domingo, 4 de dezembro de 2011

OS CINCO MAGNIFICOS - O CASTELO MEDIAVAL E A ESPADA SAMURAI


Os cinco Magníficos


(Quinzenalmente ou mensalmente, iremos publicar contos na linha do imaginário. o titulo acima servirá para mostrar que o acontecimento é obra de ficção, mas não avalizo que possa ter alguma veracidade. Você decide)




(Os cinco Magníficos são seniores da patrulha Aconcágua, do 568º Grupo Escoteiro Pico da Neblina. Rotineiramente estarão aqui contando suas epopéias divertidas e aventureiras. Muitas já vividas pelos nossos magníficos seniores de todo o pais. Sejam bem-vindos a patrulha Aconcágua e os cinco Magníficos).

Historia de hoje: O Castelo Medieval e a famosa espada samurai.

"Vencer não é competir com o outro. É derrotar os seus
 inimigos interiores. É a própria realização do ser.”
Anônimo

Capitulo I

Sentia-me exaurido. Pudera. Fora uma semana repleta de surpresas, cujos frutos não podiam ser considerados satisfatórios. Nada estava dando certo nas minhas atividades profissionais. No norte não conseguí fechar o contrato já discutido e aceito pelo cliente. Na última hora desistiu. Também próximo a capital mais linda do nordeste fiquei sabendo que um dos nossos principais clientes pedira concordata.


Agora estava para fechar um dos melhores contratos previstos para o inicio do ano, e quando cheguei próximo à mineradora, uma chuva torrencial caiu como se fosse inundar toda a terra. Para melhorar tudo, dois pneus furaram simultaneamente no taxi que tinha alugado. E sempre me disseram que o Escoteiro é Alegre e Sorri nas Dificuldades! Ótimo. Ainda bem que fui e sou do Movimento Escoteiro e claro, não me arrependo.

Esperando a chuva passar, dormitava no banco trazeiro quando ouvi um bando de jovens chegarem à janela. Bateram e perguntarem se precisávamos de ajuda. Assustei-me. Era um local ermo, ainda distante do meu destino e ali parado em uma estrada vicinal sem movimento não podia vacilar. Olhei para o motorista e vi que ele dormia a sono solto.

O mundo é pequeno. E põe pequeno nisto. Não é que me deparo com uma bela patrulha sênior, com capas e mochilas as costas, uniformizados, todos com uma simpatia sem igual, sorrindo e esperando uma resposta que não vinha. Abri o vidro e um deles se aproximou oferecendo ajuda. Disseram ter prática em trocar pneus debaixo de chuva.

O taxista disse que só tinha um estepe e não sabia como fazer para arrumar outro. Com dois pneus furados a situação se complicava. Enquanto três trocavam um, o outro mais atrás se ofereceu para ir até ao almoxarifado da mineradora e lá pedir ajuda. Caramba! Do pior para o melhor.

Naquele pequeno mundo perdido, encontrei uma patrulha disposta a encarar a dificuldade e com um excelente humor e Espírito Escoteiro. Com aquela chuvarada ali estavam eles, sem mostrar cansaço e com uma disposição em fazer uma boa ação que era surpreendente.

Foi assim que conheci a admirável Patrulha Aconcágua, ou melhor, os “Cinco Magníficos” como se intitulavam. Afirmo que não era empáfia ou arrogância por parte deles. Nada disto. Eram sinceros nos seus ideais e se quiséssemos ver a Lei e a Promessa engajada em membros do Movimento Escoteiro ali estava o exemplo mais sadio que tomei conhecimento em toda a minha vida escoteira.

Anotei o endereço do Grupo Escoteiro e o horário das reuniões. Prometi que na primeira oportunidade lá estaria para confraternizarmos e fazê-los cumprir a promessa de me contarem todas as historias desta patrulha, bem conhecida por muitos outros seniores de outros estados.

Antes que esqueça, trouxeram uma picape da mineradora e levaram o último pneu voltando em seguida com ele consertado. Fechei um bom contrato e quando me dei conta os seniores tinham se invadido sem poder agradecer ou mesmo oferecer uma carona para o local que escolhessem.

Comprometi-me que na primeira oportunidade lá estaria em visita ao grupo escoteiro que pertenciam e não faltaria ocasião para voltar a ver aqueles surpreendentes seniores que conheci de uma maneira singular, pois só ver o tempo chuvoso, a lama na estrada, rapazes sem medo, oferecendo ajuda já daria uma magnífica historia que tanto gosto de narrar.

Meses após retornei ao Estado que onde conheci os seniores. Tardei para tirar um domingo e com um carro alugado, fui até a cidade deles. Não ficava longe. Cheguei cedo, almocei no hotel onde fiquei e às duas horas da tarde parti para a sede do Grupo Escoteiro. Não sabia se lá estariam, poderiam estar em atividade extra-sede.

