segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O sonho de Pato Manco.




O sonho de Pato Manco.

- Quanto Pato Manco nasceu sua mãe disse – Não é meu filho! Ninguém entendeu... Uma mãe dizer isto? No hospital de Ponte Queimada ele foi bem tratado. Com cinco dias deram alta e Dona Neném levou seu filho contrariada. Notou uma perna mais curta que a outra. Um aleijado? Batizou como Mítico da Anunciação Carneiro. – No cartório não queriam registrar. Ela foi irredutível. Seu marido um dia contou uma história de um Tal de Mítico. Só deu azar para seus pais. Mítico custou para aprender a andar. Sua perna doía quando dava um passo. Ela lhe dava umas palmadas na bunda gritando – Anda vagabundo! Não vou carregar você à vida toda! Na escola o apelidaram de Pato Manco. Que seja ele pensava, melhor que Mítico que foi apedrejado em sua cidade. A sua professora o olhava com bondade. Pato Manco acostumou com a meninada da cidade jogando pedras e o chamando de coisas impublicáveis. Sua mãe nunca lhe deu amor, carinho nada. Ele nunca cobrou, pois não sabia o que era isto. Não tinha amigos e só Vitória o olhava com um misto de piedade que ele não gostava. Vitória era da sua classe. Um dia ela sorriu para ele. Esqueceu, pois sabia que ela não iria lhe trazer felicidade. Durante as férias sentava na varanda e não saia. Gostava da escola e sentia saudades. Ouviu o som de uma fanfarra e ficou assustando quando viu os meninos escoteiros de calças curtas, Chapelão, lenço no pescoço e uma mochila nas costas marchando. Cada um tinha um pedaço de pau nas mãos. – Que coisa maravilhosa! Pensou Pato Manco. Não deu outra, seguiu atrás deles. Mesmo com dor nas pernas não desistiu. Quando subiram o morro das Palmeiras pararam no bosque do Colégio Dom Bosco e começaram a trabalhar. Armaram barracas e muitos já faziam comida em seus fogões de barro. Pato Manco estava encantado. Falavam Sempre Alerta, Monitor, cozinheiro e Pato Manco sorria. Alguém bateu em suas costas – Era uma menina da idade dele. – Quer almoçar conosco? Pato Manco assustou. Nunca ninguém fez a ele um convite assim. Aceitou e foi com a menina. Ela lhe deu um prato de alumínio, uma colher e um canequinho de esmalte. Quanta felicidade! Entrou na fila, comeu com todo mundo. Rezou com eles. Escurecia quando Seu Mateus o chamou. Sua mãe mandou buscar! Foi embora e todos os meninos e meninas apertaram sua mão. Volte amanhã disseram. Pato Manco levantou cedo. Quando chegou faziam ginástica. Ao terminar os escoteiros da Gaivota vieram lhe abraçar. Ah! Que dias maravilhosos. Brincou e até esqueceu a dor na perna. A noite na fogueira foi o dia que chorou. Dificilmente chorava, sofria com falta de amor de sua mãe, e com a meninada a jogar pedra nele na rua. Agora era diferente. Amou tudo que viu cantou e brincou. De novo Seu Mateus a chamá-lo. No dia seguinte voltou correndo para o acampamento. Não estavam mais lá. Correu até a estação de trem. Embarcaram para a capital ouviu falar. Ouviu quando começaram a gritar: - Pato Manco! Pato Manco! Seu Mateus foi à estação procurá-lo. Pato Manco sumiu. O delegado o procurou e nada. Um pingente disse que ele partiu correndo atrás do trem. Dona Neném não chorou. Que ele suma para sempre!  Só me trouxe transtornos e infelicidade. Passaram-se trinta e cinco anos. Dona Neném com setenta anos em uma cadeira de roda pedia esmolas nas ruas da cidade. Na esquina da Avenida dos Andradas com a Marechal Deodoro um enorme carro negro parou ao seu lado. A rua cheia de gente. Uma senhora distinta de cabelos brancos com um chalé nos ombros desceu e junto a um homem de cabelos brancos, com um terno muito elegante portando uma bengala de prata foi até ela. Ela o olhou e não sabia o que dizer. Reconheceu logo o seu filho. Seus olhos ficaram marejados de lágrima. - Mamãe, ele disse sussurrando. Mamãe.  Eu vim te buscar. Está na hora de ir para casa. Dois homens fortes de terno e óculos escuros a pegaram e colocaram na limusine. Dona Neném chorava... Meu filho me perdoa! Toda a multidão viram os três abraçados soluçando profundamente. O carro partiu. A cidade em peso lá – Alguém perguntou: Seria o Pato Manco? Um zum, zum percorreu a multidão. E a senhora distinta? Não seria a Vitória?

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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