quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O ORGULHO DE SER ESCOTEIRO


O orgulho de ser Escoteiro

No escotismo tudo é um doce sonho.
Se ouve falar da Ilha de Brownsea, De Giwell Park, sobre toda aquela mística, aquela fraternidade, aqueles aprendizados maravilhosos.
Ouve-se contar sobre os Jamborees passados, sobre o ultimo Mundial no Chile, sobre os acampamentos em outros estados.
Passam-se os dias, passam-se os sábados, o escoteiro interessado, aprende, estuda, e, se diverte. Acampa com a maior boa vontade, enfrenta problemas, discute as realidades, chora no Fogo de Conselho, se anima com a Jornada.
Sobe ao cume de um Pico, se alegra ao ser Escoteiro da Pátria.
Mas o tempo continua a passar e se prepara para a ponte pioneira, para quem sabe ser chefe da “escoteirada”.
Se recorda das palavras de BP, que para ser possível basta tirar o IM da palavra... Mas começa a duvidar de tudo, de tudo que o escotismo é capaz de fazer acontecer.
Pois nem mesmo um sonho da Juventude a classe media baixa pode o escotismo ter. Assim mesmo o Escoteiro apaixonado continua no Movimento. Amar, com todo aquele pique de garoto, com todo o amor ao fundador, com toda a vontade de continuar a caminhada que pode levar mais um jovem a recomeçar a poesia por BP inventada.

Guia Nathalia Mendes Andrade
G.E Siemens 50 PR
                                                       
Foi em março, me lembro bem, pois tinha recebido a Segunda Classe na semana anterior. Rael estava fazendo onze anos e sua passagem foi análoga de outras e de muitas lágrimas da Akelá. Como sempre quando fazíamos a passagem, a Alcatéia ficava deprimida. Não sei por que, quem sabe a cerimônia é realizada em um clima de adeus.

Eu conhecia este filme. Também fiquei muito triste quando aconteceu a minha, mas logo me acostumei. Em menos de cinco meses, quase não recordava da minha vida de lobinho.

Rael escolheu a minha patrulha, Lobo. Interessante, quase todos os lobinhos quando iam fazer a trilha sempre escolhiam esta patrulha. Talvez pelo monitor, apesar de cada dois anos ser substituído. No inicio do ano foi eleito um novo e o Tavinho assumiu. Estava se saindo bem. Sei que não era fácil liderar uma patrulha com três primeiras classes e ele ainda não tinha conseguido a sua.

Rael se tornou um bom escoteiro. Ficamos amigos, pois morávamos quase perto um do outro. Digo quase, pois sua residência ficava a dois quarteirões da minha. Isto não impedia de encontrarmos durante a semana. A pedido do monitor estava colaborando para sua etapa de noviço, onde renovaria a promessa e receberia o distintivo.

Sua mãe e seu pai eram ótimas pessoas. Entretanto um dia vi seu pai chegar meio tonto, e vi que sua mãe não gostou. Foram para o quarto e deu para ouvir os desentendimentos. Achei melhor voltar outro dia. Rael ficou muito triste e me disse que não era sempre. Ele passava meses sem demonstrar que bebia antes do retorno para casa.

Rael fez a promessa. Sua mãe fez questão de estar presente apesar do chefe não autorizar sempre tal tipo de participação.

Dois anos depois, eu tinha “tirado” minha Primeira Classe e Rael “tirou“ também sua Segunda Classe. Nesta época fui eleito monitor da patrulha e achei que o próximo seria Rael.

No ano seguinte fiz a Rota Sênior. Escolhi a patrulha Ibituruna, pois lá estavam meu ex-monitor e outro amigo da Tropa Escoteira. Dei-me bem com os seniores. Um pouco diferente da tropa. Ali o sistema de decisão era bem maior. Diziam eles (nós) que onde tem um sênior, tem uma tropa e se houver um chefe ótimo, se não a tropa anda do mesmo jeito.