No caminho vi com surpresa, diversos jovens bem uniformizados, lobinhos, lobinhas, escoteiros e escoteiras e vários seniores e guias se dirigindo ao ponto de reunião. Gostei do que vi. O garbo e boa ordem faziam-se presente. Sabia que o proselitismo e a cidadania eram ponto de honra naquele Grupo Escoteiro.

O oitavo artigo que tanto reclamei ali estava evidente nas passadas animadas, rumo a mais um dia de confraternização, aprendizado, adestramento e iriam cultivar a formação de bons cidadãos onde o caráter seria ponto importante.

Um deles me viu e lembrou-se de quando nos encontramos pela primeira vez. Veio sorridente, dando-me um Sempre Alerta, pegando-me pelo braço levando-me até o Chefe do Grupo. Este, jovem ainda, lá pelos seus 29 anos, mostrava estar bem preparado para exercer o cargo que exigia muita responsabilidade.

Conversamos bastante. Fiquei sabendo de todo o histórico do Grupo e gostei. Falei também de mim, minha história no movimento desde lobinho, e quando passei para os pioneiros fui obrigado a afastar devido ao serviço militar fora da cidade de origem.

No retorno, me saí otimamente em um vestibular e me formei em Engenharia Elétrica. Neste período, ajudava como assistente no meu Grupo de origem. Não entrei muito em detalhes da minha vida profissional e familiar. Nesta história ela não é importante.

Fomos conhecer os demais chefes e suas respectivas sessões. Gostei de tudo e melhor ainda da tropa sênior. Aguardei ali conversando com um e outro o final da reunião. Aconteceu por volta de 18 horas.

Toda a patrulha sênior, ou melhor, os cinco magníficos vieram me encontrar. Saudações, abraços e como velhos amigos sentamos na escada que levava a sede já fechada, e ali ficamos horas conversando.

Apresentaram-se um a um, rindo e mexendo com os braços, tentando serem modestos, pois sem exceção apresentavam uma naturalidade própria de jovens comedidos e respeitosos.

Léo era o mais velho, com 17 estava preocupado pelo convite do Mestre Pioneiro para fazer a ponte. Achava que abandonar sua patrulha agora não estava nos seus planos para este ano. Moreno, alto pela sua idade, meio gordinho, mas com boas musculaturas, era o monitor.

Ned era o sub. Claro que na patrulha não desconheciam a democracia sênior e as eleições determinadas pela Corte de Honra e Leo sempre era reconduzido e Ned permanecia no cargo. Também moreno cor de jambo, tinha aspecto de ser descendente de mameluco. Altura normal, sem ser magro tinhas olhos negros e penetrantes.

Junior fizera também 16 anos assim como Ned. Bem magro, caladão, mas todos diziam ser o faz tudo na patrulha. Cabelos castanhos cortado rente, Não gostava de falar de si.

Max era o mais novo na patrulha. 15 anos, fizera a rota no inicio do ano anterior. Morava no mesmo bairro e na mesma rua que o Junior. Eram bem mais ligados. Sem considerar que estavam na mesma sala no colégio. Magro também e cabelos loiros, dando a impressão de ter pais nórdicos.

E por último, Jan, negro, com uma simpatia radiante, poderia ser considerado o melhor sorriso da patrulha. Com 15 anos, já estava entrando nos 16. Diziam os outros que Jan era o matemático e pesquisador da patrulha. Adorava ficar horas e horas na internet. Não sei por que, sempre tinha uma manta pequena em volta dos ombros.

Gostei deles. A uniformização perfeita. Ainda usavam o caqui curto, mas com boinas verdes, bem posicionadas, estilo força aérea francesa.

Ali ficamos conversando horas e horas. Perguntei o porquê estavam debaixo daquele dilúvio, num terreno ruim tomado pela mineradora (explorava minério de ferro e carvão mineral) e não tinha visto nenhuma árvore ou riacho para um bom acampamento.

Jan foi quem me contou o porquê. Fazendo uma pesquisa sobre raios para sua escola, encontrou um fato interessante. Dizia-se que se em terreno pedregoso, ou principalmente com minérios ou carvão mineral, se caísse um raio de enormes proporções, no local onde tocaria o solo, havia possibilidade de produzir um pequeno diamante.

Sorri com sua explanação. Até podia ter certa lógica, mas acreditava ser impossível tal fato. Mas deixemos Jan continuar. Comentou com a patrulha e esta achou que poderiam fazer uma expedição até a mineradora, para isto teriam que de estarem alerta observando sempre os institutos de pesquisas e estarem preparados pelo menos 24 horas antes e tentar a sorte onde poderia cair um raio.

