terça-feira, 11 de setembro de 2018

Lendas Escoteiras. O Tesouro de Cachorro Louco.



Lendas Escoteiras.
O Tesouro de Cachorro Louco.

Nota – Apenas uma história de Tesouro. Quem nunca sonhou em encontrar um deles? Sentem-se, apreciem a história do Tesouro de Cachorro louco.

                  - Orelhudo! Explique direito. Isto está parecendo uma invenção de Luar do Sertão. – Orelhudo não se fez de rogado – Gente! Eu estava esperando o Padre Goya para me confessar. Andei pecando um bocado esta semana e achei que precisava desanuviar minha cabeça de tanta besteira que fiz. A patrulha calada. Todos conheciam Orelhudo, um dos melhores intendentes que uma patrulha pode ter. Eu conhecia Luar do Sertão. Era sacristão na Igreja do Bom Pastor. Gente boa, meio afeminado, mas ninguém nunca provou nada contra ele. Soube inclusive que dez anos depois se tornou padre, mas esta é outra historia. – Ele abriu um mapa. Bem feito de couro de boi e prensado a fogo na brasa. Quem fez acreditava realmente no tesouro. Tesouro? Isto mesmo. Orelhudo disse que Luar do Sertão lhe garantiu que era um tesouro de Cachorro Louco. – Nossa! Já tinha ouvido falar nele.

                     Quando a estrada de ferro estava sendo construída ninguém queria trabalhar lá. Era mosquito, era malária, eram os índios e ainda por cima centenas de bandidos a saquear qualquer um. Cachorro Louco era tão ruim que enterrou até o pescoço o Padre Gentil em plena Praça de Ipaba. Deixou só a cabeça para fora e ele morreu de inanição rogando pragas e assistido por centenas de moradores que nada puderam fazer. O bandido matou tantos que perdeu a conta. Foi encurralado na Ponte de Ferro de Derribadinha pela policia de captura do Capitão Raios que o Parta. Contam que deram nele mais de mil tiros outros contam que ele pulou no Rio Doce saiu do outro lado e hoje é Pagé em uma aldeia de Botocudos entre Crenaque e Conselheiro Pena. Orelhudo nos mostrou onde ele enterrou o tesouro. Não havia nomes só riscos e rabiscos. Ficamos duas semanas na sede tentando achar um caminho para saber onde estava o tesouro.

                        Foi Dente Cariado quem deu a luz. – Olha acho que é Ipaba. Veja quantos lagos e córregos, sabem o que é Ipaba? É Tupi, quer dizer IPA (água) e BA (muito) isto porque o arraial foi formado entre muitas nascentes rios e lagos. Dente Cariado não perdia a oportunidade de mostrar seus conhecimentos. A cidade hoje fica entre Cachoeira Escura e Ipatinga. Veja este desenho, é do Rio Piracicaba, ele passa na Mata do Parque e é lá que está escondido o tesouro. Uma injeção de ânimo aconteceu. Estávamos naquela condição de marasmo, sem ideias, vontade de acampar, mas sem saber onde. – A luz da aventura e de mais uma atividade aventureira surgiu entre os Lobos. Preparativos mil e marcou-se uma data nas férias de julho. Iriamos demorar para explorar toda área e tudo tinha de ser bem planejado. Um tesouro é coisa de doido. Descobrir e “enricar” é demais. Eu rico? Mamãe e Papai viajando para a Capital? Eu ria a mais não poder.

