sexta-feira, 6 de março de 2020

Lendas Escoteiras. Danny Boy.




Lendas Escoteiras.
Danny Boy.

... – Em 2016 escrevi este conto. Embalado pela música pensei que um escoteiro poderia surgir das cinzas da melodia. Contam-se diversas lendas sobre Danny Boy. A musica propriamente dita se chama Londonderry Air (em português Canção de Londonderry). Dizem que é um hino irlandês muito popular entre os emigrantes irlandeses. Ouve muitas adaptações, mas a mais popular foi Danny Boy escrita pelo advogado inglês Frederick Edward Watherly. A letra é uma canção amorosa de uma mulher e um homem com apelo às armas ou quem sabe pode ser considerada uma canção rebelde. Se quiser ouvir convido a ouvir no Youtube -  https://www.youtube.com/watch?v=KZ3E7kIYtR0.

          - Lembra-se de Danny Boy? - Lembro-me sim. - Teve notícias dele? – Manolo sorriu. Não era mais aquele sorriso tímido de antigamente. Era completo mais presente. Li hoje no jornal. Danny Boy vai ser recebido pelo Presidente. Dizem que vai receber uma medalha. – Merecida pensei. Danny Boy nunca negou colaboração a ninguém. Costumava fazer oito a dez boas ações por dia e isto quando não fazia mais. Dizia que isto era um desafio para ele como Escoteiro. Seu nome de batismo era João Gonçalves. Deram a ele o apelido desde que nasceu de João Menino. Foi Freddy Mac Monte da Patrulha Leão quem o apelidou nos escoteiros de Danny Boy. – Freddy era filho de pai e mãe americanos e tinha um saber inigualável – Contou para nos que em 1910 um inglês Frederick Watherly fez uma letra a qual chamou de Danny Boy. Mais tarde adaptou a letra na melodia “Londonderry Air”. Até hoje ela é cantada em todas as partes do mundo. Dizem que hoje em dia ela é quase considerada o hino da Irlanda do Norte.

              Se ele tinha o apelido de João Menino, todos resolveram o chamar de Danny Boy. Olhe eu vi tantos meninos escoteiros e convivi com outros tantos que Danny superava a todos. Uma alegria contagiante, a patrulha não vivia sem ele. Não podia atrasar que toda a Tropa não sabia o que fazer. Se era da patrulha Leão ele era considerado um Escoteiro de todas as patrulhas. Nunca parava e sempre ajudando uma ou outra. Se alguém ficava triste lá estava Danny Boi para alegrar. Se as notas escolares não eram boas Danny Boy tinha a solução. Os pais dos escoteiros sonhavam em ter um filho como ele. Na Tropa só não fazia milagres. O Padre Rosaldo ria de orelha a orelha quando ele chegava para ajudar na Missa ou na Benção diária. Limpava a igreja, corria para limpar da sujeira a praça e sempre encerrava suas tardes visitando doentes no Pequeno hospital de Estrela Dourada.

            Nunca se preocupou com especialidades, com Lis de Ouro, com cordões. Era um daqueles que a gente sempre dizia que já sabia fazer. Sinaleiro de mão cheia. Morse para ele era brinquedo de criança. Se alguém se sentisse mal nos acampamentos ele corria ao redor procurando as ervas nativas que curavam na hora. Um dia soubemos que foi encontrado quase morto no Beco do Seu Bartolomeu. A cidade cresceu, novas ruas e o beco estava lá vazio, próprio para os gazeteiros ou marginais de toda espécie. Uma revolta geral nos escoteiros. Porque dar aquela sova em um menino que só sabia fazer o bem? Quando saiu do hospital Danny Boy nunca foi mais o mesmo. Taciturno, tez levantada, olhos tristes, procurou o Chefe Landau para dizer que ia sair e nunca mais voltar.

            Ninguém entender sua resolução. Havia uma peregrinação constante em sua casa de todos os membros do Grupo Escoteiro Luz do Amanhã. Ele foi irredutível. Não era meu amigo mais próximo. Mas eu gostava dele como irmão. Vado, não dá mais. Não foi porque me deram a surra. Foi porque senti que não era tão importante na vida de outros meninos que não são escoteiros. Meu pai e minha mãe são contra e quando digo a eles que vou embora eles choram tentando me convencer a ficar. Danny! Você só tem quinze anos, não pode sair assim pelo mundo! – Ele não me respondeu e três meses depois sumiu da cidade.

               Passei na Banca do Seu Pedro e ele me deixou ler o jornal. A manchete dizia que ele foi um herói ao salvar o filho do presidente de morrer afogado. Depois que o salvou desapareceu e toda policia do governo foi incumbida de procurá-lo. Seis meses depois descobriram que ele morava nas Selvas do Suriname. Montou um pequeno ambulatório mesmo não sendo médico nem enfermeiro. Era adorado por todos e sempre procurado pelos doutores da medicina do lugar. No dia da entrega da condecoração Jonny Boy não apareceu. Meses depois de novo no jornal que ele tinha partido para um Garimpo nas Selvas Venezuelanas. Disse para os amigos que lá tinham muitos que precisavam dele. O que é feito dele e onde está nunca mais soube. Danny Boy comprou um pedacinho do meu coração. Mora lá até hoje e nunca mais irá deixar a casa da minha vida. Só sai se eu deixar!

Umas das traduções da melodia:
“Oh! Garoto Danny, as gaitas, as gaitas estão chamando, de pasto em pasto, montanhas abaixo, o verão se foi e todas as rosas estão morrendo. É você, você tem de ir e eu tenho que dizer “Adeus”. Mas volte quando o verão pousar sobre o campo, ou quando o vale estiver quieto e branco com a neve... E eu estarei aqui sob o raio do sol ou sob sua sombra. Oh, garoto Danny, eu te amo tanto. Mas se ele vier e todas as rosas estiverem morrendo, e eu estiver morto, mesmo assim, eu posso estar bem. Ele virá e achará o lugar onde eu estou enterrado, se ajoelhará e rezará uma “Ave Maria” para mim. E eu sentirei o quão suave você caminha sobre mim. E então meu túmulo será um lugar delicioso, rico. Você se curvará e dirá que me ama, e eu descansarei em paz até que você venha para mim”!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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