Ficar acantonado próximo não seria difícil. Pediriam autorização e mostrariam sua intenção de aprender e conhecer melhor uma exploração de minérios. Gostariam de ficar ali por uma noite e garantiram que nada fariam de errado.

Feito isto, não podiam programar e tentar a sorte que fosse num sábado ou domingo. Durante meses nada aconteceu. Foi no carnaval deste ano que descobriram que uma enorme frente fria se aproximava. Diziam os meteorologistas que toda a cidade deveria ficar em alerta. Dito e feito. Ligaram para a mineradora e garantiram já terem em mãos a autorização do diretor.

Em menos de uma hora, estavam uniformizados e suas mochilas preparadas com ração de 2 dias e pequeno material de sapa. Seus pais já conheciam seus arroubos e sabiam que podiam confiar. Autorizar era um fato consumado.

Correram até a rodovia que não era longe tentando carona. Conseguiram com um caminhoneiro que conduzia uma cegonha vazia. Até a entrada da mineradora não era mais que 80 quilômetros, depois mais 12 na estrada de terra.  Chegaram já à tardinha e acantonaram em uma casa de madeira, a beira de uma cratera que estava abandonada e agora era esperar.

Na segunda choveu a cântaros, mas sem raio. A chuva cessou à tarde. Na terça uma enorme nuvem negra se aproximava, não havia vento. Trovões se ouviam ao longe e calculando pela velocidade do som, viam que em pouco tempo a tempestade chegaria até eles. Era mais ou menos 19 horas. Colocaram suas capas e correram para a beira da cratera, ali permanecendo. Tinham um binóculo militar, com visão noturna.

Não demorou nem 30 minutos e um raio enorme aclarou todo o vale. Ned estava com o binóculo. Garantiu que viu onde ele tinha caído. Corremos ao local. Foi difícil chegar lá. Muito buraco, a estradinha de descida péssima. Levamos pelo menos 40 minutos. Decepção! - não encontramos nada apesar de vasculharmos centímetros por centímetros. Paciência valeu à tentativa disseram.

No dia seguinte a chuva não parou. Como temos experiência de jornada com chuvas retornamos e eis que os encontramos parado e com os pneus furados. Temos sempre como meta, em qualquer acampamento, excursão, ou seja, em qualquer atividade ao ar livre fazer uma boa ação, que é sempre anotada em nosso Livro de Ouro. Ali temos mais de 50 páginas já escrita.

Contavam sem afetação. Conheço muitas tropas seniores, um sem numero de seniores de outros Grupos Escoteiros e tive a oportunidade de trocar idéias, conhecer suas belas histórias. Ali estavam exemplares do que se espera dos seniores. Planejam, montam, organizam e fazem suas grandes atividades aventureiras.

Sem falsa modéstia, todos eles garantiram ter mais de 100 noites de acampamentos e excursões noturnas. Participaram de um sem número de aventuras seniores em nível regional e nacional. Foram todos eles ao último Jamboree no Chile.

Olhei no relógio e vi que passava de 22 horas. Ficaram preocupados, nos despedimos e fiquei de voltar novamente no mês seguinte. Sorriram e disseram que tinham muita coisa para contar. Se viesse mesmo, iriam conhecer uma fenomenal. O Castelo medieval e a espada samurai. Franzi a testa tentando compreender.

Sorriram me deram sempre alerta e partiram. Fiquei surpreso. O que seria? Agora era esperar o mês que vem. Sabia que a reunião dos gerentes da empresa seria ali realizada naquela data.

Vamos aguardar. Tinha certeza que a patrulha Aconcágua tinha muita coisa para contar.


"O maravilhoso da fantasia é nossa capacidade de torná-la
 realidade.”
Anônimo

      
      Os cinco Magníficos



(Quinzenalmente ou mensalmente, iremos publicar contos na linha do imaginário. o titulo acima servirá para mostrar que o acontecimento é obra de ficção, mas não avalizo que possa ter alguma veracidade. Você decide)


(Os cinco Magníficos são seniores da patrulha Aconcágua, do 568º Grupo Escoteiro Pico da Neblina. Rotineiramente estarão aqui contando suas epopéias divertidas e aventureiras. Muitas já vividas pelos nossos magníficos seniores de todo o pais. Sejam bem-vindos a patrulha Aconcágua e os cinco Magníficos).


Historia de hoje: O Castelo Medieval e a famosa espada samurai.

"Preste atenção ao que está fazendo, o ontem já lhe fugiu das
 mãos, o amanhã ainda não chegou.”
Anônimo
Capitulo II

Aconteceu a reunião que tinha previsto. O Presidente da Empresa não deu folga no primeiro dia. No segundo também não. Começávamos o Seminário pela manhã e terminava sempre à noite, após 21 horas. Dalí ia direto para a cama. Se continuasse assim, todos os quatro dias seriam tomados com reuniões e reuniões.

