quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Saudades da minha terra!




Saudades da minha terra!

Oh! Que saudades que tenho, da aurora da minha vida,
Da minha infância querida que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores, naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais! (G.D).


- 2019... Vêm aí 2020... O tempo passa, e sem perceber a gente passa com ele. Mesmo que ele não espere você minhas lembranças nunca são esquecidas. Olho para mim e vejo quanto mudei. Já fui um homem da terra. De muitas terras. De algumas cidades. Adoro o poema de Paulo Gondim. Lembranças do seu lindo Ceará. - “Minha terra tão querida, a quem sempre vou amar. Um dia eu deixei, mas voltarei, ao meu lindo Ceará”. Ninguém esquece sua terra natal. Sua cidade, seu estado, seus amigos, suas histórias tão queridas. Tive a honra de nascer na minha querida Minas Gerais. “Oh! Minas Gerais! Quem te conhece não esquece jamais”. Nasci em uma cidade perdida no longínquo norte do estado, Barra do Cuieté, pequena, sem prefeito, medico, com suas casas de adobe sem ruas calçadas, uma Igrejinha uma pracinha onde as famílias à noite se encontravam para ver o trem passar. Morava a três quadras de lá. Casa de taipa, esburacada, rua sem calçamento, esgoto a céu aberto, doenças. Três irmãs foram para o céu ainda pequerruchas, vitimas de varicela, coqueluche e sarampo com menos de quatro anos. Eu quase fui.

Dois anos que não lembro e o que sei foram contadas por meus pais e irmãs. Sobraram duas delas e eu. Meu pai seleiro, família pobre, lá fomos nós para uma fazenda. Não me lembro de nada. Menos de um ano e de novo outra cidade do outro lado das Minas Gerais. Poucas lembranças. Mais três anos e de novo outra e outra até que com seis fincamos o pé por muitos anos em uma maior, bem ao lado do formoso Vale do Rio Doce. Rio Doce! Quantas saudades, quantas travessias, jangadas, comer ingá nas suas margens nas cheias, quantos peixes. Hoje soube que está como o Tietê. Dói-me fundo. Ali praticamente cresci. Fui lobinho, Escoteiro, sênior e pioneiro. Andei a pé, de bicicleta, a cavalo, de trem de carroceria de Fenemê! Uma vida de aventuras que me marcou para sempre. Junto a minha Patrulha Lobo voltei em todas as pequerruchas cidades que vivi. Fiquei tempos na terra onde nasci. Amei o Cuieté Velho e o novo. Vi a casa onde comecei minha vida de homem terreno. Nas outras poucas lembranças de uma época que minha memória não arquivou. Nada mudou conforme a visão dos meus pais. Em Figueira do Rio Doce hoje Governador Valadares fiquei por treze anos, de alegria, felicidades até que um dia a mudança aconteceu.

Meu pai doente, diabete ainda desconhecida era melhor procurar médicos especialistas. Capital do Estado. Nova vida e sempre escoteirando. Novo emprego. Usina Siderúrgica. Peão de obra. Muito orgulho graças a Deus. Nunca fomos ricos. Houveram fases difíceis. Melhor nem comentar. Estudo? Mal cheguei ao terceiro ano de ginásio. Iletrado. Nunca fui Doutor. Aprendi muito na Escola da vida. Não sei como fui convidado para ser o chefão Escoteiro do estado. Comissário Regional. Outra escola que me deu conhecimentos imensos do escotismo. Cidades e mais cidades foi por mim engolidas pelo escotismo. Centenas de novos amigos, verdadeiros irmãos escoteiros. Quantas histórias, quantas estradas percorridas, quantas coisas ficaram para trás. Mas o tempo não para. Um dia alguém chegou para mim – Queres ser um Peão de Fazenda? Administrador meu caro, pago bem! Putz! Não pensei duas vezes. Celia ao meu lado. Incomparável mulher. Quase dez mil cabeças. Meu Deus! Que isso? Botas no pé, chapéu de couro, perneira, meu lindo gibão cravejado, um peitoril simples e lá estava eu vaquejando aqui e ali pelas largas e capoeiras do Rio das Velhas e do meu querido São Francisco, o muito amado Velho Chico.

Quantas aventuras. Viagens incríveis no Rio das Velhas, Sucuri de dez metros, enfrentei a correnteza do São Francisco. Conheci pistoleiros morrendo de medo. Pescarias, criação a parte, porcos, galinhas, tratores, um D-8 da Caterpillar, enorme me hipnotizava. Com filhos de peões da fazenda e outros posseiros formei duas patrulhas escoteiras. Diversão à parte. Comprei uma vacada de um fazendeiro em Barra do Guaçuí. 220 quilômetros. Achei melhor trazer por terra. Para mostrar ao Diretor que era econômico. Pobre “bunda”. Seis dias ida e volta a cavalo. Levando um gado fácil, mas trabalhoso. Nunca esqueci... Uma das maiores aventuras que vivi! Cinco anos maravilhosos. Filhos crescendo. Precisavam de bons colégios. São Paulo. Meu destino final. Empregado. Luta constante. Osasco era minha morada, ou melhor, ainda é. A luta é renhida, difícil. Sempre ao olhar minha vida lembro-me do poema de Gonçalves Dias. - Juca-Pirama. “Sou bravo, sou forte, sou filho do norte”. Andei longes terras, lidei cruas guerras, vaguei pelas serras dos vis Aimorés...

Ei, calma! Não sou bravo e nem forte, quem sabe mais para um “fracote”. O tempo passou. Não deu mais para trabalhar. Uma vil aposentadoria. Mas feliz. Muito feliz. Quatro filhos criados e casados. Oito netos e agora uma bisneta. Uma linda árvore genealógica dando prosseguimento as lides traçadas por milhares de anos no espaço. Rodei meio Brasil. Pisei em outras terras. Conheci outros rumos, outros destinos. Mudei demais. Não sei se fiz bem. Não me arrependo de nada, vivi como escolhi viver. Tenho dúvidas não arrependimento. Quem sabe nem todas as trilhas deram em boas estradas. Um dia destes irei por aí. Sei aonde vou. Não posso levar mais minha barraca, minha mochila e meu chapelão escoteiro. Dizem que lá tem verdes campos, córregos dançantes de águas tão claras que dá para ver o passado e o futuro. Onde as florestas são densas e as flores as mais lindas do universo.

Gosto de lembrar-me do caminho que percorri. Ás vezes choro, às vezes sorrio.  Mas no fundo mesmo fui feliz. Nunca fui rico. Morei em casa de taipas. Morei em tantos lugares que de vez em quando perco a memoria onde estou. Meu carrinho tem dezesseis anos, e choramingando me acompanha quando preciso. Minha rotina nos meus 78 anos é simples. Caminhadas, às vezes exercícios e vou forçando meus passos com minha amada bengala até quando puder andar. Melhor assim, pois vivi escoteirando andando com minhas pernas... Por aí... Viajei meio mundo no lombo de uma bicicleta. Com meu Vulcabrás conquistei montes e vales desconhecidos. Adoro o que fiz. Adoro o que sou. Não tenho duvidas do que serei.

Eu gosto de São Paulo. Fiz dele minha morada desde 1977 quando aqui cheguei. Não fui muito feliz em fazer amizades. Carrancudo às vezes torrão deixei muitos por aí. Os mais chegados já partiram. Breve se me aceitarem estarei com eles. Não sei se Deus me reservou outro destino. Seja ele o que for estarei pronto quando for chamado. Sinceramente não tenho medo, não tenho receios. O que tem de ser será. Não podemos fugir do nosso destino.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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