É o fim do mundo!
Por Fernando Robleño
Leia amanhã como o mundo acabou hoje.
Anônimo
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Havíamos levado sacos de batatas para que servissem de rede de descanso, mas acabamos encontrando uma cabana de caçador (aquela era uma região de caça) e decidimos usá-la como nosso abrigo para o pernoite. Eu adormeci fora desta cabana enquanto ainda conversávamos ao redor do fogo. Meus companheiros talvez concordaram que não seria uma boa idéia me acordar, já que havíamos caminhado o dia inteiro e estávamos exaustos. Deixaram-me ali, ao lado da fogueira. Ao menos calor eu tinha.

A cena, se lhes digo a verdade, transmitia pavor. O céu, aquele que espiávamos pelas frestas das árvores, estava repleto de estrelas, como uma noite normal vista pela tranqüila janela de um quarto. Mas o vento não era daqueles que precedem a chuva ou a tormenta. Era um vento forte, quente e fazia as árvores mais altas balançarem e estalarem e suas folhas caírem como se a mata decidisse, de um dia para o outro, que o outono chegou. Do alto de nossas Lis de Ouro e Cordões de Eficiência, nunca admitiríamos, mas estávamos com medo.
De pronto, como alguém que perde o fôlego, o vento parou. As árvores suspiraram e pararam de tremer. Nós as acompanhamos: calamos-nos, espiamos por última vez por cima dos ombros, ainda esperando uma nova oleada de temor, mas nada aconteceu. Duas palavras ditas para avaliar a situação e ter certeza de que estávamos todos bem e resolvemos, então, voltar as nossas camas. Tentei, sem sucesso, escapulir-me para dentro da cabana de caçador (parecida a uma trave de futebol com uma lona), mas já não havia espaço. Voltei ao meu tronco-travesseiro e dormi, sem sonhos, tranqüilo, a fogueira ainda em brasas. O outro dia foi um outro dia.
A coisa que mais me deixa com medo são aqueles raros momentos em que não sinto medo de nada.
Anônimo
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