No quarto dia, era uma quinta feira. Fomos até 23 horas e todos se despediram. Havia liberdade de permanecermos no hotel até domingo à tarde e assim devíamos remarcar nossas passagens aéreas. Telefonei e marquei a minha para domingo às 18 horas. Eram somente três horas de viagem e chegaria sem problemas na mesma noite.

Na sexta me dei uma folga para compras e no sábado pela manhã aluguei um carro não pensando duas vezes no que iria fazer. Claro. Visitar aqueles seniores, ou melhor, dizendo os “Cinco Magníficos”, pois estavam me devendo outras histórias.

Acredito que não contei para vocês. Desempenho como neófito amador e já me considerava um anódino na função de um pseudo “Escritor”. Escrevia artigos sobre o Movimento Escoteiro e agora um livro sobre histórias vividas pelos nossos jovens praticantes. Considerava algum inédito e totalmente diferente dos escritos até então.

Como vivi poucas aventuras quando escoteiro e sênior eu me deliciava quando ouvia dos jovens, suas histórias contadas com simplicidade e emoção. Assim durante minha viagem de duas horas, meus pensamentos deram vazão às duvidas e o que podia ser o tal castelo que me contaram.

Cheguei rápido, almocei, já trajava o meu uniforme, e lá pelas 15 horas estava na porta da sede minha velha conhecida se assim posso dizer. Cumprimentos, lembranças, abraços e desta vez fui convidado pelo chefe Sênior para colaborar com ele no desenvolvimento da reunião que se passaria naquele sábado.

Estava exultante por encontrá-los em reunião. Duas alcatéias cumprindo o programa estavam fazendo um acantonamento. A tropa das escoteiras fora até outro grupo conforme confraternização programada pelo distrito.

Foi uma reunião simples. Mais voltado para o adestramento de escaladas. Foi dividida em três partes: Quais os materiais necessários, Como usá-los e guardá-los e técnicas de escaladas. Vi que o Chefe Sênior era um perfeito conhecedor do assunto. Soube posteriormente que escalara o Pico do Aconcágua, nome da patrulha dos “Cinco Magníficos”. Eu, no entanto era um autêntico pata-tenra.

A reunião foi desenvolvida em um parque próximo onde havia um enorme paredão de pedra, bem íngreme e deu para que os seniores pudessem ter uma idéia bastante razoável de uma escalada. Durou exatamente três horas. Às 18 em ponto estavam todos os presentes na cerimônia de Bandeira, com a participação de todo o Grupo Escoteiro.

Sempre Alerta, debandar e lá estavam os seniores em minha volta, me abraçando e vi que as outras patrulhas de aproximaram. (eram um total de 3 patrulhas de 5 e 6 seniores em cada uma). Bastante simpáticos todos eles, mas aos poucos saíram ficando somente eu e os “Cinco Magníficos”.

Convidei-os para irmos até uma pequena lanchonete, onde havia mesas na entrada e lá ficaríamos mais a vontade. Aceitaram. No caminho fiquei sabendo que o Léo recebera uma flechada. - Não entendi! Disse. - Cupido chefe foi flechado! Agora pouco participa durante a semana conosco. Fica sempre ao lado de sua amada e esqueceu os amigos!

Leo estava vermelho e gaguejando disse que estavam enganados. Ele já tinha explicado e nunca, de maneira nenhuma iria abandonar a patrulha. Afinal era ponto de honra os cinco sempre juntos. Claro, ele gostava da jovem, achava que era um amor diferente, mas a patrulha vinha em primeiro lugar.

Lembrei de mim no passado. Bem esta não é minha história. Pedimos refrigerantes e mistos quentes para todos. A conversa estava animada. Haveria no mês seguinte uma viagem até a Serra do Altaneiro e iriam todos os seniores principiarem na senda da escalada. Tinham feito algumas agora, no entanto sabiam onde o “sapato iria apertar”.

Convidaram-me e recusei polidamente. Estaria em viagem ao extremo sul do pais e dificilmente chegaria a tempo. Conversa vai conversa vem, lembrei a eles a tal aventura do castelo. Entreolharam-se e ficaram silenciosos. Pensei comigo o que estaria havendo.

Jan, o contador de historias da patrulha começou a narrar. Antes Ned me pediu que mantivesse segredo. Assim como eu, ninguém acreditaria na história, mas como não eram fanfarrões e nem gostavam de carapetas, preferiram manter segredo do ocorrido. Se tornasse público, iriam servir de caçoada e toda a credibilidade da patrulha iria para o brejo.