Não sei bem se é assim. Quando nosso chefe foi transferido profissionalmente para outra cidade, a tropa baqueou. Pelo menos cinco seniores desistiram. Ficamos só em doze. Mas as atividades aventureiras eram marcantes. O que ali vivi daria um livro de aventuras que Kipling teria dificuldade em escrever. (modesto hein?).

Mas voltemos aos “entretantos” de nossa história. Tento reunir aqui e ali os pormenores, pois já se passaram muitos anos e nem sempre guardo todos os detalhes e de como aconteceram.

Onde morava, possuía um bom número de amigos, nenhum deles escoteiro ou sênior. Apesar de convidá-los eles não tinham interesse. Quando narrava dos acampamentos, das aventuras na floresta, nos picos escalados, eles riam e diziam que não era o que buscavam. Desconheciam é claro o mérito e a importância do escotismo na vida dos jovens.

Tudo bem, não era por isto que deixaríamos de ter aquela afeição adquirida de muitos anos. Como dizia um ex-chefe, qualquer um pode entrar em um Grupo de Escoteiros, mas ser escoteiro não é para qualquer um. 

Uma noite, estávamos na porta da casa de um deles e surgiu o comentário de uma quadrilha de traficantes, a vender drogas no bairro. Disse que conhecia pelo menos quatro meninos que estavam “fumando”. Não entendi bem e ele explicou o que era. Fiquei perplexo. Não achava que isto poderia acontecer no nosso bairro.

Este meu amigo comentou também que tinha quase a certeza que um escoteiro estava no meio deles. Duvidei. Não havia ali nenhum de nós naquele bairro. Ele disse que era de outro e deu as coordenadas de como ele era. Deduzi que só podia ser o Rael. Não era possível. Ele estava na “bica” de ser eleito monitor. Conseguiu sua Primeira Classe. Sabia dos perigos das drogas, não podia estar no meio de uma turma viciada.

Pelo sim pelo não, resolvi investigar. Fui uma noite até seu bairro. Ele não estava em casa. Sua mãe não sabia onde tinha ido. Dei uma volta no quarteirão e nada. Já estava desistindo quando o vi junto com mais dois, dando enormes gargalhadas e fazendo arruaças, não condizentes com sua apresentação pessoal e sua vida escoteira.

Achei melhor não interpelá-lo. Escondi-me e voltei para minha casa. Passei a noite pensando o que fazer. Na reunião do sábado seguinte conversei com o monitor da PT para saber sua opinião, de um escoteiro estar envolto com drogas. Abri o jogo com ele e disse que era o Rael.

Não chegamos a nenhuma conclusão. Se informássemos ao chefe poderia haver sua exclusão da tropa e até mesmo seus pais poderiam ser informados. Claro que visto de outra forma era a maneira correta de versar o assunto, deixar que os adultos tomem as providencias. Mas eu pensava diferente. Achei que podia conversar com o Rael e quem sabe poderia ajudar e mudar alguma coisa.

Fui a sua casa, fora do dia da reunião e o encontrei. Fomos dar uma volta no quarteirão. Abordei o assunto diretamente e sem rodeios. Ele ficou surpreso. Negou em princípio, mas depois afirmou que estava “puxando”, mas não era um viciado. Falei do que adiantava sua promessa, do que aprendeu da Lei Escoteira, de sua responsabilidade na patrulha e o exemplo que estava dando para os demais.

Ele me ouviu em silencio. Finalmente me disse que já não estava mais usando drogas, mas estava preso a quadrilha. Eles ameaçaram contar aos meus pais e inclusive em um dia que não me lembro tiraram uma foto. Era uma prova difícil de ser contestada. Ele não sabia como sair do “enrosco” sem se prejudicar. E completou que eram bandidos e que o ameaçaram de morte.

