domingo, 4 de dezembro de 2011

O RIACHO DE AGUAS CLARAS


O Riacho de Águas Claras

* Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam... Não é bonito, mas é profundo!

Eram cinco na patrulha Javali. Todas com menos de ano e meio no escotismo. Moravam em bairros diferentes e não se conheciam. Agora eram grandes amigas. Na patrulha descobriram afinidades e isto fortaleceu mais e mais a fraternidade existente entre elas.

Estudavam em colégios diferentes. Só a sub-monitora estava na mesma classe que a mais nova da patrulha. Quase não se enturmavam com as outras amigas do bairro e do colégio. Viviam telefonando entre si, provocando inclusive dissabores quando do pagamento da conta telefônica. Só uma delas, a mais velha com 14 anos tinha um pseudo namorado. Digo pseudo porque quase nunca se encontravam.

Haviam acampados juntos por varias vezes. A tropa possuía três patrulhas. Só a delas com cinco. As demais tinham seis meninas cada uma.

No ano passado fizeram um acampamento precedido de uma jornada noturna. No programa elaborado por sugestão delas, iriam até um tal Córrego de Águas Claras, cujas referencias era do Chefe da Tropa Sênior, onde passariam a noite em bivaque e depois partiriam para o local de acampamento.

Participaram as patrulhas escoteiras femininas e duas patrulhas de guias. Seis adultos ficaram na supervisão. Dois chefes escoteiros experimentados e quatro das chefes escoteiras e guias. Todas com muita vivência.

Acho que a experiência não deu muito certo. Entraram em uma mata de eucaliptos bem fechada. Um dos chefes disse que conhecia o caminho. O programa dizia para andarem por uns cinco quilômetros e iriam encontrar um pequeno riacho de águas claras e belas corredeiras. Ali pernoitariam e pela manhã, partiriam para o local do campo, onde varias viaturas de pais e colaboradores já haviam levado o material de campo.

A idéia era acampar após a jornada por mais 3 dias consecutivos. Andaram por um bom pedaço do caminho e nada do tal Riacho de Águas Claras. Lá pelas três da manhã, a chefia desistiu. Procuraram um local onde pudessem pernoitar. Jogaram as lonas e cada uma se enroscou com a outra. Adormeceram sob as estrelas. Poucos se viam delas devido à mata bem fechada.

Pela manhã, arrumaram o material e partiram. Nada do tal riacho. Ainda bem que tinham um pequeno lanche e se refestelaram dele, pois não sabiam quando iam almoçar. Somente lá pelas quatro da tarde chegaram ao tal riacho de águas claras. Foram descendo sua margem por alguns quilômetros e chegaram ao local de acampamento. Pais e escotistas de cabelo em pé.

Esqueceram que ali tinha uma chefia a altura e não sendo iniciantes do movimento, levamos tudo numa bela brincadeira. Achamos inclusive que a chefia havia preparado tudo para nos assustar e mostrar como resolver situações imprevisíveis.

Foi um lindo acampamento. Pena que uma patrulha teve que pedir ajuda as chefes para acender o fogo, pois o orvalho da manhã molhou a madeira que tinha sido separada para uso. Faltou experiência de cobri-la com um lona. Ficamos com pena da patrulha, pois era ponto de honra para todas que devíamos fazer tudo sem pedir nada os chefes.

Afinal já tínhamos aprendido esta arte antes em vários outros acampamentos. Mas errar é humano e persistir no erro é burrice! Sem menosprezo é claro. Sempre achamos que nada devíamos aos escoteiros na arte de acampar. Uma vez acampamos próximos e comparativamente éramos muito superiores em diversas etapas. Mas isto é outra história.

Estávamos na sede, conversando sobre a atividade e soubemos que a paróquia onde estávamos locados o pároco queria de volta sua área (a sede), nos dando um prazo de 30 dias para desocupar. Foi é claro um Deus no acuda. O que fazer? – Vimos que os chefes se reuniam, houve reuniões dos diretores e o pároco se mantinha irredutível.

Era uma preocupação geral. Não foi a primeira vez. Um grupo amigo nosso em outro bairro passou por isto. Nossa monitora deu a idéia de irmos a patrulha completa até o Bispo. Afinal era o superior do pároco. Topamos mas não sabíamos como proceder. Falar ou não com a chefia. Não falamos, cometemos um erro, mas que mais tarde se mostrou um acerto.

No sábado partimos à tarde, hora que nos informaram que encontraríamos o Bispo em sua residência episcopal (não sei se é assim que se pronuncia). Lá chegando ele não estava. Resolvemos esperar. Era dia de reunião. Pensamos que iramos chegar atrasadas. Mas o bispo só chegou às cinco da tarde. A reunião se fora. Paciência. Depois explicaríamos as chefes.

Era um bispo bonachão. Sorria para todos nós. Contou-nos que tinha sido escoteiro quando jovem. Fez-nos perguntas e mais perguntas. O que sabíamos nossa técnica, adestramento, conhecimento e como era a patrulha.

Pediu para darmos o grito de patrulha, o grito da tropa e o do grupo. Ao terminarmos nos presenteou com a palma escoteira que se lembrava até hoje. Trouxe o chapéu de abas largas e lenço que guardava até hoje. Logo ficamos amigas dele. Só lá pelas 19 hs horas entramos no assunto. Ele disse que não nos preocupássemos. Iria tomar providencias.

Foi então que perguntou se também havíamos feito a excursão no Riacho de Águas Claras. Sim dissemos. E se perderam? Sim respondemos. Ele riu a mais não poder. Não nos contou mais nada. Ficamos com um ponto de interrogação, pois não entendemos por que.

Voltamos para nossas casas. A minha família estava em polvorosa. Onde estava? O que aconteceu? – Expliquei tudo. Meus pais eram maravilhosos. Sempre me deram um grande apoio e confiavam em mim. Sabiam que eu era uma escoteira, conheciam a lei e acreditavam que eu faria tudo para não desonrá-la.

No sábado seguinte quando chegamos à sede, fomos recebidas por uma palma escoteira e o Grito do Grupo na hora do cerimonial. O Chefe do Grupo nos parabenizou. O pároco estava presente, sorridente e pediu desculpas a todos. Fora mal informado. (O Bispo deve ter dito poucas e boas).

Fomos tomadas por grande contentamento e exultantes olhamos uma para com as outras como a dizer – Conseguimos!

Até hoje não sei o que é e o que seria a historia do Riacho de Águas Claras. O chefe não contou. As chefes também. Tentamos matutar com outras patrulhas. Nada. Fizemos pesquisa na internet. Nada. Fomos à prefeitura. Nada. Desistimos.

Vamos deixar a historia correr naturalmente para que outras patrulhas no futuro possam excursionar ao Riacho de Águas Claras e quem sabe quando crescermos vamos entender melhor o porquê de seu prestígio.

E quem quiser que conte outra...

Guarda a lição do passado, mas não percas tempo lastimando aquilo que o tempo não pode restituir. * Quando estiveres à beira do desalento pergunta a ti mesmo se estás num mundo em construção ou se estás numa colônia de férias.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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