Reafirmei minha discrição e que nunca em tempo algum nada diria. No entanto comentei sobre meu livro e lá as histórias eram adaptadas e os nomes trocados nunca eram citados. Concordaram e Jan deu continuidade à história.

No ano anterior, meados de agosto, ele mesmo descobriu na página da internet um tema que chamou atenção dele e da patrulha. Era comum suas pesquisas em diversos sites e aqueles mais estrambóticos tinham sua preferência. Sempre descobria temas interessantes para servir de idéias nos acampamentos, assim como do diamante que não existiu (deram risadas) e outros que serão mencionados numa próxima vez.

Leu num site de Óvnis, que em um determinado dia, precisamente às 15 horas, vinte minutos e oito segundos, uma atividade temporal seria formada com a conjunção de 8 planetas, todos em sintonia com o “XB14A* (nome dado pela NASA, num hipotético planeta que se aproximava da terra) no paralelo 12, que se espalharia com força centrífuga num raio de dez metros.

Todo aquele que estivesse no seu raio, e isto se daria na pedra do anão (ficava a 120 quilômetros de distancia) no horário determinado do dia 22 de agosto às 15 horas, vinte minutos e oito segundos, seria tele-transportado através do tempo durante doze horas quando automaticamente se faria o retorno. O site não explicava se era para o passado ou para o futuro.

Contei a todos e deram boas risadas da “papagaiada” da história. Mas infelizmente, o tema ficou martelando na cabeça de cada um. No sábado seguinte, já no final da reunião, Junior e Max comentaram a troca de informações com outros internautas e eles confirmaram. Pronto. A idéia estava lançada. Agora faltava a preparação e depois a ação.

E se fosse verdade? Seria a viagem do século! Se pudessem fotografar e filmar seria a prova definitiva. No entanto teriam que manter o mais alto segredo. Seriam uma zombaria e gozação que iria perdurar por muito tempo no grupo Escoteiro. Assim foi feito. Preparamos tudo. Um dia antes partimos em ônibus de carreira para a Pedra do Anão.

22 de agosto seria um sábado.  Estávamos em período escolar e assim viajamos à tarde de sexta e regressaríamos no domingo. Para a tropa sênior dissemos que iríamos acampar no Rio Prateado, velho conhecido de todos. Claro que a Corte de Honra aprovou assim como os chefes seniores. Mesmo nada acontecendo, a Pedra do Anão era excelente para passarem algumas noites.

Santa Rosa era um povoado de menos de 2.000 habitantes. Quando descemos do ônibus todos vieram às janelas para nos verem. Sorrindo cumprimentamos a todos e fomos em frente. Até a Pedra do Anão seria pelo menos 20 quilômetros e agora a jornada seria feita na Empresa de Transporte “Vulcabrás (Celebre marca de sapato do passado).

Lá pelas onze da noite chegamos. Armamos à barraca próximo a pedra e dormimos a sono solto. Todos nós não tínhamos problemas para dormir. Era só encostarmo-nos a uma árvore, deitar na grama ou em pedregulhos que o sono para nós era reparador.

O sábado amanheceu lindo. Um sol sem nuvens, Junior fez um café suculento com ovos mexidos bacon e pães amanteigados fritos, o que comemos com fartura. Não pretendíamos fazer almoço. Aspirávamos a partir de 13 horas nos aboletar na Pedra do Anão e após as 15 horas, vinte minutos e oito segundos se nada acontecesse daríamos belas gargalhadas e nosso destino seria uma majestosa cachoeira que vimos na estrada.

Um belo banho, uns bons mergulhos, boas risadas, boas lembranças seria tudo que nos lembraríamos da tal viagem temporal no tempo. O impossível aconteceu. Passado dois minutos do horário, já íamos levantar quando uma nuvem envolta em um redemoinho imenso nos alcançou.

Girando como um peão gigantesco, nada vimos ou sentimos. Em questão de segundos estávamos todos os cincos, deitados em uma grama verde, próximo a uma imensa árvore frondosa. O dia era sem sol, cinzento e fazia frio sem chegar ao extremo.

Ficamos em pé e surpresos vimos um jovem de uns 17 anos descer rápido da árvore e ligeiro se pôs a correr morro abaixo. Max foi até o pé da arvore e olhando para cima avistou o que seria uma grande faca ou quem sabe uma espada. Ele mesmo aboletou árvore acima e com surpresa viu uma enorme espada amarrada em um galho à grande altitude do chão. Dalí pouco passantes poderiam ver.

Desamarrou-a com dificuldade, pois as cordas eram feitas de couro trançado e difícil manuseio. Devagar, deixou-a cair até o chão e para nossa surpresa era uma bela espada, de aproximadamente 1 metro e setenta, com cabo de osso branco de leopardo, tendo encravado em algumas partes pedras preciosas que não soubemos deduzir e desconhecíamos tal arte.