O pior foi que o obrigaram a ser o responsável pelo bairro na distribuição e deram instruções peremptórias para introduzir o vício no Grupo Escoteiro. Lá segundo eles seria um manancial sem igual. Muitos eram filhos de pais de classe media o poderiam arrecadar mais.

Agora sim, pensei! Tudo estava piorando e eu não tinha como ajudar ao Rael e nem aconselhá-lo. Disse para ele que deveria contar francamente aos seus pais e alertar o chefe da tropa e de grupo. Ele ficou pensativo e concordou. Vi que estava olhando através de mim. Disse que dois traficantes estavam se aproximando. Falou para eu ir embora já, e nem me virar. Voltou ao encontro deles.

Fui saindo rapidamente e gritaram para parar. Perguntaram quem eu era. Os dois eram jovens e mal encarados na faixa de 15 18 anos. Não dei resposta e continuei em frente. Logo saí correndo virando uma esquina. Correram atrás de mim. Ouvi um tiro. Mais dois. Senti uma picada no ombro. A bala passou de raspão. Pulei um muro e bati na porta de uma casa. Abriram. Expliquei o que acontecia.

Lá fora, os dois ficaram na espreita esperando eu sair. O Dono da casa ligou para a policia. Sua esposa fez um pequeno curativo, pois a bala só passou de leve e um pequeno filete de sangue sem maiores conseqüências. Quando a policia chegou, fugiram. Levaram-me até a delegacia próxima. Liguei para meus pais. Aconselharam-me a contar o que sabia. O Rael também foi chamado.

Foi uma semana cheia. Repleta de medos, vergonha e com um final surpreendente e policialesco. Soube que prenderam os dois que atiraram em mim e mais outros. Não sei se ficamos livres deles, pois um dia iriam sair da prisão. Rael se emendou e continuou no Grupo. Vimos que ali nossa Lei tinha uma enorme significação. Infelizmente não foi eleito naquele ano como monitor. Ficou para o próximo.

 Sempre acreditamos que somos imunes a tais vícios. Felizmente temos algum que poucas organizações de jovens possuem. Aprendemos a respeitar o próximo e o nosso corpo. Proteger o irmão escoteiro é ponto de honra. Respeito às leis e normas faz parte do nosso aprendizado. Enfim, temos uma Lei Escoteira admirável. Podia acontecer de novo, mas não seria fácil.

O tempo passou. Hoje já crescido não soube de outros acontecimentos como este. Acho que ficamos livres. Fiz uma reflexão no meu intelecto de todos os jovens que conheci. Ela também abarcou outros grupos. Não me lembrei de nenhum deles (os jovens) hoje em sua vida adulta com conduta imprópria.

Todos são excelentes cidadãos, conscientes de suas responsabilidades morais e demonstram um exemplo nato para todos os amigos da comunidade. É assim o escotismo. Formação do caráter. Ter honra. Isto é que nos faz ter o “Espírito Escoteiro”.

Acredito que o Movimento Escoteiro não tem similar. Se tivéssemos milhares ou centenas de milhares de jovens participando, poderíamos ter outra visão da juventude atual. Cabe a todos nós fazermos de tudo para tornar possível tal objetivo.

Você meu caro ou minha cara sabe o que significa ser escoteiro ou escoteira. Assim como eu possuem o orgulho de pertencer a este movimento tão querido. Sabe do valor que tem o seu uniforme, de sua equipe e de seu grupo. Sabe que não está só. Tem milhões de irmãos espalhados pelo mundo.

Traga para o nosso meio seu amigo e sua amiga. Você estará contribuindo para obtermos mais um nas fileiras do escotismo e os benefícios serão imensos.

E assim fazendo, a nação prazerosamente agradece.

E quem quiser que conte outra...

"O pensamento positivo pode vir naturalmente para alguns, mas
 também pode ser aprendido e cultivado, mude seus pensamentos
 e você mudará seu mundo”
Norman Vicent Peale

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