez a fogueira como se fosse uma máquina que não pensava. Era seu ultimo dia, pois ele precisava voltar. Precisava trabalhar já que suas pequenas economias estavam no fim. As chamas subiram aos céus e juntas as fagulhas faziam seu espetáculo que ele adorava, mas hoje não tinha a beleza dos tempos de outrora. Havia um bule de café fumegante, e ele sabia que quando o fogo terminasse o café estaria frio e ele chorando iria esperar o amanhecer. Veio um soluço forte. Estava engasgado de emoção. Um barulho de um galho quebrado lhe chamou a atenção. Em uma trilha que levava ao Lago cinzento ele viu se aproximado um Velho Escoteiro, Barbas brancas, cabelos brancos e trazia na mão um Velho e tosco chapéu escoteiro. Ele olhou com espanto. Aquela figura que não lhe era desconhecida.

- O Velho Escoteiro o saudou carinhosamente e sentou em uma pequena tora de madeira que há anos estava ali. Ele não disse nada. Sorria, um sorriso cativante como se sua vida fosse um mar de rosas. Ele olhou para o fogo que rejuvenesceu. As chamas aumentaram. Olhou para o céu e ele nunca viu um céu tão brilhante onde as estrelas davam seu espetáculo sem cobrar. Os cometas cruzavam o céu brilhante como nunca. A lua saiu de trás das montanhas e uma brisa suave começou a roçar seu rosto trazendo o perfume das flores silvestres. Ninguém disse nada. Ele não sabia o que dizer. Começou a sentir uma paz que nunca sentiu antes. – Mas as lembranças não eram esquecidas. Rosamaria não podia ser esquecida. Lembrou-se das palavras de um poeta: O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher. Lagrimas começaram a cair, mas diferente das lágrimas doidas de antes. O Velho Escoteiro estava em pé. Sorria para ele da mesma maneira que chegou. Foi até onde ele estava. Colocou a mão em seu coração e no dele. Somos irmãos de sangue, tu e eu! Ele disse e partiu. Ele o viu andando sobre o Lago cinzento e desaparecer nas sombras da noite. Nesta noite ele dormiu. Sonhou com ela. Ela sorria e dizia que o nosso amor era eterno. Estava escrito nas estrelas que seria assim. Ele acordou rejuvenescido. Nunca esqueceu Rosamaria e sabia que eles se encontrariam em muitas vidas que Deus lhe reservou.

- Quando ele chegou naquela tarde ao Grupo Escoteiro ninguém perguntou, ninguém tentou mudar a rotina que sempre teve. Ele se incorporou a ela. O mundo não para e todos nós seguimos o passo do mundo. Ele sabia que ia lembrar-se dela para sempre, mas como uma alegria que iria continuar na eternidade. Ao sair do portão para retornar a sua casa ele viu em uma esquina o Velho Escoteiro. Ele estava sorrindo e lhe fazendo o sinal Escoteiro. Ele retribuiu. O Velho Escoteiro partiu subindo até uma nuvem banca e ele nem perguntou quem era de onde veio e para onde ia. Ele só sabia que sua vida mudou para sempre! 

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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