Leo tentou levantar a espada e viu que seu peso era enorme. Mal conseguiu com as duas mãos. Neste ínterim, Junior chamou a atenção de todos, pois tinha avistado no vale abaixo, um enorme castelo. Alem dele, um rio bem largo, que serpenteava entre vales e algumas pequenas florestas em sua volta.

Ficaram ali aturdidos com tudo aquilo, e não faziam a mínima idéia onde estavam.  Foi Jan o mais estudioso que sugeriu ser um Castelo Francês. Disse que tinha visto uma enorme foto de um tal Castelo de Chambord, que ficava em Loir-et-Cher na França. Estilo Renascentista tinha formas medievais e ficava as margens do rio Loire.

Tudo levava a crer que poderia ser real e pela falta de estradas e movimento aéreo, deviam estar de volta aos anos de 1519 data da construção ou então próximo ao século XVII onde foi freqüentemente usado pelo Imperador Carlos V. Depois disto vários outros Imperadores, inclusive convidados ilustres de outros países o utilizaram.

Pelo sim ou pelo não, o melhor era ir até Lá. Leo levava a espada às costas, tipo carregar machados grandes tão habilmente transportados pelos escoteiros. Foi uma boa descida. Entraram em uma pequena estrada forrada de pedras, que mal dava passagem a uma carruagem ou dois cavalos.

Eu os ouvia com atenção.  Se aquilo fosse uma armação era muito bem feita e engendrada. Dariam grandes atores no futuro. Mas a historia prometia e nada melhor que esperar seu final para então dar um veredito de culpabilidade ou inocência dos “Cinco Magníficos”. 

      
      Os cinco Magníficos

(Os cinco Magníficos são seniores da patrulha Aconcágua, do 568º Grupo Escoteiro Pico da Neblina. Rotineiramente estarão aqui contando suas epopéias divertidas e aventureiras. Muitas já vividas pelos nossos magníficos seniores de todo o pais. Sejam bem-vindos a patrulha Aconcágua e os cinco Magníficos).

Historia de hoje: O Castelo Medieval e a famosa espada samurai.

Não deixes que a tua fantasia seja guiada pelos teus olhos, nem deixes que teu querer seja formado pela tua fantasia> deixa teu entendimento conter-se entre teus olhos e tua fantasia.
F. Quarles
Capitulo III


Jan era um esplêndido contador de histórias. Sabia como narrar, usava todo o seu corpo, sua expressão, seus cinco sentidos no inicio e no prelúdio de cada frase e no contexto geral.

Eu também me prendia a narrativa. Claro, já tinha lido algum parecido e quem sabe já sabia do término, pois não era uma história nova. Mas a aventura dos seniores se tivesse (e quem sabe foi) sido real, seria extraordinária.

Jan continuou enquanto os demais também reviviam a historia, prestando atenção, completando aqui e ali alguma falha. Vamos dar seqüência ao que dizia o narrador. 

Avistaram próximo ao Castelo, várias casas feitas de adobe e cobertas por folhas de capim trançado, tendo várias crianças correndo aqui e ali e uns poucos aldeões em pé ou sentados a meditarem ou conversando pausadamente entre si.

Pararam surpresos quando o viram, mais ainda quando se aproximou um grupo de cavaleiros que pelos uniformes só podiam ser soldados do castelo. Eles ficaram receosos com aproximação belicosa daqueles burlescos personagens.

Aproximaram deles e um falou em uma língua que nada entenderam. Depois souberam ser francês. Desceu do cavalo e tomou a um só pulso a espada de Leo, empurrando-o para o chão. Logo os demais amarraram as mãos de todos e os fizeram marchar rumo ao portão de entrada. Ninguém mais falou. Os “Cinco Magníficos” eram agora os “Cinco Medrosos”.

Entraram no castelo e ficaram abismados com o que viram. Uma enorme escadaria em dupla-hélice, iluminação em cima por uma espécie de farol. Devia ter mais de 128 metros de fachadas e depois ficaram sabendo que o Castelo possuía mais de 800 colunas esculpidas e um telhado elaboradamente decorado.

Dizia os historiadores que o palácio raramente estava habitado. Servia mais para curtas visitas. Tinha enormes e massivas salas, janelas abertas e tetos altos, impossíveis de bom aquecimento naquela região fria. Diziam ainda que para trazer os alimentos necessários ao alojamento de uma corte, precisariam de mais de 2.000 pessoas no transporte. Alem do pavilhão de caça, tinham uma cavalariça para mais de 300 cavalos.


