quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Lendas escoteiras. Artimanhas e Engenhocas. (Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, não é mera coincidência).




Lendas escoteiras.
Artimanhas e Engenhocas.
(Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, não é mera coincidência).

                  A ideia foi genial. Para alguns valeu e outros torceram o nariz. Quatro patrulhas, todos amigos. Não gostavam de jogos que sempre haveria só um primeiro lugar. A Corte de Honra sugeriu que deveria haver uma pontuação onde todos poderiam alcançar a bandeirola de eficiência. Uma vez os Morcegos perderam só para ver a alegria dos Javalis. Bem sei que não compreendem, mas é triste você ganhar e ver a tristeza nos olhos dos outros. Afinal eles também se esforçaram. Sabemos que isto poderia ser considerado como forma de incentivo para que as outras patrulhas conseguissem melhorar. Alguns disseram que poderiam ganhar sem ficar se gabando como fez Joviano Perna Fina. Quem sabe foi isto que a maioria não aceitou a contagem de pontos.

                   Foi em um sábado pela manhã que a ideia surgiu. Claro foi ideia do Joviano Perna Fina, mas todos adotaram. Ficamos horas discutindo em patrulhas quais Artimanhas e Engenhocas seriam de grande valia em um acampamento Escoteiro. Era regra que Fossas com tampa fosse aberta com um só toque e um dia Tiquinho foi mais além, a fossa abria e com outro toque e a terra era jogada por cima do lixo. Tanto a de detritos como a de líquidos. Isto mesmo, Tiquinho meus amigos foi o maior construtor de pioneirías que conheci. Ele era um “craque”. Não só criava e fazia como tinha um caderno onde desenhava tudo e o melhor. Sabia as medidas e quantas madeiras gastar. No entanto Tiquinho era da Touro. Nossa Patrulha a Maçarico fazia o trivial variado e mais nada. Mas nunca demos por vencido. Planejamos a maior engenhoca que um acampamento pudesse ter. Afinal ficamos cinco dias na casa do Taozinho para planejar.

                 O grande dia chegou. Ninguém contava nada para ninguém. Segredo absoluto. Três dias acampado na Garganta do Morcego. Um local especial. Boa aguada, cachoeiras, entre duas montanhas. Moitas de bambus gigantes (Bambusa vulgaris vittata). Ideal para pioneiras de grande porte. O bambuzal lá era tão antigo que muitos pés ultrapassavam os trinta metros de altura. Como sempre nosso Chefe só iria no segundo dia. Trabalhava na Vale do Rio Doce e não tinha folga. Mas Romildo o guia da Tropa estava lá. Era o Monitor mais antigo e tinha esse direito. Seu bastão era enorme e sua ponteira de aço dava inveja. Mas olhe, haja braço para carregar o bastão. Pesado, muito pesado. Bem cedo na sexta com a cidade ainda dormindo lá fomos nós com a carrocinha pela estrada do Girassol. As patrulhas iriam se encontrar lá às dez e meia. Quatros horas a pé.

                  Na fazenda do Senhor Girardo paramos. Dona Filomena sua esposa sempre nos convidava para comer um bolo ou biscoitos. Ele nos preveniu sobre o Trio da Morte. Um touro escapou da Larga do Sol e se juntou com mais dois garrotes. Atacavam tudo. Ele tentou com outros fazendeiros prender os bois, mas não tinha conseguido. Na saída para o local de acampamento chegaram mais duas patrulhas. Melhor para assustar os bois. Chegamos às onze e meia e a Coruja já estava lá. Romildo escolheu um pé de Azinheiro e arvorou a bandeira. Cada Patrulha escolheu seu campo. Até a tarde fizemos o trivial variado. Fogão suspenso, fossas, mesa com bancos, intendência mateira e WC. Fácil. Nunca gastamos mais que cinco horas para isto.

                  O Cozinheiro Fumanchu preparava o almoço. Ração C. Levado individualmente em bornais. Por volta das três da tarde começamos nossa engenhoca. Trazer água da cascata do Morro da Cutia até o acampamento. Uma bica e um chuveiro deviam ser levantados. Se possível no segundo dia faríamos também um elevador até um ponto alto de alguma árvore para servir como torre de observação. Baleiro da Coruja comentou que iriam fazer uma ponte levadiça movimentada com a força da água. Os Javalis e os Morcegos iriam construir um pequeno parque de diversões. Pretendiam fazer um Carrossel e uma Roda Gigante. Todos movidos à água. Pensei com meus botões se conseguissem seriam uma verdadeira lavada nas demais patrulhas.

                 Foi uma noite divertida. Fugindo as regras ninguém foi dormir cedo. Os lampiões a querosene davam um brilho fantasmagórico nos campos de Patrulha e bravamente produziam o que idealizaram. Às duas da manhã Romildo avisou que era hora de dormir. No segundo dia, café, inspeção (feita pelos Monitores). As construções não paravam. Às quatro da tarde tomamos uma chuveirada fria atrás da barraca de intendência. Valeu os dois cocos maduros que encontramos. Ótimo chuveiro. Bem próximo à cozinha a água jorrava com vontade. O grito da Patrulha Coruja mostrou que a Ponte levadiça funcionava. Faltavam ainda os Javalis e os Morcegos. Fomos até lá. Meu Deus, o carrossel estava pronto. Lindo! Toquinho era batuta e o Carrossel fora de série. Só ele valia por tudo. Uma engrenagem de bambu, Cinco latas de vinte litros que se enchiam automaticamente no remanso fazia o Carrossel movimentar.

                    Às quatro da tarde do segundo dia nosso Chefe chegou. À noite o Fogo de Conselho foi uma festa. Vários pularam o Fogo três vezes e receberam os seus nomes de guerra e a Segunda Classe. Era chamado de Tupã desde que recebi minha Segunda Classe. Gostava disto. A chama iluminando, o Monitor desfraldando a bandeira e o grito de guerra da tropa era de tirar o folego. O melhor foi os Javalis. Levaram umas duzentas gramas de pólvora, fizeram antes do anoitecer uma valeta com um bambu, nele colocaram um rastilho de pólvora, marcaram o tempo até ela chegar na fogueira e o Marcondes Monitor na sua melhor pose gritou – Acende Fogo eu te ordeno! Uma fumaça, um pequeno estrondo e a pólvora fazia o inicio do crepitar das chamas.

                     No domingo levantamos cedo. Era o dia para vermos qual a melhor artimanha e engenhocas feitas. Toquinho sorria. Sabia que ganhariam fácil. Tudo foi por água abaixo quando vimos os dois garrotes e o touro fazendo do nosso campo de Patrulha um inferno. Quebraram tudo. Subimos em árvores para fugir da fúria deles. Quando se foram não sobrou nada. Nossa água não existia mais, a ponte levadiça foi levada pela correnteza e a tristeza maior foi o parque de Diversões. Tudo no chão. Maldito touro! O chamamos de Demônio Negro. Nosso Chefe tentou nos animar. Para dar crédito chamou os monitores para opinarem qual a melhor construção. Não deu outra. Os Javalis e os Touros levaram o primeiro lugar. Mereciam. Não tinha o que discutir. Soube que os Fazendeiros mataram o touro e os dois garrotes. Uma pena mesmo com nosso prejuízo senti piedade deles. Valeu a atividade. Um dia quem sabe faríamos tudo de novo.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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