domingo, 3 de novembro de 2019

Contos nas areias do Waingunga. Bolinhas de sabão. “Dublec dublim”.



Contos nas areias do Waingunga.
Bolinhas de sabão.
“Dublec dublim”.

... - Sentado na calçada de canudo e canequinha, dublec dublim, eu vi um garotinho
dublec dublim, fazendo uma bolinha, dublec duplim, Bolinha de sabão... Eu fiquei a olhar eu pedi para ver quando ele me chamou e pediu pra com ele brincar... Foi então…

- Tico Tetéia passeava com seus olhos miúdos esquecendo o movimento em sua volta. Olhava sorrindo sem inveja o menino na varanda de sua casa do outro lado da rua jogando no ar bolas de sabão. Tico Tetéia nunca cantou “dublec dublim” e nem sabia que exista tal musica. Poderia ser ele sentado na calçada em frente às Lojas Correntes longe do vai e vem dos passantes que nem davam conta de sua presença ali na Rua do Ouvidor número cem. Tico Tetéia não tinha mais do que sete anos. Acostumara a viver sozinho, pois sua mãe um dia chorando disse para ele: - “Meu filho, não dá mais, uma dor enorme me parte no meio. Não sei o que fazer com você. Reze meu filho, confie em Deus ele vai lhe mostrar o caminho a seguir”. Tico Tetéia ficou com sua mãe debaixo do viaduto São Geraldo por dois dias. Ela fria ainda de olhos abertos nada dizia. A fome o levou a porta da Baiuca de Mestre Dinho, que nunca negou a ele nada para comer.

- Ninguém nunca perguntou por ela. Viu de longe um carro com alguém levando sua mãe em um saco preto na maca. Correu até lá, mas eles tinham partido. Na primeira semana esperou pela volta de sua mãe, pelos tostões que ela ganhava ajudando alguém em algum canto da cidade. Potim Galego tinha uma bela casa, um pai divorciado que lhe dava tudo que pedia. Via sempre do outro lado da Rua aquele menino magro, sujo a sorrir para ele quando estava com seus brinquedos. Se divertia jogando bolinhas de sabão ao sabor do vento correndo para o céu até estourar no ar! Ele era um menino pequeno e sem maldade, nunca se preocupava com as bolhas que estouram não se prendia a elas, apenas sorria a cada uma que desaparecia no ar... Dona Germânia fez para ele um delicioso pudim de cereja e seus olhos brilharam. Entristeceu ao ver do outro lado da rua aquele menino maltrapilho sério, olhando para ele e o pudim que Dona Germânia lhe deu. Fez um sinal e com receio Tico Tetéia atravessou a rua e espantado recebeu das mãos de Potim Galego aquele belo pudim que ele nunca comeu. Alegria efêmera... Finita!

Dizem que fazer amigos na infância é comum, mas dificilmente a gente vê um simples menino mendigo, sem pai sem mãe, receber a atenção de alguém. Ninguém poderia dizer isso de Potim Galego. Ele e Tico Tetéia ficaram amigos, escondidos, sem ninguém ver, cada com medo de perder a nova camaradagem que surgiu como bolinhas de sabão. Os dois tinham medo que ela explodisse no ar e tudo terminar. – Vai comigo sábado? Perguntou Potim Galego. – Onde? Nos lobinhos, sou um deles sem medo de Shery  Kan, pois tenho Raksha para me defender. E então como se novas estrelas  firmassem no céu , Potim Galego todas as noites saltava de sua janela, e embaixo da Mangueira ao lado de sua casa, ficavam horas e horas conversando, e ele contando quem era Akela, o Balu a Bagheera e a Kaa. Tico Teteia sonhava com a tal Jângal. Sabia acender a flor vermelha, sabia nadar no Waingunga, não tinha medo dos Bandarlogs.

Alguns meses depois Bento Gonçalves tio de Potim Galego, viu os dois cantando uma canção de lobinho, que ele um dia aprendeu e amava cantar. “A Promessa de Mowgli era matar o Shery  Kan”. Olhou as horas... Quase meia noite. O que seu sobrinho fazia ali àquela hora? Sem perguntar o pegou pelo braço e ralhando o levou ao seu pai que dormia e nem sabia do acontecido. Lita Rosa a Akelá foi alertada. Balu Morato também. Bagheera sorriu... E contou para a alcateia o que uma bela amizade pode fazer e sonhos realizar. Potim Galego chorava por não poder mais brincar com Tico Tetéia. Seu pai bravo lhe proibiu. Sem TV sem Vídeo Game e dois meses longe de seus irmãos da Alcateia. A Policia foi chamada. Levaram Tico Tetéia para uma associação de menores. A saudade era tanta que ele pulou a cerca, correu por vinte quilômetros e suando chegou em frente à casa de Potim Galego. Quando a janela se abriu a policia passou atirando em bandidos fugitivos e uma bala perdida entrou por trás da cabeça de Tico Tetéia que morreu na hora. Contar a história de trás para frente quem sabe seria melhor. Mas adiantaria?

Não vou contar a linda cena de sua mãe em nuvens brancas no ar, mãos levantadas sorrindo e gritando: - Meu filho aqui toda criança é um anjo, com asas e podem sorrir correr e brincar! Tico Tetéia você está na terra de Deus, e terá tudo meu amor, meu carinho e mil bolhas de sabão no ar!
     
Um espírito evoluído me contou: - Vado Escoteiro, passei algum tempo ali observando aquelas crianças... Notei o quanto somos atrasados em questão ao apego... Ficamos tão focados, em riquezas em família e esquecemos a boa ação que passou. Em velhas cartas, em antigos papéis, achamos importantes e não percebemos que só fazem volume e juntam poeira... Nos prendemos ao dinheiro, aos cargos, ao poder, E quando perdemos alguns deles, já nos vemos quebrados, abatidos, doentes, por ter se apegado a sensação de posse... Como em relacionamentos, nem sempre verdadeiros e só nos acostumamos com a presença do outro, Mas não a amor e sim dependência... Se agíssemos, em questão ao apego como as bolhas de sabão, seríamos extremamente evoluídos! A vida Vado Escoteiro é como uma montanha russa, e que nada dura para sempre... Se apenas deixarmos quem quer ficar em nossa vida, quando o sentimento é mútuo sem cobrança, sem medos, sem comodismo, mais pela confiança, seriamos mais felizes. Lembre-se praticar o desapego é uma forma de encontrar a felicidade... Na simplicidade... Nas pequenas coisas como bolhas de sabão!
(Alguns itens retirados da Internet).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....