Isto tudo ficamos sabendo depois. Logo que nos aproximamos da enorme escadaria, um homem bem vestido, que identificamos ser natural do Japão se aproximou correndo e logo se apoderou da espada. Em seguida nos levaram a presença do que julgamos ser o Senhor do Castelo. Nunca ficamos sabendo seu nome.

Sempre falando em francês parecia ser compreensivo e mais educado, pois se tratavam de cinco rapazes com uniformes estranhos e precisavam saber quem éramos. Como não obtinha respostas e só falávamos em português alem do mais gaguejando, ele nada entendia.

Foi então que Ned arriscou seu inglês mais americanizado. Se entreolharam e um deles se aproximou respondendo em inglês. Agora poderíamos explicar. Queriam saber porque tínhamos roubado a espada samurai do Senhor Feudal Kajimoto natural do Japão, convidado especial do Imperador Carlos V.

Disseram que estávamos infringindo leis severas e principalmente com um convidado tão ilustre. O furto de sua espada nunca seria perdoado e de acordo com a lei francesa, seria punida com a morte na guilhotina. Agora é que estavam embananados. Muitos de nós levamos as mãos até o pescoço.

Ned afirmou que estavam enganados. Estavam ali a passeio (não soube explicar de onde eram) e viram um jovem esconder a Espada em uma árvore. Como ele fugiu, pegaram a espada e vieram ter ao Castelo. Seria um disparate roubar a espada e voltar ao castelo.

O Senhor do Castelo sorriu com a explicação e com a resposta. Mas logo o tal do Kajimoto, que parecia muito influente falou uma torrente de palavras, totalmente inteligíveis, mas pela sua expressão entendíamos que queria punição sem piedade. Amaldiçoado Japona. Queria ver a todo custo arrancado nosso couro cabeludo. Ou melhor, nossas cabeças do corpo.

Levaram-nos para cima do castelo, onde havia uma enorme masmorra, toda feita de pedra, com uma pequena janelinha e nos empurraram nos jogando ao chão e fechando a grande grade daquela infernal prisão. Sentamos em um canto, sem nenhuma idéia, sem nenhum pensamento, sem nenhuma ação dos “Cinco Magníficos”.

Estávamos “fritos” se querem saber, disse Jan. Nem bem passou uma hora e ouviram passos. Viram com surpresa o jovem que pulou da árvore, o provável ladrão da espada samurai e atrás uma mocinha de seus 15 anos, com uma beleza que deixou a todos abestalhados. Era linda demais. Se naquela época existem beleza assim, era melhor ficarem por ali e não voltarem mais ao presente.

Falando em francês o que não entendiam nada, levou os dedos aos lábios pedido silencio. Abriu a porta e pediu que a seguíssemos. Assim foi feito. Passamos por escadas íngremes, portas abrindo à leve toque, tuneis intermináveis, até que chegamos fora do castelo, distantes uns quinhentos metros.

O jovem, que falava um pouco de inglês nos disse que o pai da jovem havia prometido ela em casamento com o Sr. Kajimoto e ele iria levá-la para o Japão, onde tinha um Castelo Medieval fortificado, próximo a Kyoto e era riquíssimo, pois vivia da cobrança de impostos e taxas dos servos. Fazia leis e aplicava-as em seu domínio. Invadia militarmente os feudos de outros nobres e assim aumentava a sua riqueza e a conquista de terras.

Como a guerra era uma atividade comum naquela época, a França o convidou para uma visita e nada melhor que unir famílias evitando uma contenda desnecessária no futuro. Ainda não conheciam bem a força do inimigo acharam uma solução para em anos próximos invadirem o Japão e aumentarem a riqueza francesa. (nem o famoso General e auto intitulado Imperador Napoleão Bonaparte pensou em algum assim.)

Os dois se amavam e ela pensou em um plano simples que poderia dar resultado com o roubo de sua estimada Espada Samurai e assim sua volta ao Japão sem levar uma esposa. Parece que tudo daria certo se não aparecêssemos de surpresa onde ele escondia a espada furtada.

Não achavam que tínhamos culpa e assim planejaram nossa fuga, agora era conosco. Disseram adeus e partiram. Ficamos empacados, sem saber o que fazer. Um pequeno Conselho de Patrulha e nenhuma idéia ou sugestão. Para onde ir? Ir aonde? Não tinham a mínima idéia onde estavam, e pelos seus cálculos se passariam pelo menos quatro horas antes do retorno, isto é claro se fosse verdade o tal site.

Como o Castelo estava ao sul (nos orientamos pelo sol, ralo, mas que dava para sentir onde estava) o melhor era ir para o norte. Assim foi feito, e para apressar nossa jornada, combinamos de ir no passo duplo escoteiro por duas horas. Assim poderíamos percorrer pelo menos 18 quilômetros sem nos cansarmos.

