terça-feira, 29 de outubro de 2019

Vale a pena ler de novo. E a vida continua...




Vale a pena ler de novo.
E a vida continua...

... Eu sei que a vida continua. Tudo que acontece tem uma explicação. Para mim ela sempre foi uma grande amiga. Apaixonou-se por alguém que nunca achei que pudesse apaixonar. Diziam nas patrulhas que eu seria seu grande amor, mas não fui. O tempo não explica nossos sonhos de menino. O final foi triste e doloroso, mas a vida é assim, a vida continua para quem precisa viver!

                  - Você a conheceu? Olhei para Liz, fechei os olhos e minha mente passeou no tempo. – Foi minha melhor amiga. Nunca esqueci seu sorriso. Ainda a vejo naquele sábado chegando à sede escoteira, com sua mãe a puxando, pois ela chorava sem parar. – Não quero! Não quero! – Ela usava um vestidinho comprido rosa, cabelos presos em um rabo de cavalo e pensei comigo: - Outra chorona? Apresentaram-me despretensiosamente. Esta é Ruth, vai ser Lobinha, será da sua matilha. – Olhei para ela, tinha parado de chorar. Olhava-me espantada e sem perceber me deu sua mão e um sorriso. Sorri também. Ali nasceu uma grande e bela amizade. – Liz perguntou novamente: - E você ficou sabendo de tudo que aconteceu? – Não respondi de imediato. Era um tema que me doía muito. O que aconteceu para mim foi um golpe do destino. Somente balancei a cabeça para Liz, pois os meus pensamentos não eram mais meus, eram do meu passado.

                      Ruth confiava em mim. Na matilha sempre me procurava para pedir ajuda. Nos jogos ficava ao meu lado, nos acantonamentos não saia de perto de mim. Não sei se a Akelá e o Balu viam tudo aquilo com bons olhos. Pelo menos nunca me disseram nada. Ruth cresceu. Eu também. Muitos disseram que um dia seriamos um do outro. Não era verdade. Amava Ruth como uma grande amiga. Parecia mais uma irmã que nunca tive. Fiz a passagem para a Tropa primeiro que ela. Como chorou. – Gritava e dizia: - Não vá! Não sei viver sem você! Se for não serei mais Lobinha. Na minha Patrulha Tico Tico voltei até a Alcatéia. A abracei tentei consolá-la, mas não adiantou. O tempo ajuda tudo. O tempo faz esquecer, mas o tempo algumas vezes é cruel. Um ano depois ela sorrindo me disse: – Vou fazer a trilha, breve estaremos juntos outra vez. Sorri, tinha aprendido a ficar longe, mas sentia uma falta enorme da minha amiga Ruth.

                       Muitos me criticaram pela proteção que dei a ela na Patrulha Onça Parda. Não era a minha. Tentei falar com o Chefe, mas ele não me deu ouvidos. Hoje acho que foi até bom. Ruth cresceu internamente e externamente. Ficou uma moça bonita, todos se aproximavam dela. Claro que sentia ciúmes, mas não de um namorado, pois eu já há tinha no meu coração e sabia que ela ficaria ali para sempre. Brincamos, acampamos, éramos amigos escoteiros na sede e fora dela. A levei ao cinema ao Shopping, fomos passear de trem e como era linda quando sorria olhando pela janela seus cabelos soltos ao vento e o trem voando como se tivesse asas. Fui para os Seniores. Não sei como conseguiu ir também antes de fazer quinze anos. – Olhei para Liz. Meus olhos encheram-se de lágrimas. Era cruel lembrar-se de tudo dos detalhes dos acontecimentos e saber que do destino marca a vida de todos nós.  

                        Dois anos depois ela me procurou depois da reunião. – Meu amigo estou indo embora. – Embora? Para onde? Sua família vai mudar? – Os olhos dela se encheram de lágrimas. – Conheci alguém. Apaixonei-me perdidamente. Os pais dele não aceitam minha mãe acha que sou nova para isto, mas você sabe que sei o que faço que sou bastante madura nos meus dezessete anos. Considero-me madura para dizer que encontrei um grande amor. – Não perguntei quem era, seria desagradável perguntar. Achei que ela iria me dizer quem. Não disse. – Me abraçou me deu um beijo na face, segurou minha mão esquerda com a dela, apertou e disse: - Adeus! E partiu sem ao menos dizer o porquê, e a quem iria dar seu coração.