                       Partimos pela manhã no Expresso do meio dia. Duas horas depois chegamos. Identificamos a lagoa mostrada no mapa. Grande demais. Passamos toda a tarde fazendo uma boa jangada para explorar onde o rio marcado desaguava na lagoa. Ficou ótima. Bem amarrada com Cipó de Corda e ainda tinha muito Cipó de Cobra, Cipó Correlha, e não faltou o Cipó Titica que não quebra nunca. No dia seguinte começamos nossa exploração. As mochilas foram bem presas na jangada. Lá tinha barraca, material de sapa e claro nossa matutagem para refeições. Antes das duas achamos o rio. Apoitamos e passamos a noite em volta assando uma bela traíra que Dentinho pescou. Ficamos até altas horas da noite em volta de uma fogueira para espantar os mosquitos e os lobos que uivavam sem parar. Cedo partimos rio acima. A jangada ficou presa em um galho forte de uma aroeira. Foi fácil a subida. O mapa dizia 2+1. Achamos que seria léguas e uma légua são seis quilômetros.

                         Enfrentamos uma subida de uma cachoeira, umas hordas de mosquitos Gigantes que não mordem mais zumbem demais. Achamos a entrada do penhasco que Dente Cariado disse ser o local do tesouro. De novo escureceu. Uma chuva leve e intermitente durou a noite toda. Armamos só um toldo e ali ficamos até o amanhecer. Um café quente, um biscoito de polvilho e pé na taboa. Entramos na lateral do penhasco. Não mais que dois quilômetros e vimos doze arvores plantadas em linha milimetricamente. Coisa de homens que plantaram calculamos. Elas tampavam uma encosta e claro seria a entrada da gruta onde se guardava o tesouro. Difícil passar por elas. Coladas entre si e deitadas no barranco não dava para ver nada. Com muito custo que nos levou mais de um dia com uma machadinha e dois facões abrimos um buraco entre elas. Gente a visão era demais. Uma pequena gruta que não cabia mais que oito escoteiros em pé, mas no canto um Couro enorme de Boi Guzerá tampava o tesouro de Cachorro Louco.

                Milhares e milhares de notas. A gente pulava, sorria, gritava de alegria. E os planos? Uma sede nova, material de patrulha dos melhores para todo mundo. Uma parte para cada uma das famílias dos escoteiros. O Hospital da Zulmira (uma senhora humilde que em um galpão improvisado ajuda a tudo e a todos). Cada um pegou seu saco de dormir que não era mais que um saco de estopa preparado para colocar capim e virar um colchão. Enchemos até a boca com as notas maiores. Tivemos que fazer duas macas trançadas com cipó para colocar os sacos de dinheiro. Um dia e meio para chegar a Ipaba. Gritos e mais gritos quando chegamos à nossa cidade. O Grupo Escoteiro cheio de gente. A Alcateia, a Tropa os seniores e os pioneiros rindo a valer. O Grupo São Jorge Enricou! Vamos levar todos para o Jamboree Mundial. Já pensou? Eu lá apertando a mão dos escoteiros da estranja?

                  Doutor Ludovico pai de Pé de Chulé gerente do Banco da cidade foi ver as notas que trouxemos. – Sorriu! O grupo calado esperando saber quando daria aquilo em dinheiro de hoje. Alguns já pensavam em comprar uma jardineira para levar a turma acampar. Uma não, umas três. Ele olhou para um lado, para o outro nos deixando em um suspense desesperador. – Escoteiros! Falou como se Fosse o Prefeito Porco do Mato. Escoteiros! Repetiu, sinto muito são notas de mil reis. Não tem nenhum valor hoje. As notas só servem para ascender fogo e mais nada!

                  Hoje eu me lembro de tudo com saudade. Quando leio o que disse o poeta ainda dou risadas: - O dinheiro pode nos dar conforto e segurança, mas ele não compra uma vida feliz. O dinheiro compra a cama, mas não o descanso. Compra bajuladores, mas não amigos. Compra presentes para uma mulher, mas não o seu amor. Compra o bilhete da festa, mas não a alegria. Paga a mensalidade da escola, mas não produz a arte de pensar. Você precisa conquistar aquilo que o dinheiro não compra. Caso contrário, será um miserável, ainda que seja um milionário. E a patrulha continuou como sempre foi. Pobre mas feliz!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....