Já estávamos a caminho por uma hora quando avistamos uma nuvem de poeira a nossa frente. Saímos da pequena estrada e logo passou por nós um numero razoável de cavaleiros, e pelo semblante deviam ser japoneses. Bem feito. Agora o pau vai quebrar na casa de “Noka”, ou melhor, no tal Castelo de Chambord.

Continuamos e vimos uma pequena estalagem, deduzimos que só podia ser devido a uma taboa de madeira pendurada em um poste onde se lia “Le Figarô” o que seria não sabíamos e nem queríamos saber. Estávamos com fome, sede não, pois passamos por diversos regatos com águas límpidas e sempre mantínhamos nossos cantis cheios.

Parar era bobagem, a pista seria conhecida daí em diante. Mas precisávamos saber aonde íamos e como esconder dos guardas do castelo. Apareceu na porta um homem de uns 80 anos, cabelos brancos e poderíamos jurar que se estivesse de uniforme, seria Baden Powell sem tirar e nem por. Igualzinho!

Sorriu para nós e em um belo e limpo português, nos convidou a entrar. Piscou com os olhos para todos e subiu conosco ao segundo andar, onde havia uma mesa, 6 cadeiras e duas camas. Mandou aguardar e logo veio um jovem com uma excelente galinha caipira, tostada e em sua volta tomates cortados e um terrina de arroz ainda saindo fumaça.

Olhei para o Leo e perguntei se estávamos sonhando. Ele me disse que não, pois tinha pensado a mesma coisa. Comemos feito loucos. A fome é avarenta e não escolhe hora e lugar. Comemos até não agüentar mais. O sono velho chegou. Combinamos uma guarda de hora em hora. Max era o primeiro e eu o último.

Acordamos todos com o Ned dizendo que faltava menos de dez minutos para o nosso retorno ao presente. Aguardamos ali ansiosos. Deu a hora, nada, 5 minutos nada, 10 minutos nada. O desespero apareceu. Ficar ali para sempre! Rezamos pedindo a Deus que não deixasse acontecer.

Um redemoinho gigante apareceu. Entramos em parafuso. Acordamos na Pedra do Anão já escuro. Gritamos de alegria. Vimos nossas barracas armadas. Foi uma festa. Escapamos por pouco.

O final você já sabe, disse Jan. Voltamos alegres, felizes e cantando poemas escoteiros que vivenciam belas aventuras. O que teria sido feito do Jovem que nos salvou? E da jovem será que obrigaram-na ainda a se casar? Mas que carranca tinha o tal do Senhor Feudal do Japão. Para um samurai ele parecia mais um coisa ruim.

Perguntei ao Max o que ele achou do estalajadeiro. Falando português e tudo. Seria um sonho nosso? Ou seria o espírito de BP? Ninguém tinha respostas. Infelizmente nossos celulares que poderíamos ter filmado ou ter fotografado não funcionaram naquela época. Porque não sabemos.

Não temos provas, só nossa palavra, mas nos comprometemos a não contar para ninguém. Não iam acreditar e seriamos ridicularizados. Fiquei ali pasmado com a narrativa. Tinha fundamento. Tinha contorno, tinha presença, mas poderia ter sido montada anteriormente e compraram a idéia falsa como verdadeira.

No entanto qual o objetivo de uma história sem embasamento, sem procedência real por parte de cinco seniores que se mostravam cordiais, amigos, irmãos e claro com plena ciência das Leis Escoteiras?

É difícil aceitar como verdadeira, mas também difícil desmentir o relato. Seja como for, em sonho ou em realidade foi uma aventura sem igual. Passaram por situações incríveis. Poderiam ter morrido e a fuga não foi cinematográfica, pois não havia ali bandidos e mocinhos.

Sorrimos todos, pedi uma nova rodada de refrigerantes e todos aceitaram novos lanches desta vez a escolha de cada um. Ficaram satisfeitos com o relato. Sorriam entre si na confiança que depositei em todos eles. Me prometeram que quando voltasse me contariam novas histórias novas aventuras.

Desta vez me aguçaram a mente quando comentaram sobre a Mansão do Duende Cor de Rosa. “Caramba” mais uma? Agora um duende, enfim que assim seja. Mais uma para o meu livro tão necessitado de tantas aventuras e de tantas histórias que só os escoteiros sabem contar.

Nos despedimos prometendo um breve encontro. Cada um foi para o seu lado, ao seguir o meu, deparei com um velhinho dos seus possíveis oitenta e quatro anos, sorridente, encostado em um poste me olhando e me dando uma piscadela. Poderia jurar que era o sósia de Baden Powell. Deus do Céu! Até eu? Até eu?

E quem quiser que conte outra...
  
* Não leve a vida tão a sério. Afinal, você não vai sair vivo dela mesmo!

ooxxoo

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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