Um começo, uma saudade
"A felicidade não está no fim da jornada, e sim em cada curva
do caminho que percorremos para encontrá-la.”
Anônimo
do caminho que percorremos para encontrá-la.”
Anônimo
Algumas passagens em nossas vidas deixam marcas que não podem ser apagadas. Sejam elas de fatos nostálgicos, ou fantasiosos, não importa. Cada uma destas ocorrências são registradas de forma igual, sem pretensões de saber qual a melhor ou pior.
É como sempre disse, se você não participa não tem história para contar. Mas nós do Movimento Escoteiro somos os campeões de histórias vivas que a cada dia vão aumentando os arquivos em nosso cérebro, já formados com tantas outras que nos trazem memórias vividas de um passado remoto.
O sol está se pondo, já não o vejo. Casas e casas apagam e destroem esta vista que deve ser maravilhosa. Fecho os olhos e lembro-me dos setenta. Um grito de patrulha, um sub campo, mais de 150 seniores. Uma história um fato marcante e uma grande amizade.
Acho que foi em 1966. Uma atividade nacional em que despretensiosamente me inscrevi. Estava com 26 anos e naquela época um simples chefe de tropa, tentando a Insígnia de Escoteiros. Já tinha participado de um, mas fui conhecer outro pela segunda vez. Com um amigo e escotista irmão instalamo-nos no campo da chefia, pois minha tradição era de ser um “Eterno vagabundo sem ter o que fazer” nestes acampamentos.
Para minha surpresa nomearam-me chefe do sub. campo Sênior. Não sei quem foi o dono da idéia. Não conhecia nenhum dos dirigentes da atividade. Nunca em tempo algum dirigi ou colaborei com tal tipo de acampamento. Para mim totalmente desconhecidos. Seria uma responsabilidade que não tinha tamanho.
Relutei um pouco em aceitar, expliquei as razões. No entanto confiaram em mim e sempre gostei de um desafio. Tudo era desconhecido, jovens de vários estados entre 14 a 17 anos e quem já trabalhou ou trabalha com eles (os seniores) sabem como são. Se gostam ótimo, se não gostam “papagaio, seja o que Deus quiser.”
Um amigo, assistente de alcatéia e outro também de alcatéia (Akelá), eram meus assistentes. Fora eu que fora sênior por três anos, e tinha uma passagem em uma Tropa Sênior das antigas em uma época meio selvagem tinha muitas dúvidas como chefiar um sub campo. Seria um maneira para eu testar a mim próprio até onde poderia ir. Não importava se não tinha experiência de tal envergadura para dirigir mais de 150 seniores de quinze estados brasileiros.
Quando me apresentei como chefe do sub. campo (ninguém foi lá me apresentar) vi sorrisos marotos, alguns não prestando atenção (eram 28 patrulhas) e me senti um peixe fora d’água. Mas foi só o começo, à medida que as horas e os dias se passavam (cinco dias), viramos uma família. Como me sentia feliz ali. As amizades cresciam, de norte a sul éramos um só espírito um só coração.
Não pensei que seria daquela maneira. O medo as duvidas e as apreensões foram aos poucos suprimidas. Passei a gostar deles e eles de mim. Em dois dias iam até a barraca da chefia, sentavam-se à mesa que construímos, conversavam, trocavam idéias, piadas e uns poucos comentavam de suas vidas.
O maior espetáculo, no entanto era quando se fazia a chamada do sub campo em privado ou geral. Uma patrulha de um estado brasileiro tinha um grito bem comprido e quando todos já haviam terminado lá estavam eles ainda a declamar seu histórico e seus feitos.
Já no segundo dia, uma patrulha aqui, outra ali terminavam seu grito e faziam uma grande roda abraçando entre si e terminando o grito com eles. Depois todas as patrulhas seniores faziam o mesmo.
Em qualquer chamada geral, todos os demais sub.campos ficavam esperando os seniores. Era uma festa, Correndo, gritando, rindo, falando, cantando e a apoteose sempre era da patrulha dos setenta (Baden Powell), com seu grito de patrulha. Não me lembro bem, mas acho que era mais ou menos assim:
- Somos do setenta, Grupo São José!
Somos a patrulha, a patrulha que é,
Baden Powell patrulha boa, melhor não há
Vem cá prá ver, para acreditar!
(havia mais duas estrofes, mas esqueci)
Existe patrulha melhor, talvez sim
Talvez não, quem sabe, só Deus
E o grito não parava aí, continuava mais e mais, e os seniores, unidos, ombro a ombro, mãos unidas, meus amigos, era um espetáculo de encher os olhos e batidas fortes no coração. Já sabíamos que pelo menos 10 minutos nas chamadas seriam dedicadas ao sub campo Sênior.
Todos acostumaram com aquela fraternidade, surgida do nada, mas que uniu e muito as patrulhas rumo ao crescimento individual e coletivo.
Não posso esquecer aquele acampamento de patrulhas. Ficou gravado em minha mente, e hoje recordo com saudades daquele tempo, onde aprendi a admirar os seniores, em qualquer lugar do mundo.
Gostaria de ter participado de outras, de encontrar novamente com eles. Mas o Escotismo é sempre assim. Uns vãos, outros entram, outros saem, alguns ficam e nunca mais nos vemos.
Não me sai da lembrança aquele Acampamento Nacional de Patrulhas, penso onde estarão aqueles jovens hoje, se alguns ainda participam se trazem como eu as lembranças do passado que nunca irão ser esquecidas. Lá se foram 44 anos. Muito tempo!
Um dia, se pudesse voltar atrás, seria novamente um chefe sênior. Fui uma vez, por pouco tempo, só três anos. Mas devia ter continuado. Acho que tenho uma queda por eles. São senhores de si. Sabem o que querem. Podem decidir suas vidas tranquilamente principalmente se passaram por uma tropa de escoteiros.
Foi uma época áurea. Eram poucas as minhas responsabilidades no cenário do Escotismo Nacional. Depois tudo mudou. Mais encargos falta de tempo, outros tipos de sonhos, família, filhos, enfim as velhas mudanças de atitudes tão sobejamente conhecidas.
O Escotismo tem histórias. Epopéias são escritas aqui e ali. Isto nos faz continuar, reviver, pensar no agora e no futuro. Gosto dele. Sinto ele na pele, no corpo no coração. Quando vejo jovens sorrindo acredito que é isto que nos fazem permanecer, continuar, motivar, e olhe, digo sempre, nada nos paga tanto como ver um deles, crescido, mostrando que o escotismo ajudou a forjar cidadania e caráter. Isto é maravilhoso.
Gostaria de voltar a uma atividade assim com os seniores. Sei que não vai ser possível. As pernas não ajudam. A voz não é a mesma. A respiração cansativa. Cantar com eles não consigo mais. Mas só de olhar a alegria, a vivacidade, a esperteza e a coragem, acho que devo me inscrever urgentemente em uma atividade assim. Vai valer à pena ficar sentado e olhar... Reviver... Sentir a vibração...
♪♪ - “Tropa Sênior, sênior é, é que é bacana! ♪
Ah! Somos do setenta. Eu ainda sou até hoje...
E quem quiser que conte outra...
"Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível
mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é omomento em que um "sim" ou um "não" pode mudar toda a
nossa existência. "
Anônimo
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