                         - Deus Liz, foi demais. Parecia que o amor abandonado era eu. Nunca disse que a amava para mim eu era seu melhor amigo, seu irmão que ela nunca teve. Um ano depois fiquei sabendo quem foi que conquistou seu coração. Rodney Sacramento. – Impossível pensei. Ele tinha vinte e oito anos e ela dezessete. Sua mãe foi quem me contou. Foi embora com a roupa do corpo. Disse-me que agora era um adeus para sempre. – Nunca mais voltarei meu amigo. Quando insisti para ele ficar me disse: Amigo eu amo Rodney, ninguém acredita, dizem que ele não é homem para mim, é mais velho e nem conheço sua vida. Mas como mandar no meu coração? Eu o amo demais. E partiu. – Fiquei transtornado. Chorava sem parar. Logo eu um homem de dezoito anos. Desisti de ser pioneiro. Ela? Para dizer a verdade nunca a esqueci.

                           Foi na semana passada Liz que eu soube que ela tinha voltado. Pense bem, nunca deixei de ser Escoteiro. Como Chefe conheci você e a amo demais. È a mulher da minha vida. Nossos filhos são tudo que um homem pode desejar. Mas você soube da história, nunca me perguntou e eu achei que não deveria contar. Eu a procurei sim, vi que ela precisava de ajuda. Sua mãe a internou no Sanatório Santa Maria. Ao vê-la chorei... Estava em pandarecos. Magérrima, olhos escamoteados, o rosto marcado e cheio de rugas. Liz! Ela não tinha nem vinte e seis anos. Quem a maltratou deste jeito? O médico me disse que tinha uma tuberculose avançada. Não sabia se podia curá-la. Deixou-me vê-la em seu quarto que repartia com mais seis outras mulheres. Ela tinha os olhos fechados. Não abriu. Tentou sorrir, mas não era mais o sorriso de outrora. Só falou baixinho – Eu sei que é você!

                            Ficamos ali calados, eu nunca iria perguntar a ela o que aconteceu. Nunca iria dizer que eu sabia do seu erro de sua aventura que não ia dar certo. Mas quem é dono da verdade? Eu? Não sou. Perguntei-me em pensamento se não erraria também. Não tive um amor assim, amava sim você Liz, amava e amo demais. Você me deu tudo que eu tenho e sou reconhecido por isto. Hoje soube que ela morreu. Não deixou testamento. Não contou a ninguém sua história. Fui lá na sua campa. Não havia ninguém. Tornou-se uma desconhecida, sem amigos, sem pais sem ninguém. Eu não poderia abandoná-la nestas horas. Sentei na grama de sua sepultura e chorei. Precisava chorar. Rezei sim, pedi ao Pai que desse a ela a alegria de novo, daquela Lobinha que conheci e que sorriu para mim pela primeira vez na matilha Cinzenta. Tempos que se foram destino traçado, ruídos da noite que marcaram uma vida.

                            As coisas tem que passar, os dias têm que mudar, os ares têm de ser novos e a vida é assim... Nada pode mudar o destino. Todos sonham em ser feliz. Alcançar a felicidade é fugir das dificuldades que encontramos sempre em nossa frente. Ganhando ou perdendo, sorrindo e chorando, construímos nossa história em momentos fragmentados no dia a dia, detalhes perpetuados na memória e registros que só o coração é capaz de guardar... Vivemos em um mundo louco e cada dia mais acelerado, vivemos emoções variadas de segundos em segundos, nos perdemos em deslizes que são necessários para nosso amadurecimento... Procuramos desculpas no passado para alimentar melhoras futuras e nos esquecemos que o momento de se viver é agora, no presente, com todas as emoções e situações